PANCOVIDMIA

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Se eu, com desprazer, escrevesse um livro,

com prefácio, posfácio e tudo mais,

relatando o que está acontecendo no Patropi

durante esta mortal PanCOVIDmia-19

– produto-efeito de um karma coletivo

mundial gigantesco e irresponsavelmente acumulado –

daqui a mil anos ou, quem sabe, menos,

quem tivesse o pesadume de o ler,

no mínimo, ficaria horrorizado,

e classificaria a nós, os Patropieiros, como bárbaros.

Bárbaros, sim, para não dizer coisa pior!

Não digo isto como crítica, mas, triste e sangrando de dor,

porém, otimista, pois, tenho fundada certeza

de que as coisas melhorarão e avançaremos.

Também, se não melhorarmos, seremos destruídos.

E destruídos por quem? Por nós mesmos.

 

 

 

 

Por exemplo, o Ilustríssimo e Digníssimo Presidente

da República Federativa do nosso Patropi,

Senhor Jair Messias Bolsonaro, que, ao ser eleito,

criou tantas esperanças no povão,

inacreditavelmente, em diversas ocasiões, disse:

 

 

Presidente Bolsonaro

 

 

— ... País de maricas...

— Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória...

— Vacina obrigatória só aqui no [cachorro] Faísca...

— Lembro à Nação que, por decisão do STF,
as ações de combate à Pandemia
(fechamento do comércio e quarentena, p. ex.) ficaram
sob total responsabilidade dos Governadores e dos Prefeitos...

— E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?
Eu sou Messias, mas, não faço milagre...

— Essa é uma realidade, o vírus tá aí.
Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra.
Não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade.
É a vida. Todos nós iremos morrer um dia...

— Pelo meu histórico de atleta,
caso fosse contaminado pelo vírus,
não precisaria me preocupar,
nada sentiria ou seria acometido,
quando muito, de uma gripezinha ou um resfriadinho...

— Tem a questão do Coronavírus também que,
no meu entender, está superdimensionado
o poder destruidor desse vírus...

— Eu não sou coveiro, tá certo?

— Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir.

— Esse tratamento [com Hidroxicloroquina],
que começou aqui no Brasil, tem que ser feito,
segundo as pessoas que a gente tem conversado,
até o quarto ou quinto dia dos primeiros sintomas.

— Há 40 dias venho falando do uso da Hidroxicloroquina
no tratamento da COVID-19.
Cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz.

— Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. É a vida.
Você não pode parar uma fábrica de automóveis
porque há mortes nas estradas todos os anos.

— Sabe quando esse remédio [Hidroxicloroquina]
começou a ser produzido no Brasil?
Ele começou a ser usado no Brasil quando eu nasci, em 1955.
Medicado corretamente, não tem efeito colateral.

— O povo foi enganado esse tempo todo sobre o vírus.

— Depois da facada, não vai ser uma gripezinha
que vai me derrubar, tá ok?

— Uma nação como o Brasil só estará livre
quando certo número de pessoas for infectado e criar anticorpos

— Muito do que falam é fantasia; isso não é crise.

— Se a Economia afundar, afunda o Brasil.
E qual o interesse dessas lideranças políticas?
Se acabar a Economia, acaba qualquer Governo.
Acaba o meu Governo. É uma luta de poder.

— O número de pessoas que morreram de H1N1
é da ordem de 800 pessoas. A previsão é não chegar
a essa quantidade de óbitos no tocante ao Coronavírus.

 

Patropi: Dados Atualizados em 16/02/2021

Casos Confirmados: 9.921.339
Mortes: 240.983
Pessoas Recuperadas: 8.883.191
Em Acompanhamento: 797.850

 

— Toma quem quiser, quem não quiser, não toma.
Quem é de direita toma Cloroquina.
Quem é de esquerda toma Tubaína.

 

 

 

 

— Esse vírus é como uma chuva; vai atingir você.

Ao ser questionado pelos jornalistas sobre os

decretos que facilitam o acesso a armas e munições no País,

o Presidente Jair Bolsonaro afirmou: — O povo tá vibrando.

 

 

Presidente Bolsonaro

 

 

— Muitos gestores e profissionais de saúde fizeram de tudo
pelas vidas do próximo, diferentemente daquela grande rede de TV
que só espalhou o pânico na população e a discórdia entre os Poderes.
No mais, essa mesma rede de TV
desdenhou, debochou e desestimulou o uso da Hidroxicloroquina,
que, mesmo não tendo ainda comprovação científica,
salvou a minha vida e, como relatos, a de milhares de brasileiros.

— Vocês não pararam durante a Pandemia.
Vocês não entraram na conversinha mole de 'fica em casa'.
Isso é para os fracos.

 

 

 

 

— Eu não posso falar como cidadão
uma coisa e como presidente outra.
Mas, como eu nunca fugi da verdade, eu te digo:
eu não vou tomar vacina. E ponto final.
Se alguém acha que a minha vida está em risco,
o problema é meu. E ponto final.

— Na Pfizer, está bem claro no contrato:
'nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral'.
Se você virar um jacaré, é problema de você.
Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira.
Se você virar o super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí
ou um homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso.

— A Pandemia realmente está chegando ao fim.
Os números têm mostrado isso aí.
Estamos com uma pequena ascensão agora,
o que se chama de pequeno repique; pode acontecer.
Mas, a pressa para a vacina não se justifica,
porque você mexe com a vida das pessoas.

 

 

 

 

— Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares,
no entorno leste da Floresta Amazônica,
onde o caboclo e o índio queimam seus roçados
em busca de sua sobrevivência.

— O fogo no Pantanal é conseqüência da alta temperatura
somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição.

— O Brasil é vítima de uma campanha internacional
escorada em interesses escusos.

— Somos líderes em conservação de florestas tropicais.

— Quem decide se um povo vai viver numa Democracia
ou numa ditadura são as suas Forças Armadas.
Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam.
No Brasil, temos liberdade ainda.
Se nós não reconhecermos o valor
desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar.

— Nada será despendido agora para comprar uma vacina chinesa,
que eu desconheço e parece que nenhum país do mundo
está interessado nela. A vacina vai ter que ter
uma comprovação científica, diferente da Hidroxicloroquina.
Tem que ter a sua eficácia. Não se pode inalar algo
na pessoa e o malefício ser maior do que o possível benefício.
Apenas isso: estamos trabalhando na busca de uma vacina confiável.

— O preço vultoso que vai se pagar por essa ‘vachina’ [sic],
essa vacina da China.

 

 

A ‘VaChina’ que está nos salvando!

 

 

Por outro lado, como é possível que, no Patropi,

as desigualdades sociais, o desrespeito e a crueldade

tenham se avolumado tanto?

Como é possível que, no Patropi,

o acesso a atendimento médico

entre ricos e pobres e entre brancos e negros

tenha se tornado menor e mais discriminatório?

Como é possível que, no Patropi,

os direitos humanos tenham se tornado

cada vez mais desrespeitados

e a desproporcionalidade de tratamento

entre as camadas da população

tenha se tornado mais exacerbada?

Como é possível que, no Patropi,

tenha faltado estrutura para salvar mais vidas?

Como é possível que, no Patropi,

que os mais ricos sobrevivam e os mais pobres morram?

Como é possível que, no Patropi,

a desigualdade social continue a matar

muito mais do que o Novo Coronavírus?

Como é possível que, no Patropi,

que pessoas tenham morrido

por falta de respirador?

Como é possível que, no Patropi,

que pessoas tenham morrido

por falta de atendimento médico?

Como é possível que, no Patropi,

os pobres continuem a enfrentar tanta violência,

que as balas perdidas tenham se tornado mais perdidas

e que o tráfico tenha tomado conta do País?

Como é possível que, no Patropi,

a violência doméstica contra as mulheres

tenha aumentado durante a PanCOVIDmia,

de tal modo que os registros no

tenham se se elevado a 19.915 no bimestre março-abril

contra 15.683 no mesmo período do ano anterior, ou seja, 27%?

Como é possível que, no Patropi,

a situação dos índios tenha piorado,

devido a falhas nas políticas de saúde e ambientais

e intolerância ideológica, de modo que a circulação

de garimpeiros e de desmatadores ilegais

tem espalhado a COVID-19 em comunidades

distantes de recursos médicos ou em periferias de cidades

onde há índios em situação de extrema pobreza?

Como é possível que, no Patropi,

haja, claramente, uma política antiindígena?

Como é possível que, no Patropi,

o Presidente Bolsonaro tenha sido denunciado,

em novembro de 2019, ao Tribunal Penal Internacional (TPI),

com sede em Haia, Holanda, pelo Coletivo de Advocacia

em Direitos Humanos (CADHu) e a Comissão Arns

de ex-ministros e juristas ligados a causas de direitos humanos,

por crimes contra a Humanidade e atos que levam

ao genocídio de comunidades indígenas e tradicionais?

Segundo a Organização, o Presidente incitou

violações e violência contra populações indígenas,

enfraqueceu instituições de controle e de fiscalização,

demitiu pesquisadoras e foi omisso em relação

a crimes ambientais na Amazônia.

Uma das frases do Presidente Bolsonaro é:

— Enquanto eu for presidente

não tem demarcação de terras indígenas.

Como é possível que o Presidente Bolsonaro

não tenha recriminando o seu então Ministro da Educação,

Abraham Weintraub, quando ele disse

na reunião ministerial do dia 22 de abril:

— Odeio esse termo 'povos indígenas'?

Como é possível que, no Patropi,

o Presidente Bolsonaro tenha dito a um repórter:

A vontade que eu tenho é encher a sua boca na porrada?

Como é possível que, no Patropi,

o Presidente Bolsonaro trate a mídia Patropieira

com tanto descaso, e que também incite

o comportamento violento de seus apoiadores

contra os profissionais da imprensa?

Como é possível que, no Patropi,

pobreza extrema, falta ou precariedade no acesso

à água potável e ao saneamento,

insegurança alimentar, situações de contaminação

ambiental e falta de moradia ou habitat adequado

continuem a constituir problemas sem solução

e a, sistematicamente, ceifar vidas?

Como é possível que, no Patropi,

particularmente no Estado do Rio de Janeiro,

funcionários da Prefeitura do Rio de Janeiro,

durante a gestão do Prefeito Marcelo Bezerra Crivella,

tenham, autoritariamente, se postado em frente a hospitais,

para atrapalhar o trabalho da imprensa

e impedir que cidadãos protestem com relação

a eventual má qualidade dos serviços

prestados pelas unidades de saúde?

 

 

Marcelo Crivella

 

 

Como é possível que, no Patropi,

gestores públicos tentem dificultar o acesso,

durante esta PanCOVIDmia, a informações sobre a saúde,

fundamentais para as políticas de enfrentamento à doença?

Como é possível que, no Patropi,

as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)

tenham sido sistematicamente desrespeitadas?

Como é possível que, no Patropi,

tantas vidas tenham sido perdidas

por simples desrespeito às recomendações da OMS?

Como é possível que, no Patropi,

equipamentos e insumos (máscaras, seringas, remédios etc.),

para combater a PanCOVIDmia, tenhm sido tão negligenciados?

Como é possível que, no Patropi,

a PanCOVIDmia não tenha um sentido de urgência?

Como é possível que, no Patropi,

o atendimento das necessidades básicas das pessoas

continue sendo tão indolente e tão descuidado?

Como é possível que, no Patropi,

o Estado do Amazonas exista e viva isolado

em relação ao resto do País,

e que as mortes por COVID-19 no Estado

tenham registrado uma alta de 41% após a crise

causada pela falta de oxigênio em hospitais de Manaus?

Como é possível que, no Patropi,

o distanciamento social seja generalizadamente desrespeitado?

Como é possível que, no Patropi,

profissionais da saúde finjam que vacinam?

Como é possível que, no Patropi,

alguns filhos-da-vacina furem fila para se vacinar?

Como é possível que, no Patropi,

durante esta PanCOVIDmia, a corrupção

tenha aumentado avassaladoramente?

Como é possível que, no Patropi,

existam tantos antivacinistas militantes?

Como é possível que, enfim, no Patropi,

o Ministéio da Saúde, na quarta-feira (20 de maio de 2020),

tenha divulgado uma orientação para tratamento medicamentoso

precoce de pacientes com diagnóstico de COVID-19,

tendo por base a Cloroquina (C18H26ClN3),

apesar da inexistência de qualquer comprovação científica

de efetividade do medicamento,

e da advertência dos cientistas para que,

de forma alguma, seja utilizado?

 

 

Confira o documento completo na Página:
https://static.poder360.com.br/2020/05/orientacoes
-ministerio-da-saude-cloroquina-20-mai-2020.pdf

 

 

 

Macaco Sócrates
(No Humorístico Planeta dos Homens)

 

 

O que pretendemos

com tanta irresponsabilidade?

O que pretendemos

com tanta porra-louquice?

Aonde queremos chegar

com toda esta indignidade?

Aonde queremos chegar

com toda esta inconseqüência?

 

 

 

 

Por tudo isto, eu faço, agora, esta tríplice invocação:

Compreensão ao Povão Brasileiro.

Dignidade ao Povão Brasileiro.

Fraternidade ao Povão Brasileiro.

Está feito. Está selado. A.'. U.'. M.'.