Os
maus pensamentos vêm do Coração.
Os
povos primitivos não conheciam a necessidade de dividir o tempo em
filigranas. Para os antigos, não existiam minutos ou segundos. Artistas,
como Stevenson ou Gauguin, fugiram da Europa e aportaram em ilhas onde não
havia relógios. Nem o carteiro nem o telefone apoquentavam Platão.
Virgílio nunca precisou correr para apanhar um comboio. Descartes
se perdeu em pensamentos nos canais de Amsterdã. Hoje, porém,
os nossos movimentos são regidos por frações exatas
de tempo. Até mesmo a vigésima parte de um segundo começa
a não mais ser irrelevante em certas áreas técnicas.
A
meditação é um vício solitário que cava
no aborrecimento um buraco negro que a tolice vem preencher.1
Verdadeiramente
bom é o homem raro que nunca censura os outros pelos males que lhe
acontecem.
Há
uma espécie de reciprocidade2
entre a necessidade e o objeto que a satisfará. Não penso
em beber, mas este copo ao meu alcance me dá sede. Tenho sede, e
imagino um copo de água delicioso.
Entre
duas palavras, escolha sempre a mais simples.3
Agradar
a si mesmo é orgulho; aos demais, vaidade.
Os
homens se distinguem por aquilo que mostram, e se assemelham naquilo que
escondem.
A
História é o produto mais perigoso que a química do
intelecto tem desenvolvido. As suas propriedades são bem conhecidas.
Provoca sonhos, intoxica as pessoas, sobrecarrega-as com falsas memórias,
exagera seus reflexos, mantém suas velhas feridas e a turbulência
em seu descanso, leva a delírios de grandeza ou de perseguição,
e faz das nações amargas, bonitas, vaidosas e insuportáveis.
Peça
desculpas quando agir bem; nada fere tanto.
Não
há verdadeiro sentido de um texto. Não há autoridade
do autor. Quisesse dizer o que quisesse, escreveu o que escreveu. Uma vez
publicado, um texto é como um aparelho de que cada um se pode servir
à sua maneira e segundo os seus meios: não é certo
que o construtor o use melhor do que outro qualquer.
Duas
coisas ameaçam o mundo: a ordem e a desordem.
Um
homem sério tem poucas idéias. Um homem de idéias nunca
é sério.
Um
grande homem é aquele que morre duas vezes. Primeiro, como homem;
e depois, como grande homem.
O
homem é absurdo por aquilo que busca, e grande por aquilo que encontra.
É
cômodo cortar ou coroar uma cabeça, mas, pensando bem, torna-se
ridículo. Isto é acreditarmos que esta cabeça encerra,
em si, uma causa primeira.
Um
chefe é um homem que precisa dos outros.
Um
homem competente é um homem que se engana segundo as regras.
A
morte pode dar ensejo a dois sentimentos opostos: 1º) ou fazer pensar
que morrer é se tornar o mais vulnerável dos seres, sem defesa
contra o desconhecido; 2º) ou se tornar invulnerável e afastado
de todos os males possíveis. Em quase todos esses dois sentimentos
existem e se alternam. Passa-se a vida temendo ou desejando a morte.
A morte rouba toda a seriedade à
vida.
Cada
gota de silêncio é a chance para que um fruto venha a amadurecer.
Quantas
coisas é preciso ignorar para agir!
Sabe
qual a definição da beleza? É fácil: é
tudo aquilo que desespera.
Elegância
é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de
não se deixar distinguir.
O
objetivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem.
A
dança, na minha opinião,
é muito mais do que um exercício,
um divertimento, um ornamento, um passatempo social; na verdade, é
uma coisa até séria e, sob certo aspecto, mesmo, uma coisa
sagrada. Cada era que compreendeu a importância do corpo humano, ou
que, pelo menos, teve a noção sensorial de sua estrutura,
de seus requisitos, de suas limitações e da combinação
de genialidade que lhe são inerentes cultivou e venerou a dança.
A
sociedade só vive de ilusões. Toda a sociedade é uma
espécie de sonho coletivo. Essas ilusões se tornam ilusões
perigosas quando começam a parar de iludir. O despertar deste tipo
de sonho é um pesadelo.
'Os
povos felizes não têm História.' De onde se infere que
a supressão da História tornaria os povos mais felizes. O
menor olhar sobre os acontecimentos deste mundo reencontra esta mesma conclusão.
O esquecimento é o benefício que a História quer corromper.
Nada, na História, serve para ensinar aos homens a possibilidade
de viverem em paz. É o ensino oposto que dela se destaca –
e se faz acreditar.
A
ação é uma loucura passageira.
Se
tudo fosse claro, tudo nos pareceria inútil.4
A
nuca é um mistério para o olho.
O
nosso espírito é feito de desordem, acrescido de um desejo
de ordenar as coisas.
Meditar,
em Filosofia, é nos encaminharmos do conhecido para o desconhecido,
e lá defrontar o real.5
Sou
como uma pessoa honesta, visto nunca ter sido assassinado, roubado, violado,
a não ser em imaginação. Não seria honesto sem
estes crimes.
O
ideal é uma maneira de mostrarmos nosso mau humor.
O
número dos nossos inimigos varia na proporção do crescimento
da nossa importância. Acontece o mesmo com o número dos amigos.
Os
livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a umidade, os bichos,
o tempo e o próprio conteúdo.
É,
por vezes, um espinho oculto e insuportável que temos cravado na
carne, que nos torna difíceis e duros para com toda a gente.
O
mar, o mar, sempre recomeçando!
Sendo
a moda a imitação de quem pretende dar nas vistas àqueles
que não o desejam, resulta daqui que ela muda automaticamente. Mas
os comerciantes acertam esse relógio.
Nem
sempre sou da minha opinião.
O
que há de melhor em uma coisa nova é aquilo que satisfaz um
desejo antigo.
Quando
atingimos o objetivo, convencemo-nos de que seguimos o bom caminho.6
Apenas
se ofende a Deus, que é O único que perdoa.7
Todos
os Classicismos8
implicam um Romantismo9
anterior... A ordem implica uma certa desordem que ela vem reduzir.
Ora
penso, ora existo.10
O
poema
– essa hesitação prolongada entre o som e o sentido.
Sei
que há um prazer violento que se chama gozar. Adivinhei-o em outros
tempos, em um momento de embriaguez... É quando a alma se conhece
a si própria.
Quem
se apressa é porque compreendeu. Não devemos demorar as coisas;
surpreender-nos-ia que os mais claros discursos fossem feitos de termos
obscuros.
Os
pequenos fatos inexplicáveis contêm sempre algo com que deitar
abaixo todas as explicações dos grandes fatos.
Todos
os homens sabem uma quantidade prodigiosa de coisas que ignoram saber. Sabermos
tudo quanto sabemos? Esta simples investigação esgota a Filosofia.
O
que é simples é sempre falso. O que o não é,
não serve para nada.
Um
homem sozinho está sempre em má companhia.
Todos
os sistemas são empreendimentos do sistema contra si mesmo.
É
um grande erro especularmos acerca da tolice dos tolos e um erro ainda maior
nos fiarmos na inteligência dos inteligentes. Eles se afastam [pelo
menos] uma vez por dia da suas naturezas.
A
vaidade, grande inimiga do egoísmo, pode dar origem a todos os efeitos
do amor pelo próximo.
Os
espíritos valem conforme aquilo que exigem. Eu valho aquilo que quero.
Os
Corações dos nossos amigos são, com freqüência,
mais impenetráveis do que os dos inimigos.
Só
se pode chamar Ciência ao conjunto de receitas que funcionam sempre.
Tudo o resto é Literatura.11
Na
História, nada serve para ensinar aos homens a possibilidade de viverem
em paz. É o ensino oposto que dela se destaca – e se faz acreditar.
Somos
todos campos de batalha, nos quais se digladiam deuses.
A
morte nos fala com uma voz profunda para não dizer nada.
O
orgulho mais inacessível nasce principalmente de uma impotência.
A
política foi, primeiro, a arte de impedir as pessoas de se intrometerem
naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe
a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem.
A
política se baseia na indiferença da maioria dos interessados,
sem a qual não há política possível.
E
Deus
criou o homem! E, não o achando bastante solitário, deu-lhe
uma companheira para o fazer sentir melhor a sua solidão.
Todos
os homens fecundos da Natureza se desenvolvem de uma maneira egoísta;
o altruísmo humano, que não é egoísta, é
estéril.
O
homem se enfeita com a sua sorte.
Muitas
vezes, as objeções nascem do simples fato de que aqueles que
as fazem não são os mesmos que tiveram a idéia que
estão a atacar.
Quando se quer, a
História justifica tudo. Ela não
ensina rigorosamente nada, pois, contém tudo e dá exemplos
de tudo.
O
homem feliz é aquele que ao despertar se reencontra com prazer e
se reconhece como aquele que gosta de ser.
O
problema do nosso tempo é que o futuro não é o que
costumava ser.
A
revolução faz em dois dias a obra de cem anos, e perde em
dois anos a obra de cinco séculos.
O
amor é como a Lua: quando cresce diminui.
Não
hesito em declarar: o diploma é o inimigo mortal da cultura.
Se
a regra é a desordem, pagarás por [tentares]
instituir a ordem.
Um
homem de negócios é um cruzamento entre um dançarino
e uma máquina de calcular.
O
leão é feito de carneiro assimilado.
Quem
não pode atacar o argumento ataca o argumentador.
Um
fato mal observado é mais pernicioso que um raciocínio errado.
O
que tem sido acreditado por todos, e sempre, e em toda a parte, tem toda
a probabilidade de ser falso.
O
grande triunfo do adversário é nos fazer crer o que diz de
nós.
Um
Estado é tanto mais forte quanto pode conservar em si mesmo o que
vive e age contra ele.
O
homem, freqüentemente, sabe
o que faz, mas, não sabe nunca o que fez.
O
mundo só vale pelos radicais e só dura graças aos moderados.
O
espírito vive da diferença, o afastamento existe, a plenitude
o deixa inerte.12
O
estado de espírito de negação, freqüentemente,
precede a ocasião de negar. Antes que tenhas falado, se me és
antipático, a minha negação está pronta, digas
o que disseres – pois é a ti que eu nego.
Nós,
outras civilizações, sabemos agora que [também]
somos mortais.13
Muitos
que compreendem não compreendem que não se
compreenda.
O
que nos força a mentir é o sentimento da impossibilidade de
os outros compreenderem inteiramente a nossa ação. Mesmo a
mentira mais complicada é mais simples do que a verdade.
Convicção
Palavra que permite pôr,
com a consciência tranqüila, o tom da força ao serviço
da incerteza.
É
próprio das censuras violentas tornar credíveis as opiniões
que elas atacam.
A
mais bela moça do mundo só pode dar o que tem. Muitas vezes,
seria melhor que o guardasse.
Toda
discussão se reduz a dar ao adversário a cor de um tolo ou
a figura de um canalha.
A
ignorância oscila entre a extrema ousadia e a extrema timidez.
Há
momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam
meios de liberdade.
O
espírito [medíocre]
condena tudo o que não inveja.
Se
o Estado é forte, esmaga-nos. Se é fraco, perecemos.
Como
fazer para não fazer nada? Não conheço no mundo nada
mais difícil. É um trabalho de Hércules, um aborrecimento
de todos os instantes.
A
fraqueza da força é só crer na força.
A
fortuna aumenta a vida, na medida em que aumenta a possibilidade, que é
a própria vida sentida. A vida é a conservação
do possível.14
A
glória consiste em nos tornarmos um assunto, um substantivo comum
ou um epíteto.
Todos
os nossos inimigos são mortais.
Nenhuma
nação gosta de considerar os seus infortúnios como
seus filhos legítimos.
O
natural é aborrecido.15
Os
otimistas escrevem mal.
O
passado,
mais ou menos fantástico ou mais ou menos organizado, posteriormente,
age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente.
Se
o ego é odioso, amar ao próximo como a si mesmo se torna uma
atroz ironia.
O
nosso saber consiste em grande parte em «acreditar saber» e
em acreditar que outros sabem.
O
espaço é um corpo imaginário, como o tempo é
um movimento fictício.
A
maioria ignora o que não tem nome. A maioria acredita na existência
de tudo o que tem um nome.
A
Lógica só amedronta os lógicos.
A
morte é uma surpresa que o inconcebível faz ao concebível.
A
morte é a união da alma e do corpo, dos quais a consciência,
o estado de alerta e o sofrimento são a desunião.
O
despertar dá aos sonhos uma fama que eles não merecem.
A
melhor maneira de realizar os seus sonhos é acordar.
Não
há dúvida de que a fé existe. Mas, há que se
perguntar com o que ela coexiste naqueles em que existe.
Um
ciclone pode arrasar uma cidade, mas, não consegue abrir uma carta.
A
guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem para
proveito de pessoas que se conhecem, mas que não se massacram.
Um
poema nunca está acabado, somente abandonado.
Poema
Inacabado
Um
fato mal observado
é pior que um raciocínio errado.16
Uma
traição bem urdida
é
pior que a mais dolorida ferida.
Uma
peta bem contada
Um pesadelo
acreditado
é
um des-ligamento inacabado.
Uma
vida desperdiçada
é
uma fuzarca mal administrada.
U'a morte
extemporânea
é
uma porralouquice
frustrânea.
Um
poema inacabado
é
como salgadinho mal cozinhado.
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..................................................
Salgadinho
Mal Cozinhado