Sobre
o discurso da baderna feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso: Eu
estava ali e não podia acreditar no que ouvia. Não vi nenhuma
diferença dos discursos feitos pelos generais.
Sobre
o relacionamento entre FHC e o PFL: No
PFL, o presidente senta e estica as pernas. É até capaz de
tirar os sapatos... Servem um uisquezinho! E pensa: 'Aqui é gente
civilizada'.
Não
sei quem será o primeiro colocado
e quem
será o
segundo colocado nas eleições presidenciais, mas já
sei que o terceiro vai ser o Enéas.
Intervenção
de Pedro Simon, em aparte ao Senador Arthur Virgílio:
– Eu estou aqui contrário à ordem médica, mas
estou aqui, e se o Presidente me permitir, quero falar porque acho que chegamos
ao limite, olha, chegamos ao limite do mínimo da responsabilidade
que nós podemos ter. Eu digo com a maior tristeza, com a maior mágoa.
Nessa altura, não adianta o Presidente Sarney se licenciar. Ele tem
que renunciar à Presidência do Senado. Ele tem que fazer o
que os seus antecessores fizeram. Ele deve renunciar à Presidência
do Senado. E nós devemos nos reunir para escolher alguém que
seja a representação de todos nós. Não adianta
suspender os atos, não adianta indicar nada, não adianta o
ex-Primeiro Secretário, coitado, vir à tribuna e oferecer:
vê a minha vida, vê isso, vê mais aquilo. Nós perdemos
toda a credibilidade, Senador. Agora, V. Exª, dirigindo o Conselho
de Ética... O Conselho de Ética ainda não se instalou.
Em primeiro lugar, eu vejo pelo meu Partido, eu tenho o maior respeito pelas
pessoas que foram indicadas. Eles até têm muitas qualidades,
mas não foram indicados pelas qualidades. Eles foram indicados pela
fidelidade, por fazer aquilo que o Sr. Renan, Líder do PMDB, porque
ele e o Sr. Sarney controlam e comandam a Bancada do PMDB. É uma
humilhação. Eu tenho vergonha, eu tenho vergonha da posição
que eu estou. Aí me perguntam: por que o senhor não vai para
outro partido? Eu não tenho para onde ir, mas, sinceramente, eu estou
pensando em ir para casa, Senador. Eu estou pensando. Já não
sou mais candidato a nada, mas estou pensando em sair. Eu não tenho
mais condições de fazer nada. Se eu não posso ajudar,
pelo menos que eu vá embora. O Presidente Sarney tem que ter a grandeza
de renunciar à Presidência do Senado. Eu estive no seu gabinete,
fui lhe dizer isso dias atrás. Não tive coragem, porque ele
falou com tal maneira, com tal firmeza, que eu não tive coragem de
dizer pra ele aquilo que eu fui lá pra dizer: Presidente, renuncie!
Esse negócio da fundação... Em primeiro lugar, era
o Convento das Mercês, um prédio... O mais espetacular. Em
segundo lugar, a Assembléia vota uma lei... Desde a Constituinte
até hoje, é a primeira vez que o Senado anula uma lei estadual,
a pedido dele, porque a Assembléia tinha determinado a devolução...
S. Exª é presidente eterno, vitalício. Se ele morrer
é a esposa dele; se morrer a esposa dele são os filhos dele;
se morrerem os filhos, são os netos, pelo menos é o que diz
o jornal. Eu nunca tinha visto isso na minha vida!
Presidente
Sarney, renuncie. Renuncie. Esse desgaste está lhe fazendo mal. A
gente sente que V. Exª está numa situação dolorosa.
Eu sinto muito, mas renuncie com grandeza, Presidente. Renuncie. Olhe, a
história tem mostrado que as pessoas que tiveram capacidade de renunciar
tiveram carinho e admiração por parte da imprensa. Mas querer
sucumbir, ficar e carregar o Senado junto, não vale a pena.
Perdemos
toda a credibilidade. O presidente Sarney tem de ter a grandeza de renunciar
à presidência do Senado. Tenho vergonha. Estou pensando em
ir para casa.
Crise
vem de quinze anos, do primeiro mandato do Presidente Sarney.
Em
um recado para a cúpula do Partido: Eu sou favorável
a falar, criticar. Se o Partido tem alguma dúvida, que abra um processo.
Mas acho que ninguém vai querer que ele [Jarbas
Vasconcelos]
fale tudo o que sabe. O Jarbas, como eu, somos fundadores do velho PMDB.
Nós temos que sair para eles ficarem? Eu me sinto muito bem dentro
do PMDB.
A
cúpula do PMDB se vende por qualquer dois mil réis.
O Partido não tem projeto para chegar à Presidência
da República, mas, sim, quer pegar um carguinhos.
A
impunidade é uma realidade.
Há
dois anos, CPI era uma coisa séria. Os parlamentares, mesmo representando
seus Partidos, no fundo, tinham a preocupação em buscar a
verdade. Ultimamente, as CPIs têm sido um partido apurando o outro.
Hoje, uma CPI já não tem mais a mesma credibilidade e funciona
pessimamente.
Estou à margem, do lado de
fora, não conto. Para eles, eu sou um zero à esquerda.
Acabou tudo. O PT, que era um partido
bonito, acabou. Nada é mais igual ao PSDB do que o PT. Nada é
mais igual ao Fernando Henrique do que o Lula.
Como
acredita que vai ser o processo de escolha do seu Partido entre os pré-candidatos
à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), ministra
da Casa Civil, e José Serra (PSDB), governador de São Paulo:
O PMDB está se oferecendo para ver quem paga mais e quem ganha mais...
O comando partidário não está à altura do Partido...
Passou a ser a política de quem paga mais. Eles ficam esperando para
ver quem paga mais... O PMDB fez de tudo para agradar Fernando Henrique
e conseguiu ‘carguinhos’. Agora faz a mesma coisa com Lula...
Sou
obrigado a reconhecer que, com toda a corrupção que teve de
um tempo para cá, o que encontramos no 'Governo Collor' deveríamos
ter enviado para o juizado de pequenas causas.
O
que está acontecendo agora no Brasil é um recorde de lucro
dos bancos. Nunca os banqueiros estiveram tão felizes, tão
apaixonados por um cara como pelo Presidente Lula.
O
estilo Requião de ser tem que ser respeitado. O estilo Requião
é este: franqueza e rigor com o trato da coisa pública.
Sobre
o Senador Jefferson Peres: O
Congresso não podia perdê-lo. Era um baluarte, um símbolo.
Eu tinha inveja cristã dele, que em cinco frases matava uma questão.
O
Senador Pedro Simon, em uma homenagem a Ulisses Guimarães, disse
que este, um dia, lhe havia dito: Se algum dia alguém
for ao meu enterro e vir meu caixão, pode dizer: lá vai um
homem revoltado porque eu não queria morrer.
Uma
grande maldade com o Brasil foi a morte de Tancredo. Tancredo foi um sacana
com a gente, não poderia ter morrido. Então, que levasse o
Sarney junto.
Corrupção,
violência, racismo, injustiça social e calúnias. Mas
todas as calúnias são verdadeiras; nenhuma é mentira.
Está provado que o Brasil está crescendo, está se desenvolvendo
e tem coisas positivas que não há o que discutir. Mas a convivência,
a maneira de ser...
Reforma
tributária: É um texto de mentirinha; ninguém
leva a sério. Não foi uma diminuição de impostos,
não foi uma racionalização. A gente falava em diminuição
de tributos, em fazer cinco tributos. É uma bobagem. A União
nada em recursos; os Estados e os Municípios estão na miséria.
O Governo Federal quer isto: que o Governo do Estado e o Município
venham pedir esmola... O Governo Federal não quer abrir mão.
Lula
é tão poderoso que nem São Paulo tem condições
de querer brigar com o Governo Federal.
Eu
acho muito cômoda a posição da Justiça, com todo
o respeito, de querer apenas dizer quem está sendo processado. Em
compensação, a Justiça não julga nunca.
Quem
é oposição é radical: defende o Governo anterior
e é contra o atual. E quem é governo é radical: defende
o Governo atual e é contra o anterior. Então, as CPIs que
estão aí dão em zero, porque cada um defende uma parte
e não se investiga coisa nenhuma.
Sobre
o foro privilegiado: Acho que o foro privilegiado está
sendo negativo. Mas temos de ter cuidado. Não podemos ter, de repente,
um promotor fanático, lá do interior, ou um juiz apaixonado,
daqui a pouco, interpondo um processo contra o Presidente da República,
por qualquer coisa. Há de ter certo cuidado nesse sentido. Mas acho
que deveria haver alguma coisa com relação à Justiça
eleitoral ou coisa que o valha. Agora, da maneira como o foro privilegiado,
ele termina sobrecarregando tudo. Por exemplo, o processo do mensalão
está lá. O Supremo fez um ato espetacular, denunciou os 40
[acusados pelo Procurador-geral],
mas vai levar dez anos para seguir adiante.
Processos
sobre crimes de corrupção ou improbidade administrativa:
Os processos sobre crimes de corrupção ou improbidade administrativa
deveriam ter prioridade total. Um projeto meu diz que quem está sendo
processado e é candidato tem de ser julgado em primeiro lugar; o
processo não pode ficar na gaveta de ninguém. O delegado de
polícia tem de pegar, em primeiro lugar, o caso de um político
processado por crime eleitoral, por crime político, por corrupção.
O promotor tem de denunciar ou arquivar em primeiro lugar. O juiz tem de
julgar em primeiro lugar; o tribunal tem de julgar em primeiro lugar. E,
se é época de eleição, antes da eleição,
ele tem de ser julgado. Se, por qualquer motivo, ele não for julgado
antes da eleição, entre a eleição e a posse
ele tem de ser julgado.
O
homem sofre. Sofrer faz o homem pensar. Pensar torna o homem
culto. Ser culto ajuda o homem a viver.
Apesar
de todos os pesares, há momentos em que a gente pode dar as mãos
e a soma é para todos.
Há
corrupção tem em qualquer lugar. Tem gente que acha que o
Brasil é um país corrupto, que isso não acontece em
outros lugares. Acontece, e muito, em outros lugares. A diferença
é que, em outros lugares, o cidadão é processado e
vai para a cadeia. A Operação Mãos Limpas, que foi
feita na Itália, cassou o mandato de mais de cem parlamentares, botou
na cadeia empresários, a começar pelo presidente da Fiat à
época, a maior empresa da Itália. Ela condenou juízes,
procuradores, agiu fundo, fundo mesmo. Houve um momento, no Japão,
em que três ex-primeiros-ministros se suicidaram de vergonha dos processos.
No Brasil, não. Fica tudo nas gavetas; não acontece nada.
Esse é o mal. A imprensa publica manchete atrás de manchete,
em jornal, rádio, televisão: roubou, matou, degolou, houve
um escândalo, e não é julgado. O que acontece? Para
efeito de opinião pública, não aconteceu nada, foi
absolvido. Mas o cidadão honesto, decente, digno, às vezes
tem uma manchete injusta, cruel, que não é verdadeira –
mas, como não foi julgado, vai tudo para o mesmo rol. Há uma
desilusão generalizada.
Na
dúvida, o 'promoter' não pode arquivar. Denuncia. Engavetar
é agir com parcialidade.
Trecho
do pronunciamento do Senador Pedro Simon, ao encerrar a sessão de
acareação dos Senadores Arruda e ACM e a ex-diretora do Prodasen:
... se foi tão fácil violentar [sic]
o painel eletrônico do Senado, que segurança temos que o mesmo
não acontece com as 100.000 [sic]
urnas eletrônicas?
Em
1989, votei no Ulysses Guimarães para presidente da República,
no primeiro turno, mesmo sabendo que ele viria a perder, e que no segundo
turno eu votaria no Lula contra o Fernando Collor de Mello. Desta vez, defendo
a candidatura própria do PMDB e, se o partido aderir formalmente
ao nome do Governo Lula, estarei contra por princípio. Votarei até
na Heloísa Helena (PSOL). Mas, no segundo turno, estarei com a Dilma
Rousseff (PT) contra o José Serra (PSDB).
Há
um Governo Lula antes da Dilma e, outro, depois que ela assumiu a Casa Civil.
Você pode falar de corrupção em qualquer lugar, mas
lá na Casa Civil não tem nada disso. Veja esse Programa de
Aceleração do Crescimento, esse PAC, não tem nada demais.
É uma junção de um monte de coisas que já tinham
por aí. Qual a diferença? A diferença é a Dilma.
Ela faz mil casas populares numa favela no Rio, coloca um grande posto de
saúde, um baita colégio, um tremendo ginásio de esportes.
Tudo isso os Governos fazem por aí às centenas, sem grandes
resultados. Mas a Dilma junta tudo num mesmo lugar, e ainda coloca um teleférico
nesta favela criando uma cidade com qualidade de vida razoável, de
uma cidade, para um monte de gente. Isso é competência. Antes
do PAC, o dinheiro passava de um lado para o outro sem aparecer nada. Agora
as coisas aparecem. Eu acompanho o trabalho da Dilma por longa data. Como
Secretária de Fazenda do Governador Alceu Collares (PDT), vi as reuniões
de que ela participou para tentar salvar o Governo, seu esforço aqui
nos ministérios em Brasília. Depois, como Secretária
de Energia do Governador Olívio Dutra (PT), também soube mostrar
a que veio. Tanto que virou Ministra das Minas e Energia do Lula sem que
ninguém aqui em Brasília a conhecesse. E foi novamente muito
bem. Brigou o tempo inteiro para evitar que o Senador José Sarney
(PMDB-AP) indicasse qualquer um para lá. Ela só quis nomes
técnicos. O resto do Governo é que fica colocando esse rebotalho
do PMDB que está aí... Tenho certeza de que ela fará
o possível para evitar que essa parcela do PMDB estrague o seu Governo.
Mantenho
minha coerência histórica desde que comecei no grêmio
estudantil do curso secundário. Uma coerência muito feliz porque
eu, quando jovem, conheci o Alberto Pasqualini. O pensamento dele é
uma coisa fantástica. Ele pregava as idéias que se discutem
hoje no mundo, sessenta anos depois: o fracasso do Comunismo, o equívoco
total do Capitalismo. Nosso grupo de estudantes ia à casa dele duas
vezes por semana. Das 8 da noite até tarde. No campo das idéias,
fui numa linha reta; me impregnei tanto das idéias dele, que não
titubeei. Agora, os comunistas não gostavam. Diziam que o Pasqualini
era um 'capitalista fantasiado'. Ele dizia que os meios de produção
ficam na propriedade privada, mas ela tem uma responsabilidade social que
é obrigada a cumprir. Ele pregava que todo trabalhador tinha direito
à educação, à uma casa, a um rádio, à
coisas que não havia em 1946, lá no interior. Mas era contra
o Socialismo. Achava que o Socialismo dava a igualdade, mas não dava
a liberdade. Eu me impregnei daquelas idéias e me criei naquela cidade,
nasci em Caxias. Meu pai e minha mãe vieram do Líbano. Vieram
direto, sou 'puro-sangue'; minha irmã mais velha também é
libanesa. Caxias é uma terra de colonização italiana.
É um legítimo exemplo de como poderia ser feita a reforma
agrária dando certo. Vieram primeiro os alemães, depois os
italianos, e ali eles plasmaram uma civilização que é
hoje uma cidade como Caxias – a mais importante do Rio Grande do Sul.
No meio dessa colonização italiana, eu e os patrícios
libaneses nos criamos. Tenho mesclados sangue árabe, colonização
italiana e Brasil. Minha família era simples. Estudei no Colégio
Nossa Senhora do Carmo. Depois meu pai se mudou para Porto Alegre, estudei
no Rosário, fui para a Pontifícia Universidade Católica;
depois voltei à Caxias para lecionar na universidade, fui vereador
em Caxias…
O
Brasil é um país de leis para não serem cumpridas;
é o País da impunidade. Só vai para a cadeia ladrão
de galinha. Se não é ladrão de galinha e tem um bom
advogado, não vai para a cadeia.
Reclamando
da impunidade reinante no País:
Será que uma empreiteira dá R$ 100 mil, R$ 200 mil, R$ 500
mil para um candidato porque ele é amigo ou porque está plantando
para colher depois?
Eu
sou democrata e sou democrata para valer. E, como tal, eu não aceito
o terceiro mandato.
Eu não vejo, na Câmara,
nenhuma disposição de uma medida de reforma política
que tenha conteúdo de seriedade. Não vejo. Querem fazer uma
assembléia nacional constituinte, em que a votação
é mais rápida; não tem prazo. Nós nos transformamos
numa assembléia nacional constituinte, nós vamos fazer a nossa
reforma de acordo com o que nós queremos. Não é sério.
Sinceramente, não é sério.
Reflexão
de um Senador
por
Pedro
simon
Quando
ingressei na vida pública, há cinco décadas,
eu apertei o botão de subida do elevador da política,
no seu sentido mais puro. E ele subiu. Parou em muitos andares.
Abriu e fechou.
Muitas
vezes, parecia que as portas emperravam, presas a grades e a paus-de-arara.
Mas, mesmo assim, abriam-se, com o esforço de todos os passageiros.
Havia
uma voz, que anunciava cada etapa dessa nossa subida, na busca do
destino almejado por todos nós. Liberdade, Democracia, anistia,
diretas-já. Não era uma voz interna. Ela vinha das
ruas, e ecoava de fora para dentro.
Vi
gente descer e subir, em cada um dos andares deste edifício
político. Comigo, subiram Ulysses, Tancredo, Teotônio.
Já nos primeiros andares, vieram Covas, Darcy, Fernando Henrique.
Mais um ou outro andar, Lula, Dirceu, Suplicy. Outros mais, Marina,
Heloísa.
De
repente, o elevador parou entre dois andares. Alguém mexeu,
indevidamente, no painel. Parece que alguns resolveram descer e
fizeram mau uso do botão de emergência. O Covas, o
Darcy, o Ulysses, o Tancredo, o Teotônio já haviam
chegado a seus destinos.
Sentimos,
então, uma sensação de insegurança e
de falta de referências. Apesar dos brados da Heloísa,
parecia que nada poderia impedir a nossa queda livre. A cada andar,
uma outra voz, agora de dentro para fora, anunciava, num ritmo rápido
e seqüencial: PC, Orçamento, Banestado, Mensalão,
Sanguessugas, Navalha, Xeque-Mate. Alguns nomes, eu nem consegui
decifrar, tamanha a velocidade da descida. E o elevador não
parava. Nenhuma porta se abria. Haveria o térreo, de onde
poderíamos, de novo, ganhar as ruas. É que imaginávamos
que seria o fundo do poço do elevador da política.
Qual o quê, não sabíamos que o nosso edifício
tinha, ainda, tantos, e tão profundos, subsolos.
Daí,
a sensação, cada vez mais contundente, de que o baque
seria ainda maior. Quantos seriam os subsolos? Até que profundezas
suportaríamos nessa queda livre?
Mais
uma vez de repente, o elevador parou, subitamente. Uma fresta, uma
sala, uma discussão acalorada. Troca de insultos. Uma reunião
da Comissão de Ética da Torre Principal do Edifício.
O
Síndico teria pago suas contas pessoais com o dinheiro do
Condomínio, através do funcionário do 'lobby'
de um outro edifício. E, por isso, teria, também,
deixado de pagar pelos serviços de manutenção
do elevador. Mais do que isso, o zelador também não
havia recebido o seu sagrado salário, para o pão,
o leite, a saúde e a educação da família.
Idem o segurança.
Mas,
havia algo estranho naquela reunião: os representantes dos
condôminos, talvez por medo de outros sustos semelhantes,
em outros solavancos do elevador, defendiam, solenemente, o Síndico.
Ninguém
estava interessado em avaliar a veracidade das suas informações.
Nem mesmo as contas do Condomínio. Queriam imputar culpa
ao zelador e ao segurança. Ou, quem sabe, teria o tal Síndico
informações comprometedoras, gravadas nos corredores
soturnos do edifício, a provocar tamanha ânsia solidária?
Não se sabe, mas, tudo indica, isso jamais será investigado,
enquanto vigorar a atual Convenção de Condomínio.
Há
que se rever, portanto, essa Convenção. Há
que se consertar esse elevador. Há que se escolher um novo
ascensorista. Há que se eleger um novo síndico. Há
que se alcançar o andar da ética.
A
voz das ruas tem que ecoar, mais alto, nos corredores
deste edifício. A voz de dentro, parece, insiste em continuar
violando os painéis de controle. Até que não
haja, mais, subsolos. E, aí, o tal baque poderá ser
irreversível. Não haverá salas de comissões
de ética. Porque não haverá,
mais, ética. Quem sabe, nem mesmo, edifício.
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