PEQUENO DIÁLOGO III

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

D: — Humildemente, peço...

 

M: — Não peça; aprenda a não pedir nada.

 

D: — Desculpe; não entendi!

 

M: — Com prazer, vou explicar. Pedir é inútil, pueril e nada adianta; a energia despendida pedindo deveria ser aplicada fazendo. Você deverá conquistar tudo por mérito, pois só o mérito garante a efetividade, a estabilidade e a durabilidade. Imagine que você precise ou deseje alguma coisa; mas esta coisa precisada ou desejada, se lhe fosse facultada, mais mal faria do que bem, mais dor promoveria do que prazer, mais retardação provocaria do que avançamento. Por conseguinte, apesar de você destes fatos não ter consciência, sem dúvida, seria contraproducente. Por outro lado, de que serviria a encarnação, se as coisas pedidas (precisadas ou desejadas) sempre fossem dadas? O processo encarnativo assemelha-se a uma escola: só deve e pode ser promovido aquele que se esforçou e que estudou. Colar e enganar para passar e se formar cobrarão o justo preço na hora devida. Por isto, na verdade, nada é dado, nada pode ser dado, nada jamais será dado. Quando alguém pediu e pensa que 'milagrosamente' recebeu, efetivamente o que fez, foi, inconscientemente, pôr em movimento alguma Lei Cósmica que proporcionou que a coisa almejada acontecesse e se materializasse. Entretanto, ainda assim, se esta coisa for inopinada (sobrevindo de forma imprevista) e acontecer de maneira extemporânea, da mesma forma, poderá acarretar mais infortúnio do que ventura, e acabará se tornando uma nuvem passageira – uma espécie de ilusão de sucesso, que, na realidade, para a vida evolutiva, é fracasso. E assim, as orações não foram feitas e existem para pedincharias e rogos insistentes, mesmo que sejam proferidas para fins filantrópicos. A própria filantropia deve ser praticada com concertamento. Bulir irrefletidamente com o 'karma' em nada difere de acionar uma bomba nuclear. Por tudo isto, mesmo nós – que podemos – nunca interviemos, não intervimos e jamais interviremos nas necessárias e educativas experiências humanas. Se procedêssemos assim, seríamos muito mais do que irresponsáveis. Misericórdia é outra coisa; um dia, conversaremos sobre isto. Então, repito: você deverá conquistar tudo por mérito. Não peça nada. E é melhor, portanto, que, em determinadas ocasiões, algo que você queira ou deseje ardentemente não aconteça, para evitar que mais funcione como um inibidor do que como um catalisador de sua evolução. Todos os seres têm a eternidade para conquistar tudo. Nesta matéria, três palavras regulam tudo: paciência, trabalho e mérito.

 

D: — Compreendi perfeitamente. Obrigado. Gostaria que você falasse sobre a misericórdia.

 

M: — Sim, este será o tema do nosso próximo encontro. Por enquanto pense nisto: misericórdia não é fazer tudo pelo outro. Se assim fosse, recairíamos no mesmo erro de pedir e conceder.