Em
Lucas XXIII, 34, Jesus diz: Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem. Quando Jesus diz porque não
sabem o que fazem Ele demonstra compreender o que está
acontecendo e porque está acontecendo; mas, quando pede a seu
Pai, perdoa-lhes, demonstra, também, cabalmente que,
com relação às ofensas que estava sofrendo, não
poderia simplesmente perdoar. Isto estava fora de Sua alçada
no sentido de que, se perdoasse, estaria sendo onipotente, estaria
fazendo um certo juízo de valor e estaria passando por cima
das Leis Cósmicas, que não julgam, perdoam ou punem:
apenas educam. E, na verdade, de nada adiantaria Ele perdoar (se Ele
pudesse!). Os citados 'milagres' que Jesus operou (e os 'milagres'
que ainda acontecem todos os dias) ocorreram (se ocorreram da forma
como são relatados) porque os beneficiários (por mérito)
já haviam cumprido o que precisava que fosse cumprido. É
mesmo difícil de conceber que um serial killer ainda
com sangue na boca ou um pedófilo assumido ainda com manchas
nas cuecas possam ser beneficiados ou premiados (essas palavras não
estão boas, mas vou deixá-las aí como estão)
por um 'milagre'. Então, sendo assim, por que Jesus
proferiu a famosa frase que é repetida e festejada até
a contemporaneidade? Voltando no tempo, Ele simplesmente estava deixando
patente que, além de saber porque estava passando por todo
aquele sofrimento, Ele próprio não julgou seus agressores,
que foram meros instrumentos para que se cumprisse a Lei para que
uma Nova Lei entrasse em vigor. Se Ele perdoasse ou afastasse o cálice,
tudo iria por água abaixo. E isso não poderia suceder.
Não com Ele. Não com a Terra. Não com a Humanidade.
Jesus foi, então, uma espécie de Pedra Filosofal Planetária
e certamente um Instrumento de manifestação do Cristo
Cósmico. Por Amor! Uma vez mais, cito Mâ Ananda Moyî
(1896-1982): O que acontece é desejado e bom. E assim,
o Santo Sofrimento de Jesus (por Ele aceito) foi desejado e bom. Nós
é que ainda não somos inteiramente dignos desse Santo
Sofrimento. Eu, pelo menos, não sou. Quem sabe, um infinitesimus!
Mehmet
Ali Agca, que disparou duas vezes contra o Papa João Paulo
II, na Praça de S. Pedro, em Roma, no dia 13 de Maio de 1981,
acaba de ser libertado neste 12 de Janeiro de 2006. Um ano e meio
depois do atentado, João Paulo II foi visitá-lo na prisão.
O teor da conversa que tiveram permanece desconhecido, mas o Papa
manifestou-se a favor do perdão. Ora, o Papa pode perdoar (ato
de generosidade), mas a lei (e a Lei) deve ser cumprida, e o Papa
(nem ninguém) não pode estar acima da lei (nem da Lei),
mesmo sendo Papa (e mesmo sendo generoso). Quando um criminoso salda
seu débito com a sociedade (de acordo com as leis dessa mesma
sociedade) pode ser solto. O que ele vai fazer da sua vida só
ele sabe e só a ele compete. Mas, no que concerne às
Leis Cósmicas isso não é assim. Enquanto a criatura
não compreende os motivos que a levaram a cometer as desarmonias
contra si e contra o próprio Cósmico (contra qualquer
partícula do Cósmico), ficará enjaulada em sua
própria armadilha-prisão de ignorância e sofrimento.
Poderá acender mil e uma velas, rezar um bilhão de Ave
Marias, apedrejar o demônio, martirizar-se, jejuar, fazer dez
trilhões de promessas etc. que não adiantará
absolutamente nada. A Lei é simples: ou se compreende ou se
compreende. A própria oração só tem efeito
e é efetiva quando se ora sabendo o como e o porquê do
sagrado ato de orar. A Chave é simples: disponibilidade Cósmica
e não desejar absolutamente nada. Pedir? Pedir o quê?
A quem? Por quê?
Uma
das ilusões que são vendidas (a peso de ouro) aos religiosos
é que Deus perdoa a quem se arrepende. Isso é pura tolice;
mas é uma tolice que remunera, e remunera muitíssimo
bem. O arrependimento sincero, por outro lado, é outra coisa:
é o primeiro passo para a reconciliação do ente
consigo e com o próprio Cósmico. A própria Salvação
passa, em primeiro lugar, pelo arrependimento sincero. Mas, o que
é a Salvação? A Salvação nada mais
é do que a possibilidade de o ente não ser entropizado
e reciclado depois da morte – o que equivale a ser Salvo de
si mesmo. Isto é: à medida que se renuncia, com sinceridade,
à Senda Esquerda, torna-se viável que a Senda Direita
apareça como opção de reconciliação,
de regeneração e de reintegração. Logo,
o esforço e o trabalho são exclusivamente pessoais.
Não há, em princípio, interferência. No
interior do homem há todas as ferramentas para que ele possa
se libertar e se tornar o seu próprio Mestre.
Tudo
isso posto, se Mehmet Ali Agca se arrependeu sinceramente e se libertou
de sua fúria assassina nesses quase 25 anos de prisão...
Mas, quem sou eu para discutir essa matéria? Só posso
desejar que Agca (meu irmão) encontre a sua Paz. João
Paulo II encontrou a dele.
Por
último, quero enfatizar: precisamos nos libertar do errôneo
pensamento de que alguém possa ou tenha o poder, entre outros
absurdos, de nos perdoar. Ninguém tem esse poder, nem aqui
nem do lado de lá. Ora, se os Mestres Ascensionados não
interferem com as nossas manias e com as nossas besteiras, como é
que alguém, cá, descaradamente, se arvora e assume por
vontade própria (ou por delegação de quem não
pode delegar absolutamente nada) o poder de perdoar, mesmo que seja
em nome de Deus? Qualquer um que pare um segundinho para pensar haverá
de entender o porquê da invenção da confissão
auricular e do perdão dos pecados.
A
última grande novidade católica foi divulgada hoje,
sexta-feira, 13 de Janeiro de 2006: O Papa Bento XVI cria comissão
de teólogos para estudar o fim do limbo, a moradia das almas
não-batizadas, isto é, aquele lugar que ninguém
jamais soube ou sabe aonde é – que nem é frio
e nem é quente, que nem dói nem faz cócegas –
para onde foram e vão (e por enquanto ainda continuam a ir)
as alminhas das crianças, dos inocentes bebês e dos fetos
que morrem sem ser batizadas (quem morre em pecado mortal vai direto
para o quentíssimo e sulfídrico inferno – que
também ninguém sabe onde fica – e sem direito
a aparelho de ar condicionado, leque ou ventarola). E, por extensão,
também vão para o limbo as almas ditas justas dos homens
de bem que viveram na Antigüidade, antes da vinda de Jesus, como
por exemplo Pitágoras, Sócrates e Platão, que
tiveram dois azares azarentos terríveis: nasceram antes do
advento do Cristianismo (hoje Catolicismo) e não foram batizados
segundo a legislação católica (Direito Canônico
– que rege a estrutura da Igreja Católica Apostólica
Romana, bem como as relações entre os católicos).
Isso é azar ou é o quê? É mesmo uma brincadeira
de péssimo gosto de quem criou esse tal de limbo e lá
enfiou pessoas do calibre de Pitágoras, de Sócrates
e de Platão (o Senhor Buddah também deve estar por lá);
em direção recentíssima, sabedoria político-teológica-macabra
direcionada de quem quer acabar com ele – o limbo – mas
que quer mesmo, no fundo, é reduzir o número de
degraus entre o céu e o inferno, só para facilitar
certas coisas. Ainda que isso também se configure como uma
forma de perdão (imperdoável) é menos mal, mas
só vale como gaiatice sem nenhuma graça. Mas, quem sabe
Pitágoras, Sócrates, Platão e tantos outros,
agora, já possam ir para o céu (que deve ser bem melhor
do que o limbo, ainda que ninguém também saiba aonde
fique). Eu só espero que a burocracia curial não emperre
e não atrase a distribuição dos salvos-condutos.
Eu acho que a turma do limbo deve estar cheia de perambular por lá
e ansiosa para ser promovida! Afinal, são séculos de
limbo!
Música
de fundo:
Angel Eyes (Earl Brent & Matt Dennis)
Fonte:
http://ynucc.yeungnam.ac.kr/~bwlee/midi_a.htm