OUTRO DIA FIQUEI
PENSANDO...
Rodolfo Domenico
Pizzinga
Não
procede o argumento eu
tenho porque mereço (se
você não tem, é porque não merece).
A coisa não é tão simples ou tão elementar
assim. Muitos não merecem e têm, e muitos merecem e
não têm. O porquê de isto ser assim está
além deste breve comentário. Em outra oportunidade
tratarei deste tema. O fato é que o ter ou não ter
(semelhantemente ao to
be or not to be, da peça The Tragedy of Hamlet,
Prince of Denmark, A Tragédia de Hamlet, Príncipe
da Dinamarca, de William Shakespeare) está, em grande
medida, atrelado às oportunidades, que, nem sempre, têm
a ver com o karma
pessoal. Se oportunidade e karma
estivessem absoluta e indelevelmente vinculados, o que predominaria
seria a predeterminação, a aí, se esforçar
para quê, se a coisa já está preteritamente
decidida? Por quê? Os instantes azados, as condições
oportunas e os momentos propícios são circunstanciais,
e, às vezes, não nos damos conta de que estão
presentes, bem ao nosso lado. Mas, isto também é outra
coisa. Enfim, para não encompridar este pensamento, importa
superlativamente, isto sim, o que devemos fazer e como devemos sempre
proceder. É simples: a cada instante, sem exceção
e sem escolha, temos que ajudar o irmão precisado que está
ao nosso lado. Podemos até não sentir ou sequer perceber,
mas, a dor do outro é nossa também, e, em certos contextos,
é mais nossa do que do outro. Precisamos definitivamente
acabar com essa estória de que tudo é karma,
e que cada um que
carregue o seu balaio de dores. Somos todos um! O balaio de um é
o balaio
de todos. E ponto final.
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utro
dia fiquei pensando:
tanto papá na minha
geladeira,
e zilhões a embarcar
inanidos!
Outro
dia fiquei pensando:
tanta água filtrada
no meu filtro,
e zilhões a bafuntar
sitibundos!
Outro
dia fiquei pensando:
tanta assepsia na minha
casa,
Outro
dia fiquei pensando:
tantas roupas no meu armário,
e zilhões a esticar
o pernil enregelados!
Outro
dia fiquei pensando:
tantos remédios
na minha farmácia,
e zilhões a virar
presunto doentes!
Outro
dia fiquei pensando:
tantos livros na minha
biblioteca,
e zilhões sem um
livro para ler!
Outro
dia fiquei pensando:
pude estudar, me formar
e trabalhar,
e zilhões vivendo
como biscateiros!
Outro
dia fiquei pensando:
tanto dinheiro que recebo
de salário,
Outro
dia fiquei pensando:
tanta segurança
na minha casa,
e zilhões a assentar
o cabelo a reboque!
Outro
dia fiquei pensando:
tanto conforto que tenho
na vida,
e zilhões a vestir
o de madeira sem-xongas!
Outro
dia fiquei pensando:
nasci branco, bonitão
e bem-posto,
e zilhões de curibocas
relegados!
Outro
dia fiquei pensando:
nasci católico
e socialmente aceito,
Outro
dia fiquei pensando:
tanta saúde que
eu sempre tive,
e zilhões a empacotar
desvertebrados!
Outro
dia fiquei pensando:
tantos amigos para me
consolar,
e zilhões a saracotear
solitos!
Outro
dia fiquei pensando:
e zilhões a dar
com o rabo na cerca na penúria!
Oh!,
Irmãos, Oh!, Irmãos, Oh!, Irmãos,
que estão além
do meu entendimento!
Que todos possam ter:
uma sopinha para se alimentar,
água para matar
a sede,
roupa para não
sentir frio,
remédios para se
curar,
dinheiro para poder comprar,
uma casinha para morar,
lazer para se alegrar,
saúde para peregrinar,
amigos para compartilhar,
um futuro para ascensionar,
compreensão para
se libertar.
Hoje. Agora. Já.
Sempre.
Está Feito. Está
Selado.
O sem-picas faminto
e o com-tudo e + alguma coisa!