Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

— O Menino, o Burrico e o Cachorro —
Conto Popular do Nordeste
(Origem desconhecida)

Editado da fonte:
http://sitededicas.uol.com.br/ct05a.htm

 

 

 

O Rodolfo tem muito que aprender comigo!



Um menino foi buscar lenha na floresta com seu burrico, e levou junto seu cachorro de estimação.

Ao chegar no meio da mata, o menino juntou um grande feixe de lenha, olhou para o burrico, e exclamou:

Vou colocar uma carga de lenha de lascar nesse burrico!

Então, o burrico se virou para ele, e respondeu:

É claro, não é você quem vai levar!

O menino, muito admirado com o fato de o burrico ter falado, correu e foi direto contar tudo ao seu pai. Ao chegar à casa, quase sem fôlego, ele disse:

Pai, eu estava na mata juntando lenha, e depois de preparar uma carga para trazer, quando eu disse que ia colocá-la na garupa do burrico, acredite se quiser, ele se virou para mim e disse: 'É claro, não é você quem vai levar!'

O pai do menino olhou-o de cima para baixo, e, meio desconfiado, o repreendeu:

Você está dando para mentir agora. Onde já se viu tal absurdo? Animais não falam!

Então, o cachorro que estava ali presente, saiu em defesa do garoto, e falou:

Foi verdade, Seu Anysio; eu também estava lá, e vi tudinho com estes olhos que a terra haverá de comer!

Assustado, o pobre camponês julgando que o animal estivesse com o diabo no corpo, pegou um machado que estava encostado na parede, e o ergueu para ameaçá-lo.

Neste momento, aconteceu algo ainda mais curioso. O machado começou a tremer em suas mãos, e, de dentro dele, saiu uma voz que soava temerosa:

Popará. Esse cachorro tá com cara de que quer me morder!

 

 


 

 

 

Às vezes, pensamos que podemos,

mas, sentimos que despercebemos.

Às vezes, presumimos que [já] somos,

mas, atinamos que ainda pospomos.

 

meio que seremos escravos do fado

– fado que está a ser criado por nós,

 

Mas, o fato é que todos podemos,

só que, por rodolfice, dessabemos.

 

Vai só de nós o agora e o amanhã;

Um dia, ultrapassaremos a Linha!

 

 

 

 

 

 

Digressionando desnecessariamente, mas nem tanto:

No soneto, quando eu disse Preferimos estórias da carochinha/Preferimos carequices do Carequinha, não foi uma crítica às estorinhas para crianças nem uma censura às carequices. Claro! Como eu poderia criticar ou censurar, se evito este tipo de comportamento medíocre? Apenas, com isto, eu quis simbolizar que muitos se recusam a crescer, a assumir as responsabilidades que a vida dispõe, propõe e, certas vezes, educacionalmente impõe. Então, quando aparece uma dificuldade, uma pedra no caminho, de duas uma ou as duas em uma: muitos choram e se mijam e se cagam de medo e/ou, por se sentirem incapazes (sem serem) de resolver a parada, apelam aos outros para dar um jeitinho (brasileiro ou forasteiro) ou quebrar o galho para eles. Ora, isto, sim, é que a verdadeira carequice (às avessas).

Mais cedo ou mais tarde, há um ponto, uma fronteira invisível, que surge em um dado momento da vida, em que – nem que doa ou cause uma chaga – temos que tomar uma atitude, e não podemos esperar que o Bramante Possante (Supermouse) apareça para dar uma coça nos ratos safados nem que a Laura Jane – dizendo areia da grossa, areia da fina... – nos torne pequenininhos para podermos nos esconder em um buraco. Ou resolvemos as coisas por nós mesmos ou...

 

 

Animação editada das fontes:
http://seriesedesenhos.com/br2/
http://porsia97.multiply.com/photos/album/240

 

 

Mas, infelizmente, sempre foi mais ou menos assim: como queremos coisas com feições humanas para nos salvar, como disse Warren Girard Ellis, criamos com as próprias mãos Gods e Supergods – messias super-humanos para descer dos céus e salvar o mundo e a Humanidade do apocalipse anunciado, mas exclusivamente derivado dos descaminhos e desregramentos paridos pela própria Humanidade. Ilusão, como todas as ilusões, inútil, sem cabimento e, em certo sentido, perigosa.

Por outro lado, as fantasias e os sonhos – de criança ou atuais – precisam ser colocados no seu devido lugar, no seu devido escaninho. As estorinhas da carochinha foram importantes? Sim, claro que foram; e continuam sendo. As carequices do Carequinha foram importantes? Sim, foram. As arrelices do Arrelia foram importantes? Sim, também foram. Todas auxiliaram a formar nosso caráter, mas não podemos querer resolver os problemas de hoje da mesma forma que, por exemplo, resolvíamos o furto de nossa merenda no colégio ou quando alguém, de sacanagem, passava a mão na nossa bunda, e saía correndo.

Enfim, quando eu era garoto, ninguém gostou mais do que eu de estorinhas em quadrinhos, do Circo Bombril (posteriormente rebatizado como Circo do Carequinha), programa para crianças da TV Tupi, nas décadas de 1950 e 1960, e do Como vai? Como vai? Vai? Vai?... Eu vou bem, muito bem, bem, bem do Palhaço Arrelia. Mas, hoje, para mim, este foi um tempo bom, que eu apenas recordo com muito carinho, apesar de, nem sempre, ir muito bem, bem, bem como eu gostaria.

Do Carequinha: Crianças: estudem bastante! Vocês serão o futuro de nosso querido País. O circo não vai acabar nunca enquanto houver o sorriso infantil. E quem pode esquecer O Bom Menino?

O bom menino não faz pipi na cama,
O bom menino não faz malcriação,
O bom menino vai sempre à escola,
E na escola aprende sempre a lição.

O bom menino respeita os mais velhos,
O bom menino não bate na irmãzinha,
Papai do céu protege o bom menino,
Que obedece sempre, sempre a mamãezinha.

Seja como for, penso que a minha vida (e tenho certeza que a vida de todos) possa ser resumida em uma passagem da letra da música That's Life, de Dean Kay e Kelly Gordon, imortalizada por Frank Sinatra:

I've been a puppet, a pauper, a pirate,
a poet, a pawn and a king.
I've been up and down and over and out,
and I know one thing:
Each time I find myself flat on my face,
I pick myself up and get back in the race.

Para concluir, se nos convencermos e admitirmos que, sem exceção, há vitórias e derrotas para todos, então, não nos incharemos com as vitórias nem desanimaremos com as derrotas. Tudo é [re]aprendizagem. Tudo é lucro. Tudo é bom. Os entraves, os obstáculos, os embaraços e os impedimentos são uma espécie de testes/compensações que aparecem aqui e ali para ser vencidos e ultrapassados. É como minha mãe tripeira dizia: pra frente é que se anda; pra trás mija a burra. Poderá demorar, mas, para todos nós, a expectativa é: vencer ou vencer. Poderemos não vencer tudo – e não venceremos! – poderemos não vencer todas – e não venceremos! – mas vencer um pouquinho só já está muito bom. O que não devemos é sair igual ou pior do que entramos. Se sairmos igual ou pior do que entramos, é mais ou menos como se matricular em um curso, e, depois, cabular as aulas. Isto é de uma ignorantia sesquipedalis! Só dizendo em latim!

Agora uma pequena dica sobre a língua portuguesa: explica o professor e advogado David José Soares Fares que a forma má-criação é sempre preferida à não autorizada 'malcriação', à qual, aliás, se aplica por analogia com 'malcriado'. Os lexicógrafos e os gramáticos puristas defendem somente 'malcriadez' ou 'má-criação' (esta última com duas formas no plural aceitas: 'más-criações' e 'má-criações').

 

Página da Internet consultada:

http://s622.photobucket.com/

 

Música de fundo:

Pobre Peregrino
Adaptação e Interpretação: Carequinha

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/
carequinha_pobre_peregrino.html