ORA PRO NOBIS
(A Saúde e a Fé Como Sacanagens de Comércio)

 

 

 

Pílulas, Bolinhas e Confeitos...

 

 

 

Dízimos, Trízimos e Quadrízimos...

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Em uma caixinha malocada no armário,
no fundo da gaveta do escritório,
na bolsa, no porta-luvas e até na carteira!
Andar com remédios por perto e à mão,
mesmo antes de aparecerem os sintomas,
é um hábito para lá de comum na rotina dos brasileiros.

O Flávio Cavalcanti e o seu irmão Celso Cavalcanti
quando compuseram a sua música mais famosa, Manias,
deveriam ter acrescentado um verso assim:
Dentre as manias que eu tenho,
uma é gostar de remédio.
Remédio é coisa que eu curto,
sem mesmo saber o porquê.
É remédio na bolsinha!
É remédio na caixinha!
É remédio na gaveta!
É remédio pra amansar capeta!

 

 

Mania de se Amarrar em Microfone

 

 

Mania de Gostar da Alcione

 

 

Mania de Ficar Tocando Trombone

 

 

Mania de só Comer Rigatoni

 

 

Mania de Imitar o Don Corleone

 

 

Mania de só Ouvir Disco em Gramofone

 

 

Mania de Achar que é a Reencarnação de um Lacedêmone

 

 

Mania de Querer Destruir a Ucrânia

 

 

Mania de Querer Destruir a Faixa de Gaza

 

 

Mania de Querer Anexar a Guiana Essequiba
Para Transformá-la em uma Venezuíba ou em uma Guiela

 

 

De acordo com a INTERFARMA
– (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa)
fundada em maio de 1990, e que representa
os laboratórios farmacêuticos responsáveis
por desenvolver pesquisas científicas
para a produção de medicamentos e produtos de saúde –
o mercado farmacêutico brasileiro deve movimentar
entre US$ 39 bilhões e US$ 43 bilhões, em 2023,
comercializando algo em torno de 238 milhões de doses.
Já a indústria farmacêutica mundial
movimenta cerca de 541,2 bilhões de dólares por ano.
Não é de admirar, portanto,
que as mais agressivas e fraudulosas estratégias de marketing
sejam mobilizadas para garantir a expansão desta atividade tão lucrativa.
A OMS estima que, no mundo, mais da metade
de todos os medicamentos são prescritos, dispensados
ou vendidos indevida e inapropriadamente,
e que metade dos pacientes não os usa corretamente.
Portanto, é gasto muito dinheiro que,
ao invés de conferir benefícios, poderá trazer sérios riscos à saúde.
Pense nisso antes de comprar um remédio anunciado na TV.

Bem, salvo melhor juízo, acredito que existam
três tipos distintos de ora pro nobis.

O primeiro ora pro nobis, o mais antigo, aparece
em orações católicas, como, por exemplo,
na Ladainha de Nossa Senhora (em latim):
Sancta Dei Genitrix,
ora pro nobis...
Sancta Virgo Virginum,
ora pro nobis...
Aparece também na Oração da Ave Maria (em latim):
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum.
Benedicta tu in mulieribus,
et benedictus fructus ventris tui: Iesus.

Sancta Maria, Mater Dei,
ora pro nobis peccatoribus,
nunc et in hora mortis nostræ.
Amen.

O segundo ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata) é o nome
de uma trepadeira folhosa, da família das cactáceas
– uma planta rústica, perene,
que se desenvolve bem em vários tipos de solo,
tanto à sombra como ao Sol.
É muito usada em cercas vivas
e é também empregada para a produção de mel.

 

 

Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata)

 

O terceiro Ora Pro Nóbis é um remédio que tem sido
intensa e maciçamente propagandeado na televisão,
e que é capaz de tratar nove variedades de dores diferentes.
Além disso, o remédio, segundo a propaganda,
é uma rica fonte de proteína, auxilia no emagrecimento
e melhora o funcionamento dos intestinos.
É bom para saúde cerebral e cardiovascular,
previne a anemia e evita o envelhecimento.
Fortalece os ossos e os dentes.
Reduz os níveis de colesterol.
E faz outras curas inéditas e espetaculares.

Mas, por que decidi abordar essas coisas?
Por dois motivos. Então, revisitando-as, rapidamente:
1º) já perdi a conta das vezes que toquei neste tema,
ou seja, que é inócuo rogar por perdão,
que é inócuo rogar ora pro nobis peccatoribus
e que é inócuo rogar ora pro me peccatore.
Essas rogações devocionais e oracionais
são incapazes de produzir os efeitos pretendidos.
Todos os nossos defeitos, malfeitos, deformidades e imperfeições
precisarão e deverão ser inexorável e educativamente compensados
pela Lei Cósmica da Causa e do Efeito,
seja pela perda, pela dor e pela aflição,
seja pelo amor, pelo serviço e pela solidariedade,
seja pela compreensão iluminadora,
que nos oferece a oportunidade de auxiliar os outros
através do exemplo, da instrução e da educação.
Comercializar a fé é um crime contra Humanidade,
tanto quanto são os assassinatos, os massacres, a desumanização,
o extermínio, a experimentação humana, as punições extrajudiciais,
os esquadrões da morte, os suicídios fabricados, os desaparecimentos forçados,
o uso militar de crianças, os seqüestros, as prisões injustas,
a deportação, o estupro, a pedofilia, a escravidão, o canibalismo,
a tortura, as violações dos direitos humanos e a repressão política ou racial.

 

 

Triângulo Educativo da Lei Cósmica da Causa e do Efeito

 

 

2º) não se toma remédio sem ser receitado por um médico. Sem exceção.
Medicamento só com receita médica. Sem exceção.
A automedicação é uma sesquipedal estupidez. Ponto final.
Eu não consigo compreender como as autoridades governamentais
permitem/autorizam que sejam feitas propagandas de remédio na televisão
e em outros meios utilizados para a realização do processo comunicacional.
Para mim, isto é um crime contra a saúde e o bem-estar das pessoas.
Tenha perpetuamente em mente que qualquer remédio
sempre produzirá algum efeito colateral,
que poderá ser silencioso e lento ou imediato e catastrófico.
Como regra, só devemos enfiar no nosso corpo
água, ar e alimentos saudáveis. Mais nada.
As doenças pintam por causa dos exageros e das irresponsabilidades.
Então, o consumo de medicamentos sem prescrição médica
poderá causar transtornos irreversíveis e irremediáveis:
a curto prazo, a médio prazo ou a longo prazo.
Esta advertência é válida, por exemplo, também,
tanto para Homeopatia quanto para os Florais de Bach.
Ainda que dependamos delas, até as vacinas são perigosas.
Repito: não há fármaco que não produza algum efeito colateral.
Não existe medicamento inofensivo e que não cause algum dano.
Atualmente, no Brasil, a automedicação
é um caso seríssimo de saúde pública,
que tem levado muitas pessoas à intoxicação, e, por vezes, até à morte.
Enfim, não deixo por menos: tomar qualquer remédio
sem indicação médica, potencialmente, é uma forma boçal de suicídio!

Enfim, precisamos deixar de ser medonhos e ilógicos
e nos tornar racionais e coerentes.
Precisamos deixar de ser maria-vai-com-as-outras
e nos tornar autônomos e independentes.
Precisamos deixar de viver e morrer
e aprender a para poder .