REVISITAÇÃO SUCINTA DO
PENSAMENTO ESOTÉRICO DE PLOTINO

Rodolfo Domenico Pizzinga

Música de fundo: Hino da Fraternidade
Fonte:
http://www.robynet.psi.br/~geraldom/relig.html

 

Plotino

Plotino


       Entre os séculos II e III Amônio de Sacas (175– 242) fundou em Alexandria uma escola neoplatônica, tendo Plotino (204 ou 205–270) como um de seus discípulos. Depois de ter ouvido a primeira preleção de seu futuro mestre, ficou em sua companhia e bebeu de sua fonte por nada menos do que onze anos.

       Mas foi só em 254 – após ensinar em Roma por nove anos – que Plotino começou a escrever as Enéadas (ennea em grego significa nove), conjunto de cinqüenta e quatro tratados, que Porfírio, seu discípulo dileto, dividiu metafisicamente em seis grupos de nove. As considerações filosóficas plotinianas tinham um princípio cardeal: ensinar a seus discípulos – e à Humanidade – a se libertar das ilusões e dos prazeres terrenos, para poderem contemplar e se unir extaticamente a Deus. O próprio Porfírio foi um escritor incansável, mas a maioria de suas obras se perdeu. Anna Maria Moog Rodrigues, no trabalho Diálogo de Sampaio Bruno com Amorim Vianna: a Relação da Razão com a Fé assevera que a filosofia plotiniana realizou a última grande síntese do pensamento da Antigüidade, ao mesmo tempo em que proporcionou a primeira síntese do misticismo oriental com elementos do platonismo já trabalhados pelas escolas aristotélicas do período helenista. Com isso em mente, a articulista reconhece ter sido Plotino o inspirador de todas as filosofias ocidentais que o sucederam, as quais tenham tomado por fundamento de suas metafísicas específicas a Unidade de todo o Ser. Talvez se possa acrescentar que muitos princípios plotinianos encontraram guarida e estão inseridos nos ensinamentos de fraternidades místicas hoje abertas e disponíveis para pesquisa e afiliação. Deve ser acrescentado que Plotino foi um INICIADO, tendo sido, posteriormente, autorizado a ampliar os ensinamentos que recebeu e, dos quais, era depositário. A síntese de seu pensamento, como se afirmou, está gravada nas Enéadas.

       A Filosofia Plotiniana concebeu, preliminar e analogamente, um UNO INEFÁVEL, razão de ser de toda a Unidade e Causa Primária da existência do conjunto e do múltiplo, portanto potência de todas as coisas. Esse UNO não está numericamente ligado nem à aritmética nem à geometria e, por isso, deve ser interpretado como UNO–EM–SI. Há, entretanto, os números ligados ao mundo do sensível e aos tipos terrenos. Segundo Plotino, nas Enéadas, livro quarto, as coisas que chegaram à existência e que subsistem foram previamente compreendidas em número.1 Este conceito bebe no pensamento pitagórico.

       O UNO–EM–SI, ou simplesmente Uno, está acima da própria criação, sendo causa de tudo. Ele é como quis ser, causa de si mesmo, portanto, transcendente a si mesmo. Em KaBaLa há o entendimento de que Um está acima de três... Concordando com Parmênides, admitiu Plotino:

       Com razão disse, pois, Parmênides, que o Ser é uno, que é imutável, não porque não haja outra coisa que não possa modificá–Lo, mas porque é o Ser. Só o Ser, efetivamente, possui existência por si mesmo.2

       Plotino propôs diversas imagens representativas para a procedência das coisas do UNO, sendo a mais significativa a derivação do todo criado por irradiação sucessiva de um PRIMEIRO CENTRO para um segundo, a partir dos quais se propaga um terceiro círculo concêntrico: LUZ DA LUZ. Nesse processo gerador nada empobrece o UNO nem O condiciona, dada a sua perene e perpétua permanência. A processão das coisas do UNO não se constitui em mera necessidade, pois se trata, no entender plotiniano, de ABSOLUTA LIBERDADE. A interpretação desse mecanismo oferecido por Reale e Antisere é:

       ...Deus não cria livremente o outro de si, mas se autocria livremente a si mesmo, e que se trata de um ’si’ que se autocria livremente como potência infinita, que necessariamente se expande, produzindo o outro de si.3

       Do UNO deriva NOUS (Espírito que pode ser entendido como Mente); de NOUS deriva a alma. Voltando–se para sua origem e através dela, a alma vê e pode retornar ao UNO, já que Dele, em verdade, nunca esteve desvinculada ou separada. Esse entendimento, em verdade, sempre foi o das Escolas de Mistério, desde a mais remota Antigüidade. Nesse sentido, pode–se, ainda, informar que as fraternidades iniciáticas contemporâneas sustentam esses mesmos ensinamentos, sentidos já em meados da Terceira Raça Raiz da atual Ronda – Lemúria. Assim, NOUS é uma imagem do UNO, conformando–se à UNIDADE sem intermediação, e a alma é uma imagem de NOUS, conformando–se ao ESPÍRITO como seu original. Logo se percebe que a verdadeira essência reside no mundo inteligível.4

       A natureza e a finalidade da alma é dar vida a todas as outras coisas, ordenando–as, dirigindo–as e comandando–as, entretanto, permanecendo, ela mesma realidade incorpórea. A título de ilustração, a Ordem Rosacruz – AMORC entende que há uma distinção entre ALMA e PERSONALIDADE–ALMA. Todas as PERSONALIDADES–ALMAS, em verdade, nunca estiveram, estão ou estarão desvinculadas da CONSCIÊNCIA CÓSMICA ou da ALMA UNIVERSAL. A Tradicional Ordem Martinista (TOM), que teve seu estabelecimento ancorado nos ensinamentos de Louis–Claude de Saint–Martin, reflete e examina esta especulação da mesma forma. Observa–se que a TRADIÇÃO PRIMORDIAL, e desde sempre idêntica a si mesma, (presente nas duas Ordens referidas e em outras Fraternidades autênticas) tem um entendimento dessemelhante daquele apresentado pelas principais religiões conhecidas.

 

Procedência das Coisas do Uno

Figura 1: Procedência das Coisas do Uno
 

       Assim, no seio da CONSCIÊNCIA UNIVERSAL, há uma hierarquia de personalidades–ALMA, isto no que concerne à sabedoria desenvolvida e à manifestação da própria Consciência Cósmica em cada personalidade–alma. Plotino, dando expressão ao seu entendimento sobre essa hierarquia, permite que se possa esquematizá–la da forma abaixo:

 

UNO
NOUS
ALMA SUPREMA
ALMA DO TODO
ALMAS PARTICULARES

Figura 2: Hierarquia das Almas
 

       Da figura anterior depreende–se que, na doutrina plotiniana, todas as almas derivam da Alma Universal (ou Suprema), sendo, entretanto, Dela distintas, mas Dela, também, inseparáveis, todas, em essência, constituindo–se em uma coisa só. Ampliando estas lucubrações, nas Enéadas, livro segundo, Plotino deixou escrito:
 

       Do mesmo modo que a alma de cada animal é una... do mesmo modo que a alma sensitiva é igualmente una nos seres que sentem, e que a alma vegetativa está íntegra em cada parte dos vegetais, assim a minha alma e a tua formam somente uma, e a Alma Universal, presente em todos os seres, é una, porque não está dividida à semelhança do corpo, mas que, onde quer que esteja é a mesma.5
 

       Assim, Plotino entendeu que se a alma dos seres humanos (a minha e a tua) procedem da ALMA UNIVERSAL, e essa ALMA SENDO UNA, todas as almas serão essencialmente unas. Isto equivale a dizer que TUDO É UM. O que varia é a percepção individual consciente do UNO. Este é verdadeiro e irreduzível entendimento de FRATERNIDADE UNIVERSAL.

       O surgimento da matéria, segundo Plotino, deriva da exaustão e do enfraquecimento progressivos da própria potência do UNO. E como há, segundo Plotino, minimização do próprio UNO no Plano Material, a matéria é um mal, não porque se oponha ao UNO–EM–SI, mas por, nesse Plano, ser praticamente quase imperceptível Sua presença. Nesse processo de afastamento do UNO (e apesar de a Alma individualizada estar enfraquecida, porque se volta mais para si do que para NOUS) é ela quem cria, dá forma e se esforça para retornar para a LUZ. É um processo permanente de criação e de luta pela redenção da matéria criada e pela sua própria (igualização), porque a redenção da alma está, segundo Plotino, implicitamente atrelada à redenção da matéria por ela gerada.

       Já a alma do homem, afirmou Plotino, é preexistente no estado de alma pura, mas deve, ainda que temerariamente, descer aos corpos para concretizar as potencialidades de NOUS. Nesse sentido, o homem é fundamentalmente uma alma, e seu destino cósmico a RECONJUGAÇÃO com o UNO, o que é possível e desejável ainda neste Plano. Isto é plausível, no entendimento de Plotino, através de um processo sucessivo de purificações, cujo estágio final é o da IMERSÃO NO UNO pelo SILÊNCIO METAFÍSICO INTERNO DA CONTEMPLAÇÃO. Para Plotino, nessa imersão há o ÊXTASE, que é um estado de HIPERCONSCIÊNCIA DA ALMA. Observa–se aqui nítida aproximação entre os pensamentos pitagórico, platônico e plotiniano. O estado contemplativo é o mesmo entendido e anunciado por Pitágoras e por Platão.
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 

       Destarte, Plotino ensinou que na radiação do UNO (UNIDADE), cada esfera de criação permanece em si mesma, e o que dela se irradia pertence a um grau inferior. Contudo, na verdade, evidentemente, não há separação ou interrupção entre os diversos graus da criação. Tudo está interligado a tudo, e todas as coisas criadas estão ligadas ao UNO (PRIMEIRO UM). E neste Plano, o ser humano é a suprema criação autoconsciente derivada do UNO–EM–SI (PRIMEIRO UM), com capacidade absoluta e irrestrita (dependendo, todavia, só dele) de a ELE CONSCIENTEMENTE SE (RE)LIGAR, já que é potencialmente divino. (Deus Homo est, isto significando que o Mestre-Deus de cada um está in corde em potência). Em suma, o retorno ao UNO é um processo que, segundo Plotino, deve acontecer em três estágios: PURIFICAÇÃO, DIALÉTICA E ÊXTASE. Não se pode deixar de aqui observar que, sob este aspecto, o Budismo Esotérico (não–religioso) contempla esse mesmo ideário. Com Plotino, completa–se o desenho do TRIÂNGULO DE TRÊS P DA FILOSOFIA ANTIGA: PITÁGORAS, PLATÃO E PLOTINO.

       Ao partir para a Grande Jornada, aos sessenta e cinco anos, em 270 d.C., suas últimas palavras ao médico Eustóquio foram: Procurai sempre conjugar o divino que há em vós com o divino que há no Universo.

 


 
DADOS SOBRE O AUTOR

Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET–RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET–RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano – IDHGE.


NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Op. cit., p. 7.
2. Las Enneadas, Plotino, vol. IV, p. 37.
3. História da Filosofia, Giovanni Reale e Dario Antiseri, vol. I, p. 343.
4. Las Enneadas, Plotino, vol. II, p. 175.
5. Op. cit., vol. II, p. 358.
 

BIBLIOGRAFIA

PLOTINO. Las enneadas (precedidas de la vida de Plotino por su discipulo Porfirio). Versión castellana de J. M. Q. Vol. I a IV. Madrid: Imp. De L. Rubio, 1930, 1165 p.

REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da filosofia. /Il pensiero occidentale dalle origini adoggi. Trad. São Paulo: Paulinas, v.1, 1990, 693 p.

______. Meditação sobre o horizonte metafísico. In: Presença Filosófica, Rio de Janeiro, 3 (2 e 3): 11–19, abr./ set., 1981.

______. Perspectiva Ontológica de ser – dever ser. In: Presença Filosófica, Rio de Janeiro, 10 (1 e 2): 193–8, jan./jun., 1984.
 

SITES CONSULTADOS
 
http://usuarios.advance.com.ar/simetriadelespacio/home-0.htm
 
http://www.geocities.com/Vienna/2809/plotino.html

http://www.mundodosfilosofos.com.br/neoplatonismo.htm#C

 

 

ANEXO

PLOTINO de Alejandría

Fonte: http://www.luventicus.org/articulos/02A034/plotino.html

 

       Nació en el año 204. Participó de la expedición del emperador Gordiano contra Persia con el fin de conocer la filosofía de ese imperio y la de la India. En el año 244 abrió una escuela de Filosofía en Roma, donde adquirió gran prestigio. En la vida diaria redujo la comida y el sueño a lo indispensable. Era vegetariano, nunca contrajo matrimonio y tampoco se dejó retratar. Sus escritos fueron ordenados y publicados por su discípulo Porfirio, en seis secciones de nueve tratados cada una, de ahí su nombre: Enneadas (Enéadas, novenarios).

       El Primer Principio, del que proceden todas las cosas, es el Uno, concepto que Plotino tomó del mismo Platón, quien llamaba a la idea de la que participaban todas las cosas Bien o Uno. El Uno, del que todas las cosas proceden, está incluso más allá del ser. Ningún concepto, ninguna ciencia de él es posible, y así puede decirse que está más allá del ser. (Enéadas V, 4, 1)

       Del Uno todo procede por emanación (Panteísmo). En primer lugar el espíritu o nous, que es, por lo tanto, el segundo principio plotiniano. El nous no puede ser la primera realidad porque en él se da un cierto dualismo: el conocimiento y lo conocido. El nous reúne todas las ideas. Reúne en sí al Mundo Inteligible y al Demiurgo de Platón.

 

 

PAZ PROFUNDA

PAZ PROFUNDA

PAZ PROFUNDA

PAZ PROFUNDA

PAZ PROFUNDA

PAZ PROFUNDA

PAZ PROFUNDA