Digressionando
desnecessariamente, mas nem tanto:
No soneto,
quando eu disse Preferimos estórias da carochinha/Preferimos carequices
do Carequinha, não foi uma crítica às estorinhas para
crianças nem uma censura às carequices.
Claro! Como eu poderia criticar ou censurar, se evito este tipo de comportamento
medíocre? Apenas, com isto, eu quis simbolizar que muitos se recusam
a crescer, a assumir as responsabilidades que a vida dispõe, propõe
e, certas vezes, educacionalmente impõe. Então, quando aparece
uma dificuldade, uma pedra no caminho, de duas uma ou as duas em uma: muitos
choram e se mijam e se cagam de medo e/ou, por se sentirem incapazes (sem
serem) de resolver a parada, apelam aos outros para dar um jeitinho (brasileiro
ou forasteiro) ou quebrar o galho para eles. Ora, isto, sim, é que
a verdadeira carequice
(às avessas).
Mais
cedo ou mais tarde, há um ponto, uma fronteira invisível,
que surge em um dado momento da vida, em que – nem que doa ou cause
uma chaga – temos que tomar uma atitude, e não podemos esperar
que o Bramante Possante (Supermouse)
apareça para dar uma coça nos ratos safados nem que a Laura
Jane – dizendo areia
da grossa, areia da fina... – nos torne pequenininhos
para podermos nos esconder em um buraco. Ou resolvemos as coisas por nós
mesmos ou...
Animação
editada das fontes:
http://seriesedesenhos.com/br2/
http://porsia97.multiply.com/photos/album/240
Mas,
infelizmente, sempre foi mais ou menos assim: como
queremos coisas com feições humanas para nos salvar,
como disse Warren Girard Ellis, criamos com as próprias mãos
Gods
e Supergods
– messias super-humanos para descer dos céus e salvar o mundo
e a Humanidade do apocalipse anunciado, mas exclusivamente derivado dos
descaminhos e desregramentos paridos pela própria Humanidade. Ilusão,
como todas as ilusões, inútil, sem cabimento e, em certo sentido,
perigosa.
Por
outro lado, as fantasias e os sonhos – de criança ou atuais
– precisam ser colocados no seu devido lugar, no seu devido escaninho.
As estorinhas da carochinha foram importantes? Sim, claro que foram; e continuam
sendo. As carequices
do Carequinha foram importantes? Sim, foram. As arrelices
do Arrelia foram importantes? Sim, também foram. Todas auxiliaram
a formar nosso caráter, mas não podemos querer resolver os
problemas de hoje da mesma forma que, por exemplo, resolvíamos o
furto de nossa merenda no colégio ou quando alguém, de sacanagem,
passava a mão na nossa bunda, e saía correndo.
Enfim,
quando
eu era garoto, ninguém gostou mais do que eu de estorinhas em quadrinhos,
do Circo Bombril (posteriormente rebatizado como Circo do Carequinha), programa
para crianças da TV Tupi, nas décadas de 1950 e 1960, e do
Como vai? Como
vai? Vai? Vai?... Eu vou bem, muito bem, bem, bem do Palhaço
Arrelia. Mas, hoje, para mim, este foi um tempo bom, que eu apenas recordo
com muito carinho, apesar de, nem sempre, ir muito
bem, bem, bem como eu gostaria.
Do Carequinha:
Crianças:
estudem bastante! Vocês serão o futuro de nosso querido País.
O circo não vai acabar nunca enquanto houver o sorriso infantil.
E quem pode esquecer
O Bom Menino?
O
bom menino não faz pipi na cama,
O bom menino não faz malcriação,
O bom menino vai sempre à escola,
E na escola aprende sempre a lição.
O
bom menino respeita os mais velhos,
O bom menino não bate na irmãzinha,
Papai do céu protege o bom menino,
Que obedece sempre, sempre a mamãezinha.
Seja
como for, penso que a minha vida (e tenho certeza que a vida de todos) possa
ser resumida em uma passagem da letra da música
That's Life, de Dean Kay e Kelly Gordon, imortalizada por
Frank Sinatra:
I've
been a puppet, a pauper, a pirate,
a poet, a pawn and a king.
I've been up and down and over and out,
and I know one thing:
Each time I find myself flat on my face,
I pick myself up and get back in the race.
Para
concluir, se nos convencermos e admitirmos que, sem exceção,
há vitórias e derrotas para todos, então, não
nos incharemos com as vitórias nem desanimaremos com as derrotas.
Tudo é [re]aprendizagem. Tudo é lucro. Tudo é bom.
Os entraves, os obstáculos, os embaraços e os impedimentos
são uma espécie de testes/compensações que aparecem
aqui e ali para ser vencidos e ultrapassados. É como minha mãe
tripeira dizia: pra
frente é que se anda; pra trás mija a burra. Poderá
demorar, mas, para todos nós, a expectativa é: vencer ou vencer.
Poderemos não vencer tudo – e não venceremos! –
poderemos não vencer todas – e não venceremos! –
mas vencer um pouquinho só já
está muito bom. O que não devemos é sair igual
ou pior do que entramos. Se sairmos igual ou pior do que entramos, é
mais ou menos como se matricular em um curso, e, depois, cabular as aulas.
Isto é de uma ignorantia
sesquipedalis! Só dizendo em latim!
Agora
uma pequena dica sobre a língua portuguesa: explica o professor e
advogado David José Soares Fares que a forma má-criação
é sempre preferida à não autorizada 'malcriação',
à qual, aliás, se aplica por analogia com 'malcriado'. Os
lexicógrafos e os gramáticos puristas defendem somente 'malcriadez'
ou 'má-criação' (esta última com duas formas
no plural aceitas: 'más-criações' e 'má-criações').
Página
da Internet consultada:
http://s622.photobucket.com/
Música
de fundo:
Pobre
Peregrino
Adaptação e Interpretação: Carequinha
Fonte:
http://mp3skull.com/mp3/
carequinha_pobre_peregrino.html