Quem
sabe esperar o bem que deseja não toma a decisão de se desesperar
se ele não chega; aquele que, pelo contrário, deseja uma coisa
com grande impaciência, põe nisso demasiado de si mesmo para
que o sucesso seja recompensa suficiente. Há pessoas que querem tão
ardente e determinantemente certa coisa, que por medo de perdê-la,
não esquecem nada do que é preciso fazer para perdê-la.
As coisas mais desejadas não acontecem; ou se acontecem, não
é, geralmente, nem tempo nem nas circunstâncias em que teriam
causado extraordinário prazer.
A modéstia é
para o mérito o que as sombras são para um quadro. Dão-lhe
forma e relevo.
A
maioria dos homens emprega a melhor parte de sua vida em tornar o
outro miserável.
Fazer as coisas como todos, é
uma máxima suspeita, que, quase sempre, significa fazer as coisas
mal.
A
pobreza carece de muita coisa; a avareza carece de tudo.
Os que empregam mal seu tempo são
os primeiros que reclamam da falta dele.
Algumas
mulheres doam aos conventos e aos amantes. Amorosas e benfeitoras, têm
até no âmbito do altar tribunas e oratórios em que lêem
bilhetes de amor, onde ninguém vê que não estão
rezando para Deus.
Fundamental
para uma mulher não é ter um diretor, mas viver tão
lealmente que possa dispensá-lo.
A
cortesia faz a pessoa parecer por fora como deveria ser
por dentro.
Um
cômico exagera, no palco, as suas personagens; um poeta carrega nas
suas descrições; um pintor que tira do natural, força
e exagera uma paixão, contrastes, atitudes; e o que copia, se não
mede com o compasso as grandezas e as proporções, amplia as
figuras, dá a todas as peças que entram na disposição
do quadro mais volume do que têm as do original: assim também
a dissimulação de virtude é uma imitação
do pudor.
Há
uma
falsa modéstia que é vaidade; uma falsa glória que
é leviandade; uma falsa grandeza que é mediocridade; uma falsa
virtude que é hipocrisia; um falso pudor que é afetação
de virtude.
Há mulheres que gostam mais
do dinheiro que dos amigos, e dos amantes mais que do dinheiro.
O
ciúme jamais está isento de uma ponta de inveja. Freqüentemente
essas duas paixões estão confundidas.
Buscamos
a nossa felicidade fora de nós mesmos e na opinião de homens
que sabemos aduladores, pouco sinceros, sem eqüidade, cheios de inveja,
de caprichos e de preconceitos. Que extravagância!
A
inveja e o ódio estão sempre unidos. Fortalecem-se reciprocamente
pelo fato de perseguirem o mesmo objetivo.
Uma longa enfermidade entre a vida
e a morte faz que a morte resulte em um consolo tanto para os que morrem
como para os que ficam.
Bem
longe de se assustar ou mesmo de enrubescer com o nome de filósofo,
não existe ninguém no mundo que não devesse possuir
fortes laivos de Filosofia. Ela convém a todos. A sua prática
é útil em todas as idades, para todos os sexos e para todas
as condições. Ela consola-nos da felicidade do outro, das
preferências indignas, dos fracassos, do declínio das nossas
forças ou da nossa beleza; arma-nos contra a pobreza, a velhice,
a doença e a morte, contra os tolos e os maus zombeteiros. Faz-nos
também viver sem uma mulher, ou faz-nos suportar aquela com quem
vivemos!
Tememos
a velhice, à qual não temos a certeza de poder chegar.
Os homens têm tanta dificuldade
para se aproximar quando tratam de negócios, são tão
espinhosos quanto aos menores interesses, tão eriçados de
dificuldades, querem tanto enganar e tão pouco ser enganados, dão
tanto valor ao que lhes pertence e tão pouco valor ao que pertence
aos outros, que confesso que não sei por onde e como conseguem concluir
casamentos, contratos, aquisições, a paz, a trégua,
os tratados e as alianças.
Duas
pessoas não podem ser amigas muito tempo se não souberem perdoar
os defeitos uma da outra.
Os moribundos que falam de seu testamento
podem confiar que serão ouvidos como se fossem oráculos.
A
demasiada atenção que se dedica a observar os defeitos alheios
faz com que se morra sem ter tido tempo para conhecer os próprios
defeitos.
A
vida é curta e tediosa: passa-se inteira no desejar. Adiam-se para
o futuro o repouso e as alegrias, muitas vezes até à idade
em que os melhores bens, a saúde e a juventude já desapareceram.
Essa época chega e ainda nos surpreende em meio a desejos; estamos
nesse ponto quando a febre nos arrebata e extingue. Caso nos curássemos,
seria apenas para desejarmos por mais tempo.
Não
há no mundo exagero mais belo do que o da gratidão.
Os
tolos lêem um livro e não o entendem. Os espíritos medíocres
crêem entendê-lo perfeitamente. Os grandes espíritos
às vezes não o entendem por inteiro; acham obscuro o que é
obscuro, como acham claro o que é claro. Os espíritos afetados
querem achar obscuro o que não o é, e não entendem
o que é perfeitamente inteligível.
A
falsa modéstia é o último requinte
da vaidade... A vaidade é a espuma do orgulho... A vaidade torna-nos
tão crédulos como tolos.
As
vítimas da injustiça devem consolar-se pensando que a verdadeira
desgraça consiste em praticá-la... Onde há pouca justiça
é um grande perigo ter razão.
É
uma atitude vã ridicularizar um ignorante rico; as gargalhadas serão
dele.
As
melhores ações se alteram e se enfraquecem pela maneira porque
são praticadas, e deixam até duvidar das intenções.
Aquele que protege ou louva a virtude pela virtude, que corrige e reprova
o vício por causa do vício, simplesmente, naturalmente, sem
nenhum rodeio, sem nenhuma singularidade, sem ostentação,
sem afetação, não usa respostas graves e sentenciosas,
ainda menos os detalhes picantes e satíricos. Não é
nunca uma cena que ele representa para o público; é um bom
exemplo que dá e um dever que cumpre. Não fornece nada às
visitas das mulheres, nem ao pavilhão, nem aos jornalistas; não
dá a um homem espirituoso matéria para boa anedota. O bem
que acaba de fazer é um pouco menos sabido e conhecido pelos outros,
na verdade; mas fez esse bem. O que ele poderia querer mais?
Um homem que esteja em dificuldade
para saber se está mudando, se começa a envelhecer, pode consultar
os olhos de uma jovem que aborda, e o tom com que ela lhe fala: saberá
o que teme saber. Dura escola!
Há
na pura amizade um prazer a que não podem atingir os que nasceram
medíocres.
Infelizes
dos que seguem pela vida resvalando de fracasso em fracasso em todas as
suas tentativas por falta de personalidade. Para vencer, é indispensável
tornar-se digno do triunfo pela força de vontade, pela coragem e
pela persistência.
Entre o bom senso e o bom gosto está
a diferença entre a causa e o efeito.
Deve-se silenciar sobre os poderosos.
Há quase sempre adulação ao dizer bem deles; há
perigo em dizer mal enquanto vivem, e covardia quando já morreram.
Existem
somente duas maneiras de subir na vida: por esforço próprio
ou valendo-se da ingenuidade dos outros.
Em
todos os tempos, os homens, por algum pedaço de terra, de mais ou
de menos, combinaram entre si de se despojarem, de se queimarem, de se trucidarem
e de se esganarem uns aos outros. E para fazê-lo mais engenhosamente
e com maior segurança, inventaram belas regras às quais se
deu o nome de arte militar. Ligaram à prática dessas regras
a glória ou a mais sólida reputação, e depois
se ultrapassaram uns aos outros na maneira de se destruírem mutuamente.
Da injustiça dos primeiros homens, como da sua origem comum, veio
a guerra, assim como a necessidade em que se acharam de adotar senhores
que fixassem os seus direitos e pretensões. Se, contente com o que
se tinha, se tivesse podido se abster dos bens dos vizinhos, ter-se-ia para
sempre paz e liberdade. O povo – tranqüilo nos lares, nas famílias
e no seio de uma grande cidade onde nada tem a temer para os seus bens nem
para sua vida – anseia por fogo e sangue, ocupa-se de guerras, ruínas,
braseiros e matanças, suporta impacientemente que os exércitos
que mantêm a campanha não tenham recontros, ou se já
se encontraram não sustentem combate, ou se se enfrentam não
seja sangrento o combate, e haja menos de dez mil homens no local. Muitas
vezes, chega a esquecer os seus mais caros interesses, o repouso e a segurança,
pelo amor que tem à mudança e pela mania de novidade ou das
coisas extraordinárias.
Existem
apenas três eventos na vida do homem: nascimento, vida e morte. Ele
não tem consciência de ter nascido, geralmente morre em aflição
e se esquece de viver.
O
mesmo orgulho que faz elevar altivamente acima dos inferiores,
faz rastejar vilmente diante dos que estão acima. É próprio
deste vício, que não se funda sobre o mérito pessoal
nem sobre a virtude, e sim sobre as riquezas, cargos, crédito e sobre
ciências vãs, levar-nos igualmente a desprezar os que têm
menos essa espécie de bens do que nós, e a apreciar demais
aqueles que têm uma medida que excede a nossa.
No
oriente, um homem vale por cem mulheres. Um grande coração
de mulher vale por todos os homens do império.
O
avaro despende mais, morto, num só dia, do que fazia, vivo, em dez
anos; e seu herdeiro mais em dez meses do que soube fazer ele próprio
em toda a vida. O que se prodigaliza, tira-se do herdeiro; o que se poupa
sordidamente, tira-se de si mesmo. O meio termo é justiça
para si e para os outros.
Há
almas porcas, amassadas com lama e sujidade, tomadas pelo desejo de ganho
e pelo interesse, capazes de uma única volúpia que é
adquirir ou não perder, ansiosas e ávidas pela décima
prestação, a baixa dos preços, a queda do curso das
moedas, mergulhadas e como que submersas nos contratos, nos títulos
e nos pergaminhos. Gente dessa marca não é parente, não
é amigo, não é concidadão, não é
cristão e não pode ser homem: é feita de dinheiro.
A
glória ou o mérito de certos homens é escrever bem;
de alguns outros é não escrever.
Mil pessoas se arruínam no
jogo, e dizem friamente que não poderiam passar sem jogar. Que desculpa!
Haverá paixão, por mais violenta ou vergonhosa que seja, que
não possa usar essa mesma linguagem? Seria admirável que se
dissesse não ser possível passar sem roubar, assassinar, suicidar-se?
Um jogo pavoroso, continuado, sem medida, sem limites, no qual só
se tem em vista a ruína total do adversário, no qual se é
transportado pelo desejo do ganho, desesperado quando se perde, consumido
pela avareza, no qual se expõe sobre uma carta, ou na sorte do dado,
a sua própria fortuna, a de sua mulher e de seus filhos, será
coisa permitida? Será coisa tolerável? Não será
preciso, às vezes, fazer a si mesmo uma violência maior, quando,
levado pelo jogo até a ruína total, será preciso até
que se passe sem roupas e alimentação e sem poder fornecê-las
à família? [Harvey Spencer Lewis, 1º Imperator da
AMORC
para este 2º Ciclo Iniciático, escreveu: O jogo é
apenas uma questão de contabilidade – de débito e crédito.
O que uns ganham, outros têm (obrigatoriamente) que perder.
As duas importâncias devem se equilibrar. E há intermediários
que retiram uma porcentagem das mesmas! Logo, como também escreveu
Harvey, qualquer ação será egoísta –
e portanto perigosa – a menos que venha a exercer uma influência
benéfica sobre os outros. Ninguém pode esperar ser feliz,
bem sucedido e próspero se seus esforços e realizações
representarem sacrifícios ou perdas por parte de outras pessoas.]
O
escravo tem um só senhor; o ambicioso tem tantos quantos lhe puderem
ser úteis para vencer.
Os
nobres são odiosos para os plebeus pelo mal que lhes fazem e por
todo o bem que não lhes fazem.
Os gozos da vida, a abundância,
a calma de uma grande prosperidade, fazem com que os príncipes tenham
alegria de sobra para rir de um anão, de um macaco, de um imbecil
e de uma anedota sem graça. As pessoas menos felizes só riem
quando há motivo.
Somos
tão responsáveis por amar, como o somos por não amar.
Não
é preciso arte nem ciência para exercer a tirania. E a política
que só consiste em fazer derramar sangue é muito restrita
e não requer nenhuma sutileza; ela inspira a matar aqueles cuja vida
é obstáculo à nossa ambição. Um homem
nascido cruel pratica crueldades sem esforço; é a maneira
mais horrível e mais grosseira de se sustentar no poder ou aumentá-lo.
Não
há pátria para o despotismo; outras coisas suprem sua falta:
a cobiça, a glória, o serviço do príncipe.
A
guerra tem por si a antigüidade. Existiu em todos os séculos.
Sempre foi vista enchendo o mundo de viúvas e de órfãos,
privando as famílias de herdeiros e fazendo perecerem irmãos
na mesma batalha.
Para
mandar muito tempo e absolutamente é indispensável ter a mão
leve, e nunca lhe fazer sentir, por pouco que seja, a sua dependência.
Se
comparo as duas condições mais opostas dos homens, quero dizer,
os nobres e o povo, este último parece-me contente e rico com o necessário,
e os outros inquietos e pobres com o supérfluo. Um homem do povo
não saberia fazer nenhum mal; um nobre não quer nenhum bem
e é capaz de grandes malefícios. Um só se forma e se
exerce nas coisas úteis; o outro acrescenta as perniciosas: ali,
mostram-se ingenuamente a primariedade e a franqueza; aqui, esconde-se uma
seiva maligna e corrompida sob a casca da polidez. O povo tem bom fundo
e não tem boa aparência; os nobres só têm aparência
e uma simples superfície. Será preciso optar? Não hesito:
quero ser povo.
O
tédio veio ao mundo pela estrada que a preguiça construiu.
Há
certo número de frases feitas – que se tomam como em um armazém
– e das quais nos servimos para nos felicitarmos uns aos outros pelos
nossos êxitos. Apesar de serem ditas, geralmente sem aflição,
e recebidas, geralmente sem reconhecimento, nem por isso é permitido
omiti-las, porque, pelo menos, são a imagem daquilo que há
de melhor no mundo, que é a amizade. E os homens, na realidade, não
podendo contar uns com os outros, parecem ter combinado entre si de se contentar
com as aparências. Com cinco ou seis termos de arte, e nada mais,
dão-se ares de conhecedores de música, de quadros, de construções
e de manjares. Pensam ter mais prazer do que os outros em ouvir, em ver
e em comer; impõem aos semelhantes, e enganam-se a si mesmo.
Temos
pelos nobres e pelas pessoas de destaque um ciúme estéril,
ou um ódio impotente que não nos vinga de seu esplendor e
elevação, e só faz acrescentar à nossa própria
miséria o peso insuportável da felicidade alheia.
Às
vezes, custa muito mais eliminar um só defeito do que adquirir cem
virtudes.
Não
invejemos a certa espécie de gente as suas grandes riquezas: eles
as têm à custa de um ônus que não nos daria bom
cômodo. Estragaram o seu repouso, a sua saúde, a sua felicidade
e a sua consciência para as conseguir; isso é caro demais,
e não há nada a ganhar por esse preço.
Todos
os infortúnios dos homens se manifestam do seu ódio de estarem
sós... Toda infelicidade vem de nossa inabilidade para estar só.
É
grande miséria não ter bastante inteligência para falar
bem, nem bastante juízo para se calar.
É
motivo urgente e indispensável fugir para o oriente quando o tolo
está no ocidente, a fim de evitar dividir com ele o mesmo agravo.
Supondo
que só existam hoje dois homens na Terra, e que a possuindo a dividam
entre si, estou convencido de que nascerá logo entre eles algum motivo
de discórdia, nem que seja pelos limites. Às vezes, é
mais simples e mais útil adaptar-se aos outros, do que fazer os outros
se adaptarem a nós.
Um
homem vulgar acha sábio falar bem ou mal de si próprio; um
homem modesto não fala de sua própria pessoa.
Tão
ridículo é fugir da moda como enfrentá-la.
Não
existem mulheres feias; só existem aquelas que não sabem se
fazer belas.
Ser-se
livre não é nada fazer; é ser-se o único árbitro
daquilo que se faz ou daquilo que se não faz.
Muitas
vezes a Verdade [relativa] é exatamente o oposto daquilo
em que geralmente se acredita.
Algumas pessoas começam a
falar um momento antes de pensar.
Evita
pleitos atrás de todas as coisas! Pervertem a tua consciência,
danificam a tua saúde e dissipam a tua propriedade.
Na
sociedade, é a razão a primeira a ser vencida. Os mais ajuizados
são freqüentemente dirigidos pelo mais louco e extravagante.
Estuda-se o seu ponto fraco, o seu humor, os seus caprichos. Acomoda-se
a ele, evita-se feri-lo e todo o mundo a ele cede. A menor serenidade que
aparece na sua fisionomia basta para lhe atrair elogios; acham-no ótimo
por não ser sempre insuportável. É temido, considerado,
obedecido e, às vezes, amado. Só aqueles que tiveram velhos
parentes colaterais, ou que os têm ainda, dos quais esperam herdar,
podem dizer o que isso custa.
É
mais vulgar ver um amor absoluto do que uma amizade perfeita.
Uma profusão de epítetos
é um pobre elogio; o elogio mente nos fatos e no modo de ser expressado.
É
a ignorância profunda que inspira o tom dogmático. Aquele que
nada sabe pensa ensinar aos outros o que acaba de aprender; aquele que sabe
muito mal chega a pensar que o que diz possa ser ignorado, e fala com maior
indiferença. As maiores coisas só precisam ser ditas de forma
simples; elas estragam-se com a ênfase. É preciso dizer nobremente
as coisas pequenas; elas só se sustentam pela expressão, pelo
tom e pela maneira.
Uma posição de eminência
faz uma grande pessoa maior e uma pessoa medíocre menor.
O
espírito da conversação consiste muito
menos em mostrar muito espírito do que em fazer com que os outros
o achem. Quem sai de uma palestra contente consigo mesmo e com o seu espírito,
sai perfeitamente contente com o orador. Os homens não gostam de
admirar; querem agradar. Procuram menos ser instruídos, e mesmo satisfeitos,
do que ser apreciados e aplaudidos; e o prazer mais delicado que há
é o prazer de causar prazer aos outros.
É
grande miséria não ter bastante inteligência para falar
bem, nem bastante juízo para se calar. Eis o princípio de
toda impertinência.
Que
terrível trabalho tem um homem, sem padrinhos e sem cabala, sem estar
escrito em nenhuma corporação, sendo sozinho e só tendo
por recomendação um grande mérito, para fazer luz sobre
a obscuridade em que se encontra, e chegar ao nível de um tolo bem
cotado! Quase ninguém percebe por si mesmo o mérito dos outros.
Os homens estão demasiado ocupados consigo mesmos para terem tempo
de discernir e de compreender os outros: daí o fato de que –
com grande mérito e modéstia – poder-se ficar muito
tempo ignorado. O gênio e os grandes talentos muitas vezes faltam;,
às vezes também faltam apenas as ocasiões. Alguns podem
ser louvados pelo que fizeram, outros pelo que teriam feito. É menos
raro encontrar espírito, do que pessoas que se sirvam do seu, ou
façam valer o dos outros e o utilizem em alguma coisa. Há
mais ferramentas do que operários, e entre estes, há mais
maus do que excelentes. Que pensar de quem queira serrar com uma plaina
e tome o serrote para aplainar? Não há no mundo trabalho mais
penoso do que o de fazer nome ilustre; a vida acaba quando apenas se esboçou
a obra.
Aquele
que diz incessantemente que é honrado e probo, que não prejudica
ninguém, que consente que o mal que ele faz aos outros lhe aconteça
e jura para se fazer acreditado, não sabe nem fingir que é
um homem de bem.
Falar
e ofender, para certas pessoas, é precisamente a mesma coisa: são
mordazes e ásperas, seu estilo é misturado com fel e absinto.
Zombaria, injúria e insulto escorrem de seus lábios como saliva.
Seria útil para elas terem nascido mudas ou estúpidas.
Se
o financista erra o golpe, os cortesãos dizem dele: é um burguês,
um tipo insignificante, um desastrado. Se tem sucesso, pedem-lhe a filha.
Não
há nenhuma consideração e nenhuma compostura a esperar
de um homem tão cheio de seus interesses e tão inimigo dos
interesses dos outros: ele precisa de uma vitima.
Para
atingir o fim de seus propósitos, a maioria dos homens é mais
capaz de um esforço extraordinário do que de uma longa permanência.
É
mais vergonhoso desconfiar dos amigos do que ser enganado por eles.
Não há caminho demasiadamente
longo para quem anda devagar, sem pressa; e não há recompensas
demasiadamente afastadas para quem a elas se prepara com paciência.