Os
poetas, quase todos, fazem as mesmas coisas.
Há
uma arte poética como um todo.
Na
pintura há e houve muitos pintores bons e muitos medíocres.
Alguém
que seja capaz de discorrer sobre Polignoto, filho de Aglaofonte, demonstrando
ser perito sobre o que ele desenha bem e sobre o que não desenha,
será também capaz de fazer o mesmo sobre outros pintores.
Em cada um de nós, se manifesta
uma Potência Divina que nos movimenta, como na Pedra que Eurípides
nomeou de Magnética, e que muitos a chamam de Pedra
de Hércules.2
Esta Pedra não só atrai os anéis de ferro, como a eles
infunde poder, de modo a novamente fazê-los ter o mesmo poder que
a Pedra, isto é, atrair outros anéis. É daquela Pedra
que pende a Potência para todos estes anéis. No caso das declamações
de poesias, os espectadores são o último dos anéis
a receber o poder que, sob o efeito da Pedra de Hércules, passa de
um para o outro. O primeiro é o próprio poeta; o do meio é
o rapsodo. Os Deuses, através de ambos, dirigem as almas dos homens
para onde quiserem, fazendo passar o poder de uns para os outros.
Todos
os
bons poetas épicos,
não por técnica, mas sendo inspirados e possuídos,
dizem todos belos poemas. Já os bons
poetas líricos se assemelham aos
coribantes3,
que, não estando conscientes, dançam em harmonia e no ritmo.
Leve é coisa do poeta, sendo
alada e sagrada. Inicialmente, o
poeta não consegue
compor, antes de se tornar inspirado, de ficar fora de si, quando o pensamento
não habita mais nele. Até que tenha esta aquisição,
todo homem é incapaz de compor e de proferir oráculos. Então,
já não é mais por técnica que os
poetas fazem
e dizem muitas e belas coisas sobre os acontecimentos, mas por parte Divina,
pelo Poder Divino.
Os
Deuses, extraindo o pensamento dos
poetas,
usa-os como auxiliares, profetas e adivinhos divinos, a fim de que nós,
os ouvintes, saibamos que não são eles que falam coisas assim
muito dignas, pois o seu pensamento não está presente, mas
são os próprios Deuses os comunicantes, que, através
deles, se comunicam conosco.
Alguns
poemas não são humanos nem dos homens, mas Divinos e dos Deuses;
os poetas nada mais são que intérpretes dos Deuses, e cada
um é possuído pelo deus que o possuir. E assim, os Deuses
– mostrando estas coisas de propósito, através do mais
medíocre poeta –
transmitem os mais belos versos líricos.
É por parte Divina que os
poetas interpretam para nós as coisas que estão junto dos
deuses.
Quando
os rapsodos se emocionavam, produziam estes mesmos efeitos na maioria dos
espectadores, que chorando e olhando de maneira terrível, ficavam
assombrados com as coisas que eram ditas.
Não
é por técnica nem por ciência que os rapsodos recitam,
mas por possessão Divina, tal como os coribantes que só sentem
intensamente aquela parte do verso lírico pela qual são possuídos
pelo Deus que os inspira.4
A
cada uma das técnicas, foi dada por Deus uma função
que a torna capaz de ser conhecida, pois não conheceremos pela técnica
do piloto o que conhecemos pela técnica médica. Aquilo que
conhecemos através de uma técnica não conheceremos
através de outra.
Conhecemos
uma mesma coisa necessariamente por intermédio de uma técnica,
porém nunca conheceremos
esta mesma coisa por outra técnica;
uma vez que se trate de uma técnica diferente, é necessário
que seja outro o objeto do seu conhecimento.
É
muito mais belo ser reconhecido como homem divino do que como homem injusto.