O QUE PASSOU

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

O que passou virou passado

– já foi ou terá de ser compensado.

Importa, sim, o futuro-do-presente,

agora, no presente-do-presente.1

 

não ornará nosso auto-respeito.

Ninguém pode mudar o passado,

tenha sido suave ou anegratado.

 

Não é que devamos esquecer.

Mas, a cada novo amanhecer,

não precisamos nos recriminar.

 

Toda insciência é insciente;

toda perfídia é inconsciente.2

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Objetivamente, no tempo que é tempo, nada é mais efêmero do que o presente-do-presente. Quanto dura? Um segundo? Um milissegundo? Um microssegundo? Um nanossegundo? Ou nem sequer dura?

2. Essa coisa de pecado original (transmitido a todos os homens, sem culpa própria, devido à sua unidade de origem – que é Adão-Eva – o que torna todo ser humano culpado desde o nascimento), pecado venial (aquele que reduz a graça divina, sem eliminá-la), de pecado mortal (quando, ao mesmo tempo, há matéria grave, plena consciência e deliberado consentimento, fazendo com que seja perdida a graça divina) e de pecado capital (cada um dos sete vícios relacionados pela Igreja católica, quais sejam: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho e preguiça), sob o aspecto dogmático-religioso, é pedantesco e pura tolice. O pecado não existe no Universo; só existe no Direito Canônico (conjunto das normas que regulam a vida na comunidade eclesial, estando diretamente relacionado ao dia-a-dia dos católicos no orbe terrestre) e em documentos equivalentes de outras religiões. E por que essa coisa de pecado, sob o aspecto dogmático-religioso, é pedantesco e pura tolice? Preste bem atenção: porque só se peca por ignorância, mesmo quando a razão grita e adverte. Quem pode atirar a primeira pedra? Quem pode botar o dedo na ferida do outro? Uma coisa é absolutamente certa: aquele que realizou – in Corde e Iniciaticamente – a Coisa Santa não mais peca. E não mais peca porque apre[e]ndeu a Saber a SOPhIa. Entretanto, isto não quer dizer que não sejamos responsáveis por nossos pensamentos, palavras e atos. Do lado de baixo e do lado de cima do Equador, compensaremos tudo, quando for possível compensar; quando não for, seremos entropizados. Dura lex, sed lex; no cabelo, só gumex!

 

Música de fundo:

Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Composição: Chico Buarque & Ruy Guerra
Interpretação: Ney Matogrosso

Fonte:

http://www.4shared.com/get/gY_5kEFB/
Ney_Matogrosso_-_No_existe_pec.html