Haverá luz mais artificial, monstro mais perigoso e algemas mais obstaculizadoras e mais crucificadoras do homem do que as algemas de um enganoso valor? O enganoso valor só produz uma coisa: a piedade da loucura. [In: Assim Falou Zaratustra: um Livro para Todos e para Ninguém (em alemão: Also Sprach Zarathustra: Ein Buch für Alle und Keinen), escrito entre 1883 e 1885 pelo filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX Friedrich Wilhelm Nietzsche.]

 

 

 

 

Vivi e morri acreditando
no paraíso e no inferno,
em Deus e nos demônios,
em pecados veniais e mortais.

Vivi e morri acreditando
em remissão e salvação,
em salvados e excluídos,
em queridos e preferidos.

Vivi e morri acreditando
em direita e esquerda,
em limões e melancias,
em verdes e vermelhos.

Vivi e morri acreditando
em desleais e traidores,
em rancor e vendetta,
em desforra e represália.

Vivi e morri acreditando
na minha absolvição,
na minha redenção,
na minha santificação.

Vivi e morri rejeitando

Vivi e morri rejeitando

Vivi e morri rejeitando

Vivi e morri alimentando
monstros de abominável fedor,
cruzes de petefe açaimador,
algemas de enganoso valor.

Vivi e morri insistindo
em viver sem
em morrer sem
em não-ser sem