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Notas:
1. A
comparação da religião com o ópio (a
religião é o ópio do povo) não é
original em Karl Heinrich Marx (1818 – 1883), pois já havia
aparecido, por exemplo, em escritos de Immanuel Kant (1724 – 1804),
Johann Gottfried von Herder (1744 – 1803), Ludwig Andreas Feuerbach
(1804 – 1872), Bruno Bauer (1809 – 1882), Moses Hess (1812 –
1875) e Christian Johann Heinrich Heine (1797 – 1856). Seu contexto
imediato é o seguinte: É
este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião;
a religião não faz o homem. E a religião é,
de fato, a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou ainda
não se conquistou ou voltou a se perder. Mas o homem não é
um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem,
o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião,
uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo
invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu
resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu
'point d’honneur' espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção
moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação
e de justificação. É a realização fantasmal
da essência humana porque a essência humana não possui
verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é
indiretamente a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é
a religião. A miséria religiosa é, ao mesmo tempo,
a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria
real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o âmago
de um mundo sem coração e a alma de situações
sem alma. É o ópio do povo. A abolição da religião,
enquanto felicidade ilusória dos homens, é a exigência
da sua felicidade real. O apelo para que eles deixem as ilusões,
a respeito da sua situação, é o apelo para abandonarem
uma situação que precisa de ilusões. A crítica
da religião é, pois, em germe, a crítica do vale de
lágrimas de que a religião é a auréola. A crítica
colheu nas cadeias as flores imaginárias, não para que o homem
suporte as cadeias sem fantasia ou sem consolação, mas para
que lance fora as cadeias e colha a Flor Viva. [Maiúsculas
e negrito meus].
A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de
modo que ele pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu
as ilusões e recuperou o entendimento, a fim de que ele gire à
volta de si mesmo e, assim, à volta do seu verdadeiro Sol.
[Negrito
meu]. A religião
é apenas o sol ilusório que gira à volta do homem enquanto
ele não gira à volta de si mesmo. Por isto, a tarefa da História,
depois que o além da verdade se desvaneceu, é estabelecer
a verdade do aquém. A imediata tarefa da Filosofia, que está
a serviço da História, é desmascarar a auto-alienação
humana nas suas formas não-sagradas, agora que ela foi desmascarada
na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se, deste
modo, em crítica da Terra, a crítica da religião em
crítica do Direito, a crítica da Teologia em crítica
da política. (Crítica da Filosofia do Direito,
Karl Heinrich Marx). Marx tornou-se reconhecido como crítico sagaz
da religião devido à sentença acima transcrita: A
religião é o suspiro da criatura oprimida, o âmago de
um mundo sem coração e a alma de situações sem
alma. É o ópio do povo. Seja como for, é
importante saber que Marx se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente
a atividade religiosa, pois ele sabia muito bem que era inútil, principalmente,
penso eu, quando não é oferecida uma alternativa místico-racional
que restaure a ordem interior por um processo de reconhecimento da harmonia
perfeita existente em nosso Coração. Em suma: enquanto a ordem
interior não for restaurada, a religião dominará o
vácuo mental preenchido pela ignorância. Nesse quesito, então,
Marx, basicamente, seguiu a opinião de Feuerbach, para quem
a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou de
outro ser metafísico: a
religião é
criada pela fabulação dos homens. Sem
discordar um milímetro, vou modilhorar
(modificar + melhorar) o final desta sentença de Feuerbach:
de
forma geral, as religiões sempre foram criadas pelas fabulações
muito bem engendradas de homens
sem-vergonha no focinho, para, sacanocraticamente, meterem a mão
no bolso de homens que ainda não encontraram o Caminho. Meu irmão:
se você descobrir,
na História da Humanidade, um
Magister Ascensus que tenha parido uma religião, eu lhe
darei um doce. Enfim, devo dizer que aprecio e respeito muito o pensamento
da Santo Agostinho de Hipona (Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona,
28 de agosto de 430), mas, de
forma alguma,
concordo com esta recomendação de sua autoria: Roma
locuta est, causa finita est. Roma falou, a causa está
encerrada.
Nota
editada das fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx
http://www.lusosofia.net/textos/marx_karl_para
_a_critica_da_filosofia_do_direito_de_hegel.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93pio_do_povo
2. Nas
liturgias católica e anglicana, o Agnus
Dei é recitado ou cantado na parte da Santa Missa denominada
de Rito da Paz, enquanto durar a fração do Pão. Esta
oração foi introduzida na Santa Missa pelo Papa Sérgio
II (687 – 701), e é baseada no Evangelho de João
1: 29.
Em latim:
Agnus
Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona nobis pacem.
Em português:
Cordeiro
de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz.
Quanto
à afirmação de que peccata
existem e não existem – que pode, talvez, ter confundido o
leitor – a explicação é muito simples: peccata
existem para os que acreditam que existam; e peccata
não existem para os que sabem que não existem. Tudo se resume
ao último verso do soneto: Credulidade e inscícia, sim, existem.
Enfim, cabe lembrar o que ensinou o Adepto Avançado e Místico-Magista
Aleister Crowley (1875 – 1947), que proclamou: Do
what thou wilt shall be the whole of the Law. Faze o que tu
queres e será toda a Lei. Mas, carmicamente, e, portanto, inevitavelmente,
ao fazermos o que queremos, somos responsáveis pelas conseqüências
derivadas do que queremos e do que fazemos!
Certa
vez escrevi um poema em que afirmei: Nesta existência, há muito
pouca ebulição quando
se escolhe a ponte da trivialidade. E comentei: Ebulição,
bem entendido, sob o prisma da consciência, isto é, sob os
aspectos morais e/ou espirituais. Seja como for, a ebulição
geralmente começa quando o ser-no-mundo pressente que está
chegando a hora – a hora do pega pra capar, a hora do acerto de contas,
a hora do é o que é, a hora em que não há nem
xixi minha nega nem vem cá meu bem! Quando se estuda, por exemplo,
a vida de Francisco de Paula Cândido Xavier, popularmente mais conhecido
por Chico Xavier (Pedro Leopoldo, 2 de abril de 1910 – Uberaba, 30
de junho de 2002), é doridamente impressionante constatar o quanto
ele ebuliu e padeceu por sustentar até o fim suas razões/percepções
interiores. Há uma máxima do Chico, absolutamente irretocável
e irretorquível, que recordarei agora: Embora
ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. Hoje,
acrescentarei: o que temos na cabeça? Pedra? Bosta? Ou neurônios?
Bolas! Só não muda quem não quer.