DEPOIMENTO:

Em Pasárgada não encontrei a paz

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

Música de fundo: Alleluia

Schola Cantorum do Pontifício Col. Intern. dos
Beneditinos de S. Anselmo em Roma

 

 

 

 

 


Deambulei anos seguidos

pensando que era infeliz.

No coração: dor e frio.

O corpo: um só arrepio.

À minha Origem Matriz

fazia moucos ouvidos.

Não sabia ser feliz.

 

 

*


Certa noite, a desoras escutei

alguém falar em Pasárgada.

Fui à busca da mulher amada,

que ilusoriamente sonhei,

pra muito sexo fazer

na cama que sempre ideei.

Fui-me embora pra Pasárgada,

sem destino e sem tino.

Aventura, extravagância e prazer.

 

 

*


Em Pasárgada, talvez,

acontecesse o milagre

de encontrar a calidez

que em sonho eu sonhava.

E a vida de vinagre,

que nunca terminava,

oxalá, por uma benção,

pudesse mudar de vez.

Era assim que eu pensava

como néscio e toleirão.

 

 

*


Quando cheguei a Pasárgada,

um grande susto tomei.

Ninguém se importava com o rei.

Também não se importava o rei.

Não tomei banhos de mar

porque lá não existia mar.

Fiquei aflito em Pasárgada!

O rio estava ressequido;

não pude chamar a mãe-d'água

para vir me consolar.

Algumas prostitutas haviam morrido,

outras envelhecido

sem ter com quem poder estar...

Contraceptivo? Como usar?

Burro brabo e pau-de-sebo?

— Acabaram contou-me um mancebo.

Quase desesperei...

Mas nunca quis me matar.

Pasárgada não era o lugar,

pra viver, amar ou aventurar.

Muito menos se suicidar.

 

 

*


Quando cheguei a Pasárgada,

percebi enternecido

que lá não havia lei.

Alcalóide, sim, à vontade.

Ninguém se importava com o rei.

Também não se importava o rei.

Mentira em lugar da verdade;

só se respirava falsidade.

Ninguém se importava com o rei.

Também não se importava o rei.

O povo vivia oprimido:

não conhecia a liberdade,

não praticava a fraternidade,

não exercitava a eqüidade.

Ninguém se importava com o rei.

Também não se importava o rei.

Locupletação, isto sim,

era a regra que vigia

do arrebol ao sem-fim.

Mais-valia... Sobrevalia...

Ninguém se importava com o rei.

Também não se importava o rei.

Pasárgada: quimera sem lei.

Não havia felicidade,

fé, esperança ou caridade.

Tão-somente deslealdade

e muita perversidade!

Ninguém se importava com o rei.

E muito menos se importava o rei.

 

 

*


Recordei-me de eu menino.

Não conhecia a ambição.

Diversões e brincadeiras:

carniça, bola, pega-ladrão.

Em casa, apenas o rádio.

Telefone e televisão

eram panelas e chaleiras

que eu brincava pelo chão.

Minha mãe, lavando roupa

– para que não faltasse pão –

sempre dizia: — Filho, poupa.

Amanhã pode faltar pão.

Eu fedelho, quanta saudade!

Ausência de sofreguidão.

 

*

 

Por que estar, então,

sussurrou o Som do Silêncio,

tão assim na contramão?

Lute para vencer

o magnetismo fatal,

a infame perseguição,

o império dos desregramentos

e a absurda estagnação.

 

 

*


Foi então que acordei

daquele sonho inconseqüente.

Encontrei a Rosa+Cruz

que uma certa contraparente

falou-me sem ter presente

do Caminho e da LLuz

que me tornariam diferente.

 

 

*

 

 

1969 – Ano da Libertação! –

em cuja redução teosófica

aparece incontestemente

o Sete da Regeneração!

 

*

 

SÂR Validivar, então

– em três oportunidades distintas –

falou ao meu Coração.

 

 


O Sol I
lluminou as sombras

que minh'alma acarinhava,

pois eu não percebia a diferença

entre a LLUZ e as penumbras.

Então, encontrei o Rei,

– que em meu ser sempre habitou –

esperando em Santo Silêncio

que chegasse a Nona Hora,

Hora na qual me Iniciou.

O dragão foi dominado.

Amor: Sabedoria, Vontade, Atividade.

O Número que não pode ser revelado.

 

 

*


Olho hoje pra Pasárgada

com Amor e Contristação.

Choro pelos inebriados,

oro pelos desgarrados,

peço Luz para os desalmados

– entra dia, sai dia –

de pé, mas sempre deitados.

Em meu Sanctum Imaculado

– no qual persigo a Verdade –

oro para mitigar

o desvario da Humanidade.

 

 

*

 

Hoje eu compreendo

que a única afirmação

é render-se ao Mestre-Irmão:

Força de exclusiva opção

que operará a Transfiguração

do estando em eterno sendo.

O Caminho só será florido

pela Via da Iniciação

no Sendeiro do Coração.

 

*


Reza a Lei, ó falastrão:

fora, só há ilusão.

Quatro Rosas no chapéu,

uma no Coração.

Ora et Labora

Labora et Ora

em tua Peregrinação,

para que possa ser operada

a Alquimia Transcendente

de todo e qualquer labéu.

Tudo será, então,

completamente diferente,

pois o que oculto estava,

sorrindo, faz-se presente!

 

 

*

 

Mas orar e trabalhar

é só uma parte da faina.

Solve et Coagula

para que o Trabalho Alquímico

não se reduza a paina

que adeja pelo ar.

Este é o único Caminho

para não se deixar devorar!

 

 

 

 

 

 

 

DADOS SOBRE O AUTOR


Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.

 

 

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