É
muito difícil saber o que é Deus por causa da limitação
de nosso intelecto e da sua união com a matéria. Assim
como a luz é o princípio pelo qual as cores se tornam
visíveis, de modo semelhante seria lógico dizer que
uma luz perfeita deveria produzir uma visão perfeita. Em
vez disto, o exato oposto é o que acontece. Uma luz perfeita
ofusca a visão. O mesmo é verdadeiro a respeito de
Deus. O conhecimento imperfeito que temos de Deus é devido
ao fato de que Ele é infinitamente perfeito. Isto explica
o porquê de Seu Ser infinitamente perfeito desnortear a nossa
mente. Mas, se pudermos despir nossa natureza de tudo que chamamos
de "matéria", então, certamente, nosso conhecimento
de Seu Ser seria perfeitíssimo.
No
tempo, a FiloShOPhIa precede qualquer religião.
Uma
arte que tenha por objetivo alcançar a Beleza é chamada
de FiloShOPhIa ou, em sentido absoluto, é chamada de ShOPhIa.
Só
por intermédio da FiloShOPhIa poderemos alcançar a
felicidade.
Um
homem se torna uma pessoa graças ao seu intelecto.
O
conhecimento resulta da concordância da razão, da intuição
e da experiência.
A
alma humana chega a esse estado [perfeição]
por certos atos voluntários, uns intelectuais, outros corporais,
mas, isto não se faz por quaisquer atos, mas, por atos definidos
e medidos, que provêm de certas disposições
e de dons precisos e mesurados. Pois, entre os atos voluntários
existem aqueles que geram a felicidade, que é o bem buscado
por si mesmo, e que não é procurado em momento algum
para a obtenção de outra coisa. Além da felicidade,
não há nada mais importante do que o ser humano possa
obter.
Os
atos voluntários, que servem à obtenção
da felicidade, são as belas ações. As disposições
e os dons que resultam destas belas ações são
as virtudes. Estas não são bens por si mesmos, mas,
para a felicidade. As ações que impedem a felicidade
são os males e as ações enganosas. As disposições
e os dons de onde procedem estas ações são
as deficiências, os vícios e as baixezas.
Se,
então, o ser humano conhece a felicidade pela faculdade intelectual,
e ele a fixa como seu fim, e a deseja pela dedução
e pela reflexão, e faz o necessário para obtê-la
com a assistência da faculdade imaginativa e dos sentidos,
e quando estas ações são realizadas pelos instrumentos
da faculdade apetitiva, as ações deste homem serão
boas e nobres.
Quando
uma geração de indivíduos morre, seus corpos
se destroem, e suas almas estarão liberadas para encontrar
a felicidade.
A
progressão dos métodos retórico e sofístico
usados inicialmente nas artes práticas é o anseio
natural da alma para conhecer as origens das coisas sensíveis
no mundo, nele e ou em volta dele, junto com o que é observado
ou o que aparece dos céus.
As disposições
e os hábitos que produzem os bons costumes são as
virtudes. Estas não são bens procurados por elas mesmas,
mas, somente, têm em vista a felicidade.
Todo
homem tem, por sua própria natureza, necessidade para sua
subsistência e para atingir as suas mais altas perfeições,
de várias coisas que ele não pode só, realizá-las,
mas, deve, para obtê-las, recorrer a um conjunto de pessoas,
as quais, cada qual, lhe fornecerá uma. E cada uma destas
pessoas está na mesma situação. É, pois
impossível ao ser humano atingir a perfeição
a que ele está naturalmente destinado sem a reunião
de vários indivíduos que se ajudam mutuamente, cada
um fornecendo ao outro algumas coisas necessárias ao seu
sustento. Cada um encontrará no trabalho conjunto tudo aquilo
que ele necessita para subsistir e para atingir a perfeição.
Por esta razão, os homens se multiplicaram, se estabeleceram
na parte habitável da Terra e formaram sociedades humanas.
As
coisas em comum que o conjunto dos habitantes da cidade virtuosa
devem saber são: conhecer a primeira causa e todas as suas
qualidades; então, os existentes imateriais e suas qualidades
específicas e a ordem na classe de cada uma delas, até
encontrar, entre estes existentes imateriais, o intelecto-agente,
assim como as funções próprias de cada uma
delas; as substâncias celestiais e suas qualidades; então,
os corpos naturais que estão abaixo delas, e como eles se
constituem e se corrompem, e que tudo o que acontece entre eles,
acontece de acordo com ordem, perfeição, providência,
justiça e sabedoria.
O chefe da Cidade Virtuosa
não pode ser uma pessoa qualquer, pois o Governo depende
de duas coisas: uma aptidão natural e disposição
e um hábito voluntário. O Governo caberá àquele
que é naturalmente predisposto.
As
qualidades necessárias para alguém poder ser dirigente
da Cidade Virtuosa são: (1) Possuir todos os seus
órgãos saudáveis e livres de deficiências,
tornando-o, assim, apto a executar as ações que dependem
dele, pois, quando ele se propuser a fazer algo, ele deverá
poder fazer facilmente; (2) Ser bem dotado naturalmente para compreender
e ser perceptivo a tudo o que é dito a ele, formando na sua
mente o sentido exato visado por seu interlocutor e segundo a realidade;
(3) Reter aquilo que ele entende, vê e percebe, em suma, não
esquecer quase nada; (4) Ter o espírito sagaz e penetrante,
de forma que, se ele perceber o menor indício de algo, ele
deverá compreender da forma indicada; (5) Deve possuir uma
bela dicção e poder anunciar com uma clareza perfeita
tudo o que concebe; (6) Ele deve amar a instrução
e a aquisição do conhecimento, ser devotado a isto
e compreender as coisas facilmente, sem encontrar fadiga e nem prejuízo
como resultado do esforço empregado; (7) Não ser ávido
pela comida, pela bebida e pelo prazer carnal, evitando naturalmente
os divertimentos, e detestando os prazeres que daí decorrem;
(8) Amar o real e os verídicos, odiar a mentira e os mentirosos;
(9) Possuir grandeza de alma e amar a dignidade: sua alma se elevará
naturalmente acima do que é vil para se ligar às coisas
nobres; (10) Menosprezar o ouro e a prata e todos os bens da Terra;
(11) Amar naturalmente a justiça e os justos, odiar a injustiça
e a tirania e aqueles que a cometem, usar a eqüidade para com
os seus e com os outros homens, e orientá-los para assim
proceder, ter pena da vítima da injustiça, dando a
todos o que ele considera bom e belo; ser reto, dócil, nem
obstinado e nem teimoso, se o convidam a ser justo, mas, inflexível
se lhe pedirem uma injustiça ou vilania; (12) Ter uma decisão
forte, audaciosa, empreendedora, sem medo nem fraqueza, naquilo
que ele crê que deve realizar.
Se,
em um dado momento, não se encontrar a sabedoria no Governo,
apesar de o chefe preencher todas as condições, a
Cidade Virtuosa estará sem o seu governante e exposta à
ruína.
O
Existente Primordial é a causa primordial para a existência
de todos os outros demais existentes. Ele é isento de todos
os modos de insuficiência. Em comparação a ele,
tudo o mais, inevitavelmente, tem em si algum modo de insuficiência,
seja uma, seja muitas. Sua existência é a mais excelente
existência, a mais anterior existência, não sendo
possível que houvesse uma existência mais excelente
e nem anterior à sua existência. Ele está no
modo supremo da excelência da existência e no mais elevado
grau de perfeição da existência.
Não
é possível que a existência do Existente Primordial
e a sua substância impliquem, de maneira alguma, uma privação,
pois a privação e a contrariedade se encontram tão-somente
naquilo que está abaixo da esfera da Lua, visto que a privação
é a não-existência daquilo que está em
condições de existir.
Não
é possível haver uma causa “por meio da qual”,
“a partir da qual” ou “para a qual” o Existente
Primordial tivesse obtido a sua existência. Ele, pois, não
é matéria, sua estrutura não está em
uma matéria e tampouco em um substrato. Antes, sua existência
é isenta de toda matéria e todo substrato. Além
disto, o Existente Primordial não tem forma. Caso ele tivesse
forma, então, sua essência seria uma síntese
de matéria e forma e, se assim fosse, sua estrutura seria
por meio das partes a partir das quais ele teria sido sintetizado,
havendo para ele, então, uma causa, na medida que cada uma
de suas partes seria uma causa para a existência de sua totalidade.
O Existente Primordial é a causa primeira.
Para
que o Existente Primordial seja, sua existência não
poderá ter um propósito ou uma finalidade, de modo
que sua existência devesse completar uma finalidade ou um
propósito. Afinal, esta seria uma certa causa para a sua
existência e ele não seria, portanto, uma causa primeira.
Além do mais, sua existência não é adquirida
a partir de uma outra coisa mais anterior a ele, e, menos ainda,
o seria a partir de algo que estivesse em um plano inferior a ele.
O
Existente Primordial é diferente, por sua substância,
de qualquer outro existente, e sua existência só pode
pertencer a ele, pois, não pode existir, entre todos os existentes,
algum que tenha tal existência. Se existisse, não seriam
duas existências, mas, uma só essência, pois
se existisse entre eles uma diferença, isto que os diversificaria
seria diferente daquilo que lhes é comum, e aquilo pelo qual
cada um deles se diversificaria do outro seria, então, uma
porção disto que constituiria sua existência,
e o que lhes seria comum seria outra porção. Cada
um deles seria, assim, divisível quanto à sua definição,
e cada uma das duas partes seria a causa da constituição
de sua essência. Ele não seria mais o Primeiro Existente,
mas, existiria um outro existente anterior a ele, que seria causa
de sua existência, e isto é impossível.1
Por
outro lado, o Existente Primordial não pode ter um contrário.
Isto se deduz claramente se conhecemos a significação
de contrário. Uma coisa e seu contrário são
diferentes. É, portanto, absolutamente impossível,
que o contrário de uma coisa seja essa coisa. Entretanto,
tudo o que é diferente de uma coisa, não é
o seu oposto, nem tudo aquilo que não pode ser a coisa, é
o oposto desta coisa, mas, é tudo aquilo que se opõe
à coisa, de tal forma que uma coisa e outra se destroem e
se corrompem reciprocamente. Se estiverem presentes, e se uma delas
se encontra lá onde está a outra, ela se aniquila,
e é ela mesma suprimida do lugar onde se encontra, pela presença
da outra neste mesmo lugar.
Por
outro lado, o Existente Primordial não é divisível
por meio de uma definição, em elementos que constituiriam
a sua substância. Pois, é impossível que a definição
que exprime o sentido indique uma das partes ou as duas partes que
comporiam a substância. Se fosse assim, as partes constitutivas
da sua substância seriam a causa da sua existência,
da mesma forma que as noções (gênero e espécie)
designadas pelas partes de uma definição são
causas da existência do definido, e do mesmo modo que a matéria
e a forma são causas do seu composto. Ora, isto é
impossível, pois ele é o primeiro, e não existe
absolutamente uma causa para sua existência.
A
existência pela qual o Existente Primordial se distingue dos
outros existentes não pode ser outra senão a existência
pela qual ele existe essencialmente. É porque o que o distingue
dos outros existes é a unidade na sua essência. Uma
das significações da unidade é a existência
própria pela qual todo existente se distingue dos outros;
é esta significação que faz dizer de um existente
que ele é um enquanto ele possui a existência que lhe
é própria. Ora, esta significação da
unidade é semelhante para o primeiro existente. Ele é,
portanto, uno deste ponto de vista, e mais do que qualquer outro
merece a denominação e o sentido do uno.
Não
sendo, portanto, matéria e não tendo matéria
sob qualquer aspecto, o Existente Primordial é substancialmente
inteligência em ato. Pois, o que impede a forma de ser inteligência
e de inteligir em ato, é a matéria na qual existe
a coisa; ou então, desde que a coisa existe sem o auxilio
da matéria, ela é na sua substância inteligência
em ato; este é o caso do Primeiro Existente. Ele é,
portanto, inteligência em ato. E ele é também
substancialmente inteligível, pois o que impede o objeto
de ser inteligível em ato é (igualmente) a matéria.
O Primeiro Existente é inteligível porque ele é
intelecto. Pois, aquilo que é inteligência por sua
ipseidade [o
caráter particular, individual e único de um ente
que o distingue de todos os outros]
não necessita para ser inteligível de outra essência
além dele para inteligir. Ele se intelige a ele mesmo. Enquanto
ele intelige sua essência, ele é inteligência,
e inteligência em ato. Da mesma forma, ele não necessita
para ser inteligência em ato e inteligível em ato de
uma essência que ele inteligiria e recebesse do exterior,
mas, ele é inteligência e inteligível inteligindo
sua essência. A essência que intelige é aquela
que é inteligida e é inteligência enquanto ele
é inteligível. Assim, nele, inteligência, inteligível
e inteligente não constituem mais do que uma essência
e substância una [e
trina] indivisível.
Assim
sendo, para conhecer, o Existente
Primordial não necessita de uma outra essência
além da sua e cujo conhecimento lhe forneceria uma vantagem,
e nem para ser conhecido de uma outra essência que o conheça,
mas a sua substância é suficiente para conhecer e ser
conhecido. A ciência que tem sua essência não
é outra senão sua substância. Que ele conheça,
que ele seja conhecido e que ele seja conhecimento o fazem uma só
substância. Da mesma forma, no Primeiro Existente, sua sabedoria
consiste em conhecer as coisas mais excelentes da maneira mais excelente.
Ora, inteligindo a sua essência e a conhecendo, ele conhece
a melhor das coisas. Por outro lado, a ciência por excelência
é a ciência permanente que não desaparece, e
esta é a ciência que o Primeiro Existente tem de sua
essência.
O
Existente
Primordial é aquele pelo qual tudo vem a existir.
Segue, necessariamente, da existência específica do
Primeiro Existente, que todos os outros existentes que não
vêem à existência através do desejo e
da escolha do homem, são colocados na existência pelo
Primeiro Existente, nos seus vários tipos de existência,
alguns dos quais podem ser percebidos pela percepção
dos sentidos, enquanto outros se tornam conhecidos pela demonstração.
A origem do que vem à existência por meio dele, acontece
pelo modo da processão – a existência que é
devida a algo diferente do Primeiro Existente, procede da sua existência.
Entretanto, a existência do que vem por meio dele não
pode ser de nenhuma forma uma causa para a existência dele,
nem um fim, como é, por exemplo, o caso da existência
do filho que é um propósito da existência dos
pais, enquanto pais. Neste sentido, o existente que procede dele
não acrescenta nenhuma perfeição para sua existência,
como acontece em quase todos os casos em que nos somos os autores.
Os
existentes são numerosos, e nesta multiplicidade eles são
hierarquizados. Da substância do primeiro, flui toda existência
perfeita ou imperfeita; e sua substância permanece a mesma
quando procedem dele todas as existências, segundo sua hierarquia.
Do
Existente
Primordial, procede a existência do segundo, o qual
também é uma substância incorporal e que não
está em uma matéria. Ele intelige sua própria
essência e intelige a essência do primeiro. O que ele
intelige de sua essência não é nada além
de sua própria essência. Pelo fato que ele intelige
o primeiro, resulta necessariamente dele a existência de um
terceiro. Enquanto ele é constituído substancialmente
em sua essência própria, resulta necessariamente dele
a existência do primeiro céu. Igualmente, a existência
do terceiro, não está em uma matéria e por
sua substância ele é inteligência, ele intelige
sua essência e intelige o primeiro. Por ser constituído
substancialmente na sua própria essência, resulta dele
necessariamente a esfera das estrelas fixas.
O
Primeiro Existente e as dez inteligências são organizados
em uma ordem perfeita. Cada uma das inteligências é
mais nobre do que aquela que a segue. Todas as inteligências
ativas são mais nobres do que as coisas materiais; e as coisas
celestes, entre as coisas materiais, são mais nobres que
o mundo físico. Por 'mais nobre', entendemos aqui: o que
é mais antigo em si, e que o seu seguinte, não pode
existir senão depois da existência do precedente.2
Os
existentes acima da Lua se hierarquizam a partir do mais excelente,
seguindo do perfeito ao menos perfeito, para chegar ao menos perfeito
de todos. O de maior excelência e o mais perfeito é
o Primeiro Existente. E, para os existentes que procedem dele os
melhores são, no conjunto, aqueles que não são
corpos e nem derivam de corpos. Vêm em seguida os corpos celestes.
A mais excelente das (inteligências) separadas é o
existente segundo, seguido sucessivamente pelos outros até
o décimo primeiro, que é a esfera da Lua. As (inteligências)
separadas que vêm após o primeiro existente, são
em número de dez, os corpos celestes são ao todo nove,
seja no total dezenove (existentes).
Os existentes que seguem
após a Lua não têm por sua natureza a última
perfeição nas suas substâncias desde o seu início,
mas, começam imperfeitos, e, passo a passo, de acordo com
a sua espécie, podem alcançar a extrema perfeição
na sua substância, e, em seguida, nos seus diversos acidentes.
Esta é uma situação particular de cada espécie,
sem que isto seja o efeito de algo estranho a ela.
A
primeira coisa que se manifesta no homem é a potência
pela qual ele se nutre: é a faculdade nutritiva. Em seguida
é a faculdade pela qual ele percebe o tangível, tal
como o frio e o calor. Depois, as outras faculdades pelas quais
ele sente os sabores, os odores, os sons, as cores e todas as coisas
visíveis, como os raios. Com os sentidos, manifesta-se o
desejo direcionado para aquilo que ele sente, e, desta maneira,
ele deseja umas coisas e detesta outras. Em seguida, aparece uma
outra faculdade pela qual ele conserva aquilo que é impresso
na sua alma dessas coisas sentidas, uma vez que elas tenham desaparecido
do campo de observação dos sentidos: é a faculdade
imaginativa.3
A
faculdade imaginativa combina as sensações umas às
outras, separando umas das outras por combinações
e separações diversas, algumas falsas, outras verdadeiras.
A isto se junta a tendência na direção daquilo
que é imaginado; depois, se manifesta a faculdade racional,
pela qual é possível inteligir os inteligíveis
e distinguir entre o belo e o feio, e as artes e as ciências
se tornam compreensíveis. A faculdade imaginativa é
acompanhada também de um apetite em relação
ao que está
[sendo] inteligido.
Quando
o desejo é para conhecer uma certa coisa perceptível
pelos sentidos, aquilo pelo qual se obtém a coisa em ato
é composto de uma ação corporal e de uma ação
psíquica. É o caso de algo que desejamos ver, ali
chegamos levantando as pálpebras e dirigindo nosso olhar
para aquilo que desejamos ver. Se a coisa está longe, andamos
em sua direção. Se ela esta separada por um obstáculo,
nós tiramos esse obstáculo com nossas mãos.
Todas essas ações são corporais, mas, a sensação
mesma é algo psíquico. Quando a representação
de uma coisa é desejada, isto se obtém de diferentes
formas: uma pela ação direta da faculdade da imaginação,
como imaginar o que é esperado e desejado, ou imaginar o
que aconteceu no passado, ou desejar algo que a faculdade imaginativa
juntou; outra, por algo sendo transmitido para a faculdade imaginativa
pela percepção dos sentidos de algo, e tendo sido
modificado para algo representado como uma coisa para ser temida
ou confiada; ou por algum ato da faculdade racional que foi alcançado
pela faculdade imaginativa. Tais são as faculdades da alma.
As
imagens das diferentes formas de inteligíveis são
impressas na potência racional. Entre os inteligíveis,
cuja natureza os faz serem impressos na potência racional,
existem: os inteligíveis que são substancialmente
inteligências em ato e os inteligíveis em ato, que
são as coisas desprovidas de matéria. Os inteligíveis
que não são substancialmente inteligíveis em
ato, como as pedras e as plantas, de modo geral todo corpo ou tudo
que é parte de um corpo material, a matéria em si,
e tudo aquilo que é constituído por ela. Estas coisas
não são inteligências em ato e nem inteligíveis
em ato. Em relação à inteligência que
aparece no homem naturalmente desde o início, é uma
certa disposição em uma matéria preparada para
receber as impressões dos inteligíveis. Ela é
um intelecto em potência e um intelecto material ou hílico
[pertencente à
matéria; corpóreo, material]. É
também um inteligível em potência.
Assim
que os inteligíveis se realizam no homem, naturalmente se
produz nele a meditação, a reflexão, a lembrança,
o desejo da dedução, o desejo dirigido para alguns
inteligíveis anteriores, a atração ou a aversão
em relação a eles ou daquilo que disto se deduz. A
inclinação pelo que ele compreendeu no geral é
a vontade. Advindo de uma sensação ou imaginação,
recebe o nome de vontade, porém, se o desejo vem depois de
uma reflexão ou após um raciocínio em geral,
o chamamos de ato de escolha, o que é particular ao homem.
No entanto, a inclinação pelos sentidos ou pela imaginação
pode ser encontrada entre os animais também. O primeiro acabamento
para o homem é a realização dos primeiros inteligíveis,
os quais lhe foram dados tendo em vista seu último acabamento.
Quando
acontece que a faculdade da imaginação tem sucesso
em simular os dados da inteligência-agente, eles se tornam
sensíveis de grande beleza e perfeição extrema,
e aquele que adquire isto, dirá que Deus possui uma grandeza
majestosa e admirável; ele verá coisas prodigiosas
que não podem absolutamente se encontrar em outros existentes.
Nada impede que o homem, cuja faculdade imaginativa chegou a máxima
perfeição, receba no estado de vigília pela
inteligência-agente, alguns fragmentos de acontecimentos presentes
e futuros ou sua simulação pelos sensíveis,
assim como, a simulação dos inteligíveis separados
e de outras existências nobres. Então, pelos inteligíveis
que a faculdade imaginativa recebe, a imaginação poderá
ter a profecia das coisas divinas. Este é o mais alto grau
a que chega a faculdade imaginativa do homem.
______
Notas:
1.
Metafraseando o filósofo, psicólogo, engenheiro, arquiteto,
lingüista, pintor, astrólogo, escritor, doutor em Medicina
Natural, cosmobiólogo, cientista, professor francês
e fundador da Grande Fraternidade Universal (GFU) e do seu veículo
não-sectário e apolítico Missão da Ordem
de Aquarius Serge Raynaud de la Ferrière (18 de janeiro de
1916 – 17 de dezembro de 1962), pode-se argumentar: em qualquer
tempo não podem coexistir harmoniosamente dois Princípios
Constitutivos do Universo. Se houvesse, pois, dois Princípios,
ou seriam diferentes, ou seriam iguais. Se fossem diferentes, anular-se-iam
mutuamente; se fossem iguais, seriam idênticos, como se um
só houvesse. A multiplicação e a proliferação
de deuses é produto da humana ignorância. No mundo,
hoje, associaram-se em um consórcio de brutalidades e de
cobiças o deus-dinheiro com o deus-guerra. A Unidade é.
É Aquilo que é. E por ser Aquilo que é, sempre
foi, será e não pode não ser. Na inexistente
eternidade sempre será. Assim, simplesmente é. Mas,
realmente, penso que qualquer preocupação ou especulação
com relação ao Princípio Constitutivo do Universo,
se há algum, seja inútil (fútil) e não-fundamentada.
Temos, sim, que, esforçada e diligentemente, tentar conhecer
o Deus de nosso Coração, e lutar para, um dia, se
possível, nos fundirmos com Ele. Qualquer coisa diferente
disto é perda de tempo. O ente só conhecerá
a liberdade quando se tornar um Deus – seu próprio
Deus. Enquanto dependermos de deuses exteriores fabricados, seja
por imitação distorcida de entidades extraterrestres,
por exemplo, os presumidos habitantes da Constelação
de Órion no equador celeste, a 1.140 anos-luz da Terra, seja
por reverência a seres que aqui se projetaram para nos auxiliar,
seja por divindades que arbitrariamente inventamos e parimos, seremos
menos do que uma Entamœba
hystolytica, talvez, nem um simples ácido ribonucleico.
Para concluir, por favor, reflita no seguinte: se houvesse um Princípio
Constitutivo do Universo, o quê ou quem o teria constituído?
E o quê ou quem teria constituído o constituidor do
Princípio Constitutivo do Universo? E
por aí vai, pois o inexistente nada não pode dar origem
a coisa alguma. Para que alguma coisa exista, e, se for o caso,
crie alguma coisa, esta coisa precisa ter sido criada por alguma
outra coisa que já existia. A questão metafísica
a ser muito pensada é: se houve uma primeira coisa, de onde
e como ela surgiu? Essa mania de dizer que Deus (ou o Existente
Primordial ou Primeiro
Existente, como admitia Al-Farabi) não foi criado
por nada nem por ninguém porque é Deus, pode satisfazer
à fé, mas, não satisfaz à razão.
Constelação
de Órion (Forma Trapezoidal)
2.
Quem tratou primeiro deste tema foi o filósofo neoplatônico
e autor das Enéadas Plotino (205 – 270), discípulo
de Amônio Sacas por onze anos e mestre de Porfírio.
A processão das coisas do Uno não se constitui em
mera necessidade, pois se trata, no entender plotiniano, de absoluta
liberdade. A interpretação deste mecanismo,
oferecido por Reale e Antisere, é: ...
Deus não cria livremente o outro de si, mas se autocria livremente
a si mesmo; é um ’si’ que se autocria livremente
como potência infinita, que necessariamente se expande, produzindo
o outro de si. Do Uno deriva Nous (Espírito que
pode ser entendido como Mente); de Nous deriva a alma. Voltando-se
para sua origem e através dela, a alma vê e pode retornar
ao Uno, já que Dele, em verdade, nunca esteve desvinculada
ou separada. Este entendimento, em verdade, sempre foi o das Escolas
de Mistério, desde a mais remota Antigüidade. Neste
sentido, pode-se, ainda, informar que as fraternidades iniciáticas
contemporâneas sustentam estes mesmos ensinamentos, sentidos
já em meados da Terceira Raça Raiz da atual Ronda
– Lemúria. Assim, Nous é uma imagem do Uno,
conformando-se à Unidade sem intermediação,
e a alma é uma imagem de Nous, conformando-se ao Espírito
como seu original. Logo se percebe que a verdadeira essência
reside no mundo inteligível. Mais uma vez advirto que estas
explicações acrescentam pouquíssimo ao esforço
do ente para compreender e se libertar. Mas, quando o ente compreender
e se libertar, todas estas coisas e outras mais complexas serão
naturalmente inteligidas em sua integralidade e plenitude. De certa
forma, até, lucubrações sobre este tema poderão
complicar este processo, porque poderemos, sem querer, pintar o
quadro da coisa com cores incompatíveis com a atualidade
cósmica, desde sempre uma e idêntica a si mesma. Entre
o simples e o complexo, há milhares e milhares de degraus;
pular um degrau impede um concertado entendimento dos demais. Em
outras palavras: profano é profano; chela é chela;
hierofante é hierofante. O fato é que somos nós
que progressivamente mudamos, mas, a Consciência Cósmica
permanece a mesma, imutável, todavia, sempre em movimento.
E, já que falei em hierofante, nem um hierofante sabe tudo
de tudo.
3.
Quanto à faculdade
imaginativa,
Albert Einstein
(1879 – 19551) disse: A
imaginação é mais importante do que o conhecimento...
Imaginação
é tudo; é a prévia das atrações
futuras...
A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará
ao seu tamanho original...
Observação:
Muhammad
ibn Muhammad ibn Tarkan ibn Uzalagh Al-Farabi (Farab, Turquistão,
ca. 872 – Damasco, 950) foi um filósofo muçulmano
que veio a ser chamado de o Segundo Mestre depois de Aristóteles,
que era o primeiro. Devotou sua vida ao estudo estrênuo de
Matemática, Medicina, Música e Filosofia. Shams al-Din
Abu Al-Abbas Ahmad Ibn Muhammad Ibn Khallikan (1211 – 1282)
chamou-o de o
maior Filósofo que os Muçulmanos já tiveram,
e Moisés Maimonides (1135 ou 1137/1138 – 1204) declarou
que só
ele era digno de ser estudado sobre lógica, pois tudo o que
ele escreveu é como farinha de qualidade.
Fontes
de consulta:
http://www.philosophyinquotes.com
/Al_Farabi.html
http://eastwestwesteast.wordpress.com/
http://www.novaera-alvorecer.net/
as_7_profecias_maias.htm
http://pensador.uol.com.br/
frase/MzA3MzI3/
http://pensador.uol.com.br/
autor/albert_einstein/
http://www.faggella.com.ar/gif/html/
industrias/transportes/ovnis.htm
http://projetodespertar1111.wordpress.com/
2010/07/18/racas-estelares-parte2/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Orion_
(constela%C3%A7%C3%A3o)
http://www.observatorio.ufmg.br/dicas05.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Serge_Raynaud_de_la_Ferri%C3%A8re
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Grande_Fraternidade_Universal
http://www.teosofia.levir.com.br/
inst-005.php
http://falsafa.dominiotemporario.com/
doc/da_felicidade_em_Alfarabi.pdf