O CEGO, O SURDO, O MUDO E O COXO

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Há muito tempo – no tempo em que Adão era cadete, no tempo em que a barca de Niterói era puxada a burro e no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça – publiquei este textinho. Hoje, em virtude da situação pra lá de esquisita e surreal que nós, brasileiros, estamos passando (sem querer) e vivendo (sem saber como), em que, entre outros absurdos inacreditáveis, se chegou ao ponto de, antidemocrática e anti-republicanamente, ameaçar fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, de não aceitar o resultado das eleições de 2022 e de metralhar e de jogar granadas na Polícia Federal, decidi republicá-lo, com algumas modificações e acréscimos. Minha preocupação com o estado de (não-)coisas no Brasil é tão grande, que não posso ficar calado e fingir que não estou vendo o que está acontecendo. De fato, isto não é uma opção cidadã. Pelo menos, para mim, que nunca fui, não sou e jamais serei covarde nem acomodado, não é. Há certos momentos em o meu sangue, que é uma mistura exaltada oriunda da Itália, de Portugal e da Espanha, chega mesmo a ferver.

 

 

 

 

32 de outubro de 2022! Chegou o dia de eleição em MARACUTSIL! A fuzarca era geral! Mais uma vez, eu iria votar para escolher o próximo Presidente da República do meu País. Estava muito feliz em poder cumprir meu dever de cidadão, pois, acredito no pensamento de Thomas Paine (1737 – 1809): um homem, para ser feliz, tem que ser fiel a si mesmo. A infidelidade não consiste em acreditar ou em não acreditar em alguma coisa; consiste em professar aquilo em que não se acredita. Cada indivíduo de uma sociedade é inequivocamente um cidadão, e, como tal, é membro inalienável da soberania nacional. Assim entendido, não pode haver nenhum tipo de sujeição pessoal que não seja, exclusivamente, às leis vigentes e à própria consciência. E, como membro do Estado Maracutsileiro e estando no pleno gozo de meus direitos constitucionais, eu estava prestes a, mais uma vez, participar ativamente da vida política maracutsilense, em nível nacional, conferindo (por empréstimo) meu voto ao candidato que julguei estar mais capacitado para exercer a Suprema Magistratura da Nação. Caminhando pela rua, nua de faixas e de santinhos, encontrei um simpático deficiente físico. O coxo se aproximou de mim e, sem qualquer delonga, perguntou em quem eu iria votar.

O voto é secreto, companheiro. Respondi com afabilidade.

Eu estou de acordo com o senhor respondeu o camacho. Mas, como ainda não decidi em quem votar, achei que uma ajudazinha... O senhor me parece um homem instruído.

Eu acredito respondi com delicadeza que não seria prudente de minha parte auxiliá-lo nessa escolha. Já tive tantas decepções... Mas, continuo acreditando que é um dever patriótico exercer o direito de voto. A escolha, meu amigo, é pessoal e fundamentalmente ideológica. Os desapontamentos passados não desobrigam o cidadão de sufragar.

Compreendo murmurou o coxo meio desiludido, talvez, sem compreender realmente o que eu quis insinuar com voto ideológico. Mas, o senhor se incomoda se eu caminhar ao seu lado por alguns minutos? Perguntou o coxo com uma tristeza indolente. Como o senhor deve ter reparado, perdi a perna direita em um terrível acidente de carro, e, com essa balbúrdia, fico meio atordoado e inseguro. Logo a direita... Logo a perna direita... Não sobrou nada... O pior é que, de vez em quando, ela coça. Não entendo como uma perna que não existe possa coçar! Engraçado continuou divagando a perna esquerda nunca coça. Que eu me lembre, ela nunca coçou. Nem quando eu era criança.

Olhei para aquele homem incompleto e, penalizado, disse, amigavelmente, que era um prazer tê-lo ao meu lado. Agora, explicar a ele o porquê de a inexistente perna coçar achei que não era aconselhável. Admiti, sem preconceito, que ele não possuía cultura suficiente para compreender. Pouco tempo depois confirmei que o melhor foi mesmo ter ficado calado. Se eu tivesse explicado o motivo das coceiras eventuais na perna que havia sido decepada, ele, provavelmente, teria surtado. Há coisas que não se dizem... Há coisas que não se explicam... Geralmente, quem fala demais e tem explicação para tudo, nada sabe. Quem tem algum conhecimento real, fala pouco ou fica calado. Depois de assentir que andasse ao meu lado, os olhos do coxo imediatamente se iluminaram, e, tipicamente fora dos engonços, com o corpo a trouxe-mouxe, a muleta sob o ombro direito e coxeando a perna sã, pôs-se a caminhar entusiasmado. Começamos, então, a nos dirigir para a Seção Eleitoral. Com meus botões, fiquei pensando em qual poderia ser a diferença entre perder a perna direita ou a perna esquerda. Afinal, uma perna é uma perna... E será que votaríamos na mesma Seção? Nas outras eleições eu nunca o tinha visto por lá. Enfim...

Um pouco mais à frente encontramos um deficiente visual. O coxo não perdeu tempo. Coxeando com mais desengonço, esboçou um sorriso cordial e perguntou ao cego: Em quem você vai votar, meu bom ceguinho?

O cego, sem se incomodar com a pergunta nem com o tratamento sem-cerimonioso recebido, se empertigou, deu uma piscadela com o olho esquerdo, e, solenemente, com ar de pisa-mansinho, respondeu: Como barnabé federal aposentado de último nível só posso votar no Doutor Mentirinha. Afinal, ele não prometeu que, se eleito, faria todos os ceguinhos enxergarem? Eu não estou acreditando muito. Essas promessas de campanha... Mas, não custa nada tentar. Aliás, o último que ficou sentado naquela cadeira quente presidencial foi um desastre para os servidores públicos federais de Maracutsil. Eu já não agüento mais tanto descaso. Pelo menos, talvez, eu possa voltar a ver. Nem que seja um pouquinho só. Dito isso, o cego deu três seguidas e ritmadas piscadelas com o olho esquerdo, ameaçou uma quarta que não se concretizou, e, batendo compassadamente sua bengala no chão, seguiu seu caminho e foi cumprir seu dever de funcionário público federal aposentado. Inquestionavelmente, barnabé ou não, ele estava em melhores condições financeiras do que a maioria da população de Maracutsil. Pelo menos, os barnabés maracutsilenses não passam fome.

Continuamos, então, rumo à Seção Eleitoral. No trajeto, o coxo, já, então, agitadíssimo, começou a me relatar pormenorizadamente o infortúnio no qual perdera a perna direita. De repente, fomos interrompidos por um deficiente auditivo que se aproximou tentando pedir algum tipo de informação. O coxo não perdeu tempo. Nem deixou o surdo tentar se comunicar conosco. De chofre, perguntou: Qual é o seu candidato à Presidência da República?

O surdo, enfiando o dedo indicador direito na narina esquerda quase até o cérebro para coçar o nariz, hábil em ler os movimentos labiais de seus interlocutores, balbuciou em uma linguagem quase ininteligível: No Doutor Mentirinha. Não me lembro de nenhum candidato que tenha prometido fazer os surdos voltarem a ouvir. Ele afirmou e se comprometeu. Foi o que me contaram. Isso é o que basta. É para ele que vou dar o meu voto.

E, resmungando, gesticulando muito e praguejando, rapidamente, com metade do dedo índice direito enfiado na narina esquerda, se afastou para cumprir seu dever de cidadão. Algum tempo depois, me dei conta do tamanho das fossas nasais daquele indivíduo. Particularmente a esquerda, pois, era maior do que a direita. Eram desproporcionadamente grandiosas, das quais sobejavam enormes pelos castanhos. Aquele órgão olfativo monumental, seguramente, não devia entupir nunca. Nem no inverno. Só discordei quando ele disse que daria seu voto... Voto não se dá; empresta-se por um período determinado. Emprestar novamente dependerá da performance daquele que recebeu o empréstimo. Todo empréstimo é temporário. Doação é vitalícia. O donatário não tem que devolvê-la. E empréstimo não é doação. Neste caso particular implica em COMPROMISSO PÚBLICO. O político que – no período de exercício de um cargo eleitoral – não cumpre todos os comprometimentos de campanha, não merece, no futuro, ser honrado com os votos de seus concidadãos.

Demos, então, seguimento à nossa jornada, com o coxo minudenciando todas as particularidades do acidente que houvera sofrido. Então, suando muito, me explicou porque preferiria ter perdido a perna esquerda. E arrematou com um comentário assombroso e horripilante: Tudo que é esquerdo ou da esquerda é originário do maligno. Veja só esse tal de Comunismo. Ouvi dizer que os comunistas comem criancinhas ensopadas com batatas. Sinto-me, agora, como se estivesse desamparado e esquecido por Deus. Foi um azar enorme, o senhor não acha? Sinto-me mesmo como se fosse um saci-cererê a serviço do inferno e de todos os demônios. Se fosse a perna esquerda... Só pode ter sido castigo... E, o pior, conforme já lhe relatei, de vez em quando ela coça. É uma coceira infernal. Só passa se eu tomar um banho frio e comer alho cru. Um dente só não adianta. Tem que ser a cabeça inteira. E tem que ser rápido, senão não faz efeito. Aí, passa. Parece mágica. Mas, eu fico cheio de gases. A impressão que eu tenho é que um dia desses eu vou detonar. E quem estiver por perto, vai comigo! Outro dia sonhei que eu havia explodido um quarteirão inteiro. Não sobrou nada! Isso não é demoníaco?

 

 

 

 

Eu não sabia o que responder naquela desusada circunstância. Estava, realmente, chocado e um pouco depauperado. Circunstancialmente, me preocupei com minha integridade física. Será que o fantasma da perna direita teria coçado justamente naquele dia? Teria ele comido uma cabeça de alho inteira? Imaginei o tamanho da explosão. Aquele homem era uma bomba ambulante. Só me ocorreu tentar consolá-lo dizendo: Mas, pelo menos, você ficou com a perna esquerda. E, com o auxílio da muleta, você pode se locomover razoavelmente bem. Talvez, até possa colocar uma prótese. Quem sabe! Pior era ter perdido as duas pernas. Aí, sim; a catástrofe teria sido total.

De permeio a essa conversa esdrúxula e explosiva, incoerente e desconexa, na qual involuntariamente me envolvi, surdiu um outro deficiente: um mudo. Parou-nos no meio da calçada e tentou dizer alguma coisa, usando, furiosamente, a linguagem dos sinais, que nem eu nem meu companheiro de passeio (passeio? aquilo estava se tornando uma epopéia às avessas) conseguíamos decifrar. Furibundo, ao mesmo tempo em que gesticulava muito, coçava impetuosamente a orelha esquerda. O curioso e inusual é que ele coçava a orelha esquerda com a mão direita. Uma maluquice sem paralelo! Cheguei a pensar que ele iria esfacelar a própria orelha. Involuntariamente, me recordei do tamanho das cavidades nasais desmesuradas do deficiente auditivo. Possivelmente, ele até as usasse para, ocasionalmente, esconder algum objeto de valor. Acho que eu já estava começando a delirar. Senti uma leve tremura na minha narina esquerda. Não me atrevi sequer a tocá-la. Se eu coçasse a abertura esquerda da face inferior do meu nariz poderia ficar com ela deformada. Foi o que me ocorreu de pronto. Eu estava mesmo entrando na pilha daqueles maracutsilenses estranhíssimos! Precisava urgentemente retornar à sanidade. O coxo, imóvel, olhava para o privado da palavra, esperando uma oportunidade para entrar no seu assunto preferido. Isso, àquela fundura, eu já tinha certeza. Nesse entretempo, eu estava me sentindo como se estivesse em meio a uma tragédia grega. Evidentemente, todo aquele drama não iria, obviamente, terminar em fatalidade. Pelo menos, eu assim augurava. A situação era toda infausta apenas pela situação em si. Tratei de me acalmar. De qualquer sorte, isso não impediu o coxo, pronta e insistentemente, logo que teve oportunidade para se manifestar, de querer saber em quem o mudo iria votar. Aquilo já havia chegado às raias da obcecação. Cheguei mesmo a imaginar que o coxo iria dar uma muletada no pobre do mudo, pois, a dificuldade de comunicação entre nós era quase intransponível. O mudo querendo falar sem conseguir e o coxo necessitando obsessivamente de uma informação que não conseguia obter. E eu tentando ensaiar uma mediação sem lograr êxito. O lance parecia que iria escapar ao controle de todos nós. Continuei me esforçando para ficar tranqüilo. Mas, o privado da comunicação verbal não se ofendeu com a pergunta, nem se fez de rogado. Já um pouco mais sossegado, pois, o coxo praticamente desistira de espicaçar o pobre homem, o mudo, para melhor se fazer entender, abaixou-se, pegou um raríssimo santinho que estava no chão e escreveu: Eu só posso dar o meu voto para o Doutor Mentirinha. Era isso que eu estava tentando dizer. Na televisão, ele não se comprometeu a fazer todos os mudos voltarem a falar? Estou cansado de não poder me comunicar direito. E as pessoas não têm paciência comigo. Outro dia, quase apanhei de um gago. E um fanhoso me xingou até a última geração. Por isso, não tenho outra escolha. É no Doutor Mentirinha que eu vou votar. Espero que ele vença.

Lemos a resposta do mudo, escrita com letras tão minúsculas que mais pareciam garatujas, e, quando terminamos a leitura, o mudo já ia longe. Tive a curiosidade de verificar o estado da sua orelha esquerda. Daquela distância parecia ilesa. Ilesa, mas, vermelhíssima! Talvez, algum vaso tivesse se rompido... De qualquer forma, o pobre homem incapacitado de falar continuava com as duas orelhas. Menos mal... pensei comigo. Mas, se ele continuasse a coçar a orelha esquerda com a mão direita daquela maneira, haveria de arrancá-la. Lembrei-me, então, de que o mudo havia dito(?) que outro dia quase apanhara de um gago. Fiquei imaginando. Só faltava aparecer um gago no nosso caminho. Pior se fosse fanho também. Gago e fanho ao mesmo tempo o problema seria dobrado. Aí seria realmente demais para um dia tão importante para mim, para os maracutsilenses e para Maracutsil. Senti que minha cabeça fervilhava. Mas, isso não aconteceu. Passou-me, então, rapidamente pela cabeça, a imagem daqueles quatro senhores sentados em um bar qualquer, discutindo sobre algum assunto infrutífero com o qual não concordassem entre si. Ao final da leréia, o cego, talvez, pudesse estar piscando o olho esquerdo tão convulsivamente que não conseguisse parar. Talvez, o globo ocular pulasse da cavidade óssea da face na qual se encontram o próprio olho, o nervo óptico, os vasos sangüíneos oculares e os músculos e nervos oculomotores; o mudo, certamente, teria, em um acesso de fúria, arrancado a orelha esquerda com a mão direita; o surdo, indubitavelmente, teria arrombado a narina esquerda com o dedo indicador direito (porventura até furasse o cérebro); e o coxo... O coxo eu não consegui imaginar o que teria feito. A hipótese de que, saltitando com a perna esquerda, pudesse dar uma surra de muleta nos outros três não estava totalmente descartada. Mas, de repente, aquelas imagens alucinantes se evanesceram, e visualizei os quatro confraternizando afetuosamente pela vitória eleitoral do Doutor Mentirinha. Pior (pior?) para Maracutsil: melhor (melhor?) para eles. Fiquei imaginando como um indivíduo presumidamente sensato e centrado como eu pôde dar asas à imaginação daquela forma. Mentalmente, consultei Freud e Jung. Não adiantou nada. Não fui inspirado com uma intuição que explanasse aqueles pensamentos desarticulados. Ora bolas! O que eu não poderia ter permitido é que aqueles pensamentos prosperassem em minha mente. Fui deveras descuidado! As tais quedas eventuais!

Foi, então, que o coxo se virou para mim, já bem mais tranqüilo e controlado, e, imponente e pomposamente, me confessou enfaticamente: Decidi. Também vou votar no Doutor Mentirinha. Maracutsil precisa dele. Está resolvido. Se ele prometeu que vai fazer os cegos enxergarem, os surdos ouvirem e os mudos falarem, pode ser que, também, possa dar um jeitinho na minha perna direita que coça sem existir. Talvez, a esquerda até comece a coçar um pouquinho.

E, com o corpo a trouxe-mouxe, a muleta sob o ombro direito e coxeando a perna sã, se despediu educadamente de mim e foi, garbosamente, mas, meio desengonçado, cumprir também seu dever cívico. Antes de partir, entretanto, me abraçou demoradamente e me desejou felicidades. Eu retribuí fraternalmente, e, mentalmente, desejei-lhe paz e compreensão. Dadas as circunstâncias, não tive oportunidade de fazer o mesmo com os outros três que cruzaram meu caminho naquela tarde de domingo. Essa providência impostergável eu cumpriria um pouco mais tarde. Em silêncio. Eu e o Deus do meu Coração.

Eu, a meu turno, segui para a Seção na qual também deveria exercer minha intransferível cidadania. E, é óbvio, não votei no Doutor Mentirinha. Quando me retirei da cabine de votação, olhei o relógio. Eram, exatamente, três horas e quarenta e cinco minutos! Lembrei-me dos Versos de Ouro de Pitágoras. Fiquei emocionado e meus olhos umedeceram um pouco. Emiti um longo pensamento de paz à Humanidade. Confio que, no inexistente tempo, um dia, todos compreenderão que são deuses mortais e que realizarão e se transmutarão em Super-Homens-Deuses-Imortais. Este é o verdadeiro e transcendental sentido oculto da Alquimia Interior. Lembrei-me das Quarenta e Duas Leis de Maat, e orei, em silêncio, por todos os seres do Unimultiverso. Que Maat possa morar em todos os Corações. Enfim, não pude deixar de me lembrar da advertência do último discurso de O Grande Ditador, de Charles Spencer Chaplin (1889 – 1977) o Carlitos: Não sois máquinas! Homens é que sois!

Já na calçada, no retorno para casa, pus-me a refletir sobre aqueles insólitos encontros. Uma profunda tristeza nostálgica se abateu sobre mim. Lembrei-me de Unamuno (1864 1936) que ponderou: A primeira coisa que um cidadão precisa ter é civismo, e não pode haver pátria, verdadeira pátria, na qual os cidadãos não se preocupam com os problemas políticos. Recordei-me de Coelho Neto (1864 1934) e do seu Breviário Cívico, no qual afirmou ser o civismo, minimamente, o cumprimento exato dos deveres que a lei impõe... venerar a ordem... e corresponder... a todo apelo... no sentido de obedecer e de dar cumprimento a todos os deveres patrióticos.(4) E repassei os ensinamentos de Montesquieu (1689 – 1755): Se soubesse de algo que me fosse útil e fosse prejudicial à minha família, rejeitá-lo-ia do meu espírito. Se soubesse de algo útil à minha família e que não o fosse à minha pátria, procuraria esquecê-lo. Se soubesse de algo útil à minha pátria e que fosse prejudicial à Europa ou que fosse útil à Europa e prejudicial ao gênero humano, considerá-lo-ia como um crime.( Montaigne (1533 – 1592) apareceu também em minhas lucubrações, pois, agora, eu estava refletindo sobre a vaidade humana. Não pude deixar de concordar com o Filósofo, ainda que seu pensamento, em certa medida, não se adéqüe, propriamente, à dialética que eu estava praticando naquele momento. Estimo todos os homens – ponderou Montaigne – meus compatriotas e abraço um polonês como um francês, pospondo a ligação nacional à universal e comum. Meu pensamento retrocedeu a Pitágoras, e, imediatamente, visualizei Akhnaton – meu Iniciador. Mentalmente, abracei o cego, o surdo, o mudo e o coxo. Abracei, outrossim, o gago (que, talvez, também, pudesse ser fanhoso) que não encontrei. Provavelmente, eu não os veria mais. Mas, são meus irmãos, eu tenho certeza, perante a minha consciência e ante a Consciência Cósmica. Lembrei-me, também, do Primeiro Mandamento ensinado pelo Mestre Jesus.

Mas, foi Kant (1724 – 1804) quem deu o toque final em minhas meditações. Eu estava a pensar em como o ser humano, normalmente, age por interesse pessoal, hipotetizando situações em que possa auferir algum tipo de vantagem. Verdade seja dita, é muito difícil alguém chegar ao limite da renúncia absoluta, de servir incognitamente sem anelar qualquer tipo de retribuição ou de benefício. De cumprir um dever tão-somente porque aquele dever deva ser cumprido. De ser generoso, amigável, fraterno, solidário e altruísta desinteressadamente. Enfim, no caso, de emprestar seu voto, fazê-lo porque acredita inteira e simplesmente nas propostas apresentadas por um determinado candidato a um cargo público eletivo do seu País. Sem nenhum retorno pessoal. Sem nenhum benefício particular. Sem nenhuma vantagem, por mínima que seja, para si, ou para algum parente, ou conhecido, ou amigo. Estas especulações, óbvia e inquestionavelmente, envolvem um comprometimento ideológico ponderado e uma compreensão esotérica de determinadas Leis Cósmicas que não serão objeto de especulação neste ensaio.

Fala-se muito, por outro lado, contemporaneamente, em mudanças e em reformas. Mudança do modelo econômico, reforma das leis eleitorais, mudanças na área educacional, nova reforma previdenciária, reforma política, mudança e atualização das leis que regulam o comércio internacional, reforma tributária, mudança nas leis que regem o Biodireito, reforma agrária, nova reforma trabalhista etc. Mas, quaisquer reformas ou quaisquer mudanças serão inócuas, se o homem não mudar internamente. É exclusivamente no Coração – o Santuário dos Santuários – que a Alquimia da vera mudança e da autêntica reforma poderão e deverão acontecer. Parafraseando Victor Hugo (1802 – 1885), as reformas e as mudanças podem reformar e mudar tudo, menos o Coração do homem. Este mesmo Coração só muda e se reconstrói por volição pessoal, por esforço pessoal e por compreensão pessoal. E, mudar não implica em estagnar depois de mudar. O mudamento está associado à reintegração do ente rumo ao Centro da Idéia, que está, desde sempre, no próprio interior do ente. A petrificação ou cristalização de um conceito impõe a horizontalidade, contrária, em essência, à verticalidade reintegratória, conceitos filosoficamente desvinculados de qualquer entendimento teológico ou de qualquer presunção teleológica, ainda que, no Unimultiverso, não haja dentro ou fora, em cima ou embaixo, e, conseqüentemente, horizontal ou vertical. O Unimultiverso é. O espaço-tempo não é. O ESPAÇO-TEMPO é. Que terá pensado exatamente Santo Agostinho quando se referiu ao presente do passado, ao presente do presente e ao presente do futuro? Os fractais têm muito a nos ensinar!

Quase chegando à casa, revisitei mentalmente Kant e a questão dos Imperativos. Imperativo é uma norma, uma ordem ou um princípio segundo o qual o ente deve atuar. Os Imperativos, de acordo com Kant, podem ser Hipotéticos ou Categóricos. Nos Imperativos Hipotéticos os encargos e os atos são necessariamente praticados como condições estabelecidas para o alcançamento de um fim específico e predeterminado. Tais ações podem até ser legais, mas, sob o ângulo da presente especulação, podem não ser (e nem sempre são) morais. No âmbito exclusivo da moral, nenhuma intenção deve remanescer paralelamente ao límpido e ao incontaminado fundamento do dever. Por isso, nos Imperativos Categóricos os encargos (as obrigações) atuam em uma esfera que se impõe como condição insubstituível e irredutível para a consecução de um fim universal. Ainda que o Unimultiverso não esteja programado para atingir ou alcançar um télos, este almejado fim deve se aproximar, o mais intuicionantemente possível, da Atualidade Cósmica Permanente, que é entendida Iniciaticamente como inviolável, irreduzível e insubstituível. (Este entendimento não foi especulado por Kant). Aí reside, inclusive, a diferença entre moral e ÉTICA. A moral é oriunda e pertencente ao ambiente e ao domínio humano, e é materializada nos códigos; tem sua função de excelência no plano das realidades. A ÉTICA é unimultiversal. Ela é o próprio Unimultiverso em ação. Não pode ser emendada, nem apreciada em sua integralidade. Paradoxalmente, o ser só pode compreender a ÉTICA CÓSMICA assintoticamente. Enfim, em última instância, sem ter pretendido corrigir ou alterar as especulações do Filósofo de Königsberg, Immanuel Kant (1724 – 1804) propôs, verdadeiramente, também admito que todas e quaisquer ações devam, irredutivelmente, valer como máximas, decretos ou princípios de uma Legislação Uni(multi)versal. Valem para todos. Sem exceção. A moralidade, assim, só pode estar ancorada em Imperativos Categóricos. Acima de tudo, o dever. O Bom Combate se circunscreve ao esforço pessoal em dominar e em compreender os instintos, os desejos, as cobiças, as paixões, os interesses pessoais, as miragens e as ilusões, que estão constante e sistematicamente a prover evasivas (in)justificadas para elidir o dever, e a tentar justificar ações que afastem o ser de uma progressiva, insondável e ilimitada reintegração universal.

Ao chegar à casa, a melancolia que havia assaltado minh'alma havia se dissipado por inteiro. Sentei-me confortavelmente e enviei meus melhores pensamentos à Humanidade que ainda sofre e chora neste mundo de mâyâ. Ofereci o melhor que em mim existe como instrumento de Luz, de Harmonia de Vida, de Beleza e de Amor. PAZ PROFUNDA. FIAT PAX IN VIRTUTE TUA. (Faça-se a PAZ na tua VIRTUDE). Os rosacruzes de hoje não estão, certamente, tão distantes de São Bento, que há dezessete séculos propôs esta máxima, que embute santamente a paz do CRISTO CÓSMICO. A paz individual, a paz coletiva e a paz da Terra só se concretizarão pelo exercício das próprias virtudes. Esta é a LEI.

 

 

 

 

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de interesse hipotético
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de vantagem prenunciada
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de promessa hipotecada
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de esperança deliriosa
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de posteridade fantástica
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de compadrio escalafobético
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de preconceito injustificável
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de intolerância indesculpável
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de simpatia religiosa
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de vinculação espúria
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de influência de news
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de imitação irracional
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de cagaço infundado
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
por algum tipo de miragem ou de ilusão
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Escolher um candidato e nele votar
sem que o Coração aprove a predileção
é exercer uma anticidadania marca roscofe.
É ser um agente do caos e da balbórdia.

Não votar, se abster ou votar em branco
– seja lá pela razão de ser que possa ser –
é cuspir na CIDADANIA e na LIBERDADE,
e enfraquecer e desvirtuar o Estado de Direito.

A nossa CIDADANIA e a nossa LIBERDADE
não podem ser negociadas nem transvasadas,
não podem ser desrespeitadas nem ultrajadas,
não podem ser vilipendiadas nem enxovalhadas.

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Pacem in Terris
Compositor: Marco Frisina
Interpretação: Coro & Orchestra "Nicola Vitale"

Fonte:

https://vocidelsantuario.weebly.com/repertorio.html

 

 

Marco Frisina

 

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.crossed-flag-pins.com/animated-flag-gif/flags-Brazil.html

https://en.wikipedia.org/wiki/Marco_Frisina

https://gifer.com/en/gifs/explosion

https://giphy.com/explore/fart

https://tenor.com/

https://www.dreamstime.com/

https://www.deviantart.com/

https://gifer.com/en/7OHz

https://midianinja.org/margaridasalomao/distritao-nao/

https://fundacaoverde.org.br/a-democracia-corre-perigo/

https://www.bobble.ai/en/gifs

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.