Pensar
no amanhã é fazer profecia, mas o profeta não é
um velho de barbas longas e brancas, de olhos abertos e vivos, de cajado
na mão, pouco preocupado com suas vestes, discursando palavras alucinadas.
Pelo contrário, o profeta é o que, fundado no que vive, no
que vê, no que escuta, no que percebe (...) fala, quase adivinhando,
na verdade, intuindo, do que pode ocorrer nesta ou naquela dimensão
da experiência histórico-social.
Não
há vida sem correção, sem retificação.
Não
é
a conscientização que pode levar o povo a fanatismos destrutivos.
Pelo contrário; a conscientização – que lhe possibilita
inserir-se no processo histórico, como sujeito – evita os fanatismos
e o inscreve na busca de sua afirmação.
Não
é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho,
na ação-reflexão.
Mudar
é difícil, mas é possível.
Ninguém
educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam
entre si, mediatizados pelo mundo.
Eu
sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso; eu amo as gentes
e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo
para que a justiça social se implante antes da caridade.
A
grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, estas
mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos em gestos de
súplica. Súplica de humildes a poderosos. E se vão
fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem
o mundo... Lutando pela restauração de sua Humanidade estarão,
sejam homens ou povos, tentando a restauração da generosidade
verdadeira.
Conhecer
é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito
– e somente enquanto sujeito – que o homem pode realmente conhecer.
Não
é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças
que nos afirmaremos.
A
alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do
processo da busca. E ensinar e aprender não pode se dar fora da procura,
fora da boniteza e da alegria.
Um
dos grandes pecados da escola é desconsiderar tudo com que a criança
chega a ela. A escola decreta que antes dela não há nada.
Ai
daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem
de anunciar e de denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez
em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o
agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina.
O
ser alienado não procura um mundo autêntico. Isto provoca uma
nostalgia: deseja outro país e lamenta ter nascido no seu. Tem vergonha
da sua realidade.
A
humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém
é superior a ninguém.2
Quando
o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre
o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode
transformá-la, e o seu trabalho pode criar um mundo próprio,
seu Eu e as suas circunstâncias.
O
homem, como um ser histórico, inserido em um permanente movimento
de procura, faz e refaz constantemente o seu saber.
Todos
nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa.
Por isso, aprendemos sempre.
Ninguém
ignora tudo, ninguém sabe tudo.
A
escola será cada vez melhor, na medida em que cada ser se comportar
como colega, como amigo, como irmão.
Importante
na escola não é só estudar, é também
criar laços de amizade e convivência.
Criar
o que não existe ainda deve ser a pretensão de todo sujeito
que está vivo.
A
tarefa mais importante de uma pessoa que vem ao mundo é criar algo.
O
mundo não é; o mundo está sendo.
O
que me surpreende na aplicação de uma educação
realmente libertadora é o medo da liberdade.
Ninguém
nasce feito, ninguém nasce marcado para ser isso ou aquilo. Pelo
contrário, nos tornamos isso ou aquilo. Somos programados, mas, para
aprender. A nossa inteligência se inventa e se promove no exercício
social de nosso corpo consciente. Se constrói. Não é
um dado que, em nós, seja um 'a priori' da nossa história
individual e social.
Em
um país como o Brasil, manter a esperança viva é, em
si, um ato revolucionário.
Eu
fiquei com Marx na mundanidade; mas com Cristo na procura da transcendentalidade.
Em
Marx eu encontrei uma certa fundamentação objetiva pra continuar
camarada de Cristo.
Nos
anos 60 fui considerado um inimigo de Deus e da Pátria, um bandido
terrível. Hoje, diriam que eu sou apenas um saudosista das esquerdas.
Descobri
que o analfabetismo era uma castração dos homens e das mulheres,
uma proibição que a sociedade organizada impunha às
classes populares.
O
que o Capitalismo tem de bom é apenas a moldura democrática.
Um dos maiores erros históricos das esquerdas que se fanatizaram
foi antagonizar o Socialismo e a Democracia.
A
liberdade – que é uma conquista, e não uma doação
– exige permanente busca. Busca permanente que só existe no
ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para
ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não
a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta
sozinho, as pessoas se libertam em comunhão.
Meu
sonho de sociedade ultrapassa os limites do sonhar que aí estão.
Transformar
a experiência educativa em puro treinamento humano é mesquinhar
o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo:
o seu caráter formador.
Gosto
de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente
do inacabamento; sei que posso ir mais além dele. Esta é a
diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado.
Não
há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.
Se,
na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar,
mas para transformá-lo, se não é possível mudar
o mundo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade
que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas para participar
de práticas com ela coerentes.
O
autoritarismo é uma das características centrais da educação
no Brasil, do primeiro grau à universidade.
Ninguém
nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível.
Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam
que seus filhos sejam professores. Isto nos mostra o reconhecimento que
o trabalho de educar é duro, difícil e necessário,
mas que permitimos que estes profissionais continuem sendo desvalorizados.
Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados
pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua
apaixonada pelo seu trabalho. A data é um convite para que todos
– pais, alunos e sociedade – repensemos nossos papéis
e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação
que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem
de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem
de educar as pessoas para serem 'águias' e não apenas 'galinhas'.
Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela, tampouco, a sociedade muda.
Os
negros no Brasil nascem proibidos de ser inteligentes.
Geralmente,
as terríveis conseqüências dos pensamentos negativos são
percebidas muito tarde.
Não
basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição
que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva
e quem lucra com esse trabalho.
Devemos
compreender, de modo dialético, a relação entre a educação
sistemática e a mudança social, a transformação
política da sociedade. Os problemas da escola estão profundamente
enraizados nas condições globais da sociedade.
A
pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história
e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar
o mundo.
Para
a concepção crítica, o analfabetismo nem é uma
‘chaga’ nem é uma ‘erva daninha’ a ser erradicada,
mas uma das expressões concretas de uma realidade social injusta.
A
Democracia não pretende criar santos, mas fazer justiça.
Eu
já tinha dito que o ideal é que as transformações
radicais da sociedade – que trabalham no sentido da superação
da violência – fossem feitas sem violência. Diante do
problema da violência e da Democracia, eu hoje continuo pensando que
a Democracia não significa o desaparecimento absoluto do direito
de violência de quem está sendo proibido de sobreviver. O esforço
de sobreviver, às vezes, ultrapassa o diálogo. Para quem está
proibido de sobreviver, às vezes, a única porta é a
da briga mesmo. Então, eu concluiria lhe dizendo: eu faço
tudo para que o gasto humano seja menor, como político e como educador.
Entendo, porém, o gasto maior. Se você me perguntar: ‘entre
os dois, para onde você marcha?’ Eu marcho para a diminuição
do gasto humano, das vidas, por exemplo; mas entendo que elas também
possam ser gastas, na medida em que você pretenda manter a vida. O
próprio esforço de preservação da vida leva
à perda de algumas vidas, às vezes, o que é doloroso.
De
anônimas gentes, sofridas gentes, exploradas gentes aprendi, sobretudo,
que a paz é fundamental, indispensável, mas que a paz implica
lutar por ela. A paz se cria, se constrói na e pela superação
de realidades sociais perversas. A paz se cria, se constrói na construção
incessante da justiça social. Por isso, não creio em nenhum
esforço chamado de educação para a paz, que em lugar
de desvelar o mundo das injustiças o torna opaco e tenta miopizar
as suas vítimas.
A
paz se cria e se constrói na construção incessante
da justiça social.
Eu
não aceito que a ética do mercado, que é profundamente
malvada, perversa, a ética da venda, do lucro, seja a que satisfaz
ao ser humano.
É
fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz,
de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.
A
educação já foi tida como mágica, podia tudo,
e como negativa, nada podia. Chegamos à humildade: ela não
é a chave da transformação da sociedade.
Na
verdade, o domínio sobre os signos lingüísticos escritos,
mesmo pela criança que se alfabetiza, pressupõe uma experiência
social que o precede – a da 'leitura do mundo'.
O
amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências
que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não
se trata de se apropriar do outro.
Desrespeitando
os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros,
discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando
meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.
Eu
estou absolutamente feliz por estar vivo ainda e ter acompanhado essa marcha,
que como outras marchas históricas, revelam o ímpeto da vontade
amorosa de mudar o mundo, essa marcha dos chamados sem-terra. Eu morreria
feliz se visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas;
marcha dos que não têm escola, marcha dos reprovados, marcha
dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma
obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem
ser e estão proibidos de ser, a marcha pela decência, a marcha
pela superação da sem-vergonhice que se democratizou terrivelmente
neste País... As marchas são andarilhagens históricas
pelo mundo...
É
preciso brigar para que se tenha um mínimo de transformação...
Eu
acredito em Deus e agradeço muito a Deus por estar vivo e poder ver
e saber que os sem-terra marcham contra uma vontade reacionária histórica
implantada neste País.
Eu recuso qualquer posição
fatalista diante da história e diante dos fatos... Nenhuma realidade
é assim mesma... Toda realidade está aí submetida à
possibilidade de nossa intervenção nela...
Não
é possível refazer este País, democratizá-lo,
humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando
de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor.
Se a educação sozinha não transformar a sociedade,
sem ela, tampouco, a sociedade mudará.
A
sectarização, porque é mítica e irracional,
transforma a realidade numa falsa realidade, que, assim, não pode
ser mudada.
A
Título de Epílogo
Um
advogado e uma professora pegavam um barco todos os dias para atravessar
um pequeno lago e chegar ao seu local de trabalho. Durante as conversas
da travessia, o advogado sempre se mostrava superior. Já cansada
de ser menosprezada, a professora também começou a fazer o
mesmo. Em uma dessas conversas mais inflamadas, o advogado pergunta ao barqueiro:
— O senhor entende alguma coisa de leis?
— Não senhor, não entendo nada.
— Então o senhor perdeu metade de sua vida — ponderou
o advogado.
A professora pergunta ao barqueiro:
— O senhor sabe ler e escrever?
— Não senhora, nunca fui à escola.
— Então o senhor perdeu metade da sua vida — comentou
a professora.
Nisso, passa uma lancha veloz perto deles, e a onda formada vira o barco.
— Vocês sabem nadar? — pergunta rapidamente o barqueiro.
— Não, eu não! — responde o advogado, já
bebendo água.
— Eu também não — responde a professora que se
debatia na água.
— Então vocês perderam uma vida inteira!