NÃO SEI

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

Não sei o que poderá ser pior,

se um mau-caráter ou um perjuro;

ambos escurecem o próprio escuro!

 

 

Não sei o que poderá ser pior,

se um corrupto ou um corruptor;

ambos ultrajam o próprio impudor!

 

 

Não sei o que poderá ser pior,

se um traidor ou um mariola;

ambos destoam a Carmanhola.1

 

 

Não sei o que poderá ser pior,

se um patifório ou um bizarro;

ambos fedem e sabem a bostarro.2

 

 

 

 

 

 

Eu sei o que poderá ser melhor:

o silêncio ao invés de uma palavra.

Isto eu descobri em minha lavra.3

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. La Carmagnole foi a canção mais popular da Revolução Francesa. Ela data de 1792; surgiu mais ou menos no momento em que a Assembéia votava a convocação da Convenção e a prisão do rei. Mas, depois, foi resgatada em todos os períodos revolucionários franceses do século XIX, particularmente em 1830 e em 1871. Na Revolução de Julho de 1830, a dinastia Bourbon foi finalmente derrubada na França. Esta Revolução serviu de pano de fundo para o romance Os Miseráveis, de Victor Hugo. Em 18 de março de 1871, estourou uma insurreição popular na qual a Comuna de Paris veio no bojo – primeiro Governo Operário da História fundado na capital francesa por ocasião da resistência popular ante à invasão alemã. A Comuna de Paris decretou: a) o alistamento obrigatório é abolido; b) a Guarda Nacional é a única força militar permitida em Paris; e c) todos os cidadãos válidos fazem parte da Guarda Nacional. Bem, isto é História, mas eu não consigo compreender nem justificar qualquer forma de violência. Então, no poema, quando digo que traidores e mariolas destoam a própria Carmanhola, isto, ainda que verdadeiro, é meramente simbólico. Como disse Marcus Tullius Cicero (106 a.C. – 43 a.C.), e com quem concordo, uma paz injusta é melhor do que uma guerra justa.

 

 

 

 

2. Feder, eu sei que esses caras fedem a quilômetros; quanto a saber a bostarro (mistura de bosta com catarro), eu imagino que saibam mesmo. Isto me fez lembrar de um fato, que é dado como verídico. Um certo magano, que tinha um mau hálito infernal, marcou um encontro com uma linda garota, que, não sei como, conhecera por telefone. Como esse fulano sabia que tinha hálito de cu, antes do encontro, se encheu de perfume, comprou uma caixa de chicletes de hortelã e meteu uns três ou quatro na boca. Logo que encontrou a moça, foi logo perguntando: — Fofinha, advinhe o que eu estou mastigando? A lindinha nem pestanejou: Cocozinho. Acertei fedor?

3. Deve-se ficar em silêncio quando é necessário ficar em silêncio; deve-se falar quando for necessário falar. Falar quando se deve calar e calar quando se deve falar é coisa de grulha bêbado! Nem sempre o silêncio é de ouro, como nem sempre a palavra é de prata; algumas vezes a palavra é de ouro e o silêncio é de prata! Mas a balbúrdia será sempre de lata! (Esta nota foi a mais tolente* que escrevi em minha vida. Apesar de tolente, foi escrita porque há certos alguéns por aí – por incrível que pareça! – que ainda não aprenderam esta elementaridade primária. Há quem chegue ao ridículo de querer fazer discurso em convenção de surdos, e há quem, por covardia ou interesse, fique calado diante das mais irracionais aberrações.)

* Tolente = mistura de coisa tola + coisa evidente.

 

Fundo musical:

La Carmagnole

Fonte:

http://thierry-klein.nerim.net/lacarmag.htm

 


Madam’ Veto avait promis (bis)
De faire égorger tout Paris (bis)
Mais son coup a manqué
Grâce à nos canonniers.

Refrão

Dansons la Carmagnole
Vive le son (bis)
Dansons la Carmagnole
Vive le son du canon!

Dansons la Carmagnole
Vive le son (bis)
Dansons la Carmagnole
Vive le son du canon!

Ah ! ça ira, ça ira, ça ira
Les aristocrat’s à la lanterne
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira
Les aristocrat’s on les pendra.

Monsieur Veto avait promis (bis)
D’être fidèle à son pays (bis)
Mais il y a manqué,
Ne faisons pas de quartier.

Antoinette avait résolu (bis)
De nous faire tomber sur le cul (bis)
mais son coup a manqué,
Ne faisons pas de quartier.

Amis, restons unis (bis)
Ne craignons pas nos ennemis (bis)
S’ils viennent nous attaquer,
Nous les ferons sauter.

Oui, nous nous souviendrons toujours (bis)
Des sans-culottes des faubourgs (bis)
A leur santé buvons,
Vivent ces francs lurons.