PLATÃO – O SOFISTA

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Texto

 

 

 

Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para lhes oferecer educação. O foco central de seus ensinamentos se concentrava no logos ou discurso, convergindo para estratégias de argumentação, de tal sorte que, além de ministrarem aulas de oratória e cultura geral para os cidadãos gregos, interferiam em acirrados debates filosóficos, religiosos e políticos da época. Os mestres sofistas alegavam que podiam melhorar seus discípulos, ou, em outras palavras, que a virtude seria passível de ser ensinada. Protágoras de Abdera (480 a.C. – 410 a.C.), Górgias de Leontini (c. 485 a.C. – c. 380 a.C.), e Isócrates de Atenas (436 a.C. – 338 a.C.) estão entre os primeiros sofistas conhecidos. Protágoras foi o primeiro sofista a aceitar pagamento pelos seus ensinamentos.

 

Diversos sofistas questionaram a então sabedoria recebida pelos deuses e a supremacia da cultura grega (uma idéia absoluta na época). Argumentavam, por exemplo, que as práticas culturais existiam em função de convenções, e que a moralidade ou imoralidade de um ato não poderia ser julgada fora do contexto cultural em que aquele ocorreu. Tal posição questionadora os levou a ser perseguidos, inclusive, por aqueles que se diziam amar a sabedoria: os filósofos gregos.

 

A conhecida frase o homem é a medida de todas as coisas surgiu dos ensinamentos sofistas. Uma das mais famosas doutrinas sofísticas é a teoria do contra-argumento. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser refutado por outro argumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria na verossimilhança (aparência de verdadeiro, mas não necessariamente verdadeiro) perante uma dada platéia.

 

Os Sofistas foram considerados os primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes para efetuar suas defesas, dada sua alta capacidade de argumentação. Eram também considerados por muitos os guardiões da Democracia na Antigüidade, na medida em aceitavam a relatividade da verdade. Hoje, a aceitação do ponto de vista alheio é a pedra fundamental da Democracia moderna.

 

Originalmente, Sofística era o termo dado às técnicas ensinadas por um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia Antiga. O uso moderno da palavra, sugestionando um argumento inválido composto de raciocínio especioso, não é necessariamente o representante das convicções dos sofistas originais, a não ser daqueles que geralmente ensinaram retórica. Os sofistas só são conhecidos hoje pelas escritas de seus oponentes (mais especificamente, Platão e Aristóteles), o que dificulta formular uma visão completa das convicções dos sofistas.

 

Os sofistas foram os primeiros a romper com a busca pré-socrática por uma unidade originária (a physis) iniciada com Tales de Mileto e finalizada em Demócrito de Abdera (que embora tenha falecido pouco tempo depois de Sócrates, tem seu pensamento inserido dentro da Filosofia Pré-socrática).

 

A principal doutrina sofística consiste em uma visão relativa do mundo (o que os contrapõe a Sócrates que, sem negar a existência de coisas relativas, buscava verdades universais e necessárias). A principal doutrina sofística pode ser expressa pela máxima de Protágoras: O homem é a medida de todas as coisas; das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são.

 

Tal máxima expressa o sentido de que não é o ser humano quem tem de se moldar a padrões externos a si, que sejam impostos por qualquer coisa que não seja o próprio ser humano; mas, sim, o próprio ser humano deve se plasmar segundo a sua liberdade.

 

Outro sofista famoso foi Górgias, que afirmava que o 'ser' não existia. Segundo Górgias, mesmo admitindo que o 'ser' exista, é impossível captá-lo. Mesmo que isto fosse possível, não seria possível enunciá-lo de modo verdadeiro e, portanto, seria sempre impossível qualquer conhecimento sobre o 'ser'.

 

Estas visões contrastantes com a de Sócrates (que foram adotadas também por Platão e Aristóteles, bem como sua luta anti-sofista) somada ao fato de serem estrangeiros – o que lhes conferia um menor grau de credibilidade entre os atenienses – contribuiu para que seu pensamento fosse subvalorizado até tempos recentes.

 

A moral Sofística não era concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, isto é, como a lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um empecilho. Desta maneira, os sofistas estabeleceram uma oposição especial entre Natureza e lei, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, mortificador, uma pura convenção, e entendendo por Natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. E tentavam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada: não é verdade – diziam – que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade.

 

Então a realização da Humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens. Este domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida social possível em um mundo em que estão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria, portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça, conforme a natureza material exige que o forte, o poderoso, oprima o fraco em seu proveito.

 

Quanto ao direito e à religião, a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na Gnosiologia e na Moral. A sofística move uma justa crítica, contra o Direito Positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em nome do Direito Natural. Mas este Direito Natural – bem como a Moral Natural – segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então, o Direito Natural é o direito do mais poderoso, pois em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível.

 

Isto resumidamente visto, hoje, estudaremos, sob a forma de fragmentos editados, O Sofista, de Platão, obra que demonstra que a Sofística tinha como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, o aprendizado da habilidade retórica e o conhecimento de doutrinas divergentes. É sofista, disse Platão, aquele que, em sua disputa, se compromete ao afirmar coisas contraditórias, e com suas palavras engana de maneira maravilhosa seus ouvintes. Já Aristóteles disse: Sofista é aquele que tira dinheiro da ciência que parece ser e não é.

 

 

 

 

 

 

 

O Sofista: Fragmentos

 

 

 

Os deuses acompanham os cultores da justiça. [Homero, apud Platão].

 

Divino é o qualificativo que costumo dar aos Filósofos.

 

Luta é tudo o que é feito a descoberto; caça é tudo o que é feito às esconsas. E a caça (arte venatória) pode ser dividida em duas: de um lado, a caça de objetos sem vida, e, do outro, a dos seres animados – a caça animal.

 

O pescador de anzol é, em certo sentido, parente do sofista, pois ambos trilham a mesma estrada – a da arte aquisitiva.

 

Os discursos do foro, das assembléias populares e a arte da conversação podem ser globalmente em uma só classe – a arte da persuasão, sendo que esta arte comporta dois gêneros: uma é particular; a outra, pública.

 

A arte baseada no simples fito de agradar e que só usa o prazer como isca, sem nada mais exigir para sua subsistência, acho que todos nós concordaríamos em qualificá-la como aduladora ou simplesmente como arte recreativa.

 

A arte que promete ensinar a virtude por meio da conversação e que se faz pagar em espécie merecerá, como gênero à parte, a denominação de Sofística.

 

No comércio, há uma parte em que se vende e compra e que serve para uso e alimento do corpo, e outra para uso da alma.

 

A Sofística é a parte da aquisição, da troca, do comércio, do tráfico, do negócio de mercadorias da alma relativo aos discursos, aos conhecimentos e à virtude política. Sofística, então, é a parte da arte aquisitiva que se exerce por troca, e consiste na revenda a varejo ou na venda de seus próprios produtos, de qualquer forma, uma vez que este comércio diz respeito ao gênero de conhecimentos.

 

A parte da luta que consiste no entrechoque de discursos pode ser denominada de controvérsia.

 

 

 

 

 

 

Quando o debate consta de digressões a respeito do justo e do injusto recebe o qualificativo de forense ou judicial; porém, quando é realizado entre particulares e cortado em pedacinhos, por meio de perguntas e respostas, temos o costume de lhe dar o nome de contenda. A contenda que é feita com arte, acerca do justo e do injusto e de outros assuntos gerais, é habitualmente denominada de Erística.

 

A disputa levada a cabo como simples jogo verbal e com negligência dos interesses próprios, em estilo nada agradável para a maioria dos ouvintes, na minha maneira de pensar só merece o de verbosidade. Já a disputa que junta dinheiro com discussões particulares pode ser denominada de Sofística.

 

É do gênero lucrativo, da arte Erística, da arte de disputas, das controvérsias, da arte do combate, da arte da luta e do ganho que o sofista provém.

 

Nem tudo se pode pegar só com uma das mãos.1

 

Purificação é a arte que retém o melhor e rejeita o pior.

 

Admito que haja duas espécies de purificação, sendo diferente da do corpo a que se exerce sobre a alma.

 

O método argumentativo não dá maior nem menor importância à purificação por meio da esponja do que à obtida com poções medicamentosas, jamais perguntando se os benefícios de uma são mais ou menos relevantes do que os da outra. Para alcançar o conhecimento é que ela se esforça por observar as afinidades ou dissemelhanças entre as artes, honrando a todas igualmente, e, quando chega a compará-las, não conclui que uma seja mais ridícula do que a outra. Não considera, ainda, mais importante quem ilustra a arte da caça com o exemplo do estratego do que com o do matador de pulgas, porém mais pretensioso. Do mesmo modo, agora, no que concerne com o nome para designar o conjunto das forças purificadoras dos corpos, quer sejam animados quer não sejam, não se preocupa no mínimo de saber que nome é de aparência mais distinta. Limitar-se-á a separar a purificação da alma, deixando em um único feixe as outras purificações, sem indagar do objeto sobre que se exercem. Seu intento exclusivo consiste nisto, precisamente: separar das demais purificações a que tem por objetivo a alma, se é que compreendemos o seu fim.

 

A maldade na alma é algo diferente da virtude. Logo, a purificação consiste em jogar fora a parte ruim e conservar tudo o mais. Sendo assim, todo meio que encontrarmos de expungir a alma de maldade, se lhe dermos o nome de purificação, teremos falado com acerto.

 

Na alma, há duas espécies de maldade. Uma está na alma como a doença está no corpo; a outra como a fealdade.

 

A discórdia é a dissolução de elementos aparentados pela ação de algum dissídio intercorrente.

 

Na alma dos indivíduos malévolos estão sempre em conflito opiniões e desejos, coragem e prazeres, razão e tristezas e tudo o mais da mesma natureza em constante oposição.

 

A maldade é, ao mesmo tempo, uma doença e discórdia da alma.

 

Errar nada mais é do que se desviar do seu caminho a alma, quando intenta alcançar a verdade, sem passar ao lado dela o entendimento.

 

 

 

 

Alma do ignorante —› fealdade + assimetria.

 

Na alma, a covardia, a intemperança e a injustiça devem ser conjuntamente consideradas como uma doença, e as manifestações da ignorância, tão variadas quanto freqüentes, como deformidades.

 

 

 

 

Onde há insolência, injustiça e covardia, não é a correção, dentre todas as artes, a mais de acordo com a justiça?

 

Para a ignorância em geral, poder-se-ia indicar uma arte mais adequada do que a da instrução?

 

Há uma espécie grande e por demais nociva de ignorância, que, sozinha, vale por todas as outras reunidas: é a tolice de se imaginar conhecer o que não se conhece.

 

Há os que opinam que toda ignorância é involuntária.

 

A alma não pode colher vantagem alguma dos ensinamentos ministrados enquanto não for submetida à crítica rigorosa e à refutação. Ela precisa ser livrada das falsas opiniões que servem de obstáculo ao conhecimento e, assim purificada, acabará persuadida de que só sabe o que realmente sabe, nada mais do que isto.2

 

A refutação é a maior e mais eficiente purificação, sendo forçoso concluir que o indivíduo que se eximir a este processo é impuro no mais alto grau, e ignorante e deformado naquilo em que deveria se mostrar mais atilado e mais belo, caso queira alcançar a verdadeira felicidade.

 

Quem é precavido emprega cautela nas comparações; é gênero escorregadio. Todavia, não suscitaremos conflitos por pequena diferença de palavras, se sempre os mantivermos sob vigilância severa.

 

Na arte da educação, a refutação das vãs ostentações de sabedoria nada mais é do que a Sofística de nobre nascimento.

 

 

 

 

Não é fácil fugir de tudo.

 

Sofista = atleta nos certames da palavra; habilidoso na arte das disputas + ensina aos outros a arte de disputar + cobra por seus serviços + mercantiliza conhecimentos para a alma + fraciona estes conhecimentos + fabrica conhecimentos que ele próprio vende + purifica as opiniões que na alma servem de obstáculo para o conhecimento.

 

Sempre que um indivíduo, versado em diferentes conhecimentos, é designado profissionalmente pelo nome de uma única arte não nos proporciona uma imagem sadia. Por isto, o sofista é designado por muitos nomes, não apenas por um.

 

Os sofistas, quando discutem problemas gerais da geração e do ser, são tão fortes na arte de se contradizer, como são capazes de transmitir aos outros esta mesma habilidade.

 

Achas possível que alguém seja capaz de discutir todos os assuntos? Achas possível que alguém conheça tudo?

 

Na verdade, o sofista é possuidor de um conhecimento aparente sobre todos os assuntos; não do verdadeiro conhecimento.

 

Quando alguém presume saber tudo e se julga capaz de tudo ensinar em pouquíssimo tempo, como não acreditar que seja brincadeira?

 

O fato é que, com a idade e o passar do tempo, geralmente, pois não é sempre que acontece, as pessoas, quando entram em contato mais íntimo com a realidade e a experiência, tangenciam a verdade das coisas, e modificam as opiniões então admitidas, de forma que o que antes era grande lhes parece pequeno, o que era fácil, difícil, vindo a se desmoronar em contato com a realidade todas as antigas fantasias.

 

 

 

 

Os sofistas pertencem à classe dos ilusionistas, como simples imitadores que são das realidades.

 

É impossível escapar dos que sabem tratar com igual proficiência o geral e o particular.

 

O simulacro apenas parece ser sem realmente ser.

 

'Nunca chegarás a entender que o Não-ser possa ser. A alma se conserva afastada de tais reflexões.' (Parmênides de Eléia, apud Platão).

 

Não podemos atribuir o Não-ser a nenhum ser, e também não podemos relacioná-lo com coisa alguma [o que contraria a tese de Parmênides acima enunciada, que admite que o Não-ser existe, e que o ser, por sua vez, de algum modo não existe]. E assim, quando alguém se dispõe a enunciar o Não-ser não fala, seja a ele atribuindo pluralidade, seja a ele atribuindo unidade, por ser ele inconcebível, indizível, impronunciável e indefinível. [Mas... Continue a ler os fragmentos.]

 

 

 

 

Formar opinião falsa é pensar o contrário do que realmente existe.

 

É falsa a proposição que afirma a existência do Não-ser ou a não-existência do ser.3

 

O Ser só pode ser um, não dois. E assim, ainda que o Todo seja mais do que um, o par é um. Só existe o Uno.

 

O nome é simplesmente nome de nome, nada mais. Desta forma, o Uno, como unidade do um, não será senão a unidade do nome. O verdadeiro Uno, na sua mais rigorosa acepção, terá de ser absolutamente indivisível.

 

Tudo o que adquire existência só o faz como um todo, de forma que não se pode aceitar como reais nem a existência nem a geração, ainda que ambas sejam distintas, se não incluirmos o Uno ou o Todo entre os seres.

 

O que tem certa quantidade, qualquer que ela seja, será necessariamente o todo desta quantidade.

 

O que importa não são as pessoas, mas apenas a verdade.4

 

É pela presença e pela posse da justiça5 que uma alma se torna justa, e pelo contrário que se torna o oposto disto.

 

A alma é a sede da justiça, da sabedoria e das demais virtudes.

 

A maioria das pessoas não admite que, em absoluto, exista o que não possam esmigalhar entre os dedos.

 

Tudo o que possui uma determinada faculdade, seja de atuar de algum modo sobre outra coisa, seja de sofrer a influência, embora mínima, do mais insignificante agente, ainda que fosse uma única vez, é um ser real. Minha definição para explicar os seres é que não passam de capacidade ou de força.

 

 

 

 

Só participamos da geração por intermédio do corpo, como é com a alma, por meio do pensamento, que nos comunicamos com o Ser Verdadeiro, o qual é sempre o mesmo e imutável, ao passo que a geração varia.

 

Se conhecer é algo ativo, necessariamente o conhecido terá de sofrer a ação do conhecedor.

 

Se tudo fosse imóvel, ninguém poderia saber nada de nada.

 

Sem estabilidade [sistema e ordem], não poderá existir o idêntico a si mesmo. Logo, o conhecimento, o pensamento e a inteligência não podem ser suprimidos.

 

Sempre que, em alguma coisa, temos a presunção de haver atingido o ponto mais elevado da proficiência, atingimos, realmente, o ponto mais elevado da nossa ignorância.

 

Por coerência com sua própria natureza, o Ser não está nem em repouso nem em movimento. Na verdade, o Ser se revela como alheio a estes dois estados.

 

Algumas coisas desejam se comunicar e outras se recusam a isto, comportando-se todas mais ou menos como as letras: umas não combinam em absoluto entre elas; outras ficam em perfeita consonância. As vogais, principalmente, se distinguem das demais letras por servirem de vínculo para as outras, de forma que, sem vogal, não é possível haver combinação entre as letras.

 

 

O conhecimento dialético permite dividir por gêneros e não tomar a idéia de um pela do outro; e também o inverso: a idéia deste pela idéia daquele.

 

 

 

 

Quem for capaz de distinguir uma idéia única em uma multidão de idéias independentes ou um sem-número de idéias diferentes entre si, porém, abrangidas por outra mais ampla, e, de novo, uma idéia apenas que se estende por muitas outras e todas elas ligadas à uma unidade, e, também, muitas inteiramente isoladas ou separadas, detém a arte de distinguir os gêneros, conforme a capacidade de se combinarem ou de não combinarem. Entretanto, isto só é próprio de quem sabe Filosofar com Pureza e com Justiça.

 

O sofista não se inclui no número dos que sabem, mas no dos que imitam.

 

A alma da maioria dos homens carece de olhos capazes de se fixar nas Coisas Divinas.

 

Os mais importantes gêneros são o Ser, o Repouso e o Movimento, sendo que os dois últimos absolutamente não se misturam. Porém, o Ser se mistura com ambos, pois, de uma forma ou de outra, ambos são. Cada um deles, então, é diferente dos outros dois, todavia, igual a si mesmo. Mas, se, neste momento, acrescentarmos o Outro e o Mesmo, serão dois gêneros diferentes daqueles três, embora sempre e fatalmente misturados com eles, o que nos leva a considerar como cinco os gêneros existentes, pois o Repouso e e Movimento não são nem o Outro nem o Mesmo.

 

Entre os seres, alguns são considerados em si mesmos e outros sempre em suas relações recíprocas.

 

Não pode haver Outro a não ser em relação com outra coisa.

 

O conhecimento é uno; porém, são separadas as partes relacionadas com determinados objetos e recebem denominações específicas. Daí haver tanta variedade de artes e de conhecimentos.

 

 

 

 

Um pouco mais acima, Platão escreveu: Quando alguém se dispõe a enunciar o Não-ser não fala, seja a ele atribuindo pluralidade, seja a ele atribuindo unidade, por ser ele inconcebível, indizível, impronunciável e indefinível. Agora, escreveu Platão: o Não-ser em nada será inferior aos outros gêneros, com relação ao Ser, sendo lícito afirmar sem vacilações, que o Não-ser possui incontestavelmente natureza própria, e assim como o grande é grande e o belo, belo, e também o não-grande, não grande, e o não-belo, não belo. Do mesmo modo, podemos dizer que o Não-ser tanto era como é Não-ser, tendo, pois, de ser contado como uma idéia no conjunto dos seres. Portanto, os gêneros se misturam uns com os outros e o Ser e o Outro penetram em todos e se interpenetram reciprocamente, e o Outro, por participar do Ser, existe pelo próprio fato desta participação, sem ser aquilo de que ele participa, porém Outro, e por ser Outro que não o Ser, é mais do que evidente que terá de ser Não-ser. Por sua vez, o Ser, por participar do Outro, torna-se um gênero diferente dos outros gêneros, e por ser diferente de todos, não será nem cada um em particular nem todos eles em conjunto, mas apenas ele mesmo. A esse modo, não é possível absolutamente contestar que há milhares e milhares de coisas que o Ser não é, e que os Outros, por sua vez, ou isoladamente considerados ou em conjunto, de muitas maneiras são, como de muitas maneiras também não são.

 

A tentativa de separar tudo de tudo é prova de grosseria e de absoluto alheamento das Musas e da Filosofia. O mais radical processo para acabar com qualquer espécie de discurso é isolar cada coisa do seu conjunto, pois o discurso só nos surge pronto pelo entrelaçamento recíproco das partes.

 

Nada há de mais importante do que a Filosofia.6

 

Sempre se pode avançar, ainda que seja um pouquinho de cada vez. Quem desanima em coisas simples, ante a escassez de resultados satisfatórios, como haverá de se comportar em conjunturas mais sérias, em que não venha a assinalar nenhum avanço ou mesmo seja obrigado a recuar? Como diz o provérbio, um tipo assim nunca tomará cidade alguma.

 

 

 

 

A sentença, desde que se forma, por força terá de se referir a alguma coisa; sentença de nada é que não é possível haver.

 

Pensamento (diálogo interior da alma consigo mesma que se processa em silêncio), opinião (afirmação e negação) e imaginação (opinião que se forma em alguém, não por ela mesma, mas por intermédio alguma sensação): todos estes gêneros ocorrem em nossa alma como verdadeiros e como falsos.

 

Capacidade criadora é tudo o que for causa de vir a existir o que não existia. A arte criadora consta de duas partes: uma é Divina; a outra, humana. Todas as coisas que atribuímos à Natureza são produto de uma Arte Divina, e as que os homens compõem por meio daquelas o são de uma arte humana, e, de acordo com esta explicação, há duas espécies de arte criadora: a humana e a Divina.

 

Conclusão: A espécie imitativa e suscitadora de contradições da parte dissimuladora da arte baseada na opinião, pertencente ao gênero imaginário que se prende à arte ilusória da produção de imagens, criação humana, não-divina e desse malabarismo ilusório com palavras. Quem afirmar que é de semelhante sangue e desta estirpe que provém o verdadeiro sofista, só dirá, como parece, a pura verdade.

 

 

 

 

Vigilância!
Prescindência!
Incessância!
Prudência!

 

 

 

Vigilância! Prescindência

do autoritarismo dos patetas!

Incessância! Prudência

com a canalhice dos profetas!

 

Vigilância! Prescindência

dos abolorecidos cânones!

Incessância! Prudência

com os hematófagos insones!

 

Vigilância! Prescindência

da Boceta da Srta. Pandora!

Incessância! Prudência

com a tintura que descolora!

 

Vigilância! Prescindência

de sortistas embromadores!

Incessância! Prudência

com os fajutos abençoadores!

 

Vigilância! Prescindência

de quem se diz milagreiro!

Incessância! Prudência

com quem é benzedeiro!

 

Vigilância! Prescindência

dos que só comprometem!

Incessância! Prudência

com os que (re)prometem!

 

Vigilância! Prescindência

das salvações negociadas!

Incessância! Prudência

com as remissões pagadas!

 

Vigilância! Prescindência

dos que vilmente fragilizam!

Incessância! Prudência

com os que abarbarizam!

 

Vigilância! Prescindência

dos que se contradizem!

Incessância! Prudência

com os que interdizem!

 

Vigilância! Prescindência

Incessância! Prudência

 

Vigilância! Prescindência

Incessância! Prudência

com o obtuso e o agudo!

 

No Coração de todos nós,

há tudo o que precisamos.

No Coração de todos nós,

há tudo o que idealizamos.

 

Do lado de fora, no exterior,

ficcionismo ilusório multicor.

Do lado de dentro, no interior,

LLuz livradora, Vida e Amor!

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Mesmo retendo o melhor e rejeitando o pior, nem tudo se pode apre(e)nder em uma única encarnação. Portanto, a pressa do Speedy Gonzales (açodadinho) e dos neófitos (ainda pouco informados) é baldada.

 

 

Speedy Gonzales

 

2. Por se entretecerem, há três questões aqui que precisam ser rapidamente examinadas. Primeira: o que a nossa personalidade-alma realmente sabe ou acredita saber é e será sempre fidedignamente e cosmicamente correto? Segunda: o que, para nós, mesmo que seja fidedigna e cosmicamente correto, pode(rá) ou não pode(rá) ser passível de revisão ou de atualização? Terceira: se houver revisão e atualização no que era considerado fidedignamente e cosmicamente correto, o que era considerado fidedignamente e cosmicamente correto era mesmo fidedignamente e cosmicamente correto? Ora, o fato é que, se a coisa era ou se não era fidedignamente e cosmicamente correta, isto é o que menos importa, caso sempre tenha havido boa vontade, sinceridade e probidade no tratamento do dado considerado como fidedignamente e cosmicamente correto, o que não releva, entretanto, um plausível equívoco de avaliação, pois tudo, na verdade, precisa ser revisto e atualizado. Logo, no que concerne a nós, seres-no-mundo em peregrinação, verdadeiramente nada pode existir, em nossa presunção de concertamento, que seja absolutamente digno de crédito e de confiança e cosmicamente irretocável. Mas, o que não é possível é vivermos ancorados em uma imobilidade covarde e cinzenta, nos alimentando dia e noite e noite e dia apenas de papinha morninha de deixapralá e isenta de Low Density Lipoprotein (LDL). Isto não existe nem aqui nem no cu-do-conde. Tomar decisões é preciso! Agir é preciso! Expor-se é preciso! Pagar o preço é preciso! Por isto, devemos decidir e agir; mas se decidirmos e se agirmos em contraposição às Leis Cósmicas, o que é, devido à nossa ignorância, o mais comum, compensaremos tanto nossas agrestices mal-intencionadas quanto nossas donzelices bem-intencionadas. Isto é inapelável, irrecorrível! Bem, quanto a mim, confesso, tenho consciência de que, ao longo do tempo, eu virei pelo avesso. Hoje, tenho extremo cuidado ao afirmar alguma coisa, isto sem falar nos momentos de desespero silente e solitário que episodicamente passo por causa do tamanho da minha ignorância. A coisa é mais ou menos assim: quanto mais, tanto menos. Enfim, alguns dos rascunhos que já publiquei, e que vocês, provavelmente, tiveram a oportunidade de conferir, mostram claramente este ocasional estado de espírito. Eu não tenho mesmo nada que esconder.

3. Entretanto, se, por um lado, é falsa a proposição que afirma a existência do Não-ser ou a não-existência do ser, por outro, não é falso o entendimento de que o não-sou é a irrealização do Eu-sou. O não-sou está muito bem exemplificado no Mito ou Alegoria da CavernaA República (livro VII).

 

Alegoria da Caverna

Ilustração da Alegoria da Caverna

 

4. Aqui, galantemente tenho de discordar de Platão. Argumentando: se as verdades por nós apreendidas só podem ser (pois sempre foram e sempre serão) relativas e passíveis de revisão e de atualização, o que importa, em realidade, não é a Verdade como Verdade, mas as pessoas peregrinas. Se houver uma Verdade Absoluta, e se admitirmos que as pessoas busquem e se dirijam para esta Verdade, nada poderá ser mais importante do que as próprias pessoas que perquirem esta Verdade. E uma presumida Verdade Absoluta, se um dia puder ser alcançada, só poderá sê-lo, paulatinamente, de verdade relativa em verdade relativa.

5. Aqui também não creio que seja pela presença e pela posse da justiça que uma alma se torna justa, mas, sim, pela presença e pela posse da compreensão. Ninguém poderá ser efetivamente justo se não compreender. E, enquanto não compreender, não será livre, e quem não é livre não pode ser justo.

6. Filosofia ‹— FiloShOPhIa.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.clker.com/clipart-man-push.html

http://www.hyponoesis.org/More/Definitions

http://focusfusion.org/index.php/site/article/new_
animations_and_images_in_from_torulf_greek

http://www.iop.kiev.ua/~obraun/tribo-rolling.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna

http://www.homelement.com/Accent-Furniture/Accent-
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http://basileia-reino.blogspot.com.br/2010/08/
relacao-da-concepcao-de-platao-sobre-o.html

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http://alquimistas.evilnolo.com/2005/10/10/sofismas
-tecnologicos-que-envuelven-al-disenador/

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C3%A1goras_de_Abdera

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http://www.4shared.com/get/SfevCf4w/
Filosofia_-_Plato_-_O_Sofista.html;jsessionid=
A1223D151A6B9CE26FD69D2E378037C4.dc330

 

Música de fundo:

Speedy Gonzales
Composição: Abraham Isaac Quintanilla III
Interpretação: Kumbia All Starz

Fonte:

http://www.4shared.com/get/WYwr2buv/
Kumbia_All_Starz_-_Speedy_Gonz.html

 

Direitos autorais:

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