Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 


 

 

 

Imagine-se um deus onipotente,1

oniprovidente, onibenevolente, onividente,

oniparente, onipresente, onisciente.

 

 

Será este deus de fato onipotente

se não consegue [des]criar um ente?

Não, este deus não é onipotente.2

 

 

Será este deus de fato onipotente

se [des]cria mas não salva o ente?

Não, este deus não é onipotente.3

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

_____

Notas:

1. Na realidade, se existisse ou se for possível que possa existir um ser onipotente, este ser (ou deus) seria ou é a soma da oniprovidência, da onibenevolência, da onividência, da oniparência (onicriação), da onipresença e da onisciência. Quem ou o que é onipotente é igualmente tudo, de tal sorte que cada qualidade ou categoria imaginada ou especulada não pode ser menor ou maior do que as outras e do que o todo (ou tudo).

 

 

 

 

2. Presumindo que exista um deus, e presumindo ainda que este mesmo deus seja onipotente, se ele desejar, poderá criar ou descriar à vontade o que bem quiser. Entretanto, se deseja criar ou descriar e não consegue, não é onipotente. Se delega poderes e representatividade a um ente que também não consegue criar ou descriar, escolheu mal, e, por isto, também não é onipotente.

3. Ora, como um presumido deus onipotente cria ou descria, mas não salva? A coisa criada, em princípio, não pediu para ser criada ou descriada. Se foi criada ou descriada à revelia, cabe a deus salvá-la. Se este deus cria ou descria, mas não salva, ou se deixa a hipotética salvação por conta da coisa criada, que incompetente para se salvar não se salva, este deus não é onipotente. Que não se avoque aqui a questão do livre-arbítrio da coisa criada; o livre-arbítrio não implica e nem obriga a que haja competência adquirida – mediata ou imediata – por parte de qualquer criatura. Mas, a questão é: salvar(-se) de quê? Bem, se salvação há, esta mesma salvação não é daqui ou dacolá, mas de nós próprios. De nossas idiossincrasias, de nossas egolatrias, de nossas fantasias. Isto para não falar de coisas piores. O maior milagre que poderá acontecer na vida de um ser-no-mundo é, um dia, acordar e não mais se preocupar com a possibilidade da existência de um deus e até mesmo da existência de si próprio. De apenas viver de acordo com o Summum Bonum universal, de acordo, claro, com o seu entendimento do possa vir a ser este Summum Bonum. De não mais querer ou precisar e de não mais ter medo de um dia vir a precisar. De não se preocupar com encarnações passadas ou com possíveis e presumidas encarnações futuras. De não julgar nada nem ninguém, e de, muito menos, condenar o que quer que seja pelo que quer que seja. E por aí vai, resumindo-se este por aí vai em morrer para as coisas ilusórias do mundo, e em Viver para uma ilimitada e progressiva harmonização com a Santa Vida universal. Pode ser repetitivo e até piegas, mas a coisa toda se condensa em Viver, Amar e Servir. Servir, Amar e Viver sem uma microscópica gota-sombra de satisfação por fazer o que precisa e deve ser feito, e sem um minúsculo pingo-sombra de sentimento de estar obrigado a fazer o que precisa e deve ser feito. Mas, tudo isto desemboca na questão místico-metafísica do que possa efetiva e concertadamente ser o que precisa e deve ser feito! Dê uma espiada aí embaixo e veja se não é isso.

 

 

 

Fundo musical:

Mission Impossible

Fonte:

http://www.toolzbydaman.com/midiz/