O
Impulso Para Renascer
Encerra o Descanso
Entre Duas Vidas
O longo estágio de bem-aventurança
que ocorre entre uma vida e outra é chamado de Devachan
ou Local Divino. É o Devachan que faz com que haja,
em média, algo entre 1000 e 4000 anos entre duas encarnações
da mesma alma espiritual.
Mas
por que o Devachan não se eterniza? O
que é que faz surgir, no final do Devachan, um impulso
por nascer de novo? Qual é o conjunto de causas e efeitos que
provoca a reencarnação do Eu Superior de alguém?
E de que maneira são determinadas as condições
em que a alma renascerá?
Estas questões são
abordadas na monumental Carta 68 dos dois volumes Cartas dos Mahatmas
Para A. P. Sinnett (Ed. Teosófica). O texto menciona os cinco
tipos de skandhas ou registros cármicos que levam
os códigos da energia vital de uma encarnação
para a outra.
Para entender como funcionam
os skandhas, podemos usar um exemplo da tecnologia moderna.
Quando duas pessoas falam ao telefone, a voz do indivíduo A
é codificada, ou melhor, desmaterializada e transformada em
códigos eletrônicos (equivalentes a skandhas).
Na recepção, o telefone do indivíduo B saberá
decodificar e rematerializar tais registros abstratos de som.
Portanto, ao telefone, cada som passa por uma desmaterialização
(ou morte) e uma rematerialização (ou renascimento)
quase instantâneos. Em um aparelho de telefax ou de telégrafo,
ocorre a mesma coisa. A mensagem renasce em outro corpo
físico, isto é, em outro papel e em outra tinta.
Na Internet, o processo é similar. A mensagem mandada desde
um computador renasce graças ao corpo físico
do monitor do computador usado para recepção e
leitura ou graças à impressora e à tinta que
permitirão colocar a mensagem em uma folha de papel. As palavras
deste parágrafo que está sendo lido agora, por exemplo,
não viajaram até o leitor enquanto palavras. Elas foram
eletronicamente desmaterializadas, ou seja, transmitidas em forma
de códigos e rematerializadas graças aos computadores
e monitores usados pelos que lêem o boletim O Teosofista.
O que ocorre na transição
entre duas vidas humanas é, de certo modo, semelhante. As informações
cármicas (ou skandhas) dos padrões energéticos
são desmaterializadas, depois processadas, purificadas, transmitidas
para novos contextos por um processo de afinidade cármica e,
finalmente, reencarnam ou se rematerializam, graças à
matéria física e astral dos novos locais.
O processo de concepção
de um feto humano inicia o processo de materialização
da [personalidade–]alma
que está pronta para renascer. É claro que uma criança
não é mera cópia da vida anterior. Ela é
um renascimento em novo contexto da mesma essência interior
presente na vida prévia, e vem purificada pela longa bênção
[experiência]do
Devachan.
Diz o Mestre, na fundamental
Carta 68:
Se
você perguntar a um monge budista erudito o que é Carma,
ele dirá a você que Carma é o que um cristão
poderia chamar de Providência (apenas em um certo sentido) e
um maometano Kismet, destino (de novo, em certo sentido). Dirá
que é esta doutrina fundamental que ensina que, assim que qualquer
ser sensível morre, seja homem, deva ou animal, um novo ser
surge, e ele reaparece em outro nascimento, no mesmo ou em outro planeta,
sob condições criadas por ele mesmo. Ou, em outras palavras:
que o Carma é o poder orientador, e Trishna (em páli,
Tanha) é a sede ou desejo de vida sensível, a próxima
força ou energia, a resultante da ação humana
(ou animal) que, a partir dos velhos Skandhas, produz o novo grupo
que forma o novo ser e controla a natureza do próprio nascimento.
Ou, para torná-lo ainda mais claro, o novo ser é recompensado
e punido [educado]
pelos atos meritórios e maus atos do ser velho.
O Carma representa um Livro de Registros no qual todos os atos do
homem – bons, maus ou indiferentes –
são
cuidadosamente anotados para seu débito e crédito, por
ele mesmo, digamos, ou mais precisamente pelas próprias ações
dele. Lá, onde a ficção poética cristã
criou e vê um Anjo Registrador Guardião, a lógica
budista, severa e realista, mostra sua real presença, percebendo
a necessidade de que cada causa tenha seu efeito. Os oponentes do
Budismo têm dado grande destaque à alegada injustiça
de que o autor escape e a vítima inocente seja forçada
a sofrer, já que o autor dos atos e quem sofre são seres
diferentes. O fato é que, embora, em certo sentido, eles possam
ser considerados diferentes, em outro sentido eles são idênticos.
O 'ser velho' é o progenitor – pai e mãe ao mesmo
tempo – do 'novo ser'. É o anterior que cria e dá
forma a este último, na realidade; sendo assim muito mais do
que qualquer pai carnal. E uma vez que você tenha dominado bem
o significado dos Skandhas você verá o que quero dizer.
É o grupo de Skandhas
que forma e constitui a individualidade física e mental que
nós chamamos de homem (ou qualquer ser). Este grupo consiste
(no ensinamento esotérico) de cinco Skandhas, isto é:
Rupa, as propriedades ou atributos materiais; Vedana, sensações;
Sanna, idéias abstratas; Samkara, tendências tanto físicas
quanto mentais; e Vinnana, poderes mentais, uma ampliação
do quarto, significando as predisposições mentais, físicas
e morais. Nós acrescentamos a eles dois outros, cujos nomes
e naturezas você pode aprender mais adiante. No momento é
suficiente fazer com que saiba que eles estão conectados com
e são produtores de Sakkayaditthi, a 'heresia ou ilusão
da individualidade' e de Attavada, 'a doutrina do Eu', sendo que ambos
(no caso do quinto princípio, a alma) levam à maya
da heresia e da crença na eficácia de vãos rituais
e cerimônias, em orações e em intercessão.
(Grifo
meu).
Bem, retorno à questão
da identidade entre o velho homem e o novo 'Ego'. Devo lembrar, mais
uma vez, de que até mesmo a ciência aceitou o fato antigo,
muito antigo, ensinado pelo nosso Senhor, isto é, que um homem
de qualquer idade, embora seja o mesmo do ponto de vista da sensibilidade,
fisicamente não é o mesmo que era alguns anos antes
(nós dizemos sete anos, e estamos preparados para defender
e provar esta afirmativa). Na linguagem budista, os Skandhas dele
mudaram. Ao mesmo tempo eles estão sempre e incessantemente
trabalhando na preparação do molde abstrato –
a 'particularização' do futuro novo ser. Bem, então,
se é justo que um homem de 40 anos tenha satisfação
ou sofra devido às ações do homem de 20 anos,
também é igualmente justo que o ser de um novo nascimento,
que é essencialmente idêntico ao do nascimento anterior,
sinta as conseqüências daquele Eu ou daquela personalidade
geradora. As leis ocidentais, que punem o filho inocente de um pai
culpado ao privá-lo de seu pai, de seus direitos e propriedades,
a sociedade civilizada, que rotula com a infâmia a filha inocente
de uma mãe imoral e criminosa, a Igreja Cristã e suas
escrituras, que ensinam que 'o Senhor Deus castiga pelos pecados dos
pais até a terceira e a quarta geração', não
é tudo isto muito mais injusto e cruel do que qualquer coisa
feita pelo Carma? Em vez de punir o inocente junto com o culpado,
o Carma vinga e recompensa [educa]
o inocente – o que
nenhum dos três poderes ocidentais acima mencionados pensou
alguma vez em fazer.
[Trecho reproduzido das páginas 310 a 312, volume I, Carta
68, de Cartas dos Mahatmas, Editora Teosófica, Brasília.]
Fonte:
http://www.motivacao.org/blog/1059