A QUESTÃO DA PERFEIÇÃO

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Pensamentos de Al-Farabi

 

 

Al-Farabi

Al-Farabi

 

 

É muito difícil saber o que é Deus por causa da limitação de nosso intelecto e da sua união com a matéria. Assim como a luz é o princípio pelo qual as cores se tornam visíveis, de modo semelhante seria lógico dizer que uma luz perfeita deveria produzir uma visão perfeita. Em vez disto, o exato oposto é o que acontece. Uma luz perfeita ofusca a visão. O mesmo é verdadeiro a respeito de Deus. O conhecimento imperfeito que temos de Deus é devido ao fato de que Ele é infinitamente perfeito. Isto explica o porquê de Seu Ser infinitamente perfeito desnortear a nossa mente. Mas, se pudermos despir nossa natureza de tudo que chamamos de "matéria", então, certamente, nosso conhecimento de Seu Ser seria perfeitíssimo.

 

No tempo, a FiloShOPhIa precede qualquer religião.

 

Uma arte que tenha por objetivo alcançar a Beleza é chamada de FiloShOPhIa ou, em sentido absoluto, é chamada de ShOPhIa.

 

Só por intermédio da FiloShOPhIa poderemos alcançar a felicidade.

 

Um homem se torna uma pessoa graças ao seu intelecto.

 

O conhecimento resulta da concordância da razão, da intuição e da experiência.

 

A alma humana chega a esse estado [perfeição] por certos atos voluntários, uns intelectuais, outros corporais, mas, isto não se faz por quaisquer atos, mas, por atos definidos e medidos, que provêm de certas disposições e de dons precisos e mesurados. Pois, entre os atos voluntários existem aqueles que geram a felicidade, que é o bem buscado por si mesmo, e que não é procurado em momento algum para a obtenção de outra coisa. Além da felicidade, não há nada mais importante do que o ser humano possa obter.

 

Os atos voluntários, que servem à obtenção da felicidade, são as belas ações. As disposições e os dons que resultam destas belas ações são as virtudes. Estas não são bens por si mesmos, mas, para a felicidade. As ações que impedem a felicidade são os males e as ações enganosas. As disposições e os dons de onde procedem estas ações são as deficiências, os vícios e as baixezas.

 

Se, então, o ser humano conhece a felicidade pela faculdade intelectual, e ele a fixa como seu fim, e a deseja pela dedução e pela reflexão, e faz o necessário para obtê-la com a assistência da faculdade imaginativa e dos sentidos, e quando estas ações são realizadas pelos instrumentos da faculdade apetitiva, as ações deste homem serão boas e nobres.

 

Quando uma geração de indivíduos morre, seus corpos se destroem, e suas almas estarão liberadas para encontrar a felicidade.

 

A progressão dos métodos retórico e sofístico usados inicialmente nas artes práticas é o anseio natural da alma para conhecer as origens das coisas sensíveis no mundo, nele e ou em volta dele, junto com o que é observado ou o que aparece dos céus.

 

As disposições e os hábitos que produzem os bons costumes são as virtudes. Estas não são bens procurados por elas mesmas, mas, somente, têm em vista a felicidade.

 

Todo homem tem, por sua própria natureza, necessidade para sua subsistência e para atingir as suas mais altas perfeições, de várias coisas que ele não pode só, realizá-las, mas, deve, para obtê-las, recorrer a um conjunto de pessoas, as quais, cada qual, lhe fornecerá uma. E cada uma destas pessoas está na mesma situação. É, pois impossível ao ser humano atingir a perfeição a que ele está naturalmente destinado sem a reunião de vários indivíduos que se ajudam mutuamente, cada um fornecendo ao outro algumas coisas necessárias ao seu sustento. Cada um encontrará no trabalho conjunto tudo aquilo que ele necessita para subsistir e para atingir a perfeição. Por esta razão, os homens se multiplicaram, se estabeleceram na parte habitável da Terra e formaram sociedades humanas.

 

As coisas em comum que o conjunto dos habitantes da cidade virtuosa devem saber são: conhecer a primeira causa e todas as suas qualidades; então, os existentes imateriais e suas qualidades específicas e a ordem na classe de cada uma delas, até encontrar, entre estes existentes imateriais, o intelecto-agente, assim como as funções próprias de cada uma delas; as substâncias celestiais e suas qualidades; então, os corpos naturais que estão abaixo delas, e como eles se constituem e se corrompem, e que tudo o que acontece entre eles, acontece de acordo com ordem, perfeição, providência, justiça e sabedoria.

 

O chefe da Cidade Virtuosa não pode ser uma pessoa qualquer, pois o Governo depende de duas coisas: uma aptidão natural e disposição e um hábito voluntário. O Governo caberá àquele que é naturalmente predisposto.

 

As qualidades necessárias para alguém poder ser dirigente da Cidade Virtuosa são: (1) Possuir todos os seus órgãos saudáveis e livres de deficiências, tornando-o, assim, apto a executar as ações que dependem dele, pois, quando ele se propuser a fazer algo, ele deverá poder fazer facilmente; (2) Ser bem dotado naturalmente para compreender e ser perceptivo a tudo o que é dito a ele, formando na sua mente o sentido exato visado por seu interlocutor e segundo a realidade; (3) Reter aquilo que ele entende, vê e percebe, em suma, não esquecer quase nada; (4) Ter o espírito sagaz e penetrante, de forma que, se ele perceber o menor indício de algo, ele deverá compreender da forma indicada; (5) Deve possuir uma bela dicção e poder anunciar com uma clareza perfeita tudo o que concebe; (6) Ele deve amar a instrução e a aquisição do conhecimento, ser devotado a isto e compreender as coisas facilmente, sem encontrar fadiga e nem prejuízo como resultado do esforço empregado; (7) Não ser ávido pela comida, pela bebida e pelo prazer carnal, evitando naturalmente os divertimentos, e detestando os prazeres que daí decorrem; (8) Amar o real e os verídicos, odiar a mentira e os mentirosos; (9) Possuir grandeza de alma e amar a dignidade: sua alma se elevará naturalmente acima do que é vil para se ligar às coisas nobres; (10) Menosprezar o ouro e a prata e todos os bens da Terra; (11) Amar naturalmente a justiça e os justos, odiar a injustiça e a tirania e aqueles que a cometem, usar a eqüidade para com os seus e com os outros homens, e orientá-los para assim proceder, ter pena da vítima da injustiça, dando a todos o que ele considera bom e belo; ser reto, dócil, nem obstinado e nem teimoso, se o convidam a ser justo, mas, inflexível se lhe pedirem uma injustiça ou vilania; (12) Ter uma decisão forte, audaciosa, empreendedora, sem medo nem fraqueza, naquilo que ele crê que deve realizar.

 

Se, em um dado momento, não se encontrar a sabedoria no Governo, apesar de o chefe preencher todas as condições, a Cidade Virtuosa estará sem o seu governante e exposta à ruína.

 

O Existente Primordial é a causa primordial para a existência de todos os outros demais existentes. Ele é isento de todos os modos de insuficiência. Em comparação a ele, tudo o mais, inevitavelmente, tem em si algum modo de insuficiência, seja uma, seja muitas. Sua existência é a mais excelente existência, a mais anterior existência, não sendo possível que houvesse uma existência mais excelente e nem anterior à sua existência. Ele está no modo supremo da excelência da existência e no mais elevado grau de perfeição da existência.

 

Não é possível que a existência do Existente Primordial e a sua substância impliquem, de maneira alguma, uma privação, pois a privação e a contrariedade se encontram tão-somente naquilo que está abaixo da esfera da Lua, visto que a privação é a não-existência daquilo que está em condições de existir.

 

Não é possível haver uma causa “por meio da qual”, “a partir da qual” ou “para a qual” o Existente Primordial tivesse obtido a sua existência. Ele, pois, não é matéria, sua estrutura não está em uma matéria e tampouco em um substrato. Antes, sua existência é isenta de toda matéria e todo substrato. Além disto, o Existente Primordial não tem forma. Caso ele tivesse forma, então, sua essência seria uma síntese de matéria e forma e, se assim fosse, sua estrutura seria por meio das partes a partir das quais ele teria sido sintetizado, havendo para ele, então, uma causa, na medida que cada uma de suas partes seria uma causa para a existência de sua totalidade. O Existente Primordial é a causa primeira.

 

Para que o Existente Primordial seja, sua existência não poderá ter um propósito ou uma finalidade, de modo que sua existência devesse completar uma finalidade ou um propósito. Afinal, esta seria uma certa causa para a sua existência e ele não seria, portanto, uma causa primeira. Além do mais, sua existência não é adquirida a partir de uma outra coisa mais anterior a ele, e, menos ainda, o seria a partir de algo que estivesse em um plano inferior a ele.

 

O Existente Primordial é diferente, por sua substância, de qualquer outro existente, e sua existência só pode pertencer a ele, pois, não pode existir, entre todos os existentes, algum que tenha tal existência. Se existisse, não seriam duas existências, mas, uma só essência, pois se existisse entre eles uma diferença, isto que os diversificaria seria diferente daquilo que lhes é comum, e aquilo pelo qual cada um deles se diversificaria do outro seria, então, uma porção disto que constituiria sua existência, e o que lhes seria comum seria outra porção. Cada um deles seria, assim, divisível quanto à sua definição, e cada uma das duas partes seria a causa da constituição de sua essência. Ele não seria mais o Primeiro Existente, mas, existiria um outro existente anterior a ele, que seria causa de sua existência, e isto é impossível.1

 

Por outro lado, o Existente Primordial não pode ter um contrário. Isto se deduz claramente se conhecemos a significação de contrário. Uma coisa e seu contrário são diferentes. É, portanto, absolutamente impossível, que o contrário de uma coisa seja essa coisa. Entretanto, tudo o que é diferente de uma coisa, não é o seu oposto, nem tudo aquilo que não pode ser a coisa, é o oposto desta coisa, mas, é tudo aquilo que se opõe à coisa, de tal forma que uma coisa e outra se destroem e se corrompem reciprocamente. Se estiverem presentes, e se uma delas se encontra lá onde está a outra, ela se aniquila, e é ela mesma suprimida do lugar onde se encontra, pela presença da outra neste mesmo lugar.

 

Por outro lado, o Existente Primordial não é divisível por meio de uma definição, em elementos que constituiriam a sua substância. Pois, é impossível que a definição que exprime o sentido indique uma das partes ou as duas partes que comporiam a substância. Se fosse assim, as partes constitutivas da sua substância seriam a causa da sua existência, da mesma forma que as noções (gênero e espécie) designadas pelas partes de uma definição são causas da existência do definido, e do mesmo modo que a matéria e a forma são causas do seu composto. Ora, isto é impossível, pois ele é o primeiro, e não existe absolutamente uma causa para sua existência.

 

A existência pela qual o Existente Primordial se distingue dos outros existentes não pode ser outra senão a existência pela qual ele existe essencialmente. É porque o que o distingue dos outros existes é a unidade na sua essência. Uma das significações da unidade é a existência própria pela qual todo existente se distingue dos outros; é esta significação que faz dizer de um existente que ele é um enquanto ele possui a existência que lhe é própria. Ora, esta significação da unidade é semelhante para o primeiro existente. Ele é, portanto, uno deste ponto de vista, e mais do que qualquer outro merece a denominação e o sentido do uno.

 

Não sendo, portanto, matéria e não tendo matéria sob qualquer aspecto, o Existente Primordial é substancialmente inteligência em ato. Pois, o que impede a forma de ser inteligência e de inteligir em ato, é a matéria na qual existe a coisa; ou então, desde que a coisa existe sem o auxilio da matéria, ela é na sua substância inteligência em ato; este é o caso do Primeiro Existente. Ele é, portanto, inteligência em ato. E ele é também substancialmente inteligível, pois o que impede o objeto de ser inteligível em ato é (igualmente) a matéria. O Primeiro Existente é inteligível porque ele é intelecto. Pois, aquilo que é inteligência por sua ipseidade [o caráter particular, individual e único de um ente que o distingue de todos os outros] não necessita para ser inteligível de outra essência além dele para inteligir. Ele se intelige a ele mesmo. Enquanto ele intelige sua essência, ele é inteligência, e inteligência em ato. Da mesma forma, ele não necessita para ser inteligência em ato e inteligível em ato de uma essência que ele inteligiria e recebesse do exterior, mas, ele é inteligência e inteligível inteligindo sua essência. A essência que intelige é aquela que é inteligida e é inteligência enquanto ele é inteligível. Assim, nele, inteligência, inteligível e inteligente não constituem mais do que uma essência e substância una [e trina] indivisível.

 

Assim sendo, para conhecer, o Existente Primordial não necessita de uma outra essência além da sua e cujo conhecimento lhe forneceria uma vantagem, e nem para ser conhecido de uma outra essência que o conheça, mas a sua substância é suficiente para conhecer e ser conhecido. A ciência que tem sua essência não é outra senão sua substância. Que ele conheça, que ele seja conhecido e que ele seja conhecimento o fazem uma só substância. Da mesma forma, no Primeiro Existente, sua sabedoria consiste em conhecer as coisas mais excelentes da maneira mais excelente. Ora, inteligindo a sua essência e a conhecendo, ele conhece a melhor das coisas. Por outro lado, a ciência por excelência é a ciência permanente que não desaparece, e esta é a ciência que o Primeiro Existente tem de sua essência.

 

O Existente Primordial é aquele pelo qual tudo vem a existir. Segue, necessariamente, da existência específica do Primeiro Existente, que todos os outros existentes que não vêem à existência através do desejo e da escolha do homem, são colocados na existência pelo Primeiro Existente, nos seus vários tipos de existência, alguns dos quais podem ser percebidos pela percepção dos sentidos, enquanto outros se tornam conhecidos pela demonstração. A origem do que vem à existência por meio dele, acontece pelo modo da processão – a existência que é devida a algo diferente do Primeiro Existente, procede da sua existência. Entretanto, a existência do que vem por meio dele não pode ser de nenhuma forma uma causa para a existência dele, nem um fim, como é, por exemplo, o caso da existência do filho que é um propósito da existência dos pais, enquanto pais. Neste sentido, o existente que procede dele não acrescenta nenhuma perfeição para sua existência, como acontece em quase todos os casos em que nos somos os autores.

 

Os existentes são numerosos, e nesta multiplicidade eles são hierarquizados. Da substância do primeiro, flui toda existência perfeita ou imperfeita; e sua substância permanece a mesma quando procedem dele todas as existências, segundo sua hierarquia.

 

Do Existente Primordial, procede a existência do segundo, o qual também é uma substância incorporal e que não está em uma matéria. Ele intelige sua própria essência e intelige a essência do primeiro. O que ele intelige de sua essência não é nada além de sua própria essência. Pelo fato que ele intelige o primeiro, resulta necessariamente dele a existência de um terceiro. Enquanto ele é constituído substancialmente em sua essência própria, resulta necessariamente dele a existência do primeiro céu. Igualmente, a existência do terceiro, não está em uma matéria e por sua substância ele é inteligência, ele intelige sua essência e intelige o primeiro. Por ser constituído substancialmente na sua própria essência, resulta dele necessariamente a esfera das estrelas fixas.

 

O Primeiro Existente e as dez inteligências são organizados em uma ordem perfeita. Cada uma das inteligências é mais nobre do que aquela que a segue. Todas as inteligências ativas são mais nobres do que as coisas materiais; e as coisas celestes, entre as coisas materiais, são mais nobres que o mundo físico. Por 'mais nobre', entendemos aqui: o que é mais antigo em si, e que o seu seguinte, não pode existir senão depois da existência do precedente.2

 

Os existentes acima da Lua se hierarquizam a partir do mais excelente, seguindo do perfeito ao menos perfeito, para chegar ao menos perfeito de todos. O de maior excelência e o mais perfeito é o Primeiro Existente. E, para os existentes que procedem dele os melhores são, no conjunto, aqueles que não são corpos e nem derivam de corpos. Vêm em seguida os corpos celestes. A mais excelente das (inteligências) separadas é o existente segundo, seguido sucessivamente pelos outros até o décimo primeiro, que é a esfera da Lua. As (inteligências) separadas que vêm após o primeiro existente, são em número de dez, os corpos celestes são ao todo nove, seja no total dezenove (existentes).

 

Os existentes que seguem após a Lua não têm por sua natureza a última perfeição nas suas substâncias desde o seu início, mas, começam imperfeitos, e, passo a passo, de acordo com a sua espécie, podem alcançar a extrema perfeição na sua substância, e, em seguida, nos seus diversos acidentes. Esta é uma situação particular de cada espécie, sem que isto seja o efeito de algo estranho a ela.

 

A primeira coisa que se manifesta no homem é a potência pela qual ele se nutre: é a faculdade nutritiva. Em seguida é a faculdade pela qual ele percebe o tangível, tal como o frio e o calor. Depois, as outras faculdades pelas quais ele sente os sabores, os odores, os sons, as cores e todas as coisas visíveis, como os raios. Com os sentidos, manifesta-se o desejo direcionado para aquilo que ele sente, e, desta maneira, ele deseja umas coisas e detesta outras. Em seguida, aparece uma outra faculdade pela qual ele conserva aquilo que é impresso na sua alma dessas coisas sentidas, uma vez que elas tenham desaparecido do campo de observação dos sentidos: é a faculdade imaginativa.3

 

A faculdade imaginativa combina as sensações umas às outras, separando umas das outras por combinações e separações diversas, algumas falsas, outras verdadeiras. A isto se junta a tendência na direção daquilo que é imaginado; depois, se manifesta a faculdade racional, pela qual é possível inteligir os inteligíveis e distinguir entre o belo e o feio, e as artes e as ciências se tornam compreensíveis. A faculdade imaginativa é acompanhada também de um apetite em relação ao que está [sendo] inteligido.

 

Quando o desejo é para conhecer uma certa coisa perceptível pelos sentidos, aquilo pelo qual se obtém a coisa em ato é composto de uma ação corporal e de uma ação psíquica. É o caso de algo que desejamos ver, ali chegamos levantando as pálpebras e dirigindo nosso olhar para aquilo que desejamos ver. Se a coisa está longe, andamos em sua direção. Se ela esta separada por um obstáculo, nós tiramos esse obstáculo com nossas mãos. Todas essas ações são corporais, mas, a sensação mesma é algo psíquico. Quando a representação de uma coisa é desejada, isto se obtém de diferentes formas: uma pela ação direta da faculdade da imaginação, como imaginar o que é esperado e desejado, ou imaginar o que aconteceu no passado, ou desejar algo que a faculdade imaginativa juntou; outra, por algo sendo transmitido para a faculdade imaginativa pela percepção dos sentidos de algo, e tendo sido modificado para algo representado como uma coisa para ser temida ou confiada; ou por algum ato da faculdade racional que foi alcançado pela faculdade imaginativa. Tais são as faculdades da alma.

 

As imagens das diferentes formas de inteligíveis são impressas na potência racional. Entre os inteligíveis, cuja natureza os faz serem impressos na potência racional, existem: os inteligíveis que são substancialmente inteligências em ato e os inteligíveis em ato, que são as coisas desprovidas de matéria. Os inteligíveis que não são substancialmente inteligíveis em ato, como as pedras e as plantas, de modo geral todo corpo ou tudo que é parte de um corpo material, a matéria em si, e tudo aquilo que é constituído por ela. Estas coisas não são inteligências em ato e nem inteligíveis em ato. Em relação à inteligência que aparece no homem naturalmente desde o início, é uma certa disposição em uma matéria preparada para receber as impressões dos inteligíveis. Ela é um intelecto em potência e um intelecto material ou hílico [pertencente à matéria; corpóreo, material]. É também um inteligível em potência.

 

Assim que os inteligíveis se realizam no homem, naturalmente se produz nele a meditação, a reflexão, a lembrança, o desejo da dedução, o desejo dirigido para alguns inteligíveis anteriores, a atração ou a aversão em relação a eles ou daquilo que disto se deduz. A inclinação pelo que ele compreendeu no geral é a vontade. Advindo de uma sensação ou imaginação, recebe o nome de vontade, porém, se o desejo vem depois de uma reflexão ou após um raciocínio em geral, o chamamos de ato de escolha, o que é particular ao homem. No entanto, a inclinação pelos sentidos ou pela imaginação pode ser encontrada entre os animais também. O primeiro acabamento para o homem é a realização dos primeiros inteligíveis, os quais lhe foram dados tendo em vista seu último acabamento.

 

Quando acontece que a faculdade da imaginação tem sucesso em simular os dados da inteligência-agente, eles se tornam sensíveis de grande beleza e perfeição extrema, e aquele que adquire isto, dirá que Deus possui uma grandeza majestosa e admirável; ele verá coisas prodigiosas que não podem absolutamente se encontrar em outros existentes. Nada impede que o homem, cuja faculdade imaginativa chegou a máxima perfeição, receba no estado de vigília pela inteligência-agente, alguns fragmentos de acontecimentos presentes e futuros ou sua simulação pelos sensíveis, assim como, a simulação dos inteligíveis separados e de outras existências nobres. Então, pelos inteligíveis que a faculdade imaginativa recebe, a imaginação poderá ter a profecia das coisas divinas. Este é o mais alto grau a que chega a faculdade imaginativa do homem.

 

 

 

 

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Notas:

1. Metafraseando o filósofo, psicólogo, engenheiro, arquiteto, lingüista, pintor, astrólogo, escritor, doutor em Medicina Natural, cosmobiólogo, cientista, professor francês e fundador da Grande Fraternidade Universal (GFU) e do seu veículo não-sectário e apolítico Missão da Ordem de Aquarius Serge Raynaud de la Ferrière (18 de janeiro de 1916 – 17 de dezembro de 1962), pode-se argumentar: em qualquer tempo não podem coexistir harmoniosamente dois Princípios Constitutivos do Universo. Se houvesse, pois, dois Princípios, ou seriam diferentes, ou seriam iguais. Se fossem diferentes, anular-se-iam mutuamente; se fossem iguais, seriam idênticos, como se um só houvesse. A multiplicação e a proliferação de deuses é produto da humana ignorância. No mundo, hoje, associaram-se em um consórcio de brutalidades e de cobiças o deus-dinheiro com o deus-guerra. A Unidade é. É Aquilo que é. E por ser Aquilo que é, sempre foi, será e não pode não ser. Na inexistente eternidade sempre será. Assim, simplesmente é. Mas, realmente, penso que qualquer preocupação ou especulação com relação ao Princípio Constitutivo do Universo, se há algum, seja inútil (fútil) e não-fundamentada. Temos, sim, que, esforçada e diligentemente, tentar conhecer o Deus de nosso Coração, e lutar para, um dia, se possível, nos fundirmos com Ele. Qualquer coisa diferente disto é perda de tempo. O ente só conhecerá a liberdade quando se tornar um Deus – seu próprio Deus. Enquanto dependermos de deuses exteriores fabricados, seja por imitação distorcida de entidades extraterrestres, por exemplo, os presumidos habitantes da Constelação de Órion no equador celeste, a 1.140 anos-luz da Terra, seja por reverência a seres que aqui se projetaram para nos auxiliar, seja por divindades que arbitrariamente inventamos e parimos, seremos menos do que uma Entamœba hystolytica, talvez, nem um simples ácido ribonucleico. Para concluir, por favor, reflita no seguinte: se houvesse um Princípio Constitutivo do Universo, o quê ou quem o teria constituído? E o quê ou quem teria constituído o constituidor do Princípio Constitutivo do Universo? E por aí vai, pois o inexistente nada não pode dar origem a coisa alguma. Para que alguma coisa exista, e, se for o caso, crie alguma coisa, esta coisa precisa ter sido criada por alguma outra coisa que já existia. A questão metafísica a ser muito pensada é: se houve uma primeira coisa, de onde e como ela surgiu? Essa mania de dizer que Deus (ou o Existente Primordial ou Primeiro Existente, como admitia Al-Farabi) não foi criado por nada nem por ninguém porque é Deus, pode satisfazer à fé, mas, não satisfaz à razão.

 

 

Constelação de Órion (Forma Trapezoidal)

 

 

2. Quem tratou primeiro deste tema foi o filósofo neoplatônico e autor das Enéadas Plotino (205 – 270), discípulo de Amônio Sacas por onze anos e mestre de Porfírio. A processão das coisas do Uno não se constitui em mera necessidade, pois se trata, no entender plotiniano, de absoluta liberdade. A interpretação deste mecanismo, oferecido por Reale e Antisere, é: ... Deus não cria livremente o outro de si, mas se autocria livremente a si mesmo; é um ’si’ que se autocria livremente como potência infinita, que necessariamente se expande, produzindo o outro de si. Do Uno deriva Nous (Espírito que pode ser entendido como Mente); de Nous deriva a alma. Voltando-se para sua origem e através dela, a alma vê e pode retornar ao Uno, já que Dele, em verdade, nunca esteve desvinculada ou separada. Este entendimento, em verdade, sempre foi o das Escolas de Mistério, desde a mais remota Antigüidade. Neste sentido, pode-se, ainda, informar que as fraternidades iniciáticas contemporâneas sustentam estes mesmos ensinamentos, sentidos já em meados da Terceira Raça Raiz da atual Ronda – Lemúria. Assim, Nous é uma imagem do Uno, conformando-se à Unidade sem intermediação, e a alma é uma imagem de Nous, conformando-se ao Espírito como seu original. Logo se percebe que a verdadeira essência reside no mundo inteligível. Mais uma vez advirto que estas explicações acrescentam pouquíssimo ao esforço do ente para compreender e se libertar. Mas, quando o ente compreender e se libertar, todas estas coisas e outras mais complexas serão naturalmente inteligidas em sua integralidade e plenitude. De certa forma, até, lucubrações sobre este tema poderão complicar este processo, porque poderemos, sem querer, pintar o quadro da coisa com cores incompatíveis com a atualidade cósmica, desde sempre uma e idêntica a si mesma. Entre o simples e o complexo, há milhares e milhares de degraus; pular um degrau impede um concertado entendimento dos demais. Em outras palavras: profano é profano; chela é chela; hierofante é hierofante. O fato é que somos nós que progressivamente mudamos, mas, a Consciência Cósmica permanece a mesma, imutável, todavia, sempre em movimento. E, já que falei em hierofante, nem um hierofante sabe tudo de tudo.

3. Quanto à faculdade imaginativa, Albert Einstein (1879 – 19551) disse: A imaginação é mais importante do que o conhecimento... Imaginação é tudo; é a prévia das atrações futuras... A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original...

 

Observação:

Muhammad ibn Muhammad ibn Tarkan ibn Uzalagh Al-Farabi (Farab, Turquistão, ca. 872 – Damasco, 950) foi um filósofo muçulmano que veio a ser chamado de o Segundo Mestre depois de Aristóteles, que era o primeiro. Devotou sua vida ao estudo estrênuo de Matemática, Medicina, Música e Filosofia. Shams al-Din Abu Al-Abbas Ahmad Ibn Muhammad Ibn Khallikan (1211 – 1282) chamou-o de o maior Filósofo que os Muçulmanos já tiveram, e Moisés Maimonides (1135 ou 1137/1138 – 1204) declarou que só ele era digno de ser estudado sobre lógica, pois tudo o que ele escreveu é como farinha de qualidade.

 

Fontes de consulta:

http://www.philosophyinquotes.com
/Al_Farabi.html

http://eastwestwesteast.wordpress.com/

http://www.novaera-alvorecer.net/
as_7_profecias_maias.htm

http://pensador.uol.com.br/
frase/MzA3MzI3/

http://pensador.uol.com.br/
autor/albert_einstein/

http://www.faggella.com.ar/gif/html/
industrias/transportes/ovnis.htm

http://projetodespertar1111.wordpress.com/
2010/07/18/racas-estelares-parte2/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Orion_
(constela%C3%A7%C3%A3o)

http://www.observatorio.ufmg.br/dicas05.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Serge_Raynaud_de_la_Ferri%C3%A8re

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Grande_Fraternidade_Universal

http://www.teosofia.levir.com.br/
inst-005.php

http://falsafa.dominiotemporario.com/
doc/da_felicidade_em_Alfarabi.pdf

 

 

 

 

I

 

E foi assim que sucedeu

para o sab(id)ão e o sandeu,

para o essênio e o cafarneu:

 

 

II

 

 

A rochas   Igualizados!

A clorofilados   Equiparados!

A bichinhos   Aparentados!

A homens   Aquarelados!

 

 

III

 

 

Rochas   Começamos!

Clorofilados   Avançamos!

Bichinhos   Esperamos!2

Homens   Retornamos!3

 

 

IV

 

 

Vamos indo interminados!

Espicharemos deslustrados?

Quousque tandem abilolados?

 

 

V

 

 

O que será a perfeição?

Abolimento-revogação

do senão e da hesitação,

 

 

VI

 

 

Perfeição é perseguível.

Imperfeição é destruível.

Insuficiência é abolível.

Manumissão é possível.

 

 

VII

 

 

Devagar, avançando,

vontadeando-mutando,

sempre reconsiderando.

 

 

VIII

 

 

E a síntese da Jornada?

Certamente será florada.

Por ora, é curtir a Estrada,

que mitiga cada porretada.

 

 

IX

 

 

Chafurdar-se no bataclã

é dar de mamar ao leviatã.

Procrastinar para amanhã

é coisa de quem é tantã.

 

 

X

 

 

É não ceder ou dançar!

É mudar ou se assujeitar!

É voar alto ou se arrastar!

É vomitar ou doente ficar!

 

 

XI

 

 

Agora, quem escolhe mal

compra uma zorra federal.

E o que sucederá no final?

 

 

 

 

 

 

XII

 

 

Haverá mais o que dizer?

Temos que desadormecer!

Temos de desembrutecer!

Temos já que amanhecer!

 

 

 

Se houver redenção,
não poderá ser para um;
terá de ser para todos!

 

 

 

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Notas:

1. Asmodeu (em grego, Asmaidos; em latim, Asmodæus; em hebraico, Asmodäus) é um demônio da mitologia do Judaísmo (Livro de Tobias, III: VIII, 17). Asmodeu é considerado um dos sete príncipes do inferno, abaixo somente de Lúcifer (o imperador do inferno). Asmodeu é o demônio representante do pecado da Luxúria.

 

 

Asmodeu

 

 

2. Ora, se, em um passado remoto, já fomos semelhantes aos bichos, por que os maltratamos? Por que os abandonamos? Por que os sacrificamos? Por que os vivisseccionamos? Por que os churrascamos? Por que os comemos? Por que? Por que? Por que? A resposta é mais fácil do que afanar dinheiro de ceguinho ou dar pernada em pepé: porque, simplesmente, apesar de termos nos tornado Homo sapiens, continuamos, mais ou menos – às vezes, mais para mais, às vezes, mais para menos – uma mistura de Homo bestialis com Homo brutalis. Quando ultrapassamos certos limites, nos tornamos mesmo Homo sociopaticus.

 

 

 

 

3. É bom sempre lembrar e não custa repetir: segundo Max Heindel (Aarhus, Dinamarca, 23 de julho de 1865 – Oceanside, Califórnia, 6 de janeiro de 1919) e outros místicos, quando a Onda de Vida encerra sete voltas em torno dos sete Globos, completando as sete Revoluções, termina um Dia da Criação. Segue-se uma Noite Cósmica de repouso e de assimilação, depois da qual tem início um novo Período. Isto já aconteceu no encerramento do Período de Saturno e no começo do Período Solar, no encerramento do Período Solar e no começo do Período Lunar e no encerramento do Período Lunar e no começo do Período Terrestre – o Período ou Ciclo atual. Aqui, na Terra, na atual Quarta Revolução, há alguns milhões de anos, foi alcançada a maior densidade de matéria – o nadir da materialidade. Daqui para diante, a tendência, neste Período Terrestre, é no sentido de uma elevação para uma substância mais rarefeita. Esta mesma Lei, seqüencialmente, vigerá nos Períodos de Júpiter, de Vênus e de Vulcano, que se seguirão, nesta ordem, ao Período Terrestre. No Período de Saturno, o homem atravessou a existência em um estado equivalente ao mineral. Iniciou-se a formação do Corpo Denso. A Consciência era semelhante à condição de transe profundo. No Período Solar, o homem atravessou a existência em um estado equivalente ao vegetal. Iniciou-se a formação do Corpo Vital. A Consciência era análoga à do sono sem sonhos. No Período Lunar, o homem atravessou a existência em um estado equivalente ao animal. Iniciou-se a formação do Corpo de Desejos. A Consciência era pictórica, análoga à do sono com sonhos. A mudança da consciência pictórica interna para a consciência objetiva e do Eu foi efetuada muito lentamente, em gradação proporcional à sua magnitude, isto acontecendo na Terceira Revolução do Período Lunar, até a última parte da Época Atlante. No Período Terrestre, ao final do Período Lunar, houve de novo um intervalo de repouso – mais uma necessária Noite Cósmica. As partes divididas foram dissolvidas e submergidas no [necessário] caos geral que precedeu a reorganização do Globo para o Período Terrestre e o desenvolvimento da individualidade e da autoconsciência. No Período Terrestre, a parte material da evolução está em seu grau mais elevado ou mais pronunciado. Em contrapartida, o Espírito está mais abandonado e coibido. No Período de Júpiter, que se seguirá ao Período Terrestre, o Corpo Denso se espiritualizará [e continuará se espiritualizando progressivamente]. O homem funcionará em Corpo Vital como funciona agora em Corpo Denso. Nenhum desenvolvimento é súbito na Natureza. O processo de separação dos dois Corpos já começou e o Corpo Vital alcançará um elevado grau de eficiência maior do que tem agora o Corpo Denso. [Prefiro o conceito de efetividade, que engloba os conceitos de eficiência + eficácia]. Sendo o Corpo Vital um veículo muito mais flexível, o Espírito poderá usá-Lo de maneira atualmente impossível com o Veículo Denso. Nos Período de Vênus o homem adquirirá um estado de consciência criadora. E, no Período de Vulcano, o último de todos, o homem atingirá a mais elevada Consciência Cósmica. O tempo de evolução através de cada um dos Períodos varia grandemente. O Período Solar tem maior duração que o Período de Saturno e o Período Lunar maior duração que o Solar. A Metade Marciana (ou primeira metade) do Período Terrestre, já ultrapassada, é a metade mais extensa de todos os Períodos. Depois o tempo encurta, de modo que a Metade Mercurial e as últimas três revoluções e meia do Período Terrestre ocuparão menos tempo que a Metade Marciana. O Período de Júpiter será mais curto do que o Lunar. O Período de Vênus mais curto do que o Período Solar. E o Período de Vulcano será o menos extenso de todos. Bem, se, por mérito, chegamos até aqui, por que não nos esforçarmos mais um pouquinho e chegarmos a Vulcano, quando, então, nos tornaremos Deuses? Tenhamos sempre em mente que, se demon est Deus inversus, homo, in potentia, est Deus. Tudo depende só de nós.

 

Música de fundo:

Give Thanks To Allah
Composição e interpretação: Zain Bhikha

Fonte:

http://archive.org/details/nasheed_435

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.free-clipart-pictures.net/rose_clipart.html

http://www.fanpop.com/clubs/men-in-black-
3/images/33206826/title/boris-animal-photo

http://ronsrdvcservice.home.insightbb.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Fraternidade_Rosacruz_(Max_Heindel)

http://portal-dos-mitos.blogspot.com.br/
2013/05/asmodeu.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Asmodeus

 

Direitos autorais:

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