O CEGO, O SURDO, O MUDO E O COXO

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

http://paxprofundis.org

 

Música de fundo: Luzes da Ribalta

 

OS  DEFICIENTES

 

Era dia de eleição em MARACUTSIL! A fuzarca era geral! Pela quarta vez consecutiva eu iria votar para escolher o próximo Presidente da República do meu País. Estava muito feliz em poder cumprir meu dever de cidadão, pois acredito no pensamento de Thomas Paine (1737-1809). Cada indivíduo de uma sociedade é inequivocamente um cidadão, e, como tal, é membro inalienável da soberania nacional. Assim entendido, não pode haver nenhum tipo de sujeição pessoal que não seja, exclusivamente, às leis vigentes. E, como membro do Estado Maracutsileiro e estando no pleno gozo de meus direitos constitucionais, estava prestes a, mais uma vez, participar ativamente da vida política maracutsilense, em nível nacional, conferindo (por empréstimo) meu voto ao candidato que julguei estar mais capacitado para exercer a Suprema Magistratura da Nação. Caminhando pela rua, coalhada de faixas e de santinhos, encontrei um simpático deficiente físico. O coxo aproximou-se de mim e, sem qualquer delonga, perguntou em quem eu iria votar.

— O voto é secreto, companheiro. Respondi com afabilidade.

Eu estou de acordo com o senhor respondeu o camacho. Mas como ainda não decidi em quem votar, achei que uma ajudazinha... O senhor me parece um homem instruído.

Eu acredito respondi com delicadeza que não seria prudente de minha parte auxiliá-lo nessa escolha. Já tive tantas decepções... Mas continuo acreditando que é um dever patriótico exercer o direito de voto. A escolha, meu amigo, é pessoal e fundamentalmente ideológica. Os desapontamentos passados não desobrigam o cidadão de sufragar.

Compreendo murmurou o coxo meio desiludido, talvez sem compreender realmente o que eu quis insinuar com voto ideológico. Mas o senhor se incomoda se eu caminhar ao seu lado por alguns minutos? Perguntou o coxo com uma tristeza indolente. Como o senhor deve ter reparado, perdi a perna direita em um terrível acidente de carro, e, com essa balbúrdia, fico meio atordoado e inseguro. Logo a direita... Logo a perna direita... Não sobrou nada... O pior é que, de vez em quando, ela coça. Não entendo como uma perna que não existe possa coçar! Engraçado continuou divagando a perna esquerda nunca coça. Que eu me lembre, ela nunca coçou. Nem quando eu era criança.

Olhei para aquele homem incompleto e, penalizado, disse, amigavelmente, que era um prazer tê-lo ao meu lado. Agora, explicar a ele o porquê de a inexistente perna coçar achei que não era aconselhável. Admiti, sem preconceito, que ele não possuía cultura suficiente para compreender. Pouco tempo depois confirmei que o melhor foi ter ficado calado. Se eu tivesse explicado o motivo das coceiras eventuais na perna que havia sido decepada, ele, provavelmente, teria surtado. Há coisas que não se dizem... Há coisas que não se explicam... Geralmente, quem fala demais e tem explicação para tudo, nada sabe. Quem tem algum conhecimento real, fala pouco; ou fica calado. Depois de assentir que andasse ao meu lado, os olhos do coxo imediatamente se iluminaram, e, tipicamente fora dos engonços, com o corpo a trouxe-mouxe, a muleta sob o ombro direito e coxeando a perna sã, pôs-se a caminhar entusiasmado. Começamos, então, a nos dirigir para a Seção Eleitoral. Com meus botões, fiquei pensando em qual poderia ser a diferença entre perder a perna direita ou a perna esquerda. Afinal, uma perna é uma perna... E será que votaríamos na mesma Seção? Nas outras eleições eu nunca o tinha visto por lá. Enfim...

Um pouco mais à frente encontramos um deficiente visual. O coxo não perdeu tempo. Coxeando com mais desengonço, esboçou um sorriso cordial e perguntou ao cego: Em quem você vai votar, meu bom ceguinho?
O cego, sem se incomodar com a pergunta nem com o tratamento sem-cerimonioso recebido, empertigou-se, deu uma piscadela com o olho esquerdo, e, solenemente, com ar de pisa-mansinho, respondeu:
Como barnabé federal aposentado de último nível só posso votar no Doutor Mentirinha. Afinal, ele não prometeu que, se eleito, faria todos os ceguinhos enxergarem? Eu não estou acreditando muito. Essas promessas de campanha... mas não custa nada tentar. Aliás, esse último que ficou sentado naquela cadeira quente foi um desastre para os servidores públicos federais de Maracutsil. Eu já não agüento mais tanto descaso. Pelo menos, talvez, eu possa voltar a ver. Nem que seja um pouquinho só. Dito isso, o cego deu três seguidas e ritmadas piscadelas com o olho esquerdo, ameaçou uma quarta que não se concretizou, e, batendo compassadamente sua bengala no chão, seguiu seu caminho e foi cumprir seu dever de funcionário público federal aposentado. Inquestionavelmente, barnabé ou não, ele estava em melhores condições financeiras do que a maioria da população de Maracutsil.

Continuamos, então, rumo à Seção Eleitoral. No trajeto, o coxo, já, então, agitadíssimo, começou a me relatar pormenorizadamente o infortúnio no qual perdera a perna direita. De repente, fomos interrompidos por um deficiente auditivo que se aproximou tentando pedir algum tipo de informação. O coxo não perdeu tempo. Nem deixou o surdo tentar se comunicar conosco. De chofre, perguntou: Qual é o seu candidato à Presidência da República? O surdo, enfiando o dedo indicador direito na narina esquerda quase até o cérebro para coçar o nariz, hábil em ler os movimentos labiais de seus interlocutores, balbuciou em uma linguagem quase ininteligível: No Doutor Mentirinha. Não me lembro de nenhum candidato que tenha prometido fazer os surdos voltarem a ouvir. Ele afirmou e se comprometeu. Foi o que me contaram. Isso é o que basta. É para ele que vou dar o meu voto. E, resmungando, gesticulando muito e praguejando, rapidamente, com metade do dedo índice direito enfiado na narina esquerda, se afastou para cumprir seu dever de cidadão. Algum tempo depois, me dei conta do tamanho das fossas nasais daquele indivíduo. Particularmente a esquerda, pois era maior do que a direita. Eram desproporcionadamente grandiosas, das quais sobejavam enormes pelos castanhos. Aquele órgão olfativo monumental, seguramente, não devia entupir nunca. Nem no inverno. Só discordei quando ele disse que daria seu voto... Voto não se dá; empresta-se por um período determinado. Emprestar novamente dependerá da performance daquele que recebeu o empréstimo. Todo empréstimo é temporário. Doação é vitalícia. O donatário não tem que devolvê-la. E empréstimo não é doação. Neste caso particular implica em COMPROMISSO PÚBLICO. O político que – no período de exercício de um cargo eleitoral – não cumpre todos os comprometimentos de campanha, não merece, no futuro, ser honrado com os votos de seus concidadãos.

Demos, então, seguimento à nossa jornada, com o coxo minudenciando todas as particularidades do acidente que houvera sofrido. Então, suando muito, explicou-me porque preferiria ter perdido a perna esquerda. E arrematou com um comentário assombroso e horripilante: Tudo que é esquerdo ou da esquerda é originário do maligno. Veja só esse tal de Comunismo. Ouvi dizer que os comunistas comem criancinhas ensopadas com batatas. Sinto-me, agora, como se estivesse desamparado e esquecido por Deus. Foi um azar enorme, o senhor não acha? Sinto-me mesmo como se fosse um saci-cererê a serviço do inferno e de todos os demônios. Se fosse a perna esquerda... Só pode ter sido castigo... E, o pior, conforme já lhe relatei, de vez em quando ela coça. É uma coceira infernal. Só passa se eu tomar um banho frio e comer alho cru. Um dente só não adianta. Tem que ser a cabeça inteira. E tem que ser rápido, senão não faz efeito. Aí, passa. Parece mágica. Mas eu fico cheio de gases. A impressão que eu tenho é que um dia desses eu vou detonar. E quem estiver por perto, vai comigo! Outro dia sonhei que eu tinha explodido um quarteirão inteiro. Não sobrou nada! Isso não é demoníaco?

Eu não sabia o que responder naquela desusada circunstância. Estava, realmente, chocado e um pouco depauperado. Preocupei-me com minha integridade física. Será que o fantasma da perna direita teria coçado justamente naquele dia? Teria ele comido uma cabeça de alho inteira? Imaginei o tamanho da explosão. Aquele homem era uma bomba ambulante. Só me ocorreu tentar consolá-lo dizendo: Mas, pelo menos, você ficou com a perna esquerda. E com o auxílio da muleta você pode se locomover razoavelmente bem. Talvez, até possa colocar uma prótese. Quem sabe! Pior era ter perdido as duas pernas. Aí, sim; a catástrofe seria total.

De permeio a essa conversa esdrúxula e explosiva, incoerente e desconexa, na qual involuntariamente me envolvi, surdiu um outro deficiente: um mudo. Parou-nos no meio da calçada e tentou dizer alguma coisa, usando, furiosamente, a linguagem dos sinais, que nem eu nem meu companheiro de passeio (passeio? aquilo estava se tornando uma epopéia às avessas) conseguíamos decifrar. Furibundo, ao mesmo tempo em que gesticulava muito, coçava impetuosamente a orelha esquerda. O curioso e inusual é que ele coçava a orelha esquerda com a mão direita. Uma maluquice sem paralelo! Cheguei a pensar que ele iria esfacelar a própria orelha. Involuntariamente, recordei-me do tamanho das cavidades nasais desmesuradas do deficiente auditivo. Possivelmente, ele até as usasse para, ocasionalmente, esconder algum objeto de valor. Acho que eu já estava começando a delirar. Senti uma leve tremura na minha narina esquerda. Não me atrevi sequer a tocá-la. Se eu coçasse a abertura esquerda da face inferior do meu nariz poderia ficar com ela deformada. Foi o que me ocorreu de pronto. Eu estava mesmo entrando na pilha daqueles maracutsileiros estranhíssimos! Precisava urgentemente retornar à sanidade. O coxo, imóvel, olhava para o privado da palavra, esperando uma oportunidade para entrar no seu assunto preferido. Isso, àquela fundura, eu já tinha certeza. Nesse entretempo, eu estava me sentindo como se estivesse em meio a uma tragédia grega. Evidentemente, todo aquele drama não iria, obviamente, terminar em fatalidade. Pelo menos, eu assim augurava. A situação era toda infausta apenas pela situação em si. Tratei de me acalmar. De qualquer sorte, isso não impediu o coxo, pronta e insistentemente, logo que teve oportunidade para se manifestar, de querer saber em quem o mudo iria votar. Aquilo já havia chegado às raias da obcecação. Cheguei mesmo a imaginar que o coxo iria dar uma muletada no pobre do mudo, pois a dificuldade de comunicação entre nós era quase intransponível. O mudo querendo falar sem conseguir e o coxo necessitando obsessivamente de uma informação que não conseguia obter. E eu tentando ensaiar uma mediação sem lograr êxito. O lance parecia que iria escapar ao controle de todos nós. Continuei me esforçando para ficar tranqüilo. Mas o privado da comunicação verbal não se ofendeu com a pergunta, nem se fez de rogado. Já um pouco mais sossegado, pois o coxo praticamente desistira de espicaçar o pobre homem, o mudo, para melhor se fazer entender, abaixou-se, pegou um santinho que estava no chão e escreveu: Eu só posso dar o meu voto para o Doutor Mentirinha. Era isso que eu estava tentando dizer. Na televisão ele não se comprometeu a fazer todos os mudos voltarem a falar? Estou cansado de não poder me comunicar direito. E as pessoas não têm paciência comigo. Outro dia quase apanhei de um gago. E um fanhoso me xingou até a última geração. Por isso, não tenho outra escolha. É no Doutor Mentirinha que eu vou votar. Espero que ele vença.

Lemos a resposta do mudo, escrita com letras tão minúsculas que mais pareciam garatujas, e, quando terminamos a leitura, o mudo já ia longe. Tive a curiosidade de verificar o estado da sua orelha esquerda. Daquela distância parecia ilesa. Ilesa, mas vermelhíssima! Talvez algum vaso tivesse se rompido... De qualquer forma, o pobre homem incapacitado de falar continuava com as duas orelhas. Menos mal... pensei comigo. Mas se ele continuasse a coçar a orelha esquerda com a mão direita daquela maneira, haveria de arrancá-la. Lembrei-me, então, de que o mudo havia dito(?) que outro dia quase apanhara de um gago. Fiquei imaginando. Só faltava aparecer um gago no nosso caminho. Pior se fosse fanho também. Gago e fanho ao mesmo tempo o problema seria dobrado. Aí seria realmente demais para um dia tão importante para mim, para os maracutsileiros e para Maracutsil. Senti que minha cabeça fervilhava. Mas isso não aconteceu. Passou-me, então, rapidamente pela cabeça, a imagem daqueles quatro senhores sentados em um bar qualquer, discutindo sobre algum assunto infrutífero com o qual não concordassem entre si. Ao final da leréia, o cego, talvez, pudesse estar piscando o olho esquerdo tão convulsivamente que não conseguisse parar. Talvez o globo ocular pulasse da cavidade óssea da face na qual se encontram o próprio olho, o nervo óptico, os vasos sangüíneos oculares e os músculos e nervos oculomotores; o mudo, certamente, teria, em um acesso de fúria, arrancado a orelha esquerda com a mão direita; o surdo, indubitavelmente, teria arrombado a narina esquerda com o dedo indicador direito (porventura até furasse o cérebro); e o coxo... O coxo eu não consegui imaginar o que teria feito. A hipótese de que, saltitando com a perna esquerda, pudesse dar uma surra de muleta nos outros três não estava totalmente descartada. Mas, de repente, aquelas imagens alucinantes se evanesceram, e visualizei os quatro confraternizando afetuosamente pela vitória eleitoral do Doutor Mentirinha. Pior (pior?) para Maracutsil: melhor (melhor?) para eles. Fiquei imaginando como um indivíduo presumidamente sensato e centrado como eu pôde dar asas à imaginação daquela forma. Mentalmente consultei Freud e Jung. Não adiantou nada. Não fui inspirado com uma intuição que explanasse aqueles pensamentos desarticulados. Ora bolas! O que eu não poderia ter permitido é que aqueles pensamentos prosperassem em minha mente. Fui deveras descuidado! As tais quedas eventuais!

Foi, então, que o coxo se virou para mim, já bem mais tranqüilo e controlado, e, imponente e pomposamente, me confessou enfaticamente: Decidi. Também vou votar no Doutor Mentirinha. Maracutsil precisa dele. Está resolvido. Se ele prometeu que vai fazer os cegos enxergarem, os surdos ouvirem e os mudos falarem, pode ser que, também, possa dar um jeitinho na minha perna direita que coça sem existir. Talvez a esquerda até comece a coçar um pouquinho. E, com o corpo a trouxe-mouxe, a muleta sob o ombro direito e coxeando a perna sã, despediu-se educadamente de mim e foi, garbosamente, mas meio desengonçado, cumprir também seu dever cívico. Antes de partir, entretanto, me abraçou demoradamente e me desejou felicidades. Eu retribuí fraternalmente, e, mentalmente, desejei-lhe paz e compreensão. Dadas as circunstâncias, não tive oportunidade de fazer o mesmo com os outros três que cruzaram meu caminho naquela tarde de domingo. Essa providência impostergável eu cumpriria um pouco mais tarde. Em silêncio. Eu e o D'US de meu coração.

Eu, a meu turno, segui para a Seção na qual também deveria exercer minha intransferível cidadania. E, é óbvio, não votei no Doutor Mentirinha. Quando me retirei da cabine de votação, olhei o relógio. Eram, exatamente, três horas e quarenta e cinco minutos! Lembrei-me dos VERSOS DE OURO de Pitágoras.(1) Fiquei emocionado e meus olhos umedeceram um pouco. Emiti um longo pensamento de paz à humanidade. Confio que, no inexistente tempo, um dia, todos compreenderão que são deuses mortais e realizarão e se transmutarão em Homens-Deuses-Imortais. Este é o verdadeiro e transcendental sentido oculto da Alquimia Interior. Lembrei-me das QUARENTA E DUAS LEIS DE MAAT(2) e orei, em silêncio, por todos os seres do Universo. Que MAAT possa morar em todos os corações. Bendisse, agradecido, AKHNATON e JESUS - VEÍCULOS do CRESTOS SOLAR. Agradeci, comovido, também, a Harvey Spencer Lewis, a Ralph Maxwell Lewis, a Raymond Bernard, a Christian Bernard, a Maria A. Moura e a Charles Vega Parucker. Agora, agradeço também a Vicente Velado. Agradeci à minha mãe e a todos que me auxiliaram, nesta encarnação, a alcançar o que alcancei. Não pude deixar de me lembrar da advertência do último discurso de O Grande Ditador, de Charles Spencer Chaplin (1889-1977) - o Carlitos: NÃO SOIS MÁQUINA! HOMENS É QUE SOIS!

Já na calçada, no retorno para casa, pus-me a refletir sobre aqueles insólitos encontros. Uma profunda tristeza nostálgica abateu-se sobre mim. Lembrei-me de Unamuno (1864-1936) que ponderou: A primeira coisa que um cidadão precisa ter é civismo, e não pode haver pátria, verdadeira pátria, onde os cidadãos não se preocupam com os problemas políticos.(3) Recordei-me de Coelho Neto (1864-1934) e do seu Breviário Cívico no qual afirmou ser o civismo, minimamente, o cumprimento exato dos deveres que a lei impõe...venerar a ordem... e corresponder ...a todo apelo... no sentido de obedecer e de dar cumprimento a todos os deveres patrióticos.(4) E repassei os ensinamentos de Montesquieu (1689-1755): Se soubesse de algo que me fosse útil e fosse prejudicial à minha família, rejeitá-lo-ia do meu espírito. Se soubesse de algo útil à minha família e que não o fosse à minha pátria, procuraria esquecê-lo. Se soubesse de algo útil à minha pátria e que fosse prejudicial à Europa, ou que fosse útil à Europa e prejudicial ao gênero humano, considerá-lo-ia como um crime.(5) Montaigne (1533-1592) apareceu também em minhas lucubrações, pois, agora, eu estava refletindo sobre a vaidade humana. Não pude deixar de concordar com o Filósofo, ainda que seu pensamento, em certa medida, não se adéqüe, propriamente, à dialética que eu estava praticando naquele momento. Estimo todos os homens - ponderou Montaigne - meus compatriotas e abraço um polonês como um francês, pospondo a ligação nacional à universal e comum.(6) Meu pensamento retrocedeu novamente a Pitágoras, e, imediatamente, visualizei AKHNATON. Mentalmente abracei o cego, o surdo, o mudo e o coxo. Abracei, outrossim, o gago (que, talvez, também, pudesse ser fanhoso) que não encontrei. Provavelmente, eu não os veria mais. Mas, são meus irmãos, eu tenho certeza, perante a minha consciência e ante a CONSCIÊNCIA CÓSMICA. Lembrei-me, também, do PRIMEIRO MANDAMENTO ensinado por Jesus. Pronunciei mentalmente com amor e com determinação o  '.'V'.'  '.'D'.'  '.'I'.' e orei em silêncio.

Mas, foi Kant (1724-1804) quem deu o toque final em minhas meditações. Eu estava a pensar em como o ser humano, normalmente, age por interesse pessoal, hipotetizando situações em que possa auferir algum tipo de vantagem. Verdade seja dita, é muito difícil alguém chegar ao limite da renúncia absoluta, de servir incognitamente sem anelar qualquer tipo de retribuição ou de benefício. De cumprir um dever tão-somente porque aquele dever deva ser cumprido. De ser generoso, amigável, fraterno, solidário e altruísta desinteressadamente. Enfim, no caso, de emprestar seu voto, fazê-lo porque acredita inteira e simplesmente nas propostas apresentadas por um determinado candidato a um cargo público eletivo do seu País. Sem nenhum retorno pessoal. Sem nenhum benefício particular. Sem nenhuma vantagem, por mínima que seja, para si, ou para algum parente, ou conhecido, ou amigo. Estas especulações, óbvia e inquestionavelmente, envolvem um comprometimento ideológico ponderado e uma compreensão esotérica de determinadas Leis Cósmicas que não serão objeto de especulação neste ensaio.

Fala-se muito, por outro lado, contemporaneamente, em mudanças e em reformas. Mudança do modelo econômico, reforma das leis eleitorais, mudanças na área educacional, reforma previdenciária, reforma política, mudança e atualização das leis que regulam o comércio internacional, reforma tributária, mudança nas leis que regem o Biodireito, reforma agrária, reforma trabalhista etc. Mas, quaisquer reformas ou quaisquer mudanças serão inócuas se o homem não mudar internamente. É exclusivamente no coração - o Santuário dos Santuários - que a Alquimia da vera mudança e da autêntica reforma poderão e deverão acontecer. Parafraseando Victor Hugo (1802-1885), as reformas e as mudanças podem reformar e mudar tudo, menos o coração do homem. Este mesmo coração só muda e se reconstrói por volição pessoal, por esforço pessoal e por compreensão pessoal. E, mudar não implica em estagnar depois de mudar. O mudamento está associado à reintegração do ente rumo ao CENTRO DA IDÉIA, que está, desde sempre, no próprio interior do ente. A petrificação ou cristalização de um conceito impõe a horizontalidade, contrário, em essência, à verticalidade reintegratória, conceitos filosoficamente desvinculados de qualquer entendimento teológico ou de qualquer presunção teleológica, ainda que, no Universo, não haja dentro ou fora, em cima ou embaixo, e, conseqüentemente, horizontal ou vertical. O Universo é. O tempo é. O espaço é. Que terá pensado exatamente Santo Agostinho quando se referiu ao presente do passado, ao presente do presente e ao presente do futuro? Os fractais têm muito a nos ensinar!
Quase chegando à casa, revisitei mentalmente Kant e a questão dos Imperativos. Imperativo é uma norma, uma ordem ou um princípio segundo o qual o ente deve atuar. Os Imperativos, de acordo com Kant, podem ser Hipotéticos ou Categóricos. Nos Imperativos Hipotéticos os encargos e os atos são necessariamente praticados como condições estabelecidas para o alcançamento de um fim específico e predeterminado. Tais ações podem até ser legais, mas, sob o ângulo da presente especulação, podem não ser (e nem sempre são) morais. No âmbito exclusivo da moral, nenhuma intenção deve remanescer paralelamente ao límpido e ao incontaminado fundamento do dever. Por isso, nos Imperativos Categóricos os encargos (as obrigações) atuam em uma esfera que se impõe como condição insubstituível e irredutível para a consecução de um fim universal. Ainda que o Universo não esteja programado para atingir ou alcançar um télos, este almejado fim deve se aproximar, o mais intuicionantemente possível, da ATUALIDADE CÓSMICA PERMANENTE, que é entendida iniciaticamente como inviolável, irreduzível e insubstituível. (Este entendimento não foi especulado por Kant). Aí reside, inclusive, a diferença entre moral e ética. A moral é oriunda e pertencente ao ambiente e ao domínio humano e é materializada nos códigos; tem sua função de excelência no plano das realidades. A ÉTICA é universal. Ela é o próprio Universo em ação. Não pode ser emendada, nem apreciada em sua integralidade. Paradoxalmente, o ser só pode compreender a ÉTICA CÓSMICA assintoticamente. Enfim, em última instância, sem ter pretendido corrigir ou alterar as especulações do Filósofo de Königsberg, Immanuel Kant (1724-1804) propôs, verdadeiramente, que todas e quaisquer ações devam, irredutivelmente, valer como máximas, decretos ou princípios de uma legislação universal. Valem para todos. A moralidade, assim, só pode estar ancorada em Imperativos Categóricos. Acima de tudo, o dever. O bom combate circunscreve-se ao esforço pessoal em dominar e em compreender os instintos, os desejos, as cobiças, as paixões, os interesses pessoais e as ilusões, que estão constante e sistematicamente a prover evasivas (in)justificadas para elidir o dever(7), e a tentar justificar ações que afastem o ser de uma progressiva, insondável e ilimitada reintegração universal.

Ao chegar à casa, a melancolia que havia assaltado minh'alma havia se dissipado por inteiro. Sentei-me confortavelmente e enviei meus melhores pensamentos à humanidade que ainda sofre e chora neste mundo de mâyâ. Ofereci o melhor que em mim existe como instrumento de luz, de harmonia de vida e de amor. PAZ PROFUNDA. FIAT PAX IN VIRTUTE TUA. (Faça-se a PAZ na tua VIRTUDE). Os rosacruzes de hoje não estão, certamente, tão distantes de São Bento, que há dezessete séculos propôs esta máxima, que embute santamente a paz do CRISTO CÓSMICO. A paz individual, a paz coletiva e a paz da Terra só se concretizarão pelo exercício das próprias virtudes. Esta é a LEI.

 

O   SEGUNDO   É   O   'MILAGRE'   DA   VIDA   QUE   NÃO   SE   REPETIRÁ.

 

 

DADOS SOBRE O AUTOR


Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.


NOTAS


(1). Fonte:
http://www.stb.org.br/lojafenix/tradic2.htm

Acesso em 10/12/2003.


Os VERSOS DE OURO da tradição pitagórica constituem um documento de valor inestimável. Este texto, breve e único, até hoje pouco conhecido do público, é um mapa preciso do caminho prático para a Sabedoria Divina. O fato de que caiu no esquecimento e é relativamente raro só faz aumentar seu valor. Ele expressa em poucas palavras, e com uma clareza definitiva, o compromisso de vida dos pitagóricos de todos os tempos. Os VERSOS DE OURO serão tão atuais dentro de 2.500 anos como eram na Grécia antiga há 2.500 anos atrás. Na complexa transição de hoje para uma civilização global, eles apontam e sinalizam impecavelmente o caminho da regeneração de cada indivíduo, base para o renascimento coletivo da SABEDORIA (ShOPhIa) nos próximos anos e décadas. Carlos Cardoso Aveline (Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Brasília, de Brasília) traduziu os VERSOS DE OURO a partir do texto de Hierocles de Alexandria, com base na versão em língua inglesa feita por N. Rowe, em 1707, e adotada, hoje, pela maior parte dos estudiosos da tradição pitagórica. Mas, levou em conta outras versões importantes dos VERSOS, entre elas a de Fabre d'Olivet. A seguir, portanto, um texto imortal que se pode ler, reler e meditar ao longo do tempo. É um Mapa, um Guia e um Tratado completo sobre a vida dos sábios. Estes VERSOS DE OURO são atribuídos a Lysis, discípulo de Pitágoras. Nesta tradução, fiz mínimas modificações e adaptações.

 

 

VERSOS DE OURO

PITÁGORAS

 


1. Honra, em primeiro lugar, os Deuses Imortais, como manda a Lei.

2. A seguir, reverencia o juramento que fizeste.

3. Depois, os heróis ilustres, cheios de bondade e de luz.

4. Homenageia, então, os espíritos terrestres e manifesta por eles o devido respeito.

5. Honra, em seguida, a teus pais e a todos os membros da tua família.

6. Entre os outros, escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso.

7. Aproveita seus discursos suaves e aprende com os atos dele que são úteis e virtuosos.

8. Mas não afasta teu amigo por um pequeno erro.

9. Porque o poder é limitado pela necessidade.

10. Leva bem a sério o seguinte: Deves enfrentar e vencer as paixões.

11. Primeiro a gula, depois a preguiça, a luxúria, e a raiva.

12. Não faz junto com outros, nem sozinho, o que te dá vergonha.

13. E, sobretudo, respeita a ti mesmo.

14. Pratica a justiça com teus atos e com tuas palavras.

15. E estabelece o hábito de nunca agir impensadamente.

16. Mas lembra sempre de um fato: a morte virá a todos.

17. E que as coisas boas do mundo são incertas, e assim como podem ser conquistadas, podem ser perdidas.

18. Suporta com paciência e sem murmúrio a tua parte, seja qual for.

19. Dos sofrimentos que o destino determinado pelos Deuses lança sobre os seres humanos.

20. Mas esforça-te por aliviar a tua dor no que for possível.

21. E lembra que o destino não manda muitas desgraças aos bons.

22. O que as pessoas pensam e dizem varia muito; agora é algo bom, em seguida é algo mau.

23. Portanto, não aceita cegamente o que ouves, nem o rejeita de modo precipitado.

24. Mas se forem ditas falsidades, retrocede suavemente e arma-te de paciência.

25. Cumpre fielmente, em todas as ocasiões, o que te digo agora:

26. Não deixa que ninguém, com palavras ou atos,

27. Leve-te a fazer ou dizer o que não é melhor para ti.

28. Pensa e delibera antes de agir, para que não cometas ações tolas,

29. Porque é próprio de um homem miserável agir e falar impensadamente.

30. Mas faze aquilo que não te trará aflições mais tarde e que não te causará arrependimento.

31. Não faças nada que sejas incapaz de entender.

32. Porém, aprende o que for necessário saber; deste modo, tua vida será feliz.

33. Não esqueças de modo algum a saúde do corpo.

34. Mas dá a ele alimento com moderação, o exercício necessário e também repouso à tua mente.

35. O que quero dizer com a palavra moderação é que os extremos devem ser evitados.

36. Acostuma-te a uma vida decente e pura. Sem luxúria.

37. Evita todas as coisas que causarão inveja.

38. E não cometas exageros. Vive como alguém que sabe o que é honrado e decente.

39. Não ajas movido pela cobiça ou pela avareza. É excelente usar a justa medida em todas estas coisas.

40. Faze apenas as coisas que não podem te ferir e decide antes de fazê-las.

41. Ao deitares, nunca deixes que o sono se aproxime dos teus olhos cansados,

42. Enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas ações do dia.

43. Pergunta: Em que errei? Em que agi corretamente? Que dever deixei de cumprir?

44. Recrimina-te pelos teus erros, alegra-te pelos acertos.

45. Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Tu deves amá-las de todo o coração.

46. São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina.

47. Eu o juro por aquele que transmitiu às nossas almas a TETRACTYS SAGRADA.

48. Aquela fonte da natureza cuja evolução é eterna.

49. Nunca comeces uma tarefa antes de pedir a bênção e a ajuda dos Deuses.

50. Quando fizeres de tudo isso um hábito,

51. Conhecerás a natureza dos Deuses Imortais e dos homens,

52. Verás até que ponto vai a diversidade entre os seres, e aquilo que os contém e os mantém em UNIDADE.

53. Verás então, de acordo com a Justiça, que a substância do Universo é a mesma em todas as coisas.

54. Deste modo não desejarás o que não deves desejar, e nada neste mundo será desconhecido de ti.

55. Perceberás também que os homens lançam sobre si mesmos suas próprias desgraças, voluntariamente e por sua livre escolha.

56. Como são infelizes! Não vêem, nem compreendem que o bem deles está ao seu lado.

57. Poucos sabem como se libertar dos seus sofrimentos.

58. Este é o peso do destino que cega a humanidade.

59. Os seres humanos andam em círculos, para lá e para cá, com sofrimentos intermináveis,

60. Porque são acompanhados por uma companheira sombria, a desunião fatal entre eles, que os lança para cima e para baixo sem que percebam.

61. Trata, discretamente, de nunca despertar desarmonia; mas foge dela!

62. Oh! Deus nosso Pai! Livra a todos de sofrimentos tão grandes,

63. Mostrando a cada um o Espírito que é seu guia.

64. Porém, tu não deves ter medo, porque os homens pertencem a uma raça divina,

65. E a Natureza Sagrada tudo revelará e a eles mostrará.

66. Se Ela comunicar a ti os seus segredos, colocarás em prática com facilidade todas as coisas que te recomendo.

67. E, ao curar a tua alma, a libertarás de todos estes males e sofrimentos.

68. Mas evita as comidas pouco recomendáveis para a purificação e a libertação da alma.

69. Avalia bem todas as coisas,

70. Buscando sempre te guiar pela Compreensão Divina que tudo deveria orientar.

71. Assim, quando abandonares teu corpo físico e te elevares no Éter,

72. Serás imortal e divino, terás a plenitude e não mais morrerás.

Na senda iniciática, diversas são as quedas, muitas são as dúvidas, múltiplas são as angústias, inúmeros são os sofrimentos, multíplices são as tentações, distintas são as manifestações de vaidade e vários são os equívocos. Mas, se o aspirante for sincero e trabalhar arduamente, o Mestre, um dia, certamente, se fará presente. De uma forma ou de outra. Isto é o que asseveram todos os Iniciados.

Caíram. Duvidaram. Angustiaram-se. Sofreram. Foram tentados. Eventualmente se envaideceram. Equivocaram-se. Mas, acreditaram, perseveraram e alcançaram a ILLUMINAÇÃO CÓSMICA. Este conceito está alicerçado na insubstituível e irredutível Lei da Meritocracia.

(2). Traduzido do site:

http://maat-order.org/maat42lawsnn.htm

Acesso em 10/12/2003.


QUARENTA E DUAS LEIS DE MAAT


1. Não cometi assassinato, nem contratei ninguém para matar por mim.

2. Não cometi estupro, nem forcei nenhuma mulher a cometer adultério.

3. Não me vinguei de ninguém, nem ardi em cólera.

4. Não causei terror, nem jamais provoquei aflição.

5. Não fiz com que ninguém sentisse dor, nem provoquei tristeza.

6. Não fiz mal algum. Não prejudiquei ninguém e nem causei sofrimento.

7. Não causei dano a nenhuma pessoa, nem maltratei animais.

8. Não fiz ninguém chorar.

9. Não tomei conhecimento do mal e não agi nem com crueldade nem com injustiça.

10. Não roubei, não me apropriei de coisas que não me pertencem, e nem daquelas que pertencem a outrem. Não roubei nada dos pomares, nem tirei o alimento das crianças.

11. Não cometi fraude, não acrescentei nada ao peso da balança, nem tornei os pratos da balança mais leves.

12. Não devastei a terra lavrada, nem causei a destruição dos campos.

13. Não expulsei o gado de seus pastos, nem privei ninguém daquilo que lhes pertencia de direito.

14. Não acusei ninguém falsamente, nem jamais apoiei nenhuma falsa acusação.

15. Não menti, nem disse coisas falsas que prejudicassem alguém.

16. Não esbravejei, nem provoquei a discórdia.

17. Não agi com perfídia, não fui ardiloso, nem falei de modo enganoso que prejudicasse ninguém. Não negociei com qualquer pessoa de forma fraudulenta, nem atestei uma fraude que causasse dano a alguém.

18. Não falei com escárnio, nem me manifestei para falar contra homem algum.

19. Nunca tentei escutar o que não era dirigido aos meus ouvidos.

20. Não fechei meus ouvidos para as palavras de Retidão e de Verdade.

21. Não fiz julgamentos apressados, nem fiz julgamentos impiedosos. Em meus julgamentos jamais fui apressado e sob nenhuma condição fui impiedoso.

22. Não cometi nenhum crime no lugar da Retidão e da Verdade.

23. Não fiz com que o senhor cometesse qualquer injustiça contra seu servo.

24. Não me enfureci sem motivo.

25. Não fiz a água voltar na época da maré alta, nem detive o fluxo das correntes.

26. Não destruí o leito dos rios.

27. Não conspurquei as águas, nem poluí a terra.


PECADOS


28. Não blasfemei contra Deus, não desdenhei de Deus, nem fiz aquilo que Deus abomina.

29. Não aborreci ou enfureci Deus.

30. Não roubei nada de Deus, nem furtei as oferendas dos templos.

31. Não acrescentei nem reduzi as oferendas que Lhe são devidas.

32. Não furtei os alimentos ofertados a Deus.

33. Não retirei as oferendas feitas aos mortos abençoados.

34. Não negligenciei as épocas designadas para as oferendas.

35. Não maltratei o gado destinado ao sacrifício.

36. Não impedi as procissões em honra a Deus.

37. Não abati com intenção maldosa o gado de Deus.


TRANSGRESSÕES PESSOAIS


38. Não agi com perfídia, nem agi com insolência.

39. Não fui excessivamente orgulhoso, nem me comportei com arrogância.

40. Não exagerei minhas condições além do limite do que era adequado e conveniente.

41. A cada dia trabalhei mais do que me era exigido.

42. Meu nome não apareceu e jamais aparecerá no Barco do Príncipe.

 

MAAT HOTEP
(A PAZ DE MAAT ESTEJA CONVOSCO)

 

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Nas antigas Escolas de Mistérios (Sabedoria) do Egito Antigo, o candidato, para postular conhecimentos mais elevados, deveria se comprometer a cumprir as QUARENTA E DUAS LEIS DE MAAT (VERDADE). Inclusive, o acesso a graus mais esotéricos impunha o estrito cumprimento das Leis acima transcritas. Como era naqueles tempos, continua sendo hoje. A sabedoria que AKHNATON legou à humanidade foi, no início do século passado, retransmitida no seio da Ordem Rosacruz — AMORC, cujas atividades estiveram, inicialmente, sob a superlativa responsabilidade do Dr. Harvey Spencer Lewis (Sâr Alden - Frater Profundis XIII). Deu prosseguimento a esse trabalho Ralph Maxwell Lewis (Sâr Validivar). Sucedeu-o, temporariamente, o Frater Gary Lee Stewart. Presentemente, o Imperator da AMORC é o Frater Christian Bernard (Sâr Phoenix).

(3). Solilóquios e conversações, apud Paulo Rónai, Dicionário Universal Nova Fronteira de Citações, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S/A, 1985, p.182.

(4). Op. cit., p. 182.

(5). Op. cit., p. 171.

(6). Op. cit., p. 171.

(7). KANT, Immanuel. Crítica da razão prática/Kritik der praktischen vernunft. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1984, 195 p.

______. A paz perpétua/Zum ewigen frieden, ein philosophiscer entwurf. Tradução de Raphael Benaion. Rio de Janeiro: Brasílica, 1993, 114 p.

______. Crítica da razão pura/Kritic der reinen vernunft. 3a. ed Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, 680 p.

 

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O GRANDE DITADOR

(O ÚLTIMO DISCURSO)

Charles Spencer Chaplin - Carlitos

* 16 abril 1889, East Lane, Walworth, Londres - Inglaterra

25 dezembro 1977, Corsier-sur-Vevey - Suíça

 

A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la. Mas quem consegue, descobre tudo.

 

Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais. Teus passos ficaram. Olha para trás... mas, vai em frente; pois, há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te.

 

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

 

Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.

 

O homem não morre quando deixa de viver,
mas sim quando deixa de amar.

 

 

 

     Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.

     Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que haveremos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A Terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

     O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

     A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à FRATERNIDADE UNIVERSAL... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre vós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

     Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem MARCHAR NO MESMO PASSO, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como GADO HUMANO e que vos utilizam como BUCHA DE CANHÃO!

 

NÃO SOIS MÁQUINA!

HOMENS É QUE SOIS!

 

          E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

     Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No DÉCIMO SÉTIMO Capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da Democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

     É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da Democracia, unamo-nos!

     Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O SOL vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a LUZ! Vamos entrando em um mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e, afinal, começa a voar. Voa para o arco-íris, para a LUZ da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

 

Cada soldado que cai em um campo de batalha frente à resistência do presumido inimigo faz despencar a popularidade do assassino que o mandou para o sacrifício e para sacrificar vidas. A história cobra com repúdio, sangue, dor e vidas a ignorância e os erros cometidos nas urnas em nome de uma ideologia, de uma segurança e de um bem hipotéticos, fraudulentos e inexistentes!


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PAZ NA TERRA

PAZ NA TERRA

PAZ NA TERRA

PAZ NA TERRA

PAZ NA TERRA

PAZ NA TERRA

PAZ NA TERRA