Este
estudo se constitui da 1ª parte de uma pequena coletânea de fragmentos
garimpados na interessantíssima e muito bem escrita obra
Raízes do Oculto (A Verdadeira História de Blavatsky),
de autoria do livre-pensador, escritor, erudito, teósofo, advogado,
jornalista, co-fundador e presidente da Sociedade Teosófica Henry Steel Olcott, e traduzida por Alcione Soares Ferreira. Olcott ficou conhecido
como uma das primeiras personalidades proeminentes do Ocidente a se converter
formalmente ao Buddhismo.
Eu, se não fosse Rosa+Cruz, de duas uma: ou não seria nada
– o mais provável – ou seria buddhista.
Nota
Biográfica
Henry
Steel Olcott nasceu em Orange, Nova Jersey, Estados Unidos, em 2 de agosto
de 1832. Homem de cultura cosmopolita, advogado por profissão, típico
nova-iorquino do fim do século, alcançou certo renome como
jurista, ocupando cargos e desempenhando funções junto a e
para o Erário de Nova York.
Profundamente
interessado em ciência e tecnologia, não se cansava de investigar
e assuntar neste campo. Durante a Guerra Civil, com a patente de Coronel,
atuou intensamente junto ao Ministério da Guerra, no âmbito
do apoio logístico e da coordenação de abastecimento
às tropas. Em Nova York, Olcott se dedicou ainda ao jornalismo, como
colaborador para diversos jornais, chegando a obter algum renome nesta atividade.
E foi na condição de correspondente freelancer do
New York Daily Graphic, em 1874, fazendo uma cobertura dos fenômenos
mediúnicos de Chinttenden, que Olcott veio a conhecer Madame Blavatsky,
que lá se achava em companhia de uma amiga. Entre os dois nasceu
instantânea simpatia, que evoluiu rapidamente numa amizade duradoura
e decisiva. Olcott colaborou com Helena Petrovna Blavatsky na consecução
da sua obra pública, prestou-lhe inestimável colaboração
na redação e publicação de Ísis Revelada,
foi seu consultor e de certa forma seu protetor em questões de ordem
prática e jurídica. Madame Blavatsky era, segundo o próprio
Olcott e na opinião unânime de seus biógrafos, e como
freqüentemente ocorre com pessoas de intensa vida espiritual ou intelectual,
profundamente vulnerável aos pequenos embaraços do cotidiano.
Dividiram um apartamento em Nova York, que se constituiu em certa época
em um verdadeiro centro cultural e boêmio da cidade. Compartilharam
outras casas em outras cidades e juntos viajaram pela Índia e pela
Europa. Ao contrário, porém, do que supunham e apregoavam
os críticos e observadores da época, e provavelmente grande
parte da opinião pública, jamais mantiveram qualquer espécie
de laço sexual ou sentimental. Em seu livro, Olcott diz mesmo que
para Helena Blavatsky (na
qual se agita[va]
um ciclone vital na maior parte do tempo, citando as palavras
de um Mestre, e que recebeu de muitos, como prêmio pelo seu altruísmo,
uma selvagem ingratidão
e uma cega depreciação) ele não chegou
a ter um significado profundo como amigo, senão como colaborador.
Sem entrar em justificativas ou em explicações mais elaboradas,
devo dizer que pessoas como Madame Blavatsky não constroem mesmo
amizades profundas, no sentido que uma amizade profunda é normalmente
concebido. Simplesmente, não podem, porque estão acima de
amizades profundas. Henry Steel Olcott não foi uma exceção;
foi a regra.
Modestamente,
o Coronel Olcott atribui-se na obra pública de Madame Blavatsky um
mero lugar de colaborador. É, porém, sabido e notório
que, não fora a experiência dele no plano organizacional, sua
assistência técnica, os recursos financeiros que muitas vezes
proveu à causa, e, ainda, seu amplo relacionamento nas esferas sociais
e políticas americanas, talvez a Sociedade Teosófica não
tivesse chegado a ganhar existência concreta.
Diferentemente
de Helena Petrovna Blavatsky, Olcott chegou a testemunhar o acender das
luzes do novo século – no qual os intelectuais e os cientistas
do século passado depositavam infinitas esperanças. Olcott
morreu em 17 de fevereiro de 1907, Adyar, Madras, na Índia, quando
a Sociedade Teosófica já tinha perto de 500 sucursais em todo
o mundo. Até hoje, ele ainda é recordado por muitos em Sri
Lanka, e, especialmente, pelos estudantes destas escolas.
Fragmentos
da Obra
Meu
primeiro encontro com Madame Blavatsky foi um incidente bastante prosaico.
Eu disse: — Permettez moi, Madame —
e lhe dei fogo para o cigarro. Assim, nosso conhecimento começou
em fumaça, mas, suscitou um incêndio grande e permanente.
A
solidariedade comum pelo lado oculto e mais elevado dos seres-aí
e da Natureza se traduz pela atração de [personalidade-]alma
a [personalidade-]alma,
não de sexo a sexo.
Não
se deve aceitar nada em confiança.1
'Eu
podia produzir os mesmos fenômenos espíritas à vontade...
Auxiliada por M. [Mestre
Morya] e
sua força, trouxe da Luz Astral os rostos de John King e de Katie
King e produzi os fenômenos de materialização... No
mundo invisível, existem
seres, sejam eles
"espíritos" de mortos, sejam elementais... No homem, há
poderes ocultos capazes de fazer dele um deus sobre a Terra... Empenhei
minha palavra em ajudar as pessoas no Caminho da Verdade enquanto vivesse,
e manterei minha palavra.' (Helena
Petrovna Blavatsky,
apud Henry Steel Olcott).
O
inimigo militante e preconceituoso da crença espiritual é,
sabidamente, a ciência física, semidouta e materialista, com
seus líderes e sectários.
'Eu
posso fazer um elemental se transformar em borboleta. (Helena
Petrovna Blavatsky,
apud Henry Steel Olcott).2
Existe
e sempre existiu uma aliança altruística ou Fraternidade dos
Irmãos Maiores da Humanidade, que estão espalhados pelo mundo
todo. Esta Fraternidade, porém, está dividida em duas correntes,
de acordo com as necessidades da raça humana em seus sucessivos estágios
de evolução. Em uma era, o centro focal desta força
de auxílio mundial está localizado em um lugar; em outra era,
em outra parte. Despercebidos, insuspeitados como as correntes espirituais
vivificadoras do Akasha [Princípio
Etérico, Princípio Original ou Substrato Espiritual Primordial,
que Éliphas Lèvi denominou de Luz Astral],
têm se mostrado indispensáveis para o bem-estar espiritual
da Humanidade. Sua Energia Divina combinada se mantém, de idade a
idade, e continuamente revigora o peregrino da Terra, que se empenha no
rumo da Realidade Divina.3
Cada
indivíduo, seja Adepto ou leigo, evoluiu ao longo de determinada
linha do Logos, encontrando-se em identificação espiritual
com almas simpáticas desta linha, ao mesmo tempo em que pode, neste
plano físico, achar-se em posição antagônica
com entidades de outras linhas quando encarnadas. Trata-se, por assim dizer,
da razão última da assim chamada simpatia ou antipatia magnética,
áurica ou física. É por isto que alguns Mestres não
puderam e não trabalharam com Madame Blavatsky.
O
amanhã, geralmente, traz desilusão e desgosto, quando não
se tem a prudência necessária para não fazer tudo de
novo.
Quando
procedemos à análise dos fenômenos psíquicos
de Madame Blavatsky ou a ela relacionados, descobrimos que podem ser classificados
como segue: 1º - aqueles cuja produção requer um conhecimento
das propriedades últimas da matéria, da força de coesão
que aglomera os átomos, especialmente um conhecimento do Akasha,
da sua composição, do seu conteúdo e das suas potencialidades;
2º - aqueles que se relacionam com os poderes dos dementais, quando
tornados subservientes à vontade humana; 3º - aqueles em que
a sugestão hipnótica cria, por intermédio de transferência
de pensamento do
médium, sensações
ilusórias de visão, som e tato; 4º - aqueles que envolvem
a arte de produzir imagens objetivas, pictóricas ou de escrita, que
são criadas, primeiro, propositalmente na mente do adepto-operador:
por exemplo, a precipitação de um quadro ou um escrito sobre
papel ou outra superfície material, ou de uma carta, de uma imagem
ou de outra marca sobre a pele humana; 5º - os relativos à leitura
de pensamento e de clarividência retrospectiva ou prospectiva; 6º
- os de intercâmbio de vontade entre a mente dela e as de outras pessoas
vivas, fisicamente igual ou melhor dotadas do que ela própria, ou,
por vezes, a subordinação da vontade dela e de toda a sua
personalidade à vontade de outra entidade; e 7º - os da classe
mais elevada, em que, por introspecção espiritual, ou intuição,
ou inspiração – como são impropriamente chamados,
não havendo diferença real de categoria, mas, apenas, de nomes
– ela atingia
as reservas acumuladas de conhecimento humano jacentes no registro da Luz
Astral.
Recreação
Meramente Pictórica
Caminhos
da Providência: A T D R.
Um
princípio científico sustenta todas as
objetivações-precipitações
instantâneas de imagens previamente visualizadas ou formadas na mente
do especialista: emprego de força cósmica e de matéria
difusa do espaço. A imaginação é a divindade
criativa oculta; força e matéria são suas ferramentas
de trabalho.
Equação
Benice
A
sugestão hipnótica reside no fato de que o efeito inibitório
sobre os órgãos da percepção do sujeito resulta
de comando ou de sugestão mental.
Certas
pessoas, por sua simples presença, interferem seriamente nos fenômenos
[medianímicos],
e a simples proximidade delas os paralisa; e tal sucede não por culpa
dessas pessoas nem por qualquer atitude mental de sua parte (como falta
de fé etc.), mas, em decorrência da atmosfera que as envolve.
Quanto mais sensitivo for o médium, isto se tornará mais perceptível.
(carta
do Professor Tyndall à velha Sociedade Dialética de Londres,
apud Henry Steel Olcott).
Todas
as raças de espíritos elementais são passíveis
de ser controladas pelo homem, quando, nele, se desenvolvem suas potências
divinas inatas. Sua vontade se torna, então, uma força irresistível,
ante a qual todos os seres inferiores (ou seja, qualquer força elemental,
seja ela organizada em entidades ou como agentes cósmicos brutos
e cegos) são coagidos a se render.
Recreação
Meramente Pictórica
O
espaço [e
também a distância] não
constitui qualquer obstáculo à transmissão de sugestões
de pensamento de um Mestre para um o discípulo.
Todos
os impulsos mentais transformados em palavras e em atos geram inevitavelmente
as seqüências de causa(s) e efeito(s).
Não
cabe qualquer mérito ao passo inicial, mas, se o efeito resultante
for bom, quem dá o passo inicial partilhará do benefício
global que o efeito vier a conferir à Humanidade.4
Geralmente,
os crédulos não pedem nada mais do que pagar para serem ludibriados.
A
medianimidade, em muitos casos, costuma se tornar uma prostituição
psíquica.
Pensamento
—›
Vontade —›
Força Ativa.
Em
alguns sensitivos medianímicos, os fatos observados
parecem indicar uma troca total de "polaridade vital" na produção
dos fenômenos, acontecendo, geralmente, queda da temperatura corporal.
A
Ciência Oculta admite que a matéria possa ser transportada
da Terceira Dimensão
para a Quarta Dimensão, e que, novamente, seja restituída
à Terceira Dimensão.5
A
matéria
pode ter peso sem apresentar volume físico.
É
possível se "cobrir" qualquer
coisa com a máscara
da invisibilidade, seja um homem, seja
uma sala cheia de gente, seja
uma casa, seja
uma árvore, seja
rocha, seja
estrada, seja
montanha, seja
lá o que for. As possibilidades são ilimitadas.
Para
a Filosofia Espiritual, o experimento
psíquico está na mesma relação que, por exemplo,
o experimento químico está para a Ciência Química.6
'A
Filosofia Oriental da Unidade e da Evolução antecipou em muitos
séculos as modernas teorias da correlação de forças
e da conservação da energia.' (Failes,
sob o pseudônimo de "Hiraf", apud Henry Steel Olcott).
'O
isolamento é a punição da grandeza.' (X.
B. Saintine, apud Henry Steel Olcott).
'A
Verdadeira KaBaLa – da qual a versão judaica é apenas
um fragmento –
encontra-se na posse de apenas uns poucos Filósofos
Orientais.' (Helena
Petrovna Blavatsky, apud Henry Steel Olcott).
'O
Espiritismo, nas mãos de um Adepto, torna-se Magia, pois ele é
versado na arte de misturar as Leis do Universo, sem transgredir qualquer
delas, e, portanto, de violar a Natureza. Nas mãos de um médium
inexperiente, o Espiritismo se torna feitiçaria ignorante,
pois, ele abre uma porta, desconhecida para ele próprio, de comunicação
entre os dois mundos, através da qual emergem as forças cegas
da Natureza que se ocultam na Luz Astral, bem como espíritos bons
e maus.' (Helena
Petrovna Blavatsky, apud Henry Steel Olcott).
Na
"Estrela da Perfeição" está registrado o
segredo do problema geométrico da proporção. É,
de fato, o verdadeiro cânone da arquitetura da Natureza. (George
Henry Felt, apud Henry Steel Olcott).
O
misterioso aparecimento e súbito desaparecimento de gente misteriosa,
trazendo livros raros ao homem certo ou que lhe dão pistas úteis
que o colocam na trilha certa através do pântano de dificuldades
pelo qual ele se debate rumo à verdade não é uma experiência
incomum.
Seria
exagero dizer que todo aspirante ao Conhecimento dos Arcanos tem sua oportunidade,
uma vez na vida, embora seja verdade, creio eu, que a percentagem daqueles
que a têm é cem vezes maior do que as pessoas imaginam.7
Sociedade
Teosófica Per Angusta
ad Augusta. [Às
coisas excelentes pelos caminhos estreitos. Não se vence na vida
sem lutas.]
É
um ato sumamente inamistoso [e
ignorante] tentar fazer de qualquer ser humano
um ente acima da Humanidade, sem fraquezas, manchas ou nódoas, pois,
isto é impossível.
Helena
Petrovna Blavatsky empregou diversas vezes elementais
para produzir os mais variados fenômenos.
Quando
Imaginação e Vontade
agem simultaneamente podem criar e emprestar objetividade
a imagens mentais recém-formadas.
O
Karma, sempre,
desenvolve seus pioneiros, semeadores e segadores.
É
melhor ser porteiro ou mesmo algo ainda mais servil do que isso na "Casa
do Senhor das Alturas", do que morar em qualquer pavilhão de
seda que possa oferecer o mundo egoísta.
Existe
apenas uma Primeira Causa, incriada...
Alma
do Mundo – Sopro que dá e retira a forma a tudo. O Universo
é sua manifestação e revelação. Vós,
perante quem a luz do ser é uma sombra que muda e um vapor que se
dissipa, exalais o vosso hálito, e os espaços infinitos se
povoam; aspirais, e tudo o que esteve à vossa frente retorna novamente.
Para
o perdão dos 'pecados', é ineficaz
[e
ineficiente] o arrependimento no leito de
morte.8
Não
pode haver perdão [remissão]
para a menor das transgressões, pois,
isto lançaria o Universo no caos. Deve haver compensação,
equilíbrio e justiça.
Teologia
[Theos
(Divindade) + Logos
(Palavra)]:
Vontade revelada de Deus; Teosofia [Theos
(Divindade) + ShOPhIa
(Sabedoria)]: Conhecimento
direto de Deus. A Teologia pede que acreditemos no que outrem viu e ouviu;
a Teosofia ensina que devemos ver e ouvir por nós mesmos. A Teosofia
ensina que, pelo cultivo dos seus poderes inatos, o homem pode
ser interiormente
Illuminado e adquirir, assim, o Conhecimento de suas Faculdades Divinas.
A
censura e o elogio dos ignorantes têm igualmente nenhum valor.
Afirmar
que a mediunidade e a condição de Adepto são coisas
compatíveis, e que qualquer Adepto se deixaria guiar ou comandar
por espíritos desencarnados, é um absurdo só comparável
a dizer que os Pólos Norte e Sul estão em contato entre si.
'Todas
as coisas do Plano Objetivo têm suas imagens revertidas no Plano Astral.'
(Helena
Petrovna Blavatsky, apud Henry Steel Olcott).