Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Excelentíssimo Senhor Comandante
do Quartel-general de Quixeramobim:

Saudações quixeramobinenses.

 

 

Por esta missiva, eu, Fude Vu, ni-sei, casado, patriota e cidadão quixeramobinense, venho solicitar a V. Ex.ª que defira a minha dispensa do serviço militar. A razão para isto é bastante complexa, mas, a seguir, tentarei explicar em pormenores.

 

Meu pai, o senhor Kaça Rolê, e eu moramos juntos e, entre outros bens, possuímos um rabo-quente, um rádio e uma televisão. Meu pai é viúvo e eu sou solteiro. No andar de baixo, moravam uma viúva e sua filha – ambas muito bonitas – mas sem rabo-quente, sem rádio e sem televisão.

 

O rabo-quente, o rádio e a televisão fizeram com que nossas famílias ficassem mais próximas. Eu me apaixonei pela linda viúva e acabei me casando com ela. Meu pai se apaixonou pela filha da viúva e também se casou com a bonitinha. Um detalhe: casamos os quatro no mesmo dia, e quem celebrou a cerimônia foi o seu primo, padre Cícero Anyzyo Robledo de Assumpssão.

 

Depressinha, começou o fudevu de caçarolê. A filha da minha esposa, a que casou com o meu pai, é agora a minha madrasta. Ao mesmo tempo, porque eu me casei com a mãe, a filha dela também é minha enteada. Além disso, meu pai se tornou o genro da minha esposa, que, por sua vez, é sua sogra. A minha esposa ganhou recentemente um filho, que é irmão da minha madrasta. Portanto, a minha madrasta também é a avó do meu filho, além de ser seu irmão. A jovem esposa do meu pai é minha irmã e madrasta, e o seu filho ficou sendo o meu irmão. Meu filho é, então, o tio do meu neto, porque o meu filho é irmão de minha enteada. Eu sou, como marido de sua avó, seu avô. Portanto, sou o avô de meu irmão. Mas como o avô do meu irmão também é o meu avô, conclui-se que eu sou o avô de mim mesmo!

 

Assim sendo, Excelentíssimo Senhor Comandante, baseado no fudevu de caçarolê que acabei de relatar (tudo por causa de um rabo-quente, de um rádio e de uma televisão) e também amparado no diploma legal do Município de Quixeramobim, que preceitua que não é permitido que avô, pai e filho sirvam à Pátria ao mesmo tempo, que é exatamente o meu caso, solicito dispensa do serviço militar. Se V. Ex.ª tiver qualquer dúvida, releia o texto várias vezes (ou tente desenhar um diagrama) para constatar que o meu argumento é realmente verdadeiro e correto. Também está convidado, em qualquer dia que seja conveniente para V. Ex.ª, a vir à nossa casa, pois moramos todos juntos, para constatar in loco este baita fudevu que acabei de relatar.

 

Enfim, Excelentíssimo Senhor Comandante do Quartel-general de Quixeramobim, afirmo formalmente – sob o olhar vigilante de Padim Ciço e cônscio das penas da legislação vigente – que as informações acima são verdadeiras e de minha exclusiva responsabilidade. Mas meu pai, o senhor Kaça Rolê, concorda comigo.

 

 

Nestes termos,

peço deferimento.

 

 

Quixeramobim, 29 de fevereiro de 2012.

 

 

Filho do pai, pai do filho e avô de si mesmo

 

 

 

 

 

Fudevu de Caçarolê

 

 

 

 

Às vezes,

atropelamos as coisas,

e as coisas

nos atropelam à revezes.

 

 

Retribuiremos

por tudo que ruminarmos;

por tudo que engenharmos

compensaremos.

 

 

Poderá ser

um fudevu de caçarolê!

Um caçavu de fuderolê

poderá ser!

 

 

Nem pensar! Homessa!

E, sem pressa, a oressa

talvez vire furacão!

 

 

 

Oressa que Virou Furacão

 

 

 

Fundo musical:

Devagar Devagarinho
Compositor: Martinho Da Vila

Fonte:

http://midily.com/