Casei
por formalidade. Mais católica do que minha esposa é impossível,
então, não me incomodei em casar.
No
dia em
que o mundo for mais justo, a vida será mais simples.
As
idéias marxistas continuam perfeitas; os homens é que deveriam
ser mais fraternos.
A
vida é mais importante do que a Arquitetura.
A
Arquitetura não muda nada. Está sempre do lado dos mais ricos.
O importante é acreditar que a vida pode ser melhor.
Defendo uma Arquitetura
diferente. Acho que a Arquitetura
não basta servir bem ao homem. Ela tem que ser bonita e, para ser
bonita, tem que ser diferente, tem que criar surpresa.
O trabalho alivia a dureza da vida.
É preciso ler muito, senão
o sujeito fica fora da jogada, não sabe o que está se passando.
Para os jovens, eu digo: leiam muito. Leiam sempre. Ler para conhecer, para
descobrir, para se encantar.
Somos um pigmeuzinho em cima da Terra.
Somos insignificantes diante da grandeza do mundo.
O arrogante é um tolo.
Se eu vejo uma pessoa nova, que me
apresentam, não vou ficar imaginando os defeitos que ela possa ter.
Eu quero ser útil.
A
vida é difícil. É complicada, mas vale a pena.
A
vida tem que ser bem vivida, de coração aberto, o sujeito
sentindo que pode ser útil, que não é um sacana qualquer.
Esse mundo é complicado. As escolhas são tudo na vida.
Sou ateu.
A
melhor forma de envelhecer é esquecer a velhice e fazer o que é
possível.
Fazer
o que se gosta é fundamental. O sujeito viver contrariado é
um horror.
Se não se brigar, não
se faz nada.
O
Fidel, um dia, mandou para mim uma roupa, mas era o dobro do meu tamanho.
Com dois metros. Era dele. Roupa de andar no campo.
Quando
desce o pessimismo e a coisa escurece fica pesado.
Eu detesto avião. Um dia,
estava almoçando com JK e ele disse: — Olha, vamos sobrevoar
de helicóptero. Se você não vier, mando lhe prender.
Eu fui no helicóptero com ele. Mas era horrível... Avião
é uma incerteza. Eu já andei muito de avião. Fui à
Europa, com a Vera. Não me queixo. Vera viu. Fico quietinho. Não
faço cena, mas detesto. A mecânica pode falhar!
Os
governantes compreensivos, que me convocam como arquiteto, sabem da minha
posição ideológica. Como arquiteto e como homem comprometido
politicamente, é no Brasil que devo viver e, na medida das minhas
possibilidades, lutar contra a ditadura. O objetivo do Memorial JK foi contestar
a ditadura existente, obrigando os mais reacionários a ver JK todo
dia, sorrindo, vitorioso.
Adoro
o Rio. Não saio daqui por nada. Eu gosto mesmo é da praia,
dos amigos, de olhar para o mar, de sentir que a Natureza é fantástica.
Usar
Arquitetura e altura sem o sentimento de compreensão dos espaços,
como Nova York, por exemplo, é uma merda.
O
mar é uma inspiração constante.
A Arquitetura continua voltada para
os que têm direito à Arquitetura,
às classes mais favorecidas. O pobre está na favela olhando
os palácios.
Não
me sinto importante. Arquitetura é meu jeito de expressar meus ideais:
ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas
com otimismo. Eu não quero nada além da felicidade geral.
O
homem tem de ser modesto; tem de olhar para o céu.
Meu
médico me proibiu tomar vinho todos os dias. Sorte que ele não
falou nada sobre Smirnoff Ice.
Quando
projetei a casa de Oswald de Andrade e a fachada, em um jogo inovador de
curvas e retas, as diferenças de pé-direito a justificaram.
Camus
diz em 'O Estrangeiro' que a razão é inimiga da imaginação.
Às vezes, você tem de botar a razão de lado e fazer
uma coisa bonita.
Esse
humor do Zorra Total já era antigo quando eu era criança.
Fui
convidado para ver o pessoal do Comédia em Pé. Só não
vou porque a minha artrite não me deixa ficar em pé muito
tempo.
A direita quer manter este clima
de poder, de injustiça social e de subserviência ao império
norte-americano.
O Bush, no fundo, é um idiota
que tem as armas na mão, e delas se serve para levar o terror às
áreas mais desprotegidas. Representa o Capitalismo, que, decadente,
tudo faz para subsistir.
Existem
apenas dois segredos para manter a lucidez na minha idade. O primeiro é
manter a memória em dia. O segundo eu não me lembro.
Linda,
eu não vou a museus. Eu crio museus. Quer ir ver uns museus?
Se
eu fosse jovem, em vez de fazer Arquitetura, gostaria de estar na rua protestando
contra este mundo de merda em que vivemos. Mas, se isso não é
possível, limito-me a reclamar o mundo mais justo que desejamos,
com os homens iguais, de mãos dadas, vivendo dignamente esta vida
curta e sem perspectivas que o destino lhes impõe.
Sou
pessimista. Não como Schopenhauer. Eu me identifico com a linha do
Nietzsche, do Sartre. A vida não tem perspectiva. O importante é
a gente estar dentro da realidade, saber que tudo é um minuto e não
vale a pena estar brigando. Sempre digo que todos têm um
lado bom. Isso ajuda a viver. A minha preocupação
é ajudar as pessoas, ser útil, reconhecer que a vida é
um espaço curto e que estamos no mesmo barco.
(Grifo
meu).
Ivete
Sangalo me encomendou o primeiro trio elétrico de concreto armado
do mundo. O pessoal, aqui no escritório, já apelidou de 'Sangalão'.
A proposta inicial dela era fazer o 'Sangalão'
de madeira, para ficar mais leve. Aí eu disse para a Ivete: —
Quer de madeira? Chama um marceneiro.
Projetar
Brasília para os políticos que vocês colocaram lá
foi como criar um lindo vaso de flores pra vocês usarem como penico.
Eu
ganhava em Brasília salário de funcionário. Então,
eu fechei meu escritório, e Brasília só me deu prejuízo.
Uma noite, durante os trabalhos, Juscelino me ligou e disse: — Niemeyer,
você está ganhando muito pouco. Eu quero que você faça
os projetos do Banco do Brasil e do Banco de Desenvolvimento Econômico
pela tabela do Instituto de Arquitetos. Eu disse: — Não, não
faço. Sou funcionário, não faço trabalho que
não seja os que tenho que fazer aí mesmo. E esse foi o clima
sob o qual Brasília foi feita: de muito entusiasmo e de muito desinteresse
por dinheiro.
No concreto, a curva surge naturalmente.
Se você tem que vencer um espaço grande, a curva é a
solução natural que o concreto armado pede. E o mundo é
cheio de curvas.
Nem
meus amigos, que me ajudaram muito, como o JK, entendiam. As pessoas viam
os projetos e diziam: 'Que bonito!' Mas não estavam entendendo nada.
Eu
não dou a menor importância a dinheiro. Nem à própria
vida. A vida é um sopro, um minuto. A gente, nasce, morre. O ser
humano é um ser completamente abandonado.
Caro
Sarney: ser imortal na Academia Brasileira de Letras é mole. Quero
ver é tentar ser aqui fora.
Nunca
penso na morte. Nunca. Vou deixar para pensar nisso quando tiver mais idade.
Às
vezes, é preciso a noite para surgir o dia. O inesperado comanda
a história, o mundo. Para pior ou para melhor. Lembro que estava
em um restaurante conversando com amigos na véspera de as torres
de Nova York (WTC) serem derrubadas. Eu falava sobre o inesperado, e no
dia seguinte ele aconteceu, mudando tudo. Não houve o Hitler? Agora
não há o Bush? Um abutre. É péssimo. Tenho a
impressão de que a guerra é inevitável.
Perto
de mim, Justin Bieber ainda é um espermatozóide.
Brasília
nunca deveria ter sido projetada em forma de avião. De camburão
seria mais adequado. Na verdade, quem projetou Brasília foi o Lúcio
costa. Eu fiz uns prédios, e avisei que aquela merda não ia
dar certo. Sim, ela é aquele avião que não decola nunca.
Segundo a NASA, vista do espaço, Brasília é inconfundível.
É
duro admitir, mas, atualmente, Marcela Temer é o
monumento mais comentado de Brasília.
Todos
ficam falando que o Zé Alencar é isto, que o Zé Alencar
é aquilo. Mas quem fez pilates e caminhou na praia hoje: Eu!
Acho
muito bom a pessoa se recolher e ficar pensando em si mesma, conversando
com esse ser que tem dentro dela, que é nosso sósia, né?
Eu venho conversando com ele a vida inteira.
O
frevo foi criado há 104 anos. Ou seja: só tive um ano de sossego
desse pessoal pulando de guarda-chuvinha.
Não acredito em momento de
glória: somos insignificantes demais para pensar nessas coisas.
Segredo
da longevidade: não viva cada dia como se fosse o último.
Viva como se fosse o primeiro.
Lembro-me
da noite em que Fidel esteve em meu escritório. Convidei amigos e,
à meia-noite, quando ele ia embora, o elevador enguiçou. Para
pegar o outro, ele teve de passar pelo apartamento de um vizinho, que até
hoje conta essa ocorrência com certo orgulho. Dá para imaginar
o susto do casal ao abrir a porta e dar de cara com o Fidel? O único
comunista que mora nesse prédio sou eu. Mas, quando Fidel saiu, o
edifício todo estava iluminado e o pessoal batendo palmas. Dizem
que é preciso a noite para surgir o dia, e foi isso que aconteceu
com Cuba.
Na
minha idade, a melhor coisa de acordar de madrugada para ir ao banheiro
é ter acordado.
Alguns
homens melhoram depois dos quarenta. Eu mesmo só comecei a me sentir
mais gato depois dos noventa.
Queria
muito encontrar um emprego vitalício. Só pra garantir o futuro,
sabe... Andei até comprando umas apostilas pra concurso do Banco
do Brasil. Não quero viver de Arquitetura o resto da vida.
Acho que escola de samba deveria
servir, às vezes, como veículo de protesto, para cantar os
anseios da gente pobre. Afinal, os sambistas que descem do morro divertem
a burguesia – que bate palmas, acha fantástico, mas no dia
seguinte tudo esquece.
Foi-se
o John Herbert, 81 anos. Essa molecada da área artística se
acaba rápido demais.
Só
me arrependo de uma coisa na vida: não ter cuidado melhor da minha
saúde pra poder viver mais.
A
quem interessar possa: eu não estive presente na fundação
de São Paulo, há 457 anos. Na verdade, eu não fui nem
convidado.
A
vida é um BBB, e eu quero ser o último a sair.
Tantos
anos passados... E minha mulher, que levanta sempre muito cedo, volta para
a cama do lado esperando dar 8:30 para me acordar. Muitas vezes finjo que
estou dormindo só para ela ter o prazer de me acordar dizendo: —
Oscarzinho, são oito e meia!
O
importante não é sair da escola como profissional competente,
mas estar consciente dos problemas da vida, desta miséria imensa
que precisa ser eliminada.
Conjunto
da Pampulha:
Era um protesto que eu levava como arquiteto, de cobrir a Igreja da
Pampulha de curvas, das curvas mais variadas, essa intenção
de contestar a Arquitetura retilínea que então predominava.
Com
a obra da Pampulha, o vocabulário plástico da minha Arquitetura,
num jogo inesperado de retas e curvas, começou a se definir.
De
Pampulha a Brasília eu segui o mesmo caminho, preocupado com a forma
nova, com a invenção Arquitetural. Fazer um projeto que não
representasse nada de novo, uma repetição do que já
existia, não me interessa. E nesse sentido, até Brasília
eu caminhei. Mas senti que tinha que explicar as coisas, às vezes
não era compreendido, que havia mesmo uma tendência a contestar
essa liberdade de formas que eu prometia.
Quem
for a Brasília, poderá gostar ou não dos palácios,
mas não poderá dizer que viu antes coisa parecida. E Arquitetura
é isso: invenção.
O
ruim de Brasília é que quando a gente chega lá percebe
que a cidade está inacabada.
Espero que Brasília seja uma
cidade de homens felizes: homens que sintam a vida em toda sua plenitude,
em toda sua fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas simples
e puras – um gesto, uma palavra de afeto e solidariedade.
Os
caminhões de operários vinham de toda parte do Brasil querendo
colaborar, pensando que iam encontrar a terra da promissão, e estão
lá nas cidades satélites, tão pobres quanto antes.
Não basta fazer uma cidade moderna; é preciso mudar a sociedade.
Isso é que é importante.
Quando
uma forma cria beleza tem na beleza sua própria justificativa.
Preocupam-me
as desigualdades sociais.
A vida é importante; a Arquitetura
não é. Até é bom saber das coisas da cultura,
da pintura, da arte. Mas não é essencial. Essencial é
o bom comportamento do homem diante da vida.
O
que nós queremos na Arquitetura com a mudança na sociedade
não é nada especial: as casas de luxo vão ser menores.
Os grandes empreendimentos urbanos... vão ser maiores ainda porque
todos deles vão participar.
Nunca
acreditei na vida eterna. Sempre vi a pessoa humana frágil e desprotegida
nesse caminho inevitável para a morte... Às vezes, muito jovem,
o espiritismo me atraía, logo dissolvido pelo materialismo dialético,
irrecusável. Se via uma pessoa morta, meu pensamento era radical.
Desaparecera, como disse Lacan, antes de morrer. Um corpo frio a se decompor,
e nada mais.
Mais
importante do que a Arquitetura é estar ligado ao mundo. É
ter solidariedade com os mais fracos, revoltar-se contra a injustiça,
indignar-se contra a miséria. O resto é o inesperado; é
ser levado pela vida.
Casa
das Canoas: Minha preocupação foi projetar essa
residência com inteira liberdade, adaptando-a aos desníveis
do terreno, sem o modificar, fazendo-a em curvas, de forma a permitir que
a vegetação nelas penetrasse, sem a separação
ostensiva da linha reta.
A
Humanidade precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja
por um instante.
A
gente precisa sentir que a vida é importante, que
é preciso haver fantasia para poder viver um pouco melhor.
O
mais importante não é a Arquitetura, mas a vida, os amigos
e este mundo injusto que devemos modificar.
Eu
diria que sou um ser humano como outro qualquer, que vim. Deixo a minha
pequena história que vai desaparecer como todas as outras.
Quando
Juscelino Kubitschek me procurou, na minha Casa das Canoas, pedindo que
eu ajudasse a ele na construção da nova capital, eu fiquei
entusiasmado, era uma obra que me interessava e ia ajudar a um amigo que
acompanhava há muito tempo. Eu já não tinha preocupação
em dar explicação a ninguém, já me sentia a
vontade para fazer o que bem entendia.
Lembro,
com prazer, que desenhei as colunas do Palácio da Alvorada, e com
prazer maior ainda as vi depois repetidas por toda parte. Era a surpresa
Arquitetural contrastando com a monotonia existente.
Enfim,
pude conviver com verdadeiros patriotas. Brizola, preocupado com a formação
das crianças, levou adiante o projeto de Darcy de construir os CIEPs.
Do ponto de vista da Arquitetura, os CIEPs não tinham importância.
Do ponto de vista social, tinham. Hoje estão por aí, abandonados.
Todo
brasileiro tem que gostar de samba, assim como de futebol... Tive a época
dos meus porres e da farra. Agora carnaval é só para assistir.
Catedral
de Brasília: Na Catedral, por exemplo, evitei as soluções
usuais das velhas catedrais escuras, lembrando pecado.
E, ao contrário, fiz escura a galeria de acesso à nave, e
esta, toda iluminada, colorida, voltada com seus belos vitrais transparentes
para os espaços infinitos. (Grifo meu).
Gosto
da idéia de uma catedral suspensa. Tenho de me preocupar em criar
uma atmosfera serena para o crente falar com Deus.
Praça
dos Três Poderes: Eu
não me preocupava com a opinião de ninguém eu não
via livro de Arquitetura.
Não
posso me queixar. Até que tenho tido trabalho.
Trabalhei
muito, fiz meu trabalho na prancheta, como um homem comum.
Patriota
é quem defende o patrimônio nacional. É lutar pela Amazônia.
Os americanos estão voando sobre nossas riquezas porque a Amazônia
faz parte do plano deles. Até os militares no Brasil estão
contra isso.
Lógico
que ainda acredito no Comunismo. Não sou cretino. É uma idéia
que está no coração de todo mundo.
Não
é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível,
criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva
que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus
rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o Universo – o Universo curvo de Einstein.
Na
rua, protestando, é que a gente transforma o País.
Ser
comunista, hoje, é ser um indivíduo simples, justo e solidário.
O mundo que está aí me preocupa. Quando as torres gêmeas
desabaram em Nova York, no 11 de setembro, eu tomava café em um bar
do Rio. Vendo as imagens na TV, pensei em como somos pequenos no Universo.
O homem precisa tomar consciência disso e parar de produzir injustiça.
Ser
comunista é ser realista. A própria história da vida
nasce e morre, são os minutos que ela dá. Mas é uma
razão para a gente andar de mãos dadas, trabalhar.
Enquanto
existir miséria e opressão, ser comunista é a solução.
Quando
alguém vai à Brasília, eu pergunto se viu o Congresso
Nacional, e pergunto, depois, se gostou; se achou que o projeto era bom.
Certo de que poderia ter gostado ou não, mas que nunca poderia dizer
que tinha visto antes coisa parecida.
Nunca
me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os mais
compreensíveis que me convocam como arquiteto sabem da minha posição
ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu penso a mesma coisa
deles. Não permito que ideologia nenhuma interfira em minhas amizades.
Costumo dizer aos estudantes de Arquitetura
que não basta sair da escola para ser bom profissional. O sujeito
tem de se abrir para o mundo e não ficar atrás da visão
estreita dos especialistas.
Sempre
tive a idéia de que o dinheiro não vale nada. Já disse
que teria vergonha de ser um homem rico. Considero o dinheiro uma coisa
sórdida.
Há o pessimismo que bate quando
estou sozinho e penso no mundo. Mas se é para ir a uma festa em que
há mulheres bonitas, o pessimismo desaparece. A vida está
correndo. Tenho momentos de tristeza, de prazer, de saudade... Faz parte.
Palácio
do Planalto: Eu queria, neste caso, fazer uma coisa nova, mais
variada, com formas mais livres, criando ponto de vista diferente.
Fiz
o que quis. Juscelino Kubitschek nunca me disse para projetar cúpulas
no Congresso, rampa no Planalto, parlatório… Até que
ficou direitinho. Se não houvesse parlatório, os presidentes
ficariam acenando para o povo de uma janela, como se fossem papas. Seria
ridículo.
Projetar
um conjunto de prédios é sempre estimulante, apesar de mais
complexo, porque as formas de um têm a ver com as de outro, formando
a unidade Arquitetural. O projeto de Niterói está bem resolvido.
É um conjunto que se abre para o mar, com uma vista fantástica
e uma praça sem igual no Brasil. É importante fazê-lo.
Não
existe Arquitetura bonita ou feia. Existe Arquitetura boa e Arquitetura
ruim.
Como
explicar que cruzar os braços é um problema e que a vida dura
só um minuto?
A miséria existe. E a burguesia
brasileira, que é das mais atrasadas, está sentindo isso na
pele pela primeira vez. A chance de mudança está aí,
nesta situação-limite. E há o inesperado, com o qual
devemos contar. Um dia, lá em Paris, Sartre me disse que gostava
de ter dinheiro no bolso para dar esmola. O sujeito chegava, Sartre dava
um dinheirinho e quase agradecia por isso. Mudei minha opinião sobre
a esmola. Como dizia o padre Teillard de Chardin, quando ser
for melhor que ter, estará tudo resolvido no mundo.
(Grifo
meu).
Sem
ela [a
intuição], não
se faz nada. O ensino de hoje está roubando a intuição
das crianças. Um garoto de 10 anos pode ser capaz de criar um painel
fantástico. No entanto, ele é levado a lidar com esquemas
prontos, a obedecer aos professores, a cair na rotina. No fundo, ninguém
entende de Arquitetura, porque ela é subjetiva, tem mistérios
e minúcias que não são dados a revelar.
Não
leio nada do que escrevem sobre mim, embora existam 30 ou 40 livros. Prefiro
ler um livro de Georges Simenon.
Quando
a vida se degrada e a esperança sai do coração dos
homens, só a revolução.
É tolice dizer que as coisas
são imutáveis. Tudo pode ser mudado. Só aquilo no qual
acredito e certas convicções permanecem as mesmas.
Sempre
me senti atraído, desde jovem, pelas esculturas gregas e egípcias,
a Vitória de Samotrácia; gosto das obras de Henri Moore e
Heepworth, da pureza de Brancusi, das belas mulheres de Despiau e de Maillol,
das figuras esguias de Giacometti.
Sempre que viajava de carro para
Brasília, minha distração era olhar para as nuvens
do céu. Quantas coisas inesperadas elas sugerem! Às vezes
são catedrais enormes e misteriosas – as catedrais de Exupéry
com certeza. Outras, guerreiros terríveis, carros romanos a cavalgarem
pelos ares. Outras, ainda, monstros desconhecidos a correrem pelos ventos
em louca disparada e, mais freqüentemente, lindas e vaporosas mulheres
recostadas nas nuvens, a sorrirem para mim dos espaços infinitos.
Compreendo
a crítica de arte, muitas vezes justa e honesta, mas sou de opinião
que o arquiteto deve conduzir seu trabalho de acordo com as próprias
tendências e possibilidades, aceitando-a sem revolta ou submissão,
sabendo-a não raro justa e construtiva, mas sempre sujeita a uma
comprovação que somente o tempo pode estabelecer.
Não
acredito em uma Arquitetura ideal, insubstituível; somente em boa
e má Arquitetura. Gosto de Le Corbusier como gosto de Mies, de Picasso
como de Matisse, de Machado como de Eça.
Se
a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é
o que faz o concreto buscar o infinito.
A gente tem que sonhar, senão
as coisas não acontecem.
A
luta por uma sociedade mais justa não pode se perder no tempo.
Cem
anos é uma bobagem. Depois dos 70 a gente começa a se despedir
dos amigos. O que vale é a vida inteira, cada minuto também,
e acho que passei bem por ela.
Desejo
ver um mundo melhor, mais fraternal, em que as pessoas não queiram
descobrir os defeitos das outras, mas, sim, que tenham prazer de ajudar
o outro.
Estamos
otimistas, o mundo está mudando, o império velho de Bush está
desmoralizado. Acho que o mundo está melhorando. O Capitalismo está
desmoralizado, e essa reação é natural.
Quando
olho para trás vejo que não fiz concessões e que segui
o bom caminho. Isso é que dá uma certa tranqüilidade.
Pergunta
de Geneton Moraes Neto: Aos
100 anos de idade, como é que Oscar Niemeyer definiria a vida, em
uma só palavra?
Resposta de Oscar Niemeyer:
Solidariedade.
Como
o tempo tenta nos enfraquecer!
De
um traço nasce a Arquitetura. E quando ele é bonito e cria
surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior
de uma obra de arte.
A
vida nos leva pra onde ela quer. Cada um vem, escreve sua historinha e vai
embora. Não vejo segredo em levar a vida.
Centenário
é o cacete!
Tive
uma conversa comigo mesmo, com esse ser misterioso que tem dentro de nós.
Então, eu dizia para mim mesmo: 'Oscar, não vai nessa conversa
de cem anos, isso é ridículo, não tem interesse nenhum,
não cai nessa...'
Na
realidade, pouca coisa é importante. A vida é um sopro, a
gente vem, conta uma história e todo mundo esquece depois.
O
segredo de uma vida longa é fazer somente aquilo
de que se gosta, e não o que os outros gostariam que fizesse.
Alcançar
essa idade é uma merda, mas é bom.
O
trabalho me distrai. Na minha idade, a gente não pode ficar desocupado,
que só pensa besteira.
Não entendo quem tem medo
dos vãos livres. O espaço faz parte da Arquitetura.
Estou
surpreso. Sou apenas um arquiteto.
O
Governo Lula, pela primeira vez, deixou o povo brasileiro sorrir um pouco.
Lula
é um ex-operário, cheio de ânimo, mas nunca foi comunista.
Seu projeto é melhorar o Capitalismo, o que é um objetivo
impossível, a meu ver.
O
Lula prometeu muita coisa e, para acabar seu Governo como um homem digno,
de pé, precisa cumprir as promessas.
O
MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]
é o movimento mais importante que existe em nosso País.
Um
partido de esquerda se enfraquece esquecendo as suas origens… É
difícil mudar este mundo coberto de miséria e discriminação.
Lênin
já dizia que sem sonhar as coisas não acontecem.
Devem
ser levados à juventude os problemas da vida e do ser humano, cuja
compreensão deve fazer parte de sua formação. Cada
um sai da escola apenas interessado nos problemas de sua profissão.
A
direita só quer manter este clima de poder, de injustiça social
e de subserviência ao império norte-americano.
A
vida é mais importante do que a Arquitetura. A Arquitetura não
muda nada, mas a vida pode mudar a Arquitetura.
Acho
indispensável preservar essa curiosidade que os problemas da vida
do homem reclamam. Há cinco anos, montamos em nosso escritório
aulas de Cosmologia e de Filosofia. Ninguém quer se transformar em
um intelectual. Detestamos, isto sim, a figura do especialista, preocupado
apenas com os assuntos de sua profissão, sem condições
de enfrentar este mundo injusto que o espera. Sempre que dou uma entrevista,
procuro levar os assuntos para a abordagem dos problemas da vida, para mim
mais importantes do que a Arquitetura. E não raro os espanto, dizendo
que, quando vejo na rua os jovens protestando, reconheço ser o trabalho
deles mais importante do que o meu. O fundamental – vale repetir –
é lutar contra as injustiças sociais, a miséria, a
violência, este clima de ameaças que o império de Bush
espalha por todo o mundo.
O
Bush, no fundo, é um idiota que tem as armas na mão, e delas
se serve para levar o terror às áreas mais desprotegidas.
Representa o Capitalismo, que, decadente, tudo faz para subsistir.
Paulo
Henrique Amorim:
— O senhor não gosta do Bush?
Oscar: —
Eu acho que ele é um merda, sabe.
Se o sujeito pensar que é
importante, e eu acho isso tão ridículo, ele está fora
do mundo.
A leitura é indispensável.
A leitura é necessária; qualquer leitura é necessária.
As
coisas ruins eu procuro esquecer.
Em
cada caso, eu sempre busco uma solução nova.
Quando
o sujeito copia uma coisa minha eu acho que ele é gentil; ele gostou
daquilo.
Uma
prática que eu faço e realmente é útil, é
sempre procurar viver tranqüilo, aceitar as coisas, aceitar a burrice
– até a burrice ativa que incomoda.
Hugo
Chávez é um sujeito patriota; ele quer melhorar o País.
A
revolução não deve parar. A revolução
tem que continuar brigando, senão ela acaba. De modo que a Revolução
Cubana ainda existe.
A
gente tem que procurar o equilíbrio. Isso é que faz bem, inclusive
para a saúde.
Moléculas
de Água em Equilíbrio
Se
eu fosse jovem, em vez de fazer Arquitetura, gostaria de estar na rua protestando
contra este mundo de merda em que vivemos. Mas, se isto não é
possível, limito-me a reclamar o mundo mais justo que desejamos,
com os homens iguais, de mãos dadas, vivendo dignamente esta vida
curta e sem perspectivas que o destino nos impõe.
Agora
estou fumando mais. É, porque eu fico meio sozinho, aí sou
obrigado a fumar.
Esse
negócio de centenário eu acho ridículo. O importante
é a vida, o passado e principalmente o presente. A Arquitetura é
secundário.
Quando
eu faço o projeto, a gente pensa que a decoração é
uma coisa qualquer, que não tem grande importância para a Arquitetura,
mas ela é suficiente para destruir a Arquitetura. Os que fazem decoração
não compreenderam até hoje que o importante na decoração
são os espaços vazios, os espaços entre um grupo e
outro. Então, enchem de móveis, e fica uma merda.
Não
há nada mais importante do que a mulher, o resto é bobagem.
É ou não é?
Um
dia, os meus amigos do Pasquim perguntaram: — Oscar, e a vida? E eu
lhes respondi: — A vida... é uma mulher do lado, e seja o que
Deus quiser.
... a necessidade de o ser humano
se fazer mais simples, mais modesto diante deste Universo fantástico,
que nos encanta e nos humilha.
Solidariedade
justifica o curto passeio da vida.
O
arquiteto é um cidadão como outro qualquer; mantendo-se sempre
livre para atender os mais diversos programas a ele apresentados, deve permanecer
atento à necessidade de mudarmos a sociedade, fazer emergir um mundo
mais justo e solidário.
Alguém que queira estudar
Arquitetura não deve deixar que o estudo das disciplinas de natureza
mais técnica termine por embotar ou afetar negativamente sua intuição
criadora. E nunca subestime a importância da leitura: é preciso
ler sempre, sobretudo acerca dos assuntos situados fora da profissão.
O pretendente a realizar o bacharelado em Arquitetura deve buscar uma formação
mais ampla e crítica – seja como profissional, seja como cidadão.
Cada arquiteto deve ter a sua Arquitetura, e cultivar, de maneira autônoma,
a sua intuição criadora, e fugir da repetição…
Gosto
de ler, e quando um escritor me agrada procuro conhecê-lo melhor.
Como me agradou ler as cartas de Flaubert e de Lima Barreto, de Eça
de Queiroz, de Mário de Andrade e de James Joyce, e, mais longe,
as de Voltaire. Até as narrativas policiais eu gosto de ler. Lembro
que, durante certo tempo, eram os livros de Simenon [Georges
Joseph Chistian Simenon (Liège, 13 de fevereiro de 1903 – Lausanne,
4 de setembro de 1989)] que me atraíam. E o pessoal do
escritório me criticava, alegando ser uma literatura sem maior conteúdo.
Um dia, eu os fulminei, contando que, em suas Cartas ao Castor, Sartre disse:
— Hoje li três livros de Simenon.
A
vida é um sopro. Por isso, não há motivo para tanto
ódio.
Quero
ser lembrado como um ser humano que passou pela Terra como todos os outros
– que nasceu, viveu, amou, brincou, morreu, pronto, acabou!
Oscar:
Você Será Lembrado
Oscar:
você será lembrado
como
irmão do desventurado,
como
um ser-aí-no-mundo
reto
que
não topava o ângulo reto.
Oscar:
você
será lembrado
pelo
pobre, pelo abandonado
e
por quem gosta ou desgosta
desse
Capitalismo de bosta.
Oscar:
você será lembrado
pelo
incréu e pelo abnegado,
pois,
mesmo sem ter religião,
era
dinossáurico seu Coração.
Oscar:
você será lembrado
pelo
seu humor desmesurado,
por
suas alusões sacanocráticas
e
por suas frases emblemáticas.
Oscar:
você será lembrado
pelo
seu desenho multivariado,
pelas
suas curvas deleitáveis
e
por suas convicções notáveis.
Sim,
Oscar, você será lembrado.
Como
você poderia ser olvidado?
Bush
– who knows?
– forgetará!
Ligue
não. O tempo o dobrará.
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.lsbu.ac.uk/water/equil.html
http://titaferreira.multiply.com/market/
item/709/Entrevista_Oscar_Niemeyer
http://www.lsbu.ac.uk/water/oct.html
http://www.correiobraziliense.com.br/
http://nezimarborges.blogspot.com.br/2012/12
/entrevista-de-oscar-niemeyer-ao-brasil.html
http://www.archdaily.com.br/76379/
nossa-entrevista-a-oscar-niemeyer/
http://www.correiobraziliense.com
http://ultimosegundo.ig.com.br/
http://playingwithmathematica.com/
2011/06/24/friday-fun-7/
http://vejario.abril.com.br/especial/
entrevista-oscar-niemeyer-725498.shtml
http://sorocaba.com.br/
diariodeobra/index.shtml?ler=1035372742
http://pt.wikiquote.org/wiki/Oscar_Niemeyer
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/
Fantastico/0,,AA1664525-4005,00-
EXCLUSIVO+OSCAR+NIEMEYER.html
http://www.inverta.info/jornal/
tv-inverta/ceppes-entrevista-oscar-niemeyer
http://www.estadao.com.br/
arteelazer/not_art96240,0.htm
http://revistaepoca.globo.com/
Revista/Epoca/0,,EDG55907-6014,00.html
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Oscar_Niemeyer
http://www.niemeyer.org.br/
Música
de fundo:
Canção
da América
Composição: Milton
Nascimento & Fernando Brant
Interpretação: Milton
Nascimento
Fonte:
http://www.4shared.com/get/aEwX0L
YB/119_Cancao_da_America.html
Direitos
autorais:
As animações,
as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright
são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a
quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las,
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