PAZ PERPÉTUA
(Fiat Iustitia, pereat mundus)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

Paz Perpétua, escrita em 1795 pelo filósofo alemão Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 – Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) – para mim, sua obra mais importante, pois serviu de base para a instalação da ONU e acabou por funcionar como um tipo de filosofia-base para a União Européia – está alicerçada no princípio de que a razão tem mais força do que o poder. O relacionamento entre as nações e as pessoas, portanto, precisa e deve estar ancorado na construção de um Direito Universal fraterno e isento de parcialidade, sendo indispensável que este mesmo Direito possa justa e pacificamente garantir as condições necessárias para uma hospitalidade internacional.

 

Ainda que eu admita que este pensamento esteja absolutamente correto e que seja irredutivelmente desejável, entendo, todavia, que seja impossível de no todo se concretizar (por enquanto) nesta Terceira Dimensão, pois seria necessário que acontecesse uma espécie de sumo bem político somado à uma abnegação pessoal, coisa que não é, ainda, nem exeqüível nem executável. Satyagraha (princípio da não-agressão; forma não-violenta de protesto) e Ahimsa (rejeição da violência e respeito absoluto à toda forma de vida), como disse Mohandas Karamchand Gandhi (Nova Déli, 2 de outubro de 1869 – Nova Déli, 30 de janeiro de 1948), são como duas faces de uma mesma medalha, ou melhor, como as duas faces de um pequeno disco de metal liso e sem escarificações. Quem poderá dizer qual é a mais importante? A não-violência é o meio; a verdade, o fim. Infelizmente, o ser humano ainda não relizou, porque ainda não compreendeu, nem Satyagraha nem Ahimsa.

 

Seja como for, com imenso prazer, porque concordo com Kant, listei abaixo alguns fragmentos interessantes do seu pensamento para a construção de uma utopística, mas benfazeja e desejada, paz perpétua. Se você quiser ler on-line a Paz Perpétua de Kant, que não é grande, o endereço é:

http://www.scribd.com/
doc/7037602/Kant-Paz-Perpetua

 

 

 

 

Paz Perpétua
(Fragmentos)

 

 

 

Immanuel Kant

Immanuel Kant

 

 

 

A razão condena absolutamente a guerra como procedimento de direito, e torna, ao contrário, o estado de paz um dever imediato, que, porém, não pode ser instituído ou assegurado sem um contrato dos povos entre si.

 

Não se deve considerar válido nenhum tratado de paz que tenha sido celebrado com a reserva secreta sobre alguma causa de guerra, no futuro.

 

Nenhum Estado independente (grande ou pequeno) poderá ser adquirido por outro mediante herança, permuta, compra ou doação.

 

Os exércitos permanentes ('miles perpetuus') devem desaparecer completamente com o tempo.1

 

Não se deve emitir dívida pública em relação aos assuntos de política exterior.

 

Nenhum Estado deve interferir, através da força, na constituição e no governo de outro.

 

Nenhum Estado em guerra com outro deve se permitir hostilidades tais que tornem impossível a confiança mútua na paz futura, como o emprego, em outro Estado, de assassinos ('percussores'), de envenenadores ('venefici'), de quebra de acordos, de indução à traição ('perduellio') et cetera.

 

A constituição civil de todo estado deve ser republicana.2

 

O Direito de Gentes deve se fundamentar em um federação de estados livres.

 

A paz não poderá se estabelecer ou ser garantida sem um pacto entre os povos; há de existir, portanto, uma federação de tipo especial a que se possa chamar de Federação da Paz ('Fœdus Pacificum'), que se distinguiria do pacto de paz ('pactum pacis'), já que o 'pactum' buscaria acabar com uma guerra e a Fœdus' teria por objetivo terminar, para sempre, com todas as guerras.

 

O Direito Cosmopolita deve se limitar às condições da hospitalidade universal.3

 

As máximas dos filósofos sobre as condições de possibilidade de paz pública devem ser levadas em consideração pelos Estados preparados para a guerra.

 

Não há que esperar que os reis filosofem nem que os filósofos sejam reis, como tampouco há que desejá-lo, porque a possessão do poder dana inevitavelmente o livre juízo da razão. Contudo, é imprescindível que os reis ou os povos soberanos (que se governam a si mesmos por leis de igualdade) não permitam desaparecer ou sossegar a classe dos filósofos, mas que os deixem falar publicamente para a aclaração de seus assuntos. Os filósofos, por sua própria natureza, incapazes de partidarismo e de alianças de clube, não são suspeitos de difundir uma propaganda.

 

A política diz: 'sejam astutos como a serpente'. A moral acrescenta (como condição limitativa): 'e cândidos como as pombas'.

 

A honradez é melhor do que qualquer política.

 

Se alguma vez se encontram defeitos na constituição do Estado ou nas relações interestatais, que não se tenham podido evitar, é um dever, particularmente para os governantes, estar atentos a que se corrijam o mais rápido possível e de acordo com o Direito Natural, tal como se apresenta a nós na idéia da razão, sacrificando, inclusive, o seu egoísmo.

 

Labora de tal modo que possas querer que a tua máxima se converta em uma Lei Universal (seja qual for o fim).

 

Ante tudo, deve-se aspirar ao reino da razão (pura) prática e à sua Justiça, e o seu fim (o bem da Paz Perpétua) virá por si mesmo.

 

Que reine a Justiça para que se afundem todos os males que há no mundo. ('Fiat Iustitia, pereat mundus').

 

Por maiores que sejam os sacrifícios do poder dominante, o Direito dos homens deve se manter como coisa sagrada.

 

São injustas todas as ações que se referem ao Direito de outros homens cujos princípios não suportam publicação.

 

Somente no Direito é possível a união dos fins de todos.

 

Se existe um dever e ao mesmo tempo uma esperança fundada de que façamos realidade a condição de um Direito Público, ainda que seja tão-somente em uma aproximação que possa progredir até o infinito – a Paz Perpétua – que é derivada dos até agora mal-aconselhados tratados de paz (em realidade, armistícios), não é uma idéia vazia, mas uma tarefa que, resolvendo-se a pouco e pouco, aproxima-se lentamente do seu fim – porque é de esperar que os tempos em que se produzam iguais processos sejam cada vez mais curtos.

 

 

 

 

 

O Que eu Penso
Sobre a Paz Perpétua

 

 

 

 

A paz perpétua é desejável,

mas não poderá (ainda) acontecer.

A Terceira Dimensão, mutável,

 

 

Pax Profundis4 pessoal, sim.

Paz perpétua coletiva, não.

Como querer que um zepelim

tenha, enfim, ares de avião?

 

 

Por isto devemos nos calar?

Da paz devemos abrir mão?

Não! Devemos todos laborar

para vencer cada desconexão.

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Albert Einstein (Ulm, 14 de março de 1879 – Princeton, 18 de abril de 1955), que queria o desarmamento global imediato, disse: A paz não pode ser mantida à força; só pode ser conseguida pela compreensão... A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.

2. Segundo Cláudio Almeida, ser republicano, para Kant, tem o significado de ser respeitador dos Direitos Humanos.

3. No seu Credo da Paz, Ralph Maxwell Lewis (14 de fevereiro de 1904 – 12 de janeiro de 1987) registrou: Sou responsável por atos de guerra quando penso que o país em que alguém nasceu deva ser, necessariamente, o local em que ele obrigatoriamente deverá viver.

4. Difícil de ser alcançada, sim; impossível de ser conquistada, não.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://paralelosocial.blogspot.com/
2008/01/paz-perptua.html

http://www.scribd.com/
doc/7037602/Kant-Paz-Perpetua

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Immanuel_Kant

 

Fundo musical:

Forest Gump (Alan Silvestri)

Fonte:

http://www.eadcentral.com/go/1/1/0/
http://www.midiarchive.co.uk/midi/Movies/