O PROFETA

 

 

 

Gibran Khalil Gibran

Gibran Khalil Gibran
(Auto-retrato pintado em 1911)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo teve por objetivo selecionar alguns fragmentos da obra O Profeta, a obra-mestra do ensaísta, filósofo, prosador, poeta, conferencista e pintor de origem libanesa Gibran Khalil Gibran (Bsharri, 6 de dezembro de 1883 – Nova Iorque, 10 de abril de 1931). Tradução de Mansour Challita.

 

 

 

Caravela

Caravela

 

 

 

Fragmentos Gibranianos

 

 

 

Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da saudade da Vida por si mesma. Eles vêm através de vós mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem. Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos. Podereis abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

 

Por que ficar congelado, cristalizado e se deixar ser constrangido por um molde?

 

 

 

 

Será o dia da partido o dia do [Grande] Encontro? Será o crepúsculo, realmente, o Amanhecer?

 

Só o Amor nos fará conhecer os Segredos do nosso Coração, e, por este conhecimento, nos tornará um fragmento do Coração da Vida. Quando amais, não deveis dizer Deus está no meu coração, mas, sim, eu estou no Coração de Deus.

 

Dais muito pouco, quando dais só o que tendes. Apenas quando dais algo de vós é que realmente dais. O que são as nossas posses, senão coisas que valorizamos por medo de precisar delas amanhã? O que é o medo da necessidade, senão a necessidade em si?

 

 

 

 

Para os que crêem na Vida e na magnificência da Vida, o seu cofre nunca está vazio.

 

Aqueles que dão com Alegria têm a Alegria como prêmio. Aqueles que dão com dolor, a dolor é o seu batismo.

 

É bom dar algo quando é solicitado, mas, é melhor dar sem demanda, por haver compreendido.

 

Dar é Viver; guardar é perecer.

 

Ser ocioso é se tornar estranho às estações e ficar afastado da procissão da vida que marcha majestosamente e com orgulhosa submissão em direção ao ilimitado.

 

E eu digo que a vida é escuridão exceto quando existe necessidade, e toda a necessidade é cega exceto quando existe sabedoria, e toda a sabedoria é vã exceto quando existe trabalho, e todo o trabalho é vazio exceto se houver amor.

 

O trabalho é o amor tornado visível.

 

Quando estiverdes tristes, olhai para dentro do vosso Coração, e vereis que, na verdade, estais a chorar por aquilo que foi a vossa alegria.

 

A alegria e a tristeza são inseparáveis. Só quando nos esvaziamos ficamos em equilíbrio e imóveis.

 

 

 

 

Em muitos, embora as suas mãos sejam de seda, o seu coração é de ferro.

 

O desejo do conforto mata a paixão da alma e, depois, acompanha, sorrindo, o seu funeral.

 

Aquilo que é ilimitado em nós habita a mansão do céu, cuja porta é a neblina matinal e cujas janelas são os cânticos e os silêncios da noite.

 

O sopro da vida está na luz do Sol e a mão da vida no vento.

 

A modéstia é um escudo contra o olho do impuro.

 

A menos que a troca das dádivas da Terra seja feita com amor e justiça, só trará ganância a alguns e sofrimento a outros.

 

 

Flores

 

 

O Espírito Superior da Terra não dormirá em paz ao vento enquanto não forem satisfeitas as necessidades de todos os seres-humanos-aí-no-mundo.

 

O nosso Eu[-Deus] Interior é como o oceano: permanece, para sempre, imaculado. Os santos e os justos não podem se erguer mais alto do que o mais alto que existe em cada um de nós, e os maus e os fracos não podem cair mais baixo do que o mais baixo que existe em nós. [Estamos todos unificados. Somos todos co-participantes.] Somos como uma simples folha, que só amarelece em conjunto com toda a árvore. Aquele que comete um crime não o pode fazer sem a anuência secreta de todos nós. Quando um de nós cai, cai por aqueles que vêm atrás, para os avisar da pedra que encontrarão no caminho. O justo não é inocente dos malfeitos do malvado, e o que tem as mãos limpas não está limpo dos atos do culpado. O justo não pode ser separado do injusto nem o bom do mau; todos nós andamos juntos ante a luz do Sol. O ereto e o caído são um único homem no crepúsculo entre a noite da sua pequenez e o Dia da sua Espiritualidade.

 

Nós nos deleitamos em fazer leis e mais leis, no entanto, mais nos deleitamos em as desrespeitar, como crianças brincando junto ao mar, a construir castelos de areia com persistência, para logo os destruir alegremente. Mas, enquanto construímos os nossos castelos de areia, o mar traz mais areia para a beira da praia, e, enquanto nós destruímos os castelos, o mar morre de rir. Na verdade o mar ri sempre com os inocentes!1

 

 

 

 

O que dizer do aleijado que detesta dançarinos? O que dizer do boi que gosta do jugo e condena o cisne e o gamo da floresta por serem seres errantes e vagabundos? O que dizer da velha serpente que não consegue se despir da sua pele e acusa os outros de estar nus e não ter pudor? O que dizer de aquele que aparece cedo na festa do casamento, e que, depois de bem alimentado e já cansado, vai embora dizendo que todas as comemorações são violação e os participantes são violadores das leis? O que dizer dos que estão expostos à luz, mas, de costas viradas para o Sol?

 

Poderemos abafar o tambor e alargar as cordas da lira, mas, quem poderá impedir a cotovia de cantar?

 

O que poderá haver de mais dantesco do que usar a liberdade como grilhetas?

 

 

 

 

Só poderemos ser Livres quando o desejo de encontrar a Liberdade se tornar a primeira meta e quando deixarmos de falar em liberdade como simples objetivo e mera plenitude. Só seremos Verdadeiramente Livres quando os nossos dias não tiverem mais uma preocupação (escolhida por nós) nem as nossas noites necessidades ou mágoas [construídas por nós].

 

Se decidirmos destronar um déspota, deveremos, antes, nos certificar de que o trono erigido dentro de nós também já foi destruído.

 

Todos os nossos medos residem em nosso Coração, e não na mão daqueles que receamos.

 

 

Bob Esponja

Bob Esponja Encagaçado

 

 

Como luzes e sombras, aos pares, agarradas, todas as coisas se movem dentro do nosso próprio ser, em constante meia união: o desejado e o receado, o repugnante e o atraente, o perseguido e aquele de quem queremos escapar. E, quando a sombra se desvanece e deixa de ser sombra, a luz que resta se transforma em sombra para uma nova luz.

 

Na maioria de nós, a nossa [personalidade-]alma é, muitas vezes, um campo de batalha, em que a nossa razão e o nosso julgamento, cosntantemente, estão em guerra contra as nossas cobiças, os nossos desejos e as nossas paixões.

 

A nossa razão, [a nossa fé], as nossas cobiças, os nossos desejos e as nossas paixões são o leme e as velas da nossa [personalidade-]alma peregrinante.

 

As nossas incontroladas cobiças, os nossos desgovernados desejos e as nossas desequilibradas paixões são uma chama que arde provocando a nossa destruição. Precisamos compreender que o nosso Deus Interior repousa na razão.

 

A nossa dor [na verdade, todas as nossas dores] é o abrir da concha que envolve a nossa compreensão. [Toda compreensão provoca uma espécie de dor, porque a compreensão determina algum tipo de mudança, de renúncia, de abstenção, de desprendimento, de altruísmo, de desambição, de desapego, de generosidade, de isenção, de modéstia etc., e a maioria de nós não quer mudar a esse ponto. Nós queremos gozar a vida. O resto que se dane.] O fato é que todas as nossas dores são escolhidas por nós. E cada dor é uma poção amarga com a qual o nosso Médico Interno cura o nosso interior doente. Por isto, precisamos aprender a confiar no Médico, e beber o Remédio em Silêncio e com Tranquilidade, pois, a Sua Mão, embora, muitas vezes, dura e pesada, é guiada pela Mão Terna do Invisível.

 

 

Concha

 

 

Não procureis as profundezas do vosso conhecimento com limites, pois, o ser, em si, não tem limites nem medidas. Não digais encontrei a verdade, mas, antes, encontrei uma verdade. Não digais encontrei o caminho para a [personalidade-]alma, mas, antes, encontrei a [personalidade-]alma a seguir o meu caminho.

 

Ninguém nos poderá revelar nada que já não esteja meio adormecido na aurora da nossa peregrinação.

 

O Verdadeiro Mestre não nos convida a entrar na casa da Sua Sabedoria, mas, antes, nos conduz ao limiar do nosso próprio Espírito.

 

A a Visão de um homem não pode emprestar as Suas Asas a outro homem.

 

Cada um de nós deve buscar sozinho o Conhecimento de seu Deus [Interior] e a compreensão da Terra. [Da sua encarnação].

 

Na verdadeira amizade, todos os pensamentos, todos os desejos e todas as esperanças nascem e são partilhadas sem palavras, com Alegria. Não deixeis que haja outro propósito na amizade que não seja o aprofundamento do Espírito.

 

É nas pequenas coisas que o Coração encontra a frescura da sua manhã.

 

Só no Silêncio da Solidão os nossos egos despidos nos serão revelados.

 

O ontem não é senão a memória do hoje, e o amanhã é o sonho de hoje.

 

O Tempo, tal como o Amor, é indivisível e imóvel.

 

O mal nada mais é do que o Bem torturado pela sua própria fome e martirizado pela sua própria sede.

 

 

Fome e Sede

Fome e Sede

 

 

Até aqueles que caminham com hesitação não andam para trás.

 

Aquele que é verdadeiramente bom não pergunta ao que deseja pouco: Por que razão és lento e ocioso? Aquele que é verdadeiramente bom não pergunta ao nu: Onde está a tua roupa? Aquele que é verdadeiramente bom não pergunta ao sem-teto: O que aconteceu à tua casa?

 

Nosso Deus Interior, que é o nosso Eu Alado, é a nossa vontade em nós [Fiat Voluntas Tua]. E o Vosso Desejo em nós é o que é desejado. É a Vossa Vontade para que tornemos as nossas noites, que são Vossas, em dias que são igualmente Vossos. O que Vos podemos pedir, se conheceis os nossos desejos antes mesmo de nós próprios termos nascido?

 

O prazer é uma canção de liberdade, mas, não é a Liberdade. É o desabrochar dos vossos desejos, mas, não é os seus Frutos. É um chamamento profundo para as alturas, mas, não é profundo nem alto. É o encarcerado a ganhar asas, mas, não é o espaço que o circunda.

 

A Beleza não é uma necessidade, mas, um êxtase. A Beleza é a própria Vida. A Beleza é a eternidade a se olhar no espelho, e cada um de nós é a eternidade e o espelho.

 

Aquele que usa a sua moral como a sua melhor indumentária faria melhor se andasse nu.

 

Os cânticos mais livres não são produzidos através de grades nem de grilhetas.

 

A nossa vida diária é o nosso templo e a nossa religião. Cada vez que entramos nela, devemos entrar por inteiro.

 

Sonhando, delirando, não poderemos nos erguer acima dos nossos feitos nem cair mais baixo do que as nossas falhas.

 

Para conhecermos o nosso Deus não deveremos pretender resolver enigmas [nem tentar encontrar chifre de boi em cabeça de formiga.]

 

A vida e a morte são uma coisa só, tal como o são o rio e o mar. O que é morrer senão ficar nu ao vento e se fundir com o Sol? Só quando chegarmos ao cimo da montanha, poderemos, então, começar a subir.

 

Quando falamos, não teremos sido nós os ouvintes?

 

Nenhuma busca é vã.

 

As alegrias, as tristezas e os sonhos de todos são as nossas alegrias, as nossas tristezas e os nosos sonhos, [pois, somos todos um.]

 

Tal como um carvalho gigante, coberto por rebentos de macieira, é o Homem Ilimitado em todos nós.

 

Somos todos imortais.

 

Somos tão fracos como o mais fraco elo de uma corrente tanto quanto somos tão fortes como o seu elo mais forte.

 

 

 

 

Nós, no nosso inverno, costumamos negar a nossa primavera. No entanto, a primavera que repousa em nós, meio adormecida, sorri, e não fica ofendida.

 

O conhecimento que possuímos não é senão uma sombra da Sabedoria Indizível.

 

 

 

 

Há, em todos nós, uma Chama Espiritual, mas, nós, inconscientes, lamentamos o passar dos dias. Muitas vezes, somos felizes sem sabermos.

 

A bondade que se olha no espelho se transforma em uma pedra, e uma boa ação que se chama a si mesma por belos nomes se torna uma praga.

 

Como poderemos estar perto se não estivermos longe?

 

As nossas flechas saem do nosso arco só para procurar o nosso peito.

 

Não há crente que também não seja descrente. [Não há quem não tenha seus momentos de dúvida e de temor.]

 

Vago e nebuloso é o início de todas as coisas, mas, não o seu fim.

 

O véu que cobre os nossos olhos terá que ser erguido pelas nossas mãos, que o teceram, e o gesso que enche os nossos ouvidos terá que ser quebrado pelas nossas mãos, que o moldaram. Então, veremos e ouviremos! E não lamentaremos ter conhecido a cegueira nem ter sido surdos. [Todas as nossas experiências são educativas, transformadoras e libertadoras.] E, enfim, abençoaremos a escuridão tal como abençoamos a LLuz.

 

Um pequeno momento, um momento de descanso sobre o vento, e outra mulher trará todos nós dentro de si.

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. Por exemplo, no nosso querido Patropi, segundo um levantamento feito pela Casa Civil da Presidência, há o absurdo número de 181.000 normas legais, mas, há muitas leis que não pegam, outras que não funcionam e há, ainda, as que são totalmente desrespeitadas, tanto pelo próprio Poder Público quanto pela população civil. Rapidinho, eis alguns exemplinhos:

• Lei Estadual 14.235/2002 ou Lei da Fila de Banco;
• Lei Lei Federal 10.048 ou Lei de Atendimento Preferencial;
• Lei 8.078, Decreto 6.523 ou Lei do SAC;
• Artigo 5º da Lei 8.137/1990 ou Venda Casada;
• Lei Distrital nº 4.092, de 30 de janeiro de 2008, ou Lei do Controle da Poluição Sonora;
• Lei Complementar 101 ou Lei de Responsabilidade Fiscal;
• Lei 12.651 ou Lei do Novo Código Florestal Brasileiro;
• Lei 9.605 ou Lei de Crimes Ambientais;
• Lei 5.197 ou Lei da Fauna;
Lei Seca;
Lei do Cinto de Segurança;
Lei da Ficha Limpa;
Lei da Mãozinha (que proíbe a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos de idade);
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; e
• Lei et cetera e tal e outras tantas coisas mais e tantas outras coisas menos e tantas outras coisas ±.

 

Música de fundo:

Lawrence of Arabia (Main Title)
Compositor: Maurice Jarre

Fonte:

https://mixmuz.ru/mp3/maurice%20jarre%20–%
20lawrence%20of%20arabia%20%281962%29

 

Páginas da Internet consultadas:

https://vocal.media/poets/shadow-of-a-man

https://dribbble.com

http://teledramaturgia.com.br

https://www.ibflorestas.org.br/
conteudo/leis-ambientais

https://istoe.com.br/3144_
O+BRASIL+DAS+181+MIL+LEIS/

https://www.em.com.br/

https://gfycat.com/

http://bestanimations.com/

http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bk000232.pdf

https://christianrocha.files.wordpress.com/
2009/06/kahlil-gibran-o-profeta.pdf

https://gifer.com/en/2jZG

https://giphy.com

https://www.mercadolivre.com.br

http://wwwpoetanarquista.blogspot.com

http://www.hottopos.com/rih28/81-88Aida.pdf

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.