(Primeira Parte)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Esta publicação é a primeira parte de um estudo que fiz da obra Os Paradoxos da Sabedoria Oculta, de autoria do escritor, ocultista e mago cerimonialista francês Alphonse Louis Constant, (8 de fevereiro de 1810 – 31 de maio de 1875), que publicava seus livros sob o pseudônimo de Éliphas Lèvy.

 

 

 

Fragmentos da Obra

 

 

 

Magia é a divindade do homem conquistada pela Ciência em conjunção com a fé. Os Verdadeiros Magos são Homens-deuses, em virtude da sua íntima união com o Princípio Divino. Eles não têm medo nem desejos, não se deixam dominar pela falsidade, não endossam erros, amam sem ilusão e sofrem sem impaciência, pois, deixam que as coisas sigam seu curso, e repousam na quietude do pensamento eterno.

Os mitos das religiões são o sonho do Infinito no Desconhecido, do Possível no Impossível, do Definido no Indefinível, do Progresso no Imutável, do Ser Absoluto no Não-Existente. São a racionalidade derradeira do absurdo que se auto-afirma para negar a dúvida. São a ciência da tolice, o amplexo da loucura e do saber. São os gritos da águia rapace acima das nuvens e o urro do leão apocalíptico que se mune de asas e levanta vôo. São os gemidos do touro sob o cutelo sacrificial e o lamento imperecível da Humanidade diante das portas do túmulo.

Para o homem, Deus é e só pode[rá] ser o ideal de homem [antropomorfização]. Em si-mesmo, Deus é o desconhecido, mas, em sua revelação, a um só tempo divina e humana, Ele o é homem paradoxal, o substancial sem substância, o pessoal sem definição, o imutável que se transforma, mas, informe, o onipotente em luta eterna contra a fraqueza do homem, a serenidade que troveja, a misericórdia que amaldiçoa, a bondade infinita que tortura, a eternidade que perece. Uma contradição infinita! O abismo do coração humano, servindo de mundo para um ídolo insaciável e aterrador: a crueldade de Nero, a finura de Tibério bebendo o sangue de Jesus Cristo, um papa imperador ou um imperador antipapa, o rei dos reis, o pontífice dos pontífices, o verdugo dos verdugos, o médico dos médicos, o libertador dos homens livres, o inflexível feitor de escravos.1

Todo homem adora o Deus que construiu para si à sua própria imagem ou aquele que as autoridades, mais ou menos interessadas na sua ignorância e na sua fraqueza, lhe impuseram.

Que justificava jamais se poderá dar para a Inquisição?

Deus parece se arrepender de haver tomado a forma humana porque o homem, de tempos em tempos, se arrepende de haver criado um Deus.

 

 

Eu crio... Tu crias...

 

 

As ficções divinas, como as idades, se sucedem umas às outras. Júpiter destrona Saturno e o Jesus Cristo dos papas reina em lugar do Jeová dos Judeus. O Jesus de S. Domingos é , não obstante, o filho do cruel Deus de Moisés, mas, as feras de Daniel e do Apocalipse têm, inevitavelmente, que desaparecer para dar lugar à pomba e ao cordeiro.

O gênio do homem, ao se desenvolver através dos tempos, vai tecendo a genealogia dos Deuses. É no gênio do homem que um Ser Eterno concebe um filho que deverá suceder ao pai, e é aí que, do pai para o filho, transita um espírito de sabedoria e inteligência que explica os mistérios de ambos. A Trindade não nasce, assim, dos intestinos da Humanidade?

Se nos colocarmos aos pés da Esfinge sem decifrarmos o seu enigma, seremos devorados por Ela; se decifrarmos o seu enigma sem o dominarmos ou apenas o decifrarmos pela metade, estaremos, como Édipo, condenados à desgraça e à cegueira autoprovocada.

 

 

 

 

O fundamento lógico de uma religião é ser irracional, e sua natureza é ser sobrenatural.

A Ciência e a fé podem e devem se contrabalançar reciprocamente produzindo equilíbrio; mas, não poderão jamais se amalgamar.

Deus deixa de ser invisível quando nos é dado ver o nosso próximo.

Oh!, suspiro cruel e desesperado o de todos os sofredores sequiosos por uma imagem sempre ilusória!2

Somos filhos e não escravos de Deus. Somos irmãos e não escravos de Jesus Cristo. A Lei foi feita para o homem e não o homem para a Lei, reiterou o Divino Mestre.

A liberdade é o objetivo da existência humana. Somente nela poderão se conciliar os direitos e os deveres do homem. Nela consistem a personalidade e a autonomia, e somente ela poderá tornar o homem capaz e digno da Imortalidade.3

Liberdade: eis a palavra final dos Símbolos. Um dia, somente a morte estará morta.

O Verdadeiro Deus é o Deus da Razão, e a sua verdadeira adoração é Amor e Liberdade.

Toda religião é verdadeira, tirante as omissões, as transposições, as interpretações errôneas, as conjecturas apressadas, as adições, as imaginações e as incompreensões. [E também, entre outras coisas, as adulterações].

Aquele que mata um homem comete Deicídio.4

Enquanto a Igreja negar os direitos da Liberdade, a Liberdade negará a autoridade eclesial. Ora, Galileu, mesmo depois de se retratar, sabia perfeitamente bem que a Terra se movia!

 

 

Galileo Galilei
(~ 26.000 anos)
5

 

Se uma autoridade ilegítima impõe silêncio, a língua poderá até ser detida, mas, a Terra gira! A consciência é inviolável, pois, é divina, e é, de fato, aquilo que, no homem, é essencial e absolutamente livre. Fora da consciência, onde poderá ser encontrada a concretização absoluta do ideal de Liberdade?

Um voto perpétuo é uma afirmação do absoluto no relativo, do conhecimento na ignorância, do imutável no transitório, da contradição em todas as coisas. É, portanto, um compromisso nulo e vazio, por ser precipitado e absurdo, e o arrependimento (e a retração), ao nos darmos conta da loucura, não apenas é um direito, mas, superlativamente, é um dever.

'Eu-sou o Princípio que fala.' (Jesus, o Cristo, apud Éliphas Lèvy).

Quando a vontade do homem se torna a mesma que a Vontade Divina [Vontade do seu Deus Interior], ela se torna onipotente.

A Força manipula a Matéria e o Pensamento dirige a Força.

Para fazer as crianças compreenderem gradualmente a Razão, é preciso, às vezes, recobri-la com uma aparência de loucura.

 

 

Terá o Yam Suf se dividido?
Por milagre? Um tsunami?
Marés enchente e vazante?

 

 

O Deus dos inquisidores era o demônio e a sua religião o anticristo.

Homo sum, nihil a me alienum puto. Sou um ser humano, e nada do que é humano me é estranho.

O Amor é a onipotência do ideal.

'Ama a Deus com todo o teu Coração e ao teu próximo como a ti mesmo, esta é a Lei' Ama-te a ti mesmo no teu próximo.

O Amor é o Fogo Eterno, e não há dilúvio capaz de apagá-lo.

 

 

E Jesus teve Madalena por companheira e amiga.

 

O Grande Arcano da Magia é o Mistério do Amor. O Amor faz que os anjos morram e imortaliza os demônios.

Quando soubermos aquilo que devemos querer, então, amaremos aquilo que devemos amar. Quando comete o mal, homem algum sabe o que está fazendo. A ignorância, por confundir entre si conceitos contraditórios, é a causa de todos os erros, de todos os crimes e de todos os males que afligem a Humanidade. É por obra da ignorância que os homens teimam em obrigar outros homens a se submeterem a uma fé sem razão ou a exigir dependência a uma razão sem fé. A ignorância envenenou Sócrates, crucificou Jesus, o Cristo, torturou mártires, queimou hereges, massacrou padres, derrubou e reergueu reiteradamente ídolos monstruosos, pregou a tirania e a licenciosidade, negou a autoridade e a liberdade e, em sua totalidade, ignorou a Razão, a Verdade e a Justiça. É devido à ignorância que os homens se odeiam mutuamente ao invés de se amarem, se isolam ao invés de se ajudarem uns aos outros, se separam ao invés de se associarem, se corrompem ao invés de se sublimarem, se destroem ao invés de se preservarem e amolecem no egoísmo ao invés de se fortalecerem na caridade universal. Os inquisidores não sabiam que, em nome da Igreja, estavam queimando Jesus, o Cristo, que em nome do Santo Ofício estavam queimando o Evangelho, e que as cinzas dos seus autos-de-fé iriam assinalar indelevelmente a sua testa com a marca de Caim.

A solitude [à força] enlouquece, as vigílias [sistemáticas e exageradas] inflamam o sangue, os jejuns [prolongados e mal encaminhados] privam o cérebro de sangue e o celibato compulsório [e fanático] provoca delírios anormais [e pode levar à loucura]. Cada qual cede àquilo que mais fortemente o atrai, e a predominância da atração depende do Conhecimento.6

Buscar por buscar é se atormentar; saber buscar é encontrar. Praticar a magia é ser charlatão; conhecer a Magia é ser Sábio.

A Sabedoria [ShOPhIa] é a Primeira Força Inteligente do Universo.

 

 

 

 

Magia significa maioridade, e maioridade significa emancipação pela Sabedoria [ShOPhIa]. Magia implica superioridade.

Os Magos [Hierofantes] Iniciados Melchior, Baltazar e Gaspar – mais do que homenagear Jesus, foram render tributo à infância da Iniciação Cristã.

Sempre é preciso fazer em Silêncio aquilo que é ousado.

Os Iniciados Cristãos sempre admitiram que Jesus, o Cristo, era o mesmo personagem que Melchizedek [Malki-sedeq].

A Doutrina [Tradição] – que, ao mesmo tempo, mostra e esconde a Verdade – não morre jamais e, embora desapareça [entre em dormência], sempre volta [ciclicamente] no momento apropriado.

 

 

Teorema de Pitágoras

 

 

A Verdade é como a Liberdade e a Virtude. Ela não se oferece; tem que ser procurada e conquistada.

Por ser um livro essencialmente KaBaLístico, o Apocalipse é inteiramente ininteligível para os não-Iniciados [quem possuir a ShOPhIa poderá calcular e encontrar o Número; 666 é e não é 666].

Os três odiosos fantasmas: Demônio, Morte e Inferno.

Nova Jerusalém: Ideal da Sabedoria, Arquétipo da civilização humana – Cidade que dispensa templos, por ser ela própria um Templo.

O triunfo da Compreensão é sentir, ouvir e compreender o Deus Interior [a Santa Voz do Silêncio].

Oráculo da Razão: No princípio, está a Razão [Verbum Dimissum et Inenarrabile]. A Razão está em Deus. E Deus é a Razão. Tudo é feito pela Razão, e sem Ela nada poderá ser feito. Ela é, desde o berço, a Verdadeira Luz que nos Illumina; brilha até mesmo na escuridão, mas, a escuridão não A encerra nem A conhece. Até mesmo a irracionalidade está para a Razão assim como a sombra está para a luz. E assim, não é, portanto, a Razão que devemos pôr em dúvida; mas, o nosso próprio juízo das coisas, que, geralmente, é destrambelhado. Enfim, acreditar que Deus possa exigir o sacrifício da Razão equivale a transformar Deus em um ídolo despótico e próprio no ideal da insanidade. A crença apressada produz apenas enfatuamento.

 

 

 

 

Um Deus definido é um Deus preterido.7

O ilimitado, por ser ilimitado, é indefinível.

Os deuses aos quais os homens se sacrificam e aos quais se sacrificam homens são demônios. Um deus do diabo visto às avessas seria um diabo de deus.

Se retirarmos a superstição de determinados indivíduos tacanhos, porém, ardentes, nós os transformaremos em impiedosos fanáticos. Por isto, o clero conseguiu fazer da superstição uma força, impondo-lhe a mais cega obediência. E assim, da mesma forma que o bicho-papão é o demônio das crianças, o demônio da Idade Média era o bicho-papão dos homens.

A igualdade entre os homens só pode existir por meio de graus hierárquicos; não poderá jamais ser absoluta.

 

 

Hierarquia da Pancadaria

 

Um homem, talvez, viva corajosamente como monge trapista, quando sua tendência seria a de se tornar um assaltante, não fosse o seu anseio pelo paraíso e o medo do inferno. Será ele um homem melhor por isto? Talvez não, mas, sem dúvida alguma, é menos perigoso para a sociedade.8

Depois das paixões, o maior inimigo da razão humana são os preconceitos. Os preconceitos são vícios da mente, e, basicamente, decorrem da educação, da ignorância, da indolência espiritual, de vriados interesses, da reputação e da fortuna. Os mais nobres sentimentos, quando exagerados, poderão se tornar fontes de preconceitos.

É preciso uma mente poderosa e firme para o cultivo, sem riscos, das Ciências Ocultas, e, acima de tudo, para realizar as experiências que confirmam suas teorias. O magnetismo, a adivinhação e o espiritualismo continuam a povoar os hospícios, e a Filosofia Hermética poderá acrescentar ainda novas vítimas. Os indivíduos mais proficientes nestas ciências tiveram seus momentos de aberração. O interior da Arca não pode ser devassado impunemente, e todos quantos se atreverem a fazê-lo correrão o risco de ser fulminados por um raio.

Para lidar com demônios é preciso ser um demônio.

Ver espíritos? Quimera! Como é possível tocar na música ou engarrafar pensamentos?9

A Verdadeira Magia é uma força científica colocada a serviço da Razão. A falsa magia é uma força cega somada aos desatinos e às desordens da loucura.

A imaginação cria a crença na felicidade, e dá felicidade na medida em que o sonho durar.

A KaBaLa é a álgebra das idéias.

Através da imaginação, o pão se torna o Corpo de Deus e o vinho se transforma em Sangue Imortal, e nós não cuidamos de dizer, como bem se pode imaginar, que não é assim; mas assim é , pois assim imaginamos, em obediência à Palavra e à Fé em Jesus, o Cristo. Aquilo que a imaginação inventa ela cria, e tudo aquilo que ela cria passa a existir.

A credulidade sempre endossa de bom grado os milagres. As mentes fracas têm inclinação natural para o maravilhoso, e não é fácil desiludi-las quando elas insistem em se deixar enganar. Jamais se fez um milagre em benefício da Ciência e da Razão; jamais se consumou um milagre na presença de pessoas sensatas e cultas. Fenômenos estranhos, reduzidos à expressão mais simples, podem despertar a curiosidade e estimular a investigação dos homens de Ciência, mas, de forma alguma podem demonstrar a intervenção de seres sobrenaturais.

No Sacramento da Eucaristia ocorre uma transubstanciação. Será natural esta transubstanciação? Claro que não; ela é apenas misteriosa e sacramental. Já a Química decompõe e recompõe os corpos, mas, não transforma uma coisa em outra, pois, neste caso, as duas coisas existiriam e não existiriam ao mesmo tempo, o que é impossível.10

 

 

Para transformar literal e inteiramente a água em vinho seria necessário aniquilar a água e criar o vinho – dois absurdos. Pois, nada pode ser aniquilado, e o vinho não pode ser criado sem uvas. Evaporar a água e substituí-la por vinho seria apenas uma manobra de prestidigitação e não uma alteração de substâncias. O pão pode se transformar em peixe e o vinho em sangue, mas, somente através dos processos da assimilação, e não através da transubstanciação. Estas expressões dogmáticas têm, portanto, que ficar restritas aos domínios do Dogma e dos Símbolos. Tomadas cientificamente e no seu sentido natural, não passam de absurdos. O Dogma é a fórmula de realidades imaginárias. Note-se que dizemos realidades e não ficções. As afirmações do Dogma são realidades para a Fé, mas, são imaginárias, pois, só podemos concebê-las através da imaginação, uma vez que elas escapam à análise da Ciência e da Razão. É apenas a imaginação que realiza todos os milagres. As pessoas razoavelmente instruídas sabem que os milagres da Bíblia são exageros orientais.11

Alegam os teólogos [ignorantes] que é preciso tomar literalmente as palavras de Jesus, o Cristo, quando ele disse do pão: "Este é o Meu Corpo". E do vinho: "Este é o Meu Sangue". Mas, então, é igualmente necessário tomá-Lo literalmente quando disse: "Eu sou a videira... vós sois os galhos". Seria Jesus Cristo verdadeiramente uma videira? Será preciso acreditarmos que o conhecimento do bem e do mal era de fato uma árvore, e que os amargos frutos desta árvore de tronco duplo, que produz a vida e a morte, fossem pêssegos e maçãs? A serpente do éden e a burra de Balaão seriam realmente falantes? O fato é que as pessoas deixarão de formular tais perguntas quando aqueles que pretendem ensinar os outros deixarem de ser tanto estúpidos como selvagens.12

'Nada desejes; nem mesmo a justiça. Cedo ou tarde, o céu irá realizá-la. O Nirvana não é aniquilamento; é , na Ordem da Natureza, o Grande Apaziguamento. Querer sem temer e sem desejar é o Segredo da Vontade Onipotente.' (Príncipe Sakyamuni, o Senhor Buddha, apud Éliphas Lèvy).

Ninguém poderá arrebatar de nós a verdadeira glória. Ela consiste no mérito, e não no aplauso da multidão. Ela não teme os caprichos do Destino, pois, nada deve ao acaso. Ela não ama nem o tumulto nem o estardalhaço. É no Silêncio que poderemos gozar a Paz do Paraíso [Paz Interior].

Crer sem saber é fraqueza; crer sabendo é poder.

 

 

 

O Credo do Variante

 

 

 

Sou variante, mudo e surdo,

e creio só porque é absurdo.

Sou surdo, variante e mudo,

e creio porque é dessisudo.

Sou mudo, surdo e variante,

e creio porque é alienante.

Creio em um Deus-perfeição,

que me alçará ao céu do chão.

Creio em um Deus-crueldade,

que castigará a infidelidade.

Creio em um Deus-de-amor,

que ameniza a minha dolor.

Creio em um Deus-iracundo,

que implodirá este mundo.

Creio em um Deus-sumo-bem,

que fará a Nova Jerusalém.

Creio em um Deus-de-horror,

que colapsará cada error.

Creio em um Deus-altruísta,

que tapará os furos da pista.

Creio em um Deus-milagre,

que transfará jaú em bagre.

Creio em um Deus-escolha,

que, se venetar, fura a bolha.

Creio em um Deus-carrancudo,

que porá o danisco desnudo.

Creio em um Deus-abscôndito,

que vive no éden, recôndito.

Creio em um Deus-poderoso,

que subjuga o cão-tinhoso.

Creio em um Deus-banqueiro,

que topa tudo por dinheiro.

Creio em um Deus-usurário,

que alivia por um numerário.

Creio em um Deus-milagrento,

que faz bololô sem fermento.

Creio em um Deus-onipotente,

que cura quem está doente.

Creio em um Deus-que-tudo-vê,

como é apresentado na tevê.

Creio em um Deus-onisciente,

que manda na minha mente.

Creio em um Deus-perspicaz,

que de deitar abaixo é capaz.

Creio em um Deus que me criou,

bem do jeitinho que eu sou.

Creio em um Deus-sentado

em um trono belo e dourado.

Creio em um Deus-barbarrão,

com u'a bomba em cada mão.

Creio em um Deus-ciumento,

que, se cismar, é arreliento.

Creio que Deus me perdoará

e me defenderá do coisa-má.

Creio no paraíso sempiterno,

mas, o mau irá para o averno.

Creio na geena permanente,

mas, lá, o bom estará ausente.

Creio na salvação indefinida,

quando se completar esta vida,

e, me sentarei à direita do Pai,

como filho, não como bonsai.

Então, eu não mais lamuriarei,

pois, com Deus, eu imperarei.

Sim, creio porque é disparate!

Creio em pirulito que bate-bate!

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Enfim, para a ignorância, Deus é o não-possível que se torna possível, ou, como disse Éliphas, Deus é, por toda parte, o ideal de quantos em sua ignorância o adoram: feroz entre os selvagens, prenhe de paixões humanas entre os gregos, déspota oriental para os judeus, ciumento e desapiedade como um sacerdote celibatário para os ultramontanos.

2. A imagem será e permanecerá ilusória enquanto procurarmos onde quer que seja o que, desde sempre, esteve em nosso interior. A poeira do tempo passará, mas, nosso Deus Interior não passará.

3. Mas, tudo isto depende e está atrelado à Compreensão. Só a Compreensão libertará; não há outro caminho. Com relação a isto, Éliphas advertiu: Libertar-nos da escravidão das paixões, da tirania dos preconceitos, dos erros da ignorância, dos padecimentos do medo e das ansiedades do desejo é a Obra da Vida.

 

 

 

 

4. De certa forma e em certo grau, também comete deicídio aquele que, de alguma forma, fere um animal e destrói um vegetal. Animais e vegetais são seres humanos em espera. Por outro lado, o que somos nós senão vegetais e animais humanizados?

5. Precessão dos equinócios é literalmente um círculo imaginário riscado na esfera celeste pela projeção do eixo de rotação terrestre. Este risco, que há milênios vem sendo acompanhado, se chama precessão, que é um movimento para trás em relação ao avanço do ponto vernal do equador celeste, tomando-se como referência o ciclo anual do Sol. O movimento retrógrado coloca os eixo norte e sul apontados para diferentes pontos, ocupados ou não por estrelas, no correr do círculo completo, que dura cerca de 26.000 anos, ao fim do qual os eixos norte ou sul apontarão para a mesma região eventualmente coincidente (ou não) com uma estrela denominada polar. Devido a este movimento, o equinócio (data em que o dia e noite têm a mesma duração) da primavera passa a acontecer com a entrada do Sol em diferentes constelações da eclíptica. A este fenômeno se deu o nome de precessão dos equinócios.

6. No fundo, isto se resume a uma dupla infelicidade: histeria psíquica + esquizofrenia.

7. Como pode ser razoavelmente possível e logicamente plausível se pensar, admitir e dizer que Deus é onipotente, onipresente, onisciente, oniprovidente, onibenevolente, oniparente, onividente, imutável, infinito, incriado (autocriado), eterno, perfeito, justo, autônomo, livre, incondicionado, isto, aquilo etc., se estes são meros conceitos genéricos e abstratos, ainda que, entre outros, fundamentais, do entendimento humano para (tentar) compreender as coisas? Como um ente qualquer – que não seja o próprio Deus – pode definir e dizer como Deus é? Bem, enquanto não formos Deuses, só poderemos probabilizar como poderá ser o estado de Divindade Consciente. Antes, toda e qualquer afirmação será especulativa – um chute que não marcará gol. Com muita sorte, a bola poderá até bater na trave ou no travessão!

8. Viver como monge trapista ou ermitão por medo do inferno e pelo anelo de ir para paraíso é absolutamente inútil, como são inúteis todos os nossos atos hipotéticos com base no se, no por isto, no talvez, no porque, no para, no então, no quem sabe, no pode ser etc. Tudo isto se resume a fazer negócios com Deus, e Deus não faz negócios com ninguém. Contam que, certa feita, São Pedro foi se lamentar com Jesus, dizendo: — Mestre, estou cansado de ficar em pé na porta do céu. São séculos fazendo a mesma coisa. Abre porta... Fecha porta... Quem sabe o Senhor coloca o Paulo no meu lugar, e eu vou para o departamento financeiro. Talvez, eu até consiga dar um jeitinho brasileiro nas contas e aumentar os seus haveres.
Jesus ficou furioso, e respondeu: — Caramba, Pedro! Tu me negaste três vezes, foste o primeiro Bispo de Roma por trinta e sete anos, crucificaram-te de cabeça para baixo e, depois de dois milênios, parece que não aprendeste o raio da lição. Quando compreenderás que comportamentos hipotéticos só levam a zerolhufas? E que haveres tenho eu? Bolas! Aqui, no céu, cada um tem uma tarefa a cumprir, e, como o céu é eterno, as tarefas são igualmente eternas. Volta lá para a porta, pára de conspirar com o Paulo e vê se não me aborrece.

9. Aqui será bom recordar um tema que já discuti. Cuidado – muitíssimo cuidado! – com esses enganadores marca roscofe que dizem que canalizam mensagens de Mestres Ascensionados. Tudo grupo. Tudo interesse. Tudo esquizofrenia. Mestre Ascensionado não canaliza bulhufas. As Cartas dos Mahatmas são uma coisa completamente diferente. Bem, seja como for, para que possamos fazer contato com os Mestres Ascensionados, o que não é de todo impossível, mas, muito difícil de acontecer, nosso grau de pureza deverá ser (quase) irreprochável, coisa que, particularmente, não se aplica a mim. Enfim, um contato com um Mestre Ascensionado depende fundamentalmente de três fatores: mérito, oportunidade e necessidade.

10. Só a radioatividade (natural ou espontânea e artificial ou induzida) e a Alquimia transformam uma coisa em outra.

Radioatividade Natural:

92U238  —›  90Th234  +   2He4

Radioatividade Artificial:

13Al27  +  2He4  —›  15P30  +   0n1

Obra Solar Alquímica:

Chumbo  —Enxofre Branco—›  Ouro

Obra de Prata Alquímica:

Chumbo  —Enxofre Amarelo—›  Prata

Quanto ao Enxofre Alquímico, Branco ou Amarelo, Nec Te Nec Sine Te, como disse Fulcanelli. Não Tu, mas, Nada sem Ti.

11. Sim, os milagres da Bíblia são exageros orientais, como disse Éliphas. Isto, por um lado. Por outro, os milagres simbólicos costumam ocultar Leis Eternas e Imutáveis, que as pessoas comuns não conseguem compreender. Lembro que 153 nada mais é do que o Valor Secreto do Número 17 (IAO 10 + 1 + 6 = 17). E o milagre bíblico da ressurreição de Lázaro nada mais é do que a última etapa de um Processo Iniciático, no qual Lázaro era o Iniciado e Jesus, o Cristo, o Iniciador. E, finalmente, como último exemplo, a figueira não foi assassinada por Jesus, o Cristo, que não era um assassino; ela já estava morta e não poderia mais frutificar, como estavam mortas as antigas crenças e as antigas religiões, que não poderiam mais dar (conseqüentizar) bons frutos. Ao secar a figueira, Jesus, o Cristo, simbolicamente, ressequiu as acreditabilidades da Antigüidade, que já haviam cumprido o seu tempo. Jesus, o Cristo, veio para transmitir a Iniciação Cristã, que, ao longo do tempo, foi esquecida, e pior: transformada em cultos fideístas absurdos e degradantes, que, geralmente, negociam o que não pode ser negociado.

12. Mas, para que as pessoas deixem de ouvir os estúpidos e os selvagens para ouvir os que sabem e podem ensinar concertadamente precisarão merecer. Da mesma forma que a luz não poderá entrar em uma caverna hermeticamente fechada, a LLuz não poderá Illuminar um Coração petrificado.

 

 

Coração Petrificado

 

 

Música de fundo:

Pirulito que Bate-bate
Interpretação: Banda Infantil Os Brinkantes

Fonte:

http://palcomp3.com/bandaosbrinkantes/
pirulito-que-bate-bate/#/bandaosbrinkantes/sapo-cururu/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://tomohalloran.com/2013/04/22/dr-
gosnell-and-obamas-heart-of-stone/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Precess%
C3%A3o_dos_equin%C3%B3cios

http://www.alunosonline.com.br/quimica/
radioatividade-natural-artificial.html

http://www.amigosdoforum.com.br/cartoon-network-censura-
tom-jerry-temos-as-provas-que-eles-sao-ma-influencia/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Atributo_divino

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dodecahedron.gif

http://benwilder.wordpress.com/tag/red-sea/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Eppur_si_muove

http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/8-cientistas-
que-morreram-ou-se-feriram-em-nome-da-ciencia/

http://en.wikipedia.org/wiki/Precession

http://www.netanimations.net/Skeletons_Skulls
_Bones_Skeletal_Body_Part_Animations.htm

http://gartic.uol.com.br/czekus/
desenho-jogo/esfinge

http://euler.slu.edu/escher/index
.php/Aperiodic_Tessellations

http://www.tommoody.us/archives/2011/03/11/
maxwell-paparella-color-god-2011/

http://vincedesign.com.br/blogs/animal-politico/
eliphas-levi/paradoxos-da-sabedoria-oculta.pdf

 

Direitos autorais:

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