Eu
nasci no fundo da Idade Média. São João Del-Rei,
no 1º de maio de 1922, era uma comunidade de alta Idade Média.
O peso daquele 'décor' barroco, agravado pela massa física
das igrejas que aprisionam a Cidade numa proteção
apavorante, imprime na alma da gente uma marca indelével.
A
ação política é cruel; baseia-se em
uma competição animal. É preciso derrotar,
esmagar, matar, aniquilar o inimigo.
Política
é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados pedem
desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.
Intelectual
na política é quase sempre errado. É sempre
errado. A práxis não deixa espaço para pensar;
pensar é muito sutil, enrascado, complexo. Multiplica as
alternativas.
Aproximei-me
do espetáculo político pelo que há nele de
fascínio humano. A política talvez seja uma forma
de tentar driblar a morte.
Sou
um falante que ama o silêncio.
Sempre
tive a vaidade de me achar pouco vaidoso.
Gosto
de ser amigo. E nunca tenho vaga. Estou sempre superlotado. Sou
baratinho, fecho negócio barato, dou pé.
Tenho
medo de tudo o que atrai. O que me chama me espanta.
Sou,
de certa forma, um animal grafomaníaco.
Eu
respondo até bilhete. Considero-me um dos últimos
brasileiros que respondem cartas. Porque o Brasil, que começou
com Pero Vaz de Caminha, sob o signo da carta, parece ter cansado
muito cedo das atividades epistolares.
Mudar
para continuar.
De
fato morre-se. Morremos todos. O mais é mentira. O mais é
supérfluo. O mais é nada.
As
virtudes teologais são três [fé,
esperança e caridade].
Já os pecados capitais são sete [avareza,
gula, inveja, ira, luxúria, orgulho e preguiça].
Até aritmeticamente o mal ganha do bem.
Devo
ter sido o único mineiro que deixou de ser diretor de banco.
Sou
um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.
Texto
de jornal é estação de trem depois que o trem
passou. Deixou de ter interesse.
Ao
aceitar concorrer a uma vaga na ABL: É
a morte que nos leva a desejar a imortalidade impossível.
A
morte é noturna. À noite, todos os doentes agonizam.
Leio
muito à noite. Só não sou inteiramente uma
besta porque sofro de insônia.
Sou
autor de muitos originais e de nenhuma originalidade.
O
humor é a grande expressão, o melhor canal para dar
notícia da vida, da nossa tragédia interior e exterior.
A
morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente
insubornável.
Ultimamente,
passaram-se muitos anos.
Como
pai, me considero, modéstia à parte, uma mãe
exemplar.
Da
discussão nascem os perdigotos.
Ao
fazer 60 anos: Hoje eu
reúno duas condições que em princípio
se excluem: sou careca e grisalho.
Devemos
a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém
poder nos chatear pelo telefone.
Eu
escrevo todo dia, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos,
uma das perguntas que mais me intrigam é o que eu vou ser
quando crescer.
Uma
criança vê o que um adulto não vê. Tem
olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta
é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto
ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio
filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso existe
às pampas.
Entrei
no jornalismo como cachorro entra na igreja: porque achei a porta
aberta.
Nossos
olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. De tanto ver, a gente banaliza
o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira
vez o que você vê todo o dia, sem ver. Parece fácil,
mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar,
já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa
retina é como um vazio. O hábito suja os olhos e lhes
baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas,
bichos... E vemos? Não, não vemos. Nossos olhos se
gastam no dia-dia, opacos. É por aí que se instala
no coração o monstro da indiferença.
Abraço
e punhalada a gente só dá em quem está perto.
No
Brasil, as leis são como vacinas: umas pegam; outras não.
Não
sou homem de ter uma opinião no bolso e outra na lapela.
O
cinema é uma maneira fácil de ser intelectual sem
ler e sem pensar.
O
perdão é o combustível do convívio.
Positivamente,
não posso ser apresentado a Satanás: como André
Gide, sofro a tentação de entender as razões
do adversário.
Para
mim, domingo sem missa não é domingo.
Não
quero tripudiar sobre ninguém. Junto a isto um insanável
sentimento de simpatia, que me domina, por todos os decaídos.
Quem
me garante que Jesus Cristo não estaria hoje na estatística
da mortalidade infantil? Escrevemos, escrevemos, escrevemos. Clamamos
no deserto. O clube do poder tem as portas lacradas e calafetadas.
Deus
é humorista.
Todo
mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado
ao meu destino.
Sei,
como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer
assunto.
A
Psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva
de ensinar as pessoas a odiar o pai, a mãe e os amigos.
Sou
jornalista, especialista em idéias gerais. Sei alguns minutos
de muitos assuntos. E não sei nada.