BLAISE PASCAL
(Pensamentos)

 

 

 

 

Blaise Pascal

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Trabalho

 

 

 

Este estudo, que atualizei e ampliei ontem, sábado, 28 de abril de 2012, e estou redivulgando hoje, é uma pequena coleção de pensamentos do matemático, físico, filósofo moralista e teólogo francês Blaise Pascal. Por enquanto, reflita sobre este fragmento: Todas as máximas já foram escritas. Resta apenas pô-las em prática. Agora, recorde: O Coração tem Razões que a razão desconhece.

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Blaise Pascal nasceu em 19 de junho de 1623, em Clermont-Ferrand, na França, filho de Étienne Pascal e Antoniette Bejon. Com apenas três anos, Blaise perdeu a mãe e o seu pai encarregou-se diretamente da sua educação. Étienne, seu pai, desenvolveu um método singular na educação do filho, com exercícios de diversos tipos para despertar a razão e o juízo correto. Usou os jogos para ensinar várias disciplinas como Geografia, História e Filosofia. As aulas de Matemática só fizeram parte dos estudos quando este apresentou indícios de estar mais maduro. Desta forma, o pai mantinha longe do menino os grossos livros de Matemática, mas desde cedo Pascal teve uma curiosidade sobre aqueles estranhos assuntos. De conversas que ouvia ou de obras que passavam pela censura do pai, logo descobriu as maravilhas da ciência dos números. Mesmo sem professor ou livro-texto, sozinho passou a desenvolver seus estudos. Certo dia, seu pai viu o jovem rapaz desenhar a carvão figuras geométricas das várias proposições da Matemática de Euclides. Pascal chegou à 32ª fórmula proposta no livro 1 do velho sábio (a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a dois ângulos retos, ou seja: 180º; isto permite a determinação da medida do terceiro ângulo, desde que sejam conhecidas as medidas dos outros dois ângulos), e, por esta razão, foi-lhe dada permissão para que avançasse livremente sobre aqueles ramos do conhecimento.

 

Pascal juntou-se aos sábios do Círculo de Mersenne quando tinha apenas 13 anos de idade. Ali, pôde colecionar informações para desenvolver mais rapidamente seus trabalhos. Aos 17 anos, descobriu e publicou uma série de teoremas de Geometria, fundamentais ao desenvolvimento tecnológico futuro, como, por exemplo, o campo da aviação. Mais tarde, para ajudar o pai, sempre ocupado com números, dedicou-se a criar uma máquina de calcular. Para que possamos imaginar a revolução causada no nosso presente, Pascal é o nome de uma importante e famosa linguagem base para computadores, usada em todo mundo. Pascal desenvolveu importantes estudos que tiveram como inspiração as descobertas do italiano Torricelli sobre a pressão atmosférica.

 

A partir de 1647, Pascal, dedicou todos os seus esforços à Aritmética, desenvolvendo cálculos de probabilidades, a fórmula de geometria do acaso, o conhecido Triângulo de Pascal e o tratado sobre as potências numéricas. Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da Matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das Probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e de vácuo, ampliando o trabalho do físico e matemático italiano Evangelista Torricelli (Faenza, 15 de outubro de 1608 – Florença, 25 de outubro de 1647). Pascal é, ainda, o inventor da primeira máquina de calcular mecânica – a Pascaline – e de estudos sobre o método científico. Todo este esforço aliado à falta de descanso arruinou a sua saúde, e ele, ainda muito jovem, caiu grave e irremediavelmente enfermo.

 

De repente, após ter tido, segundo ele, uma visão divina, Pascal abandonou as ciências para se dedicar exclusivamente à Teologia. Depois de um ano de estudos particulares, recolheu-se à Abadia de Port-Royal des Champs, centro do Jansenismo – movimento de caráter dogmático, moral e disciplinar, em reação a certas doutrinas e práticas no seio da Igreja Católica, que assumiu também contornos políticos, tendo se desenvolvido, principalmente, na França e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII – só voltando às ciências em 1658. Durante este período, publicou os seus principais livros filosófico-religiosos: Les Provinciales, conjunto de 18 cartas, e Pensées, um tratado sobre a espiritualidade, em que, inspirado em Santo Agostinho, fez a defesa do Cristianismo. É em sua obra Pensées que está a sua frase mais citada: O Coração tem Razões que a razão desconhece.

 

Como teólogo e escritor, Pascal destacou-se como um dos mestres do Racionalismo e do Irracionalismo modernos, e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista. No caso do Irracionalismo, pontualmente escreve o professor João Evangelista, citado por João dos Santos Filho em seu texto Neoliberalismo: Lógica do Irracionalismo (Ensaio Sociológico Sobre o Neoliberalismo): Foi deflagrada uma colossal onda irracionalista, cujo epicentro está em Paris e seus arredores. O Irracionalismo tomou corpo pela desreferencialização do real, pela dessubstancialização do sujeito e pelo descentramento da política.

 

Um dos tratados de Pascal sobre Hidrostática, Traité de L'équilibre des Liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte, onde esclareceu os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Foi nesta obra que estabeleceu o Princípio de Pascal que afirma: Em um líquido em repouso ou em equilíbrio, as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida, Princípio usado no presente, no funcionamento do macaco hidráulico.

 

Pascal – que, na Mecânica, é homenageado com a unidade padrão de pressão e tensão do Sistema Internacional de Unidades (Pa), que equivale à força de 1 N aplicada uniformemente sobre uma superfície de 1 m2 – sempre teve uma saúde frágil, acabando por adoecer gravemente em 1659, e morrendo em 19 de agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos.

 

 

 

Pensamentos Pascalianos

 

 

 

Os homens nunca fazem o mal tão completamente e tão alegremente como quando o fazem por convicção religiosa.

 

A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama.

 

Que difícil é propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos acho isto belo, acho obscuro ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo, ou a irritamos levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada dizer, e, então, o outro julga segundo o que é ou segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá tiverem posto. Mas, pelo menos, nós não pusemos nada; a não ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a lhe atribuir, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão do rosto, ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista: tão difícil é não deslocar um entendimento da sua base natural, ou antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!

 

Corremos alegres para o precipício quando pomos pela frente algo que nos impeça de o ver.

 

É uma doença natural no homem acreditar que possui a verdade.

 

A Natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a imagem.

 

A Natureza detesta o vazio.

 

 

 

 

É mais fácil suportar a morte sem pensar nela do que suportar o pensamento da morte sem morrer.

 

Não nos sustentamos na virtude pela nossa própria força, mas pelo contrapeso de dois vícios opostos, como ficamos de pé em dois ventos contrários; tirai um desses vícios e cairemos no outro.

 

Estamos cheios de coisas que nos lançam para fora. O nosso instinto nos faz sentir que é preciso procurar a nossa felicidade fora de nós. As nossas paixões nos levam para fora, mesmo quando os objetos não se oferecessem para as excitar. Os objetos de fora nos tentam por si próprios e nos chamam, ainda quando não pensamos neles. E assim, mesmo que os filósofos digam «recolhei-vos em vós mesmos, aí encontrareis o vosso bem», não se acredita neles; e aqueles que acreditam são os mais vazios e os mais tolos.

 

Eloqüência positiva é aquele que persuade com doçura, não com violência, ou seja, como um rei, não como um tirano.

 

O ego é odioso.

 

E o inferno e o céu há somente a vida, que é a coisa mais frágil do mundo.

 

Quando se quer levar a virtude até seus extremos, de um lado e de outro, surgem vícios que nela se insinuam insensivelmente, em suas rotas insensíveis, do lado pequeno do infinito; e multidões de vícios se apresentam do lado grande do infinito, de modo que a gente se perde nos vícios e não vê mais a virtude. Cai-se na armadilha da própria perfeição.

 

Pessoas comuns não vêem diferenças entre os homens.

 

As paixões, quando mandam em nós, são vícios.

 

Todas as ocupações dos homens tendem à posse de alguma coisa; e eles não têm nem título para a possuir justamente nem força para a possuir com segurança.

 

Não podendo fazer que se fosse obrigado a obedecer à justiça, fizeram que fosse justo obedecer à força.

 

 

 

 

Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas.

 

Há duas espécies de homens: os justos que se julgam pecadores e os pecadores que se crêem justos.

 

Se sonhássemos todas as noites a mesma coisa, ela nos afetaria tanto como os objetos que vemos todos os dias. E, se um artista estivesse seguro de sonhar todas as noites, durante doze horas, que é um rei, creio que seria quase tão feliz como um rei que sonhasse todas as noites, durante doze horas, que era um artista. Se sonhássemos todas as noites que somos perseguidos por inimigos, e agitados por estes fantasmas penosos, e se passássemos todos os dias em diversas ocupações, como quando se faz uma viagem, sofreríamos quase tanto como se isto fosse verdadeiro, e apreender-se-ia o dormir como se apreende o despertar quando se teme entrar em semelhantes desgraças realmente. E, com efeito, isto faria pouco mais ou menos o mesmo mal do que a realidade. Mas, porque os sonhos são todos diferentes, e porque mesmo um se diversifica, o que se vê neles afeta bem menos que o que se vê acordado, por causa da continuidade, que não é, contudo, tão contínua e igual que não mude também, mas menos bruscamente, a não ser raramente, como quando se viaja.E, então, se diz: «parece-me que sonho»; pois a vida é um sonho um pouco menos inconstante.

 

A verdadeira moral zomba da moral.

 

Em matéria de amor, o silêncio vale mais do que a fala.

 

É o Coração que sente Deus e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao Coração.

 

O Coração tem razões que a razão desconhece.

 

Um homem que se põe à janela para ver quem passa, se eu passar, poderei dizer que ele se pôs lá para me ver? Não, pois ele não pensa em mim em particular. Mas, aquele que ama alguém por causa da sua beleza, ama-o? Não; porque a varíola, que matará a beleza sem matar a pessoa, fará com que ele deixe de a amar. E se me adiam pelo meu juízo, pela minha memória, amam-me, a mim? Não; porque eu posso perder estas qualidades sem me perder a mim mesmo. Onde está, pois, este eu, se não está nem no corpo nem na alma? E como amar o corpo ou a alma, senão por estas qualidades que não são o que faz o eu, visto que podem perecer? Pois, amar-se-á a substância da alma de uma pessoa abstratamente e as qualidades que lá estiverem? Isto não pode ser e seria injusto. Logo, não se ama nunca a pessoa, mas somente as qualidades. Portanto, que não se riam mais daqueles que se fazem honrar pelos cargos e ofícios, pois não se ama ninguém senão pelas qualidades aparentes.

 

Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão.

 

Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a se lançar à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes.

 

Dois excessos: excluir a razão; não admitir nada além da razão.

 

É justo que o que é justo seja seguido e é necessário que o que é mais forte seja seguido. A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica. A justiça sem a força é contestada, porque há sempre maus; a força sem a justiça é acusada. É preciso, portanto, pôr em conjunto a justiça e a força, e, por isto, fazer com que o que é justo seja forte, e o que é forte seja justo. A justiça está sujeita à disputa; a força é muito reconhecível e sem disputa. Assim, não se pode dar a força à justiça, porque a força contradisse a justiça e disse que era injusta, e disse que era ela que era justa. E assim, não podendo fazer com que o que é justo fosse forte, fez-se com que o que é forte fosse justo.

 

É indispensável nos conhecermos a nós próprios; mesmo se isto não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos, para regularmos a vida, e nada há de mais justo.

 

Nem a contradição é sinal de falsidade nem a falta de contradição é sinal de verdade.

 

O homem é apenas um caniço, o mais fraco da Natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o Universo inteiro se arme para o aniquilar: um vapor ou uma gota de água bastam para o matar. Mas, se o Universo o aniquilasse, o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, porque sabe que morre, e a superioridade que o Universo tem sobre ele. O universo não sabe nada disso. Toda a nossa dignidade consiste, portanto, no pensamento. É daí que deveremos nos elevar, e não do espaço e do tempo, que não poderíamos preencher. Esforcemo-nos, pois, por pensar bem: eis o princípio da moral.

 

O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.

 

A própria moda e os países determinam aquilo a que se chama beleza.

 

Os olhos são os intérpretes do Coração, mas só os interessados entendem esta linguagem.

 

Pluralidade que não se reduz à unidade é confusão; unidade que não depende de pluralidade é tirania.

 

Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais pequeno, toda a face da Terra teria mudado.

 

 

 

 

As alegrias passageiras encobrem os males eternos que elas próprias causam.

 

Tudo o que é incompreensível nem por isto deixa de existir.

 

O pensamento é a grandeza do homem.

 

Tudo é grande na alma grande.

 

O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende.

 

Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar; e ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.

 

Benefícios demais irritam: queremos ter com que ressarcir as nossas dívidas.

 

A meditação é um luxo, ao passo que a ação é necessária.

 

Sobrecarregam-se os homens desde a infância com o cuidado da sua honra, do seu bem, dos seus amigos, e ainda com o bem e a honra dos seus amigos. Fatigam-se de afazeres, de aprendizagem de línguas e exercícios, e faz-se-lhes sentir que não poderão ser felizes sem que a sua saúde, a sua honra, a sua fortuna e a dos seus amigos estejam em bom estado, e que uma só coisa que faltasse os tornaria desgraçados. Assim dão-se-lhes cargos e negócios que os fazem se afadigar desde o amanhecer. Aí está, direis, uma estranha maneira de os tornar felizes! Que poderia se fazer de melhor para os tornar desgraçados? Como! O que se poderia fazer? Bastaria apenas lhes tirar todos estes cuidados; pois, então, ver-se-iam a si mesmos, pensariam no que são, donde vêm e para onde vão; e assim não os podem ocupar demais nem desviá-los. E é por isto que, depois de lhes terem preparado tantos afazeres, se têm algum tempo de descanso, os aconselham a empregá-lo a se divertir, a jogar e a se ocupar sempre inteiramente. Como o coração do homem é oco e cheio de imundície!

 

O cosmos pode ser infinitamente maior do que o homem, mas um único ato de amor vale mais do que toda a massa do Universo.

 

O que mais me admira ver é como ninguém se admira com a sua fraqueza. Age-se de maneira séria, e cada um segue a sua condição, não porque é bom segui-la, mas porque é moda, como se cada um soubesse de maneira certa onde é que está a razão e a justiça. Encontramo-nos enganados constantemente; e, por uma humildade divertida, julgamos que é por nossa culpa, e não da arte que nos gabamos sempre de ter. Mas é bom que haja tantas pessoas assim no mundo, que não sejam pirrônicas, para glória do Pirronismo, para mostrar que o homem é bem capaz das mais extravagantes opiniões, visto que é capaz de crer que não está nesta fraqueza natural e inevitável, e crer que está, pelo contrário, na sabedoria natural. Nada fortifica mais o Pirronismo do que o fato de haver quem não seja nada pirrônico: se todos o fossem, eles não teriam razão.

 

A consciência é o melhor livro de moral que temos; e é, certamente, o que mais devemos consultar.

 

Todas as aflições humanas decorrem da incapacidade de nos sentarmos sozinhos e em silêncio em um aposento.

 

Um verdadeiro amigo é uma coisa tão vantajosa, mesmo para os maiores senhores, para dizer bem deles e os defender mesmo na sua ausência, que devem fazer tudo para os ter. Mas que escolham bem; pois, se fizerem todos os seus esforços por estúpidos, isto lhes será inútil, por muito bem que digam deles; e mesmo não dirão bem se se sentirem mais fracos, pois não terão autoridade; e assim dirão também mal por companhia.

 

Todas as máximas já foram escritas. Resta apenas pô-las em prática.

 

A última coisa que se nos depara ao fazermos uma obra é saber aquilo que se deve pôr em primeiro lugar.

 

Se o homem fosse feliz, sê-lo-ia tanto mais quanto menos divertido, como os Santos e Deus. Sim; mas não sendo feliz pode se animar pelo divertimento? Não; porque vem de outro sítio e de fora. E assim, é dependente, e, portanto, sujeito a ser perturbado por mil acidentes que tornam as aflições inevitáveis. A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento, e, contudo, é a maior das nossas misérias. Porque é isto que nos impede principalmente de pensar em nós, e que nos faz perder insensivelmente. Sem isto, estaríamos no tédio, e este tédio nos levaria a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento nos distrai e nos faz chegar insensivelmente à morte.

 

Temos em nós uma parte de sombra; carregamos a fera conosco.

 

O prazer dos grandes homens consiste em tornar os outros mais felizes.

 

A natureza do amor-próprio e deste eu humano é de só se amar a si e de só se considerar a si. Mas que há de fazer? Não saberia impedir que este objeto que ama esteja cheio de defeitos e de misérias: quer ser grande e se vê pequeno; quer ser feliz e se vê miserável; quer ser perfeito e se vê cheio de imperfeições; quer ser objeto do amor e da estima dos homens e vê que os seus defeitos só merecem a sua aversão e o seu desprezo. Este embaraço em que se encontra produz nele a mais injusta e a mais criminosa paixão que é possível imaginar, porque concebe um ódio mortal contra esta verdade que o repreende, e que o convence dos seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la, e não a podendo destruir em si mesma, destrói-a, tanto quanto pode, no seu conhecimento e no dos outros, isto é, põe todos os cuidados em encobrir os seus defeitos, aos outros e a si mesmo, e não suporta que lhos façam ver, nem que lhos vejam. É, sem dúvida, um mal-estar cheio de defeitos; mas é ainda um mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer, visto que é acrescentar-lhe ainda o de uma ilusão voluntária. Não queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser mais estimados por nós do que o que merecem. Não é, portanto, justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos. Assim, quando só descobrem imperfeições e vícios que nós, com efeito, temos, é visível que não nos prejudicam, visto que não são eles a causa destas imperfeições, e que nos fazem um benefício, por nos ajudarem a nos libertar de um mal, que é a ignorância das imperfeições. Não devemos nos zangar porque as conheçam, e porque nos menosprezem: sendo justo que nos conheçam pelo que somos, e que nos desprezem se somos desprezíveis. Eis os sentimentos que nasceriam de um Coração cheio de retidão e de justiça. Que devemos, portanto, dizer do nosso, quando nele encontrarmos uma disposição completamente contrária? Pois não será verdade que odiamos a verdade e aqueles que nô-la dizem, e que gostamos que se enganem com vantagem para nós, e que queremos ser estimados por eles por sermos diferentes daquilo que, com efeito, somos? A vida humana é apenas uma ilusão perpétua; o que fazemos é nos enganar e nos iludir mutuamente. Ninguém fala de nós na nossa presença como na nossa ausência. A união que existe entre os homens é fundada sobre este mútuo embuste; e poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse o que o seu amigo diz dele quando não está presente, ainda que ele fale então sinceramente e sem paixão. O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade e evita dizê-la aos outros; e todas estas disposições tão afastadas da justiça e da razão têm uma raiz natural no seu Coração.

 

Quando descobrimos um estilo natural ficamos espantados e satisfeitos, pois esperávamos um autor e encontramos um ser humano.

 

Somos tão presunçosos que desejaríamos ser conhecidos em todo o mundo, e tão vaidosos que a estima de cinco ou seis pessoas que nos rodeiam nos alegra e nos satisfaz.

 

Deus fez o homem à sua semelhança, e o homem em retribuição, fez Deus à sua imagem.

 

Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso, ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter. Tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence. E tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Nós o escondemos da nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo que não temos garantia alguma de chegar. Examine cada um os seus pensamentos, e há de os encontrar todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.

 

De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro, se perder a alma?

 

O amor não tem idade; está sempre a nascer.

 

Aquele que sem autoridade mata um criminoso se torna tão criminoso como este.

 

Normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram do espírito dos outros.

 

A coisa mais importante de toda a vida é a escolha do ofício: o acaso prepara-a. O costume faz os pedreiros, os soldados, os empalhadores. «É um excelente empalhado», diz-se. E, falando dos soldados se diz: «eles são loucos». E outros pelo contrário: «não há nada maior do que a guerra; o resto dos homens são uns covardes». À força de ouvir louvar na infância estes ofícios e desprezar todos os outros, escolhe-se, pois, naturalmente, ama-se a virtude, e detesta-se a loucura; estas palavras emocionam-nos: só se peca na aplicação. É tão grande a força do costume que, daqueles que a Natureza fez apenas homens, se fazem todas as condições dos homens, pois há regiões onde são todos pedreiros, em outras todos soldados etc. Certamente que a Natureza não é tão uniforme. É, portanto, o costume que faz isto, porque constrange a Natureza. Mas, algumas vezes, a Natureza supera o costume e conserva o homem no seu instinto, apesar do costume, bom ou mau.

 

Porque será que um coxo não nos irrita, e um espírito coxo nos irrita? Porque um coxo reconhece que andamos direito, enquanto um espírito coxo diz que somos nós que coxeamos; se assim não fosse, teríamos pena e não raiva. Epicteto pergunta com muito mais força: «Porque é que não nos zangamos se se diz que nos dói a cabeça, e nos zangamos se se diz que raciocinamos mal ou que escolhemos mal?». O que origina isto é o estarmos certos de que não nos dói a cabeça e de que não somos coxos; mas não estamos assim tão seguros de que escolhemos a verdade. De maneira que, não estando certos senão porque o vemos com os nossos olhos, quando outro vê com os seus olhos o contrário, pomo-nos em suspenso e espantamo-nos, e ainda mais quando mil outros se riem da nossa escolha; pois é preciso preferir as nossas luzes às de tantos outros, o que é temerário e difícil. Nunca há esta contradição no que concerne a um coxo.

 

Quando se é demasiado jovem, não se julga bem; demasiado velho, o mesmo. Se não se pensa nisto o suficiente, se se pensa demais, teimamos, e encasquetamo-nos. Se se considera a própria obra logo depois de se ter feito, está-se ainda muito preso a ela, se muito tempo depois, não se entra mais nela. Assim são os quadros vistos de longe demais e de perto demais. Há apenas um ponto indivisível que é o verdadeiro lugar: os outros estão demasiado perto, demasiado longe, demasiado alto, demasiado baixo. A perspectiva marca-o na arte da pintura. Mas na verdade e na moral, quem o marcará?

 

É perigoso mostrar ao homem até que ponto se assemelha aos animais sem lhe mostrar a sua grandeza. Também é perigoso mostrar-lhe muito a grandeza sem a baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorar uma e outra. Mas é muito vantajoso representar-lhe as duas. O homem não é anjo nem besta, e por desgraça quem quer ser anjo acaba por ser besta. Se se exalta, humilho-o; se ele se humilha, exalto-o: e o contradigo sempre, até que ele compreenda que é um monstro incompreensível. Condeno igualmente os que tomam o partido de louvar o homem, e os que tomam de o condenar, e os que tomam o de se divertir. E não posso aprovar senão aqueles que buscam gemendo.

 

 

 

 

Jamais vivemos, mas esperamos viver; e, dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que jamais o sejamos.

 

As palavras organizadas de maneira diversa produzem um sentido diverso, e os sentidos organizados de maneira diversa produzem efeitos diferentes.

 

A eloqüência é uma pintura do pensamento.

 

Que grande quimera é o homem! Que confuso caos! Que misto de contradições! Juiz de todas as coisas, e não mais do que um mísero verme! Grande guardador e depositário da verdade e, contudo, um mero acervo de incertezas! Glória e escândalo do Universo!

 

Não nos contentamos com a vida que temos em nós e no nosso próprio ser: queremos viver na idéia dos outros uma vida imaginária, e, para isto, nos esforçamos por manter as aparências. Trabalhamos incessantemente para embelezar e conservar o nosso ser imaginário, e descuramos o ser verdadeiro. E se temos ou a tranqüilidade, ou a generosidade, ou a felicidade, apressamo-nos a apregoá-las, a fim de atribuir estas virtudes ao nosso outro ser, e se fosse preciso estaríamos prontos a nos despojar delas para as juntar ao outro; de bom grado seríamos covardes para adquirirmos a reputação de valentes. Grande sinal do nada que somos não nos contentarmos de uma coisa sem a outra, e trocarmos muitas vezes uma pela outra! Pois quem não morresse para conservar a sua honra seria infame.

 

A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável. Uma árvore não se dá conta da sua miséria.

 

O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.

 

Deixemos um rei sozinho, sem nenhuma satisfação dos sentidos, sem nenhuma preocupação do espírito, sem companhia, a pensar apenas em si mesmo, e se constatará que um rei sem divertimentos é um homem muito desgraçado.

 

Nada há de bom nesta vida, salvo a esperança de uma outra vida.

 

Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e pela eternidade seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e que me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?

 

A razão, por mais que grite, não pode negar que a imaginação estabeleceu no homem uma segunda natureza.

 

Uma indiferença pacífica é a mais sábia das virtudes.

 

Quando, às vezes, me ponho a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e trabalhos a que eles se expõem, na corte, na guerra, de onde nascem tantas querelas, paixões, cometimentos ousados e muitas vezes nocivos etc., descubro que toda a miséria dos homens vem de uma só coisa: não saberem permanecer em repouso em um quarto. Um homem que tenha o bastante para viver, se fosse capaz de ficar em sua casa com prazer não sairia para ir viajar por mar ou pôr cerco a uma praça-forte. Ninguém compraria tão caro um posto no exército, se não achasse insuportável se deixar estar quieto na cidade. E quem procura a convivência e a diversão dos jogos é porque é incapaz de ficar, em casa, com prazer. Mas, quando pensei melhor, depois de ter encontrado a causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão desta, e achei que há uma bem efetiva, que consiste na natural infelicidade da nossa condição frágil e mortal, e tão miserável que nada nos pode consolar quando nela pensamos a fundo.

 

A razão manda em nós muito mais imperiosamente do que um senhor. É que, desobedecendo a um, somos infelizes; desobedecendo a outro, somos tolos.

 

Agrada-nos repousar em sociedade com os nossos semelhantes. Mas, miseráveis como nós, impotentes como nós, eles não nos ajudarão; morreremos sozinhos.

 

Não há nada de justo ou de injusto que não mude de qualidade ao mudar de clima.

 

Uma vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber acerca de tudo, é preciso se saber um pouco de tudo, pois é muito melhor se saber alguma coisa de tudo do que se saber tudo apenas de uma coisa.

 

É falso que sejamos dignos de que os outros nos amem. E é injusto que o queiramos.

 

Posso nunca ter sido (...), por conseguinte, não sou um ser necessário.

 

O que é o homem em a Natureza? Um nada em comparação com o infinito, um tudo em face do nada, um intermediário entre o nada e o tudo.

 

A maior baixeza do homem é a busca da glória, mas é também o mais seguro sinal da sua excelência; pois, por mais bens que possua na Terra, por melhor saúde e comodidades que tenha, não está satisfeito, se não for estimado pelos outros homens. Dá tal valor à razão do homem que, por mais regalias que tenha no mundo, se não estiver favoravelmente colocado na opinião dos homens, não estará contente. É este o mais belo lugar do mundo; nada pode desviá-lo deste desejo, e é a qualidade mais indelével do Coração do homem.

 

Troçar da Filosofia é, na verdade, filosofar.

 

Não sendo possível se fazer com que aquilo que é justo seja forte, se deve fazer com que o que é forte seja justo.

 

A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça, e a felicidade – que são os maiores poderes do mundo.

 

 

Triângulo de Pascal1

 

 

A verdadeira moral não se preocupa com a moral: isto quer dizer que a moral do juízo não se importa com a moral do espírito – que não tem regras.

 

Tudo o que sei é que devo morrer em breve. Mas, o que mais ignoro é esta mesma morte, que não saberei evitar.

 

A opinião é a rainha do mundo.

 

Quando a paixão nos domina esquecemos o dever.

 

A nossa natureza consiste em movimento; o repouso completo é a morte.2

 

Condição humana: inconstância, tédio, inquietação.

 

O amor é cego; a amizade fecha os olhos.

 

Os homens se guiam mais pelo capricho do que pela razão.

 

O que pode a virtude de um homem não deve se medir nos momentos de esforço, mas na vida de todos os dias. Não admiro o excesso de uma virtude, como a coragem, se ela não vier, ao mesmo tempo, acompanhada do excesso da virtude oposta, como em Epaminondas,3 que tinha a extrema coragem e a extrema benignidade. Pois, de outro modo, não é subir; é cair. A grandeza não consiste em estar em um extremo, mas em tocar os dois ao mesmo tempo, e em preencher todo o espaço intermédio. Mas, talvez, ela seja apenas um súbito movimento de alma de um extremo ao outro, e, talvez, nunca esteja em mais do que um ponto, como o tição de fogo. Mas, isto indica a agilidade da alma, ou, pelo menos, a sua extensão.

 

O povo julga bem as coisas porque está na ignorância natural, que é o verdadeiro lugar do homem. A ciência tem duas extremidades que se tocam. A primeira é a pura ignorância natural, na qual se encontram todos os homens ao nascer. A outra extremidade é aquela a que chegam as grandes almas que, tendo percorrido tudo quanto os homens podem saber, acham que nada sabem e voltam a se encontrar nesta mesma ignorância da qual tinham partido; mas é uma ignorância sábia que se conhece. Os do meio, que saíram desta ignorância natural e não puderam chegar à outra, têm umas pinceladas desta ciência suficiente, e se armam em entendidos. Estes perturbam o mundo e julgam mal de tudo. O povo e os verdadeiramente sábios compõem a ordem do mundo; estes desprezam-na e são desprezados.

 

Só o combate nos apraz, não a vitória. Gostamos de ver os combates de animais, não o vencedor a se encarniçar sobre o vencido. O que desejamos ver, senão o fim da vitória? E logo que ela é alcançada, ficamos saciados. Assim no jogo, assim na busca da verdade. Gostamos de ver, nas disputas, a luta de opiniões; mas não de contemplar a verdade encontrada. Para a saudarmos gostosamente temos de vê-la nascer da disputa. Do mesmo modo, nas paixões, o que dá prazer é assistir ao combate de duas forças contrárias; mas quando uma delas domina, tudo se reduz à brutalidade. Nunca buscamos as coisas, mas, sim, a busca das coisas.

 

Ao ver a cegueira e a miséria do homem, ao contemplar todo o Universo mudo e o homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido neste recanto do Universo, sem saber quem o depôs ali, o que aí veio fazer, o que será dele ao morrer, incapaz de qualquer conhecimento, sinto-me aterrorizado como um homem que tivessem levado adormecido para uma ilha deserta e aterrorizante e que despertasse sem saber onde está e sem condições de sair dali.

 

A primeira coisa que se oferece ao homem ao se contemplar a si próprio é o seu corpo, isto é, certa parcela de matéria que lhe é peculiar. Mas, para compreender o que ela representa e a fixá-la dentro dos seus justos limites, precisa de a comparar a tudo o que se encontra acima ou abaixo dela. Que não se atenha, pois, a olhar para os objetos que o cercam, simplesmente, mas a contemplar a natureza inteira na sua alta e plena majestosidade. Considere esta brilhante luz colocada acima dele como uma lâmpada eterna para iluminar o Universo, e que a Terra lhe apareça como um ponto na órbita ampla deste astro, e se maravilhe de ver que esta amplitude não passa de um ponto insignificante na rota dos outros astros que se espalham pelo firmamento. E se nossa vista aí se detém, que a nossa imaginação não pare; mais rapidamente se cansará ela de conceber do que a Natureza de revelar. Todo este mundo visível é apenas um traço perceptível na amplidão da Natureza, que nem sequer nos é dado a conhecer de um modo vago. Por mais que ampliemos as nossas concepções e as projetemos além de espaços imagináveis, concebemos tão-somente átomos em comparação com a realidade das coisas. Esta é uma esfera cujo centro se encontra em toda parte e cuja circunferência não se acha em nenhuma. E o fato de a nossa imaginação se perder neste pensamento constitui, em suma, a maior manifestação da onipotência de Deus. Que o homem, voltado para si próprio, considere o que ele é diante do que existe; que se encare como um ser extraviado neste pequeno setor da Natureza, e que da pequena cela onde se acha preso, do universo, aprenda a avaliar no seu valor exato a Terra, os reinos, as cidades e ele próprio. O que é um homem diante do infinito? Afinal o que é o homem dentro da Natureza? Nada, em relação ao infinito; tudo, em relação ao nada; um ponto intermediário entre o tudo e o nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas quanto o seu princípio permanecem ocultos em um segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve. O que poderá fazer, portanto, senão perceber alguma aparência das coisas em um eterno desespero e não poder conhecer nem seu princípio nem seu fim? Todas as coisas saíram do nada e são levadas para o infinito.4 O que haverá além destes assombrosos limites? O Autor das maravilhas o sabe; ninguém mais. Por não haver meditado sobre estes infinitos, puseram-se os homens temerariamente a investigar a Natureza, como se tivessem alguma proporção com ela. E é estranho que tenham querido compreender os princípios das coisas, e assim chegar ao conhecimento do todo através de uma presunção tão infinita quanto o seu objeto. Não há dúvida de que é impossível conceber tal desígnio sem presunção ou sem a capacidade infinita da Natureza. (Grifo meu).

 

 

 

 

A razão age com lentidão, e com tantas vistas, sobre tantos princípios, os quais é mister estejam sempre presentes, que a todo o instante adormece ou se perde, deixa de ter todos os seus princípios presentes. O sentimento não age desta maneira; age instantaneamente, e está sempre pronto para agir. É preciso, pois, depositar a nossa fé no sentimento; de outro modo, ela será sempre vacilante. O último passo da razão é o de reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam; se não chegar a isto, é porque é fraca.

 

O homem é visivelmente feito para pensar. Aí reside toda a sua dignidade e todo o seu mérito, e todo o seu dever é pensar com acerto. Porque a ordem do seu pensamento é começar por si, pelo seu autor e pelo seu fim. Ora em que pensa o mundo? Nunca nestas coisas; mas em dançar, em tocar alaúde, em cantar, em fazer versos, em jogar o anel, em combater, em chegar a rei, sem pensar no que é ser rei e no que é ser homem.

 

Uma ninharia nos consola; uma trivialidade nos distrai.

 

O ateísmo5 mostra a força da mente, mas só até certo ponto.

 

Poderá haver algo mais estúpido do que um homem achar que tem o direito de me matar, só porque ele mora do outro lado do rio, e o seu soberano teve uma desavença com o meu, embora eu não tenha me malquistado com ele?

 

A seriedade é o entusiasmo temperado pela razão.

 

A fé envolve muitas verdades que parecem se contradizer.

 

A fé é diferente da prova: esta última é humana; a primeira é um presente de Deus.

 

Aquele que toma a verdade para seu guia e como um dever para cada fim pode confiar com segurança na providência de Deus, pois será conduzido corretamente.

 

Os seres humanos devem ser conhecidos para serem amados, mas os seres divinos devem ser amados para serem conhecidos.

 

Eu posso conceber um homem sem mãos, sem pés e sem cabeça. Mas eu não posso conceber um homem sem pensamento; ele seria uma pedra ou um bruto.

 

Como a parte pode conhecer o todo?

 

Se a nossa condição fosse verdadeiramente feliz, não iríamos procurar diversão a fim de nos tornarmos felizes.

 

Se examinarmos nossos pensamentos, iremos encontrá-los sempre ocupados com o passado e o futuro.

 

A imaginação decide tudo.

 

Na fé, há luz suficiente para aqueles que querem acreditar, e sombras suficientes para os cegos que não querem.

 

É bom estar cansado e exausto pela busca fútil, para que possamos esticar os braços para o Redentor.

 

É incompreensível porque Deus deva existir, e incompreensível porque Ele não devesse existir.

 

Não é bom ter tudo o que se quer.

 

Devemos nos aproximar de Jesus sem orgulho, e, diante Dele, podemos nos humilhar sem desespero.

 

Justiça e poder devem caminhar juntos, de modo que tudo o que é justo deve ser poderoso, e tudo que é poderoso deve ser justo.

 

A justiça e a verdade são pontos de tal modo sutis, que as nossas ferramentas, por serem demasiado toscas, não conseguem examiná-las com precisão.

 

A justiça é o que está estabelecido. E assim, todas as nossas leis estabelecidas são necessariamente consideradas sem exame, uma vez que já estão estabelecidas.

 

Os homens são tão irresponsavelmente loucos, que não ser louco representa uma forma particular de loucura.

 

 

 

 

Os homens blasfemam contra o que eles não sabem.

 

Os homens desprezam a religião. Eles odeiam e temem que ela possa ser verdadeira.

 

É preciso se conhecer a si mesmo. Se isto não servir para descobrir a verdade, pelo menos deverá ser uma regra de vida. E não há regra melhor.

 

Mentes medíocres estão preocupadas com o extraordinário; mentes grandiosas com o ordinário.6

 

Não deve haver descanso na busca sincera pela verdade.

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. No Triângulo de Pascal, cada número representa a soma dos dois diretamente acima dele. Este Triângulo demonstra muitas propriedades matemáticas, além de mostrar os coeficientes binomiais. O coeficiente binomial (também chamado de número binomial) de um número n, na classe k, consiste no número de combinações de n termos, k a k. O coeficiente binomial de um número n, na classe k, pode ser escrito como:

 

 

2. Não há repouso completo, pois, se houvesse, seria o nada. Mas o nada inexiste! Este tema está ampliado na nota 4.

3. Epaminondas (c. 418 a.C. – 362 a.C.) foi um general e político grego do século IV a.C., tendo sido o responsável pela condução de mudanças na Cidade-estado de Tebas, transformando-a na nova potência hegemônica da Grécia, substituindo Esparta. Epaminondas redesenhou o mapa político da Grécia, fragmentou antigas alianças, criou novas e supervisionou a construção de cidades inteiras. Também teve grande influência militar, desenvolvendo e implementando diversas e muito importantes táticas de batalha. Antes de seu mandato, Tebas se encontrava sob domínio espartano. Epaminondas conseguiu melhorar a capacidade militar de Tebas, a fim de situá-la em uma posição proeminente no quadro geopolítico do mundo helênico, criando o que se conheceria mais tarde como a hegemonia tebana. No processo, acabou com a supremacia militar espartana na Batalha de Leuctra e libertou os hilotas de Messênia, um grupo de gregos do Peloponeso que tinham sido reduzidos à servidão sob as ordens de Esparta durante cerca de 200 anos. O orador romano Marcus Tullius Cicero (Arpino, 3 de janeiro de 106 a.C. – Formia, 7 de dezembro de 43 a.C.) o chamou de o primeiro homem da Grécia, mesmo tendo Epaminondas caído em uma relativa obscuridade nos tempos modernos. As mudanças que Epaminondas levou à ordem política grega não sobreviveram por muito tempo, dado que o ciclo de hegemonias e alianças ainda não havia se estabilizado. Tão-somente vinte e sete anos depois de sua morte, Tebas foi destruída por Alexandre III da Macedônia, dito o Grande ou Magno (20 de julho de 356 a.C. – 10 de junho de 323 a.C.). Por tudo isso, Epaminondas não é lembrado tanto como um idealista e libertador (como foi visto em seu tempo) senão por uma década de campanhas (desde 371 a 362 a.C.) que deram forma e força aos grandes poderes da Grécia, e que pavimentou o caminho para a posterior conquista da Macedônia.

4. Aqui, há um equívoco conceitual. Os místicos de todos os tempos sempre admitiram que do nada, nada; em nada nada pode se transformar, pois, se alguma coisa se transformasse em nada, a inadmissibilidade da existência do nada estaria errada ou, no mínimo, mal formulada. Mais do que afirmou o químico francês e considerado o criador da Química moderna Antoine Laurent de Lavoisier (26 de agosto de 1743 – 8 de maio de 1794), que em a Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, ensinou Harvey Spencer Lewis (25 de novembro de 1883 – 2 de agosto de 1939), fundador da Ordem Rosacruz – AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosæ Crucis, também conhecida por seu nome em latim Antiquus Mysticusque Ordo Rosæ Crucis), sendo seu primeiro Imperator, de 1915 à 1939: Para o Ser, nunca houve começo, porque o nada não pode dar origem a alguma coisa. E, mais um pouco: se o nada existisse, algo teria que dar origem a este nada, que, obviamente, não poderia ser uma espécie de nada, mas, sim, de alguma coisa.

5. Há uma diferença inconciliável e incoadunável entre ateísmo e Ateísmo, entre um ateu e um Ateu. Eu e o Deus do meu Coração somos Ateus.

6. Na verdade, o extraordinário, tal qual os milagres, não existe; se existe, existe apenas imaginativamente. O que acontece é que, por desconhecermos as leis que regem o ordinário, quando este mesmo ordinário canta uma música que ignoramos, atribuímos qualidades excepcionais e fabulosas ao que é simplesmente ordinário, categorizando-o de extraordinário, fantástico, miraculoso, sobrenatural etc. Mas não posso deixar de admitir que a voz do Frank Sinatra era extraordinariamente fantástica.

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.stripers247.com/phpBB2/
showthread.php?t=18019&page=8

http://en.clipart-fr.com/
clipart_pictures.php?id=18962

http://www.gifs.net/subcategory/
262/0/20/Egypt

http://matematicamania.wordpress.com/
tag/triangulo-de-pascal/

http://giveupinternet.com/
topics/animated-gifs/

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal_7.html

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal_6.html

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal_5.html

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal_4.html

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal_3.html

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal_2.html

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/b/blaise_pascal.html

http://www.123gifs.eu/atoms/

http://www.citador.pt/textos/
o-equilibrio-das-virtudes-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
fe-no-sentimento-blaise-pascal

http://br.answers.yahoo.com/question/
index?qid=20070619120055AA09xPZ

http://www.citador.pt/textos/concebemos-apenas-atomos-e
m-comparacao-com-a-realidade-das-coisas-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
o-homem-sem-luz-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
a-busca-das-coisas-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos
/a-ignorancia-blaise-pascal

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/100

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/90

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/80

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/70

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/50

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/40

http://espacoabertopebas.blogspot.com.br/20
12/01/sul-do-para-lidera-ocorrencias-de.html

http://www.greenpeace.org/international/en/mul
timedia/photos/slave-worker-at-work-in-the-am/

http://www.donegallpass.org/html/
facts_and_figures_on_africa_an.html

http://xn--c1h.tumblr.com/page/2

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/30

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Blaise_Pascal

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Coeficiente_binomial

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/20

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal/10

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
a-busca-da-gloria-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/o-medo-da-nossa
-condicao-humana-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/a-dissimulacao
-da-identidade-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/o-monstro
-incompreensivel-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/a-perspectiva
-da-verdade-e-da-moral-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
o-espirito-coxo-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/o-costume-
constrange-a-natureza-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/a-hipocrisia
-do-amorproprio-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
um-verdadeiro-amigo-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/ninguem-se-admira
-com-a-sua-fraqueza-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos
/o-coracao-oco-do-homem-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/a-nossa-dignidade
-consiste-no-pensamento-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos
/a-forca-e-a-justica-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/nao-se-ama-alguem
-senao-pelas-qualidades-aparentes-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/a-vida-e-um-sonho
-um-pouco-menos-inconstante-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
a-felicidade-encontrase-fora-de-nos-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/a-distorcao
-do-entendimento-blaise-pascal

http://www.citador.pt/textos/
o-presente-inexistente-blaise-pascal

http://pt.wikiquote.org/wiki/Blaise_Pascal

http://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal

 

Música de fundo:

It Was a Very Good Year
Compositor: Ervin Drake
Interpretação: Frank Sinatra

Fonte:

http://www.musicaddict.com/download/23827
-frank-sinatra--it-was-a-very-good-year-mp3.html

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.