CONSIDERAÇÕES
ESOTÉRICO-NUMÉRICAS SOBRE O PENSAMENTO DE PLATÃO
Rodolfo
Domenico Pizzinga
http://www.rdpizzinga.pro.br/
Música
de fundo: Zorba, The Greek
Fonte: http://www.musicasmaq.com.br/zorba.htm
PLATÃO (427 a. C. - 347 a. C.)
A semelhança
entre os pensamentos platônico e pitagórico talvez
seja, em parte, basilarmente, provinda dos ensinamentos egípcios
e babilônicos que ambos conheciam. O que parece ser indiscutível,
entretanto, é que Platão sofreu benfazeja influência
de seu predecessor. De qualquer forma, como disse Raymond Bernard,
Platão é um TRANSMISSOR no sentido mais sagrado
do vocábulo. Entende-se que Pitágoras também.
Platão e Pitágoras (KH – o Ilustre) foram
ambos Altos Iniciados das Antigas e Arcanas Escolas de Mistérios.
No livro VII de A
República, Platão discutiu a importância
da aritmética, da geometria, da astronomia e da harmonia,
que considerou pilares indispensáveis e insubstituíveis
do processo educativo e dialético, cuja finalidade é
o conhecimento do BEM, tendo admitido que sem o conhecimento do
cálculo e da aritmética, a VERDADE não poderá
ser alcançada. E o filósofo, para atingir a essência
(o NÚMENO), deve conhecer aprofundadamente aquelas ciências.
O maior mathema, segundo Platão, era (e continua
sendo) a IDÉIA DE BEM. O aprendizado do cálculo,
para este fim específico, deve acontecer pela contemplação
da natureza dos números exclusivamente pelo pensamento,
de tal sorte a facilitar
a passagem da própria alma da mutabilidade à verdade
e à essência.[1]
Quando os sentidos não têm capacidade e confiança
para fazer um juízo adequado, a alma deve usar o cálculo
e a inteligência para saber se os objetos dos sentidos são
um ou dois, e, ao surdir o conceito de pluralidade, a alma haverá
de questionar: Que
é unidade absoluta? Assim, a apreensão
intelectual da UNIDADE — do UM — incita a mente à
contemplação do SER, quando então alcança
o conhecimento de que UM
É UM E ILIMITADO EM MULTIPLICIDADE. Esse conhecimento,
segundo Platão, impõe ao homem que eleve
poderosamente a alma para o alto |forçando-a|
a discorrer sobre
os números em si.[2]
Este conhecimento, esta experiência, é estritamente
pessoal e intransferível. Neste instante, propõe-se
uma breve pausa, para se refletir sobre uma curta declaração
de Nietzsche (1844-1900), a quem muitos ainda hesitam em reconhecê-lo
como místico: Ninguém
pode extrair mais das coisas/Inclusive dos livros que já
conhece./O homem não tem ouvidos para aquilo,/que a experiência
não lhe deu acesso. Por isso, só pela
experiência pessoal, íntima e solitária, no
santuário interno de seu IMACULADO TEMPLO (In Imo Corde),
poderá o ser, como recomendou Platão, contemplar
os mistérios do Universo, e reconhecer realizando que UM
É UM E ILIMITADO EM MULTIPLICIDADE. Fora, não.
A experiência, assim, gera conhecimento. Todavia, o conhecimento
em si é nada se não for adequadamente utilizado.
SABEDORIA É A CORRETA APLICAÇÃO DE UM CONHECIMENTO
ADQUIRIDO POR ESFORÇO E EXPERIÊNCIA PESSOAIS. Caridade!
Caridade! Caridade! Humildade! Humildade! Humildade! Solidariedade!
Fraternidade! Amor! PAZ!
O filósofo não
pode prescindir da aritmética, devendo compelir a alma
a raciocinar sobre números abstratos, senda segura e conducente
à passagem do vir-a-ser ao Ser e à Verdade (ainda
que sempre relativos). Nesse nível, o mundo material subordina-se
e reflete o plano das energias espirituais.
A geometria, apesar
de prática, na sua parte central e mais adiantada, tende
a impulsionar e a ascensionar a alma para a IDÉIA DE BEM,
e a fazer irromper o próprio espírito da filosofia,
sendo esta o conhecimento
do que existe sempre.[3]
Por isso, segundo Platão, são diferentes aqueles
que estudaram geometria daqueles que a ela não deram atenção.
No portal da Academia que fundou na Ilha de Egina estava escrito:
NÃO ENTRE
AQUI QUEM NÃO FOR GEÔMETRA.
A astronomia, por seu
turno, obriga as almas a contemplarem o céu estrelado,
elevando e transportando a consciência das coisas terrenais
às celestiais. O firmamento, propugnou Platão, deve
ser utilizado como modelo de um conhecimento superior, para que
a parte inteligente da alma, de inútil torne-se útil
e produtiva, compreendendo que o Demiurgo tudo criou da forma
mais perfeita. Esse conhecimento esposado por Platão, já
era professado por Pitágoras, que advertiu que a contemplação
dos corpos celestes (ordem celestial), purificava lentamente o
ser, acabando por libertá-lo do ciclo compulsório
de nascimentos, imortalizando-o. Na verdade, a imortalidade só
poderá ser alcançada pela construção
consciente do próprio Mestre Interior. Aqui cabe a advertência
de que a contemplação, à qual aludiu Pitágoras,
induz à meditação, estado alterado de consciência
oposto à concentração. Hodiernamente, costuma-se
confundir essas duas instâncias da mente. Enquanto a concentração
utiliza mecanismos mentais de ordem racional, o estado meditativo
(contemplação) propicia experiências em um
plano, por assim dizer, TRANSRACIONAL, melhor, TRANSNOÉTICO.
Há, como se pode depreender, no pensamento de Pitágoras,
de Platão e de outros filósofos um certo hermetismo
de decifração obscura e labiríntica. Entretanto,
entende-se, indubitavelmente, inclusive por várias afirmações
de cariz hermético, que tanto Pitágoras quanto Platão,
quando se referiram ao termo CONTEMPLAÇÃO,
usaram-no no sentido de MEDITAÇÃO. Possivelmente
a contemplação induza preliminarmente a vivências
e a experiências em um PLANO TRANSNOÉTICO. Posteriormente,
a razão decodifica tais experiências no nível
racional. De qualquer forma, o retirar-se para meditar vem de
longe. O filósofo chinês Lao Tsé enfatizava:
Evita a ação,
permanece em silêncio, o resto são comentários.
O retiro de Jesus foi semelhante ao de Orfeu nos montes da Trácia.
Moisés retirou-se no Sinai, Zoroastro isolou-se no Bordjah,
e Manu escolheu as montanhas ao longo do Ganges. Entretanto, subir
a montanha, esotericamente, significa elevar o
Eu espiritual interior a uma altura na qual a COMUNHÃO
CÓSMICA possa ser plena e definida. Subir
a montanha é entrar em contato com o D'US INTERNO
— o MESTRE INTERIOR construído por nossa própria
volição. Esses contatos, a bem da verdade, independem
de montanhas, e subir
a montanha em busca da iluminação, como
ensinou Harvey Spencer Lewis, na obra A Vida Mística de
Jesus, é tão-só uma frase simbólica.
O importante é o isolamento, o propósito, o mérito
e a disponibilidade interna. A mais alta montanha que cada ser
singular poderá vir a subir está em seu próprio
interior, no SANCTUM SANCTORUM que se encontra sempre
aberto, iluminado e preparado para recebê-lo. Os martinistas
referem-se à SENDA CARDÍACA. E a única
vestimenta adequada para essa cerimônia íntima é
o despojo de vaidades, de preconceitos e de pré-condições
mentais, pois, nessa hora iluminante e ímpar da vida, o
ser aprenderá e realizará coisas que, em sua maioria,
são incompatíveis com os critérios e com
os conceitos que a sociedade, os códigos e a própria
razão estabeleceram e vêm estabelecendo ao longo
do tempo. É a MÚSICA DAS ESFERAS, que é mais
do que música! Kepler, no
Harmonices Mundi,
afirmou:
Os movimentos dos céus não são mais que uma
eterna polifonia. É o JARDIM, que é
mais florido e exuberante do que todos os jardins. É o
BELO que não se compara ao belo vivenciado no Plano Terra.
É a PAZ. É a VIDA. É o BEM sem igual. É
a sensação múltipla (que é apenas
uma) de segurança, de certeza, de confiança e de
participação na UNIDADE que move e anima o TODO.
É o começo de algo que promete o inconcebível,
porque o concebível que é realizado, em si só,
já é extraordinário e inexprimível
por simples palavras. Assim relatam, resumidamente, aqueles que
se puseram em caminho, atravessaram o deserto, subiram a montanha
e conquistaram o CASTELO. É o início da verdadeira
compreensão e realização do VERBUM DIMISSUM.
No princípio era a PALAVRA com a qual os
Elohim criaram das Divinas Potências a essência
do Céu e da Terra. Hoje e amanhã a PALAVRA IMPRONUNCIÁVEL
é e continuará sendo.
Farei
aqui um parêntesis para, rapidamente, abordar um assunto
que poucos conhecem. Somos profundamente influenciados pelos sons
externos. Isto é óbvio. Assim, se escutarmos músicas
que tendam ao caos e à desordem, o nosso corpo físico
e os outros seis corpos constitutivos do nosso ser, pela Lei da
Correspondência, serão levados também à
desorganização e, portanto, a um estado desarmônico
e doentio. Isto é conhecido como vibração
por simpatia. Histeria, depressão, alergias, desequilíbrio
na produção de hormônios pelas glândulas
endócrinas, atrofia do organismo, aumento na pressão
sangüínea, esterilidade, comprometimento das ondas
cerebrais alfa, confusão mental, inversão de comportamento,
distress, insegurança psicológica, câncer
e até ataques cardíacos fatais por alteração
dos ritmos naturais do coração podem ocorrer como
resultado de danos fisiológicos e psicológicos.
Um ex-músico de rock recomenda enfaticamente que, por
nenhum motivo, sejam
escutadas as seguintes classes de rock: Heavy
Metal, Acid Rock, Rock Satânico, Punk, Dark, Pornô
Rock e Rock Assassino. Sobre esse tema, convido você,
Meu Irmão, que leia o trabalho que escrevi Água:
Ímã da Vida (Algumas Propriedades Terapêuticas
da Água e Alguns Exercício Místicos),
que roda em:
http://www.rdpizzinga.pro.br/livros/agua/agua.html
No
que concerne à harmonia, Platão repreendeu os que
colocam os ouvidos à frente do espírito, no labor
improfícuo de medir acordes harmônicos e sons uns
com os outros. Para Pitágoras – que descobriu que
os principais intervalos musicais podem ser exprimidos em proporções
numéricas simples entre os quatro números da Tetractys
(a Pitágoras é atribuída a descoberta do
intervalo de uma oitava 2:1, uma quinta 3:2, uma quarta 4:3, e
um tom 9:8) e
para Platão, astronomia e harmonia são ciências
irmãs, e o que a primeira é para os olhos, a segunda
é para os ouvidos, havendo nelas uma perfeição
que todo conhecimento deveria se esforçar por tentar alcançar.
O estudo da harmonia, enfim, ensinou Platão, deve
proporcionar a compreensão e a observação
de quais são os números harmônicos e quais
não o são, e por que razões diferem[4].
Segundo tal compreensão, a música aparentemente
proporciona o deleite da alma. A MÚSICA DAS ESFERAS CELESTIAIS
(a Música Eterna), intrinsecamente constitutiva da ALMA
DO MUNDO, só pode ser conhecida pelo espírito em
sua energia indefinível e em grau de harmonia semelhante
à própria harmonia desse som inaudível. Platão,
em vários trechos da República, determinou que essa
harmonia musical deve refletir-se tanto na saúde psíquica
do ser, quanto na ordem pública da própria República.
Enfim, desde a Antiga Grécia até o Renascimento,
as Sete Artes Liberais estavam divididas em dois gupos: Trivium
(saberes humanos) e Quatrivium ou Matemáticas
(saberes exatos). O Trivium era composto da Gramática,
da Dialética e da Retórica. O Quatrivium
estudava o imutável: Geometria, Aritmética, Música
e Astronomia.
A compreensão desses princípios e o estudo metódico
e comparado de todas essas ciências facultarão a
que se alcance um ponto de intercomunhão e que se constate
suas mútuas afinidades. Este curriculum proposto
por Platão visava, em última instância, a
dois aspectos principais: disciplina mental e desenvolvimento
do pensamento abstrato. A filosofia platônica passa, assim,
da investigação horizontal para a dialética
vertical, esforço do pensamento no sentido de alcançar
a Verdade. A verdadeira Dialética é fome e sede
de VERDADE, que só pode ser alcançada e conquistada
assintoticamente.
No Timeu, obra outonal de Platão e com profunda
conotação alquímica, o Filósofo, já
na primeira fala, referiu-se ao QUATERNÁRIO,
vocábulo que denota o nível do criado dentro do
Universo, no qual todas as forças são produto da
dinâmica dos quatro elementos: FOGO,
AR, ÁGUA e TERRA.
Há uma óbvia relação com a quaternidade
inferior do ser neste plano: CORPO FÍSICO, CORPO ETÉRICO,
CORPO ASTRAL E EU. Entretanto, apesar de a obra começar
com a descrição da Atlântida e seu desaparecimento,
seu conteúdo prevalecente versa sobre a criação
e a natureza do Universo. E assim, tudo
que nasce, nasce necessariamente pela ação de uma
causa, pois é impossível que seja lá o que
for possa nascer sem causa[5].
E a melhor das causas é o CRIADOR, ser eterno, não-nascido,
ao qual Platão chamou de MESMO,
por associá-lo à imobilidade e à eternidade
da perfeição, em contraposição ao
Outro,
ser efêmero, imperfeito e associado à mobilidade
e à descontinuidade da matéria. O MESMO
representa, portanto, a permanência, e está relacionado
à idéia de ilimitabilidade; o Outro
representa a impermanência e está associado ao conceito
de limitação. Mas, ainda que limitado, o Outro
tem, segundo Platão, sua origem no SER
ILIMITADO, cuja meta deve ser ultrapassar as limitações
da própria mutabilidade e se alçar, assintoticamente,
ao plano essencial no qual permanente, imutável e eternamente
convizinham a VERDADE
e a PERFEIÇÃO,
vale dizer, o SVMMVM BONVM.
Desejando que todas as coisas fossem como ELE mesmo, Platão
entendeu que DEUS formou o devir e o Universo da maneira que segue:
...após
ter colocado o Intelecto na Alma, a Alma no Corpo, formou
o Cosmos, para dele executar uma obra que essencialmente fosse
a mais bela e a melhor... o Cosmos, que é verdadeiramente
um ser vivo provido de Alma e de Intelecto, e assim gerado
pela ação da Providência de um Deus[6].
E
para que a obra fosse essencialmente a melhor e mais bela, continua
Platão, Deus
tornou o todo em forma esférica e circular,
começando a construção do mundo pelo FOGO
e pela TERRA.
Mas como duas coisas devem possuir uma terceira para ligá-las,
e como o mundo não é plano, mas sólido, Deus
colocou ÁGUA
e AR
entre a TERRA
e o FOGO,
dando-lhes a mesma proporção, de tal modo que, ALQUIMICAMENTE,
o que o fogo é
para o ar, o ar o foi para a água, e o que o ar é
para a água, a água o foi para a terra[7].
O OVO ALQUÍMICO simboliza esotericamente este conceito.
A alma, indivisível e imutável, estabelecida no
meio do corpo do Todo, formou-a Deus antes do corpo, e, sendo
em origem e em excelência mais antiga e virtuosa do que
o corpo foi criada para comandá-lo. A alma, portanto, rege,
o corpo obedece. Pelo menos a ordem deveria ser essa. Aliás,
a ordem cósmica deverá acabar por se cumprir desta
forma. Mas ainda não acontece assim, pois o Triângulo
Superior da constituição setenária do ente
pouca influência tem sobre a Quaternidade Inferior. Ao se
completarem as SETE RONDAS, isto, talvez, possa vir a acontecer.
A cada um cabe despender herculano esforço para cumprir
sua reintegração, e auxiliar a todos a encontrarem
as chaves que abrem as portas desse conhecimento. É preciso
ser compreendido hiperbolicamente, entretanto, que a reintegração
singular é falaz e também ilusória. O Universo
é UM. Platão, certamente, conhecia e, privativamente,
discutia e ensinava estes princípios.
Uma
TERCEIRA ESSÊNCIA
intermediária foi também criada, segundo a filosofia
platônica, participando da natureza das duas primeiras,
tendo sido interposta entre o indivisível e o material
(divisível). Não estará aqui a indicação
clara de que Platão teve acesso a um conhecimento alquímico
transcendental? Não se constituirá essa TERCEIRA
ESSÊNCIA no FOGO dos Alquimistas? Mercúrio
e Enxofre só podem realizar a OBRA pela intermediação
do FOGO, a TERCEIRA
ESSÊNCIA. E assim, Enxofre, Mercúrio
e Sal formam o Triângulo Perfeito da Criação
com seus TRÊS PLANOS, a TETRACTYS dos pitagóricos
e a manifestação espiritual trinitária platônica.
Na Alquimia, essa essência espiritual que agirá sobre
o Mercúrio é oriunda do próprio Enxofre e,
assim, da união do Enxofre com o Mercúrio, é
produzido um mercúrio modificado - MERCÚRIO
DOS FILÓSOFOS - ponto de convergência ou terceira
manifestação, vale dizer, Sal. É sobre esse
Sal que todas as operações alquímicas são
efetuadas. Esta é, iniciaticamente, a ALQUIMIA INTERIOR
de construção do MESTRE DO TEMPLO INTERIOR,
à qual se dedicam os Rosacruzes. De qualquer modo, sabia
Platão que, sem o concurso dessa TERCEIRA
ESSÊNCIA, a criação não
se poderia ter realizado. Essa TERCEIRA
ESSÊNCIA é equivalente (cabalisticamente)
a KeTheR que estabelece a união entre os dois
sephiroth inferiores: ChoKMaH e BINaH.
Combinou
Deus essas três substâncias em uma e dividiu esse
todo, composto pelo MESMO,
pelo Outro
e por essa TERCEIRA
ESSÊNCIA, em tantas porções quantas
achou conveniente, de acordo com as etapas seguintes:
Primeira |
uma
parte do todo |
1 |
Segunda |
dobro
da primeira |
2 |
Terceira |
três
vezes a primeira |
3 |
Quarta |
dobro
da segunda |
4 |
Quinta |
triplo
da terceira |
9 |
Sexta |
oito
vezes a primeira |
8 |
Sétima |
vinte
e sete vezes a primeira |
27 |
Tabela
1: Etapas da Criação Universal
*
A
divisão apresentada por Platão no Timeu
da mistura do MESMO,
do Outro
e da TERCEIRA ESSÊNCIA
pode ser visualizada e esquematizada conforme mostra a Figura
1 abaixo.
MANIFESTAÇÃO
ESPIRITUAL TRINITÁRIA |
crescei
em acréscimo |
multiplicai
em multidão |
Figura 1: Série das Formas do Mundo Sensível
*
Depois, os intervalos duplos e triplos foram preenchidos por retirada
de porções da mistura, de modo que em cada um houvesse
duas espécies de elementos ou meios. A partir daí,
Deus, segundo Platão, dividiu como um X toda essa composição,
fazendo com que seus meios coincidissem, e modelou, ligou, impôs
movimento e quando terminou de moldar a
alma, formou no seu interior o Universo
corpóreo. A seguir, juntou os dois e os uniu
centro com centro, criando, nesse sentido, primeiro o ARQUÉTIPO
e depois o TIPO. Girando a alma em torno de si mesma, foi iniciado
o princípio da vida racional. E assim, Platão entendeu
que a diversificação do Cosmos foi engendrada segundo
o mais perfeito padrão de ordem e de beleza. Leibniz viria
a pensar de forma semelhante a Cosmogênese.
Para tornar Sua criação mais perfeita, Deus
resolveu ter uma imagem movente da eternidade, pondo o Céu
em ordem de acordo com os NÚMEROS.
A essa imagem o homem chama tempo
– que nada mais é do que o duramento da percepção
da consciência.
NO
ÂMBITO DA ATUALIDADE CÓSMICA TEMPO E ESPAÇO
INEXISTEM. NO ÂMBITO DA REALIDADE E DA CIÊNCIA O TEMPO
PODE SE APRESENTAR DILATADO OU CONTRAÍDO.
Em
resumo, Platão entendeu que o Universo é constituído
por uma tríade: INTELIGÊNCIA,
ALMA E CORPO.
E, por outro lado, há o ARQUÉTIPO que corresponde
ao PAI; há a IMITAÇÃO correlacionada ao FILHO;
e há, ainda, o RECEPTÁCULO DE TODO O CRIADO que
equivale à MÃE. Ser, geração, espaço.
Assim, o Universo contempla e contém toda a criação.
O corpo do Universo consiste de Fogo e Terra, tendo como liga
o Ar e a Água, em um amálgama belo, perfeito, harmônico
e trino. A perfeição (Triângulo) está
presente neste conceito, no qual a estabilidade (Quadrado) é
dada pelos quatro elementos, ficando nítida, por esta combinação,
a presença e a influência do Teorema de Pitágoras
e as Leis da Alquimia na obra platônica.
A obra O Universo
dos Números apresenta, resumidamente, os atributos
ou correlações entre o ARQUÉTIPO e o TIPO[8],
que estão transcritas abaixo, na Tabela 2:
ARQUÉTIPO |
TIPO |
Abrangido
pela inteligência |
Percebido
pelos sentidos |
Invisível |
Visível |
Incorpóreo |
Corpóreo |
Indivisível |
Divisível |
Imaterial
|
Material |
Sem
movimento |
Em
movimento |
Tabela
2: Correlações Platônicas entre Arquétipo
e Tipo
A hierarquia do
Universo pode ser, finalmente, compreendida na obra platônica
da seguinte forma: o Misto Total Unitário do Intelecto
Transcendente de harmonia absoluta e entropia nula; o Mundo Binário
da Alma caracterizado pelo movimento e pela contraposição
de energias entropizantes e anti-entropizantes; e o Ternário,
composto de Intelecto, Alma e Corpo[9].
Sobre a totalidade da filosofia platônica, compreende-se
que sua mais sublime intenção foi auxiliar o homem
a se compreender e a se libertar da CAVERNA. E o aprendizado só
poderá começar realmente com a libertação
do não-material das necessidades ilusórias do corpo
material. A criação místico-iniciática
do Mestre Interior não é compatível com as
ilusões do Plano Terra. E, à medida que o ser avança
em uma dialética filosófica ascensional, aprende
e compreende que só MORRENDO É QUE NASCERÁ.
E filosofar, ainda que possa parecer absurdo e ilógico,
é APRENDER A MORRER. E ao aprender a morrer, ao morrer
e ao renascer na LLUZ, o ser (servidor incógnito) volta
à Caverna para transmitir aos cegos a LUZ da LLUZ que contemplou
do lado de fora, LUZ que é mais do que luz, porque é
LUZ da LLUZ. LUZ que o promoverá simbolicamente do primeiro
sephirah cabalístico ao segundo ou seja, do Reino
ao Fundamento. LUZ, enfim, que ele não deseja
só para si, porque sabe que não pode ser só
sua, porque venceu o egoísmo, porque compreendeu que é
patrimônio inerente à toda Humanidade, que sem saber,
em seu âmago, anseia por Ela. LUZ, que além de libertar,
confirma que enquanto um único ser no Universo não
vislumbrá-La, relativamente, este mesmo Universo não
será livre. LUZ da LLUZ que, ao mesmo tempo em que liberta,
contraditoriamente (apenas na aparência) escraviza. Escraviza
o Portador do Archote a prazenteiramente, altruisticamente e fraternalmente
iluminar seus irmãos. Assim, o Outro
se realiza e se integra no
MESMO, mas, também, irredutivelmente, nos Outros.
MESMO,
Outro
e Outros
são, enfim, constitutivos da UNIDADE CÓSMICA, DO
BEM ABSOLUTO, DA NECESSIDADE GLOBAL, DO VERBO PERDIDO, DO JARDIM
UNIVERSAL, EM UMA PALAVRA, DO PRÓPRIO D’ US, QUE
DEVERÁ SER CONSTRUÍDO POR TODOS NÓS EM NOSSO
INTERIOR.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Todavia, ainda
que o pensamento platônico tenha estabelecido dois planos
fundamentais da Existência Global (MESMO
e Outro),
admite-se que Platão concebia que o destino ou caminho
final do Outro
só poderia ser no reencontro com o MESMO.
A verdade última, que Platão provavelmente sabia,
mas, que não a divulgou explicitamente, é que MESMO
e Outro
são UM. As mais Altas Iniciações que
recebeu nas Escolas de Mistério do Antigo Egito, autorizam
que se possa admitir que Platão, além de ter divulgado
seu pensamento de forma profundamente hermética e cifrada,
não tenha propagado (publicamente) todo o conhecimento
de que foi depositário. De qualquer sorte, sua obra é
inviolável.
DADOS
SOBRE O AUTOR
Mestre
em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF,
1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor
em Administração Escolar. Presidente do Comitê
Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor
de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica
e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento
Humano - IDHGE.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
Cs. A República, Platão, 5ª ed., p.
336. Platão entendia que o ser, pelo processo dialético,
ao dialogar silentemente consigo, acaba por apreender a essência
de cada coisa. Este método é denominado de MEDITAÇÃO.
2. Id.
3. Ibid., p. 338.
4. Ibid., p. 346.
5. Timeu e Crítias ou a Atlântida, Platão,
p. 78.
6. Ibid., pp. 80 e 81.
7. Ibid., p. 83.
8. Op. cit., p. 58.
9. Cs. a Introdução de Timeu e Crítias
ou a Atlântida, de Platão, por Norberto
de Paula Lima, passim. Cs. tb. A Doutrina Secreta de
Helena P. Blavatsky. Acrescenta-se, para elucidação,
que entropia é uma função termodinâmica
de estado que dá a medida de desordem de um sistema. A
entropia de um sistema depende tão-só dos seus estados
inicial (S1) e final
(S2), e a variação
entrópica (S)
pode ser expressa pela fórmula: S
= S2 - S1.
Xenócrates dividiu o mundo em três regiões,
cada uma correspondendo a um modo de conhecimento: Mundo Sublunar
(percepção), Céu (representação)
e Mundo Supraceleste (pensamento). Enfim, como considerações
derradeiras de todas estas especulações, entende-se
que: O UNIVERSO É HARMÔNICO; A DESARMONIA É
CAUSADA PELA IGNORÂNCIA HUMANA. NÃO HÁ ENTROPIA
NAS OITAVAS MAIS ELEVADAS DO TECLADO UNIVERSAL. A ENTROPIA SÓ
EXISTE NAS OITAVAS MAIS BAIXAS DESTE MESMO TECLADO. O UNIVERSO
CAMINHA PARA UM TÉLOS. O UNIVERSO É; OS
SERES HUMANOS, SE DESEJAREM, TAMBÉM PODERÃO
SER CONSCIENTEMENTE.
|
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BIBLIOGRAFIA
ORDEM
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their nature and function. Trad. 1ª ed. Curitiba: Grande
Loja do Brasil, 1982, 298 p.
______.
O universo dos números/Number systems and correspondences.
Trad. 2ª ed. Curitiba: Grande Loja do Brasil, 1983, 240 p.
PLATÃO.
A república. Introdução, tradução
e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. 5a ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1987, 513 p.
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das Grandes Idéias do Mundo Ocidental. Tradução
de Jaime Bruna. 3ª ed. São Paulo: Abril Cultural,
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______.
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São Paulo: Edições Cultura Brasileira, s.d.,
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Timeu e Crítias ou a Atlântida. Tradução,
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ROOB,
Alexander. O museu hermético: alquimia e misticismo.
Tradução de Teresa Curvelo. Itália: Taschen,
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