Verão;
Rua do Rosário; centro do Rio de Janeiro. O final de
dia estava tórrido e já ia tarde. O médico,
suando em bicas, entrou em um bar e pediu uma água
mineral bem gelada e sem gás. Aparentando ter uns noventa
e tantos anos, ao seu lado, estava empoleirada em um bunda
de fora uma encarquilhada e simpática senhora
fumando um tremendo charutão e tomando o último
gole de um chope. Quando a água mineral chegou, a encarquilhada
alegremente solicitou ao garçom:
—
Ei,
Lourival, desce outro estupidamente gelado. Na pressão.
—
Parabéns;
vejo que a senhora tem uma excelente saúde —
comentou o médico.
A
macróbia, orgulhosa, respondeu: — Bota
excelente nisso, meu chapa; estou inteiraça. Fumo dois
charutinhos e dois maços de Derby por dia; bebo de
dez a quinze chopes e mais ou menos uns cinco traçados
todos os dias; adoro um churrasco, uma feijoada, um sarapatel
e um sarrabulho, mas, frutas, verduras e legumes nem pensar;
sexta, sábado e domingo vou dançar, fumo uns
baseados e dou umas cafungadas; e, como não sou de
ferro, dou uma transadinha todas as madrugas. Se eu não
arrumar companhia, namoro comigo mesma, porque não
durmo antes de o Sol raiar. Sou noctívaga e vou morrer
noctívaga.
Impressionado
com a disposição da, talvez, quase centenária
senhora, delicadamente, o médico observou:
— Estou
comovido, porque, na sua idade, isso não é lá
muito comum.
Meio
passada, a encarquilhada extemporânea disparou: —
Qual
é? Comovido? Tá pensando o quê? Meu nome
é Soledad, vendo violetas e farei trinta e três
anos amanhã!