Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

É nisto que dará a Contra-reforma Bostográfica!

 

 


     eja qual for a idéia, sem acento

é mesmo uma ideia de merda.

Qualquer platéia sem acento

é uma plateia mais pra lerda.

 

 

     á quem na coreia não põe acento

deve desistir de rezar pra São Vito!

E não há ato heroico sem acento;

isto é heroísmo meio que adstrito!

 

 

      em o tal duplo pontinho,

o eloquente vira infacundo.

E sem o diacrítico sinalzinho,

frequente não dura um segundo.

 

 

      utoaprendizagem sem hífen?

Ora, isto é uma desaprendizagem.

Cáspite! Autoestrada sem hífen

só pode provocar derrapagem!

 

 

       olo, sem o acentinho diferencial?1

Antártico? Ártico? Magnético? É de ímã?

Pera – sem o chapeuzinho diferencial –

pode dar piriri, se for papada de manhã.

 

 

          njoo sem acento arqueado

não enjoa nem o bambalalão.

Perdoo sem acento encurvado?

Nem no raio que o parta é perdão.

 

 

   gato que tinha pêlos de cor cinza,

agora, tem pelos cor de burro quando foge.2

O cura cinquentenário, cesarístico e ranzinza

diz que, em outra encarnação, foi um doge!3

 

 

     stabelecer novas regras de grafia?

Nem rapidinho nem com pachorra.

Para o Ferreira Gullar4, isto é mania;

para mim, esta rebosta é uma borra.5

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. A partir de 2010, deverá entrar em vigor a Reforma Ortográfica que, utopisticamente, pretende tornar a língua portuguesa um idioma único em todos os países que a falam. Utopisticamente! O acento diferencial, por exemplo, é utilizado para permitir a identificação das palavras que têm a mesma pronúncia (homófonas). Com a utópica Reforma Ortográfica, o acento diferencial foi decapitado, igualzinho a Luis XVI e Maria Antonieta, que foram guilhotinados em 1793 – o Rei, em janeiro; a Rainha, em outubro. Entretanto, duas palavras escaparam da fúria reformista dos ortógrafos sanguinários, pois fogem à nova regra: pôr e pôde continuam com o acento diferencial. No caso do pôr, é para evitar a confusão com a preposição por. Já o pôde (pretérito perfeito do verbo poder), continua com acentuação, para não ser confundido com pode (o mesmo verbo conjugado no presente). Nas palavras fôrma/forma o uso do acento é facultativo. Isto vai ser uma loucura; não para mim, mas para as crianças que estão sendo alfabetizadas. As pobrezinhas vão ficar birutinhas. Os lingüistas que prepararam o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que deverá estar implantado no Brasil até 2011 – Antônio Houaiss, pelo Brasil, e João Malaca Casteleiro, de Portugal – que me perdoem, mas estou torcendo para que ele não superbondeie.

2. Na verdade, não existe a expressão cor de burro quando foge. O correto é: corro de burro quando foge.

3. Doge (do latim, dux = chefe) era um magistrado eleito das antigas repúblicas de Veneza (697 a 1797) e de Gênova (1339 a 1797 e 1802 a 1805) que exercia um poder quase absoluto.

4. Sinceramente, não sei por que, nós, que falamos português, temos essa mania de fazer reformas ortográficas. O português é falado com algumas diferenças nos diferentes países que o falam. A busca de uma uniformidade ortográfica é perda de tempo. (Ferreira Gullar).

Fonte:

http://tc.batepapo.uol.com.br/convidados/
arquivo/livros/ult1750u430.jhtm

 

A unidade nunca vai existir porque em Portugal falam um português muito diferente do que falamos no Brasil. Lá, em Portugal, criança é puto... e bunda é cu. A Reforma Ortográfica é autoritária e tem mais exceções do que regras. (Ferreira Gullar).

Fontes:

http://blogs.abril.com.br/tag/gullar

http://gostei.abril.com.br/frame/index/reforma-
ortografica-por-ferreira-gullar-blog-do-jj-publicidade

 

E assim, por exemplo, abaixo vai uma listinha de diferenças lexicais:

 

Em Portugal
No Brasil
Atacador
Cadarço
Autocarro
Ônibus
Chávena
Xícara
Écran
Tela
Esferovite
Isopor
Guarda-redes
Goleiro
Pequeno-almoço
Café da manhã
Rato (informática)
Mouse (informática)
SIDA
AIDS
Talho
Açougue
Bicha
Fila de pessoas
Cacete
Pão francês
Eléctrico
Bonde
Comboio
Trem
Bairro-de-lata
Favela
Biberão
Mamadeira
Atendedor de chamadas
Secretária eletrônica
Venda a retalho
Venda no varejo
Telemóvel
Telefone celular
Quinta
Fazenda
Gasolineiro
Frentista

 

Eu acho que o Brasil e Portugal, como os outros países de língua portuguesa, têm de parar com essa coisa de ficar mudando as regras ortográficas. Eu acho que é uma coisa que não ajuda em nada. É uma perda de tempo. Cria confusão, inclusive dá prejuízos. Já imaginou o que vai acontecer? Coleções de livros vão ter que ser jogadas fora e reimpressas, para obedecer a uma nova ortografia porque uma ou duas pessoas resolveram mudar a maneira de escrever a língua. Isso é uma arbitrariedade. Quem é que outorgou a essas pessoas o direito de fazer isso? A língua é patrimônio do país, da população; não é propriedade de ninguém. Não pode haver uma entidade que decide mudar a língua de todo o mundo. Isso é um absurdo. É uma coisa precária que só cria confusões, porque é impossível você encontrar uma forma de colocar todos os países de língua portuguesa em que não se crie ambigüidade nenhuma. É um sonho vão. A ortografia tem de ser uma representação da linguagem falada. Então é uma bobagem. Uma perda de tempo. (Ferreira Gullar).

Fonte:

http://www.ionline.pt/conteudo/73453-ferreira-
gullar-o-acordo-ortografico-e-uma-perda-tempo

5. Borra no sentido de substância sólida ou pastosa que, depois de haver estado em suspensão em um líquido, deposita-se no fundo do recipiente ou é separada do líquido por meio de filtração, isto é: um treco meio que mais ou menos – mais para menos do que para mais – que, geralmente, não serve para nada (como borra de vinho, borra de azeite, borra de café, borra de açúcar, borra maldita e outras borras de borra). Ora, se muitos (ou todos) que não concordam com essa Reforma fedorenta fizerem como eu – que me insurgi e não a utilizarei nem à porrada nem a beijinho em nenhuma de suas inovações fantasmagóricas e mistificantes – ela não colará nem com cianoacrilato, empregado, entre outras utilizações, na fabricação da Super Bonder, uma cola instantânea que cola até mentira no rabo do canhoto. Daqui a pouco, esses ortógrafos autoritários e nefelibáticos, se também forem químicos, poderão alucinadamente resolver e impor que teremos, por exemplo, que voltar a denominar o tiossulfato de sódio de hipossulfito de sódio e o ácido nítrico de ácido azótico. E quem sabe, nos obrigarão a voltar a nomenclaturar phosphoro, pharmacia e philosophia? Com perdão da má palavra, só dizendo: phoda-se!

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.portalnet.net/midbrasil/infantil.htm

http://toons.artie.com/alphabet/
ralph/arg-r-50-trans.html