O CAPITAL
(O que importa é transformar o mundo)

 

 

 

A malfazeja mais-valia
foi a maior sacanagem
forjicada pelo homem.

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Texto

 

 

 

O Capital (em alemão: Das Kapital) é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de autoria do economista, filósofo, historiador, teórico político, jornalista, revolucionário alemão e fundador da doutrina comunista moderna Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) como crítica ao Capitalismo (crítica da Economia Política). Muitos consideram esta obra o marco do pensamento socialista-marxista. Nesta obra, existem muitos conceitos econômicos complexos, incluindo uma crítica exemplar sobre a teoria do valor-trabalho do economista e filósofo escocês Adam Smith 1723 – 1790) e de outros assuntos dos economistas clássicos.

 

Esta obra, em um certo sentido, é um tanto pesada e complicada. O que estou fazendo, hoje, é divulgar, para quem não conhece o pensamento de Marx – em 2005, em uma pesquisa realizada pela Radio 4, da BBC, Marx foi eleito o maior filósofo de todos os tempos – alguns pedacinhos descomplicados da teoria econômica marxista, basicamente retirados de O Capital. Portanto, se você conhece e já estudou O Capital e outros escritos de Marx, não perca tempo: feche este arquivo, pois este rascunho praticamente não acrescentará nada ao que você já sabe. Agora, como eu disse, para quem não conhece o pensamento econômico de Marx, vale a pena dar uma conferida nas migalhinhas que selecionei, pois não são tão difíceis assim de compreender e são muito inspiradoras. Entretanto, são difíceis, sim, de aceitar e de implementar. Pelo menos, para os donos do dinheiro. Seja como for, o pensamento de Marx tem influenciado várias áreas, tais como Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política, Antropologia, Biologia, Psicologia, Economia, Teologia, Comunicação, Administração, Design e Arquitetura. Não se pode dizer, todavia, que o Marxismo tenha, de qualquer modo, influído ou norteado o misticismo contemporâneo; mas, há diversos pontos de convergência entre o pensamento de Marx e a tradição iniciática. Bem, na verdade, em um sentido muito particular, Karl Heinrich Marx, mais ou menos, anunciou com notável antecipação a Crise Econômica de 2008/2011, também chamada de Grande Recessão. Mas, os Iniciados sempre souberam que a ganância haveria de dar no imbróglio que deu, sem estimativa bem arranjada de solução, ainda hoje, 18 de novembro de 2011. Ora, como poderia ser (ou ter sido) diferente, se a Humanidade dia-a-dia adoideja, e, em vez de voar, manqueja? O mais grave é que os donos do dinheiro continuam a não se entender, e os parlamentos pensam que trocando primeiros-ministros a coisa se resolverá. Não. Não se resolverá enquanto o homem não entender que, sob qualquer aspecto, não pode a seu bel-prazer mais-valiar o seu semelhante. O lucro (mais-valia) obtido pela escravização do trabalhador é um opróbrio que haverá de ser educativamente compensado da forma mais dolorosa. E fazer doações ou óbolos aqui e ali para abonançar, abrandar, aliviar, amainar, apaziguar, aplacar, aquietar, assossegar, atenuar, calmar, comedir, desapoquentar, desassombrar, mitigar, moderar, pacientar, pacificar, serenar, sofrear, sopitar, sossegar, tranqüilizar a consciência não adianta merda nenhuma. O escravagismo praticado será integralmente compensado. A dor ainda não doeu; até agora, apenas fez cócegas.

 

 

 

Pedacinhos do Capital

 

 

 

Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade – braços e pernas, cabeça e mão – a fim de se apropriar da matéria natural em uma forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio deste movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao alterá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria Natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio. Não se trata, aqui, das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho. O estado em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho deixou para o fundo dos tempos primitivos o estado em que o trabalho humano não se desfez ainda de sua primeira forma instintiva. Pressupomos o trabalho em uma forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho, obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto, idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. E esta subordinação não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isto tanto mais quanto menos este trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita, como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais.

 

O monopólio do Capital transforma-se em entrave do modo de produção, o qual com ele e sob os seus auspícios floresceu. A centralização dos meios de produção e da socialização do trabalho atinge um ponto em que se tornam incompatíveis com sua membrana capitalista. Esta acaba sendo explodida. Soa a hora da propriedade privada capitalista. Os expropriadores são expropriados.

 

Atuando sobre a Natureza externa e modificando-a, o homem, ao mesmo tempo, modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais.

 

Entre a sociedade capitalista e sociedade comunista encontra-se o período da transformação revolucionária de uma na outra. Ele corresponde também a um período político de transição, cujo Estado não pode ser senão a Ditadura Revolucionária do Proletariado.

 

Minha investigação desembocou no resultado de que as relações jurídicas, tais como formas do Estado não podem ser compreendidas nem a partir de si mesmas nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do espírito humano. Elas, pelo contrário, enraizam-se nas relações materiais de vida cujo conjunto Hegel1 resumiu, segundo o procedimento dos ingleses e dos franceses do século XVIII, sob o nome de 'sociedade civil', sendo que, porém, a anatomia da sociedade civil há de ser procurada na Economia Política. A pesquisa desta última, que iniciei em Paris, vim a continuar em Bruxelas, para onde reemigrei por decorrência de uma ordem de extradição do Sr. Guizot.2 O resultado geral que diante de mim emergiu e que, uma vez alcançado, serviu de fio condutor para os meus estudos, pode ser formulado, brevemente, da seguinte forma: 1º) na produção social de sua vida, os homens ingressam em relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção estas que correspondem a um nível de desenvolvimento determinado de suas forças produtivas materiais; 2º) o conjunto destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas sociais de consciência; 3º) o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e espiritual em geral; 4º) não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, sim, inversamente, é o seu ser social que determina sua consciência; 5º) em certo nível de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é disto apenas uma expressão jurídica, com as relações de propriedade, no interior das quais elas haviam se movimentado até então; 6º) de formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações se convertem em entraves das mesmas; 7º) surge uma época de revolução social; e 8º) com a modificação do fundamento econômico, sacode-se, toda a monstruosa superestrutra, seja de modo mais lento, seja de modo mais rápido.

 

Diante dos alemães, que ignoram precondições, cumpre-nos começar, constatando o primeiro pressuposto de toda e qualquer existência humana e, portanto, de toda a história, vale dizer o pressuposto de que os seres humanos devem ser capazes de viver, para que possam 'fazer a história'. Entretanto, sobretudo, o comer e o beber, a habitação, o vestuário e mais algumas outras coisas pertencem à vida. O primeiro ato histórico é, portanto, a geração dos meios, destinados à satisfação destas necessidades, a produção da própria vida, e, em verdade, este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a História que, ainda hoje, tal como há milhares de anos, há de ser executado, a cada dia e a cada hora, a fim de que os seres humanos se mantenham simplesmente vivos. Mesmo que a atividade sensorial seja reduzida a um bastão, a um mínimo – tal como Santo Bruno o faz – ela pressupõe a atividade de produção deste bastão. Portanto, em toda concepção histórica, a primeira questão é a que se deve observar este fato fundamental, em todo o seu significado e extensão, permitindo-se que assuma o seu lugar de direito. Como todos sabem, os alemães jamais fizeram isto. Assim, jamais tiveram uma base terrena para a História e, conseqüentemente, jamais possuíram um único historiador. Ainda que também tenham concebido, de modo apenas extremamente unilateral, a contextualidade deste fato com aquilo que se denomina História, os franceses e os ingleses, notadamente por permanecerem aprisionados na ideologia política, realizaram, mesmo assim, as primeiras tentativas de conferir à historiografia uma base material, na medida em que, pela primeira vez, escreveram histórias sobre a sociedade civil, o comércio e a indústria...

 

Os donos do Capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado.3

 

De cada um, de acordo com suas habilidades; a cada um, de acordo com suas necessidades.

 

O Comunismo é uma reunião de homens livres trabalhando com meios de produção comuns e, dependendo, a partir de um plano combinado, suas numerosas forças individuais como uma única e mesma força de trabalho social.

 

Na manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta; na fábrica, ele é um servo da máquina.

 

A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também é o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.

 

O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina o homem, e ele a adora.

 

 

 

 

 

As idéias prevalecentes em uma época nunca foram outra coisa do que idéias da classe dominante.4

 

O que distingue uma época econômica de outra é menos o que se produziu do que a forma de o produzir.

 

A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais, e idealiza suas formas brutas.

 

Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes.

 

A história sempre se repete. A primeira vez como tragédia; a segunda como farsa.

 

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e, sim, sob aquelas circunstâncias com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em se revolucionar a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nestes momentos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de se apresentar nesta linguagem emprestada.

 

É impossível criar um poder moral mediante os parágrafos de uma lei.

 

Cada um dos dois grandes interesses em que se divide a burguesia – o latifúndio e o Capital – procurava restaurar sua própria supremacia e suplantar o outro. Falamos em dois interesses da burguesia porque a grande propriedade territorial, apesar de suas tendências feudais e de seu orgulho de raça, tornou-se completamente burguesa com o desenvolvimento da sociedade moderna.

 

Foi elaborado um programa comum, foram organizados comitês eleitorais comuns e lançados candidatos comuns. Quebrou-se o aspecto revolucionário das reivindicações sociais do proletariado, e se deu a elas uma feição democrática; despiu-se a forma puramente política das reivindicações democráticas da pequena burguesia e se ressaltou seu aspecto socialista. Assim surgiu a Social-democracia. O caráter peculiar da Social-democracia resume-se no fato de exigir instituições democrático-republicanas como meio não de acabar com dois extremos, Capital e trabalho assalariado, mas de enfraquecer seu antagonismo e transformá-lo em harmonia. Por mais diferentes que sejam as medidas propostas para alcançar este objetivo, por mais que sejam enfeitadas com concepções mais ou menos revolucionárias, o conteúdo permanece o mesmo. Este conteúdo é a transformação da sociedade por um processo democrático, porém, uma transformação dentro dos limites da pequena burguesia.

 

A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho consome-a, fazendo o vendedor nela trabalhar. Este, ao trabalhar, torna-se realmente no que antes era apenas potencialmente: força de trabalho em ação, trabalhador. Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem de ser empregado em valores-de-uso, em coisas que sirvam para satisfazer necessidades de qualquer natureza. O que o capitalista determina ao trabalhador produzir é, portanto um valor-de-uso particular, um artigo especificado. A produção de valores-de-uso muda sua natureza geral por ser levada a cabo em benefício do capitalista ou estar sob seu controle.

 

O produto, de propriedade do capitalista, é um valor-de-uso, fios, calçados etc. Mas, embora calçados sejam úteis à marcha da sociedade e nosso capitalista seja um decidido progressista, não fabrica sapatos por paixão aos sapatos. Na produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores-de-uso. Produz valores-de-uso apenas por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor-de-troca. Tem dois objetivos. Primeiro, quer produzir um valor-de-uso, que tenha um valor-de-troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado do que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e da força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro no mercado. Além de um valor-de-uso, quer produzir mercadoria, além de valor-de-uso, valor, e não só valor, mas também valor excedente, ou seja: mais-valia.5

 

 

 

 

 

Uma parte da sociedade possui o monopólio dos meios de produção, e o trabalhador, livre ou não, é forçado a acrescentar ao tempo de trabalho necessário para a sua própria subsistência uma mais-valia destinada a sustentar o possuidor dos meios de produção.

 

A produção capitalista não é apenas produção de mercadoria; é essencialmente produção de mais-valia. O trabalhador produz não para si, mas para o Capital. Não basta, portanto, que produza em geral. Ele tem de produzir mais-valia. Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista ou serve à autovalorização do Capital. Se for permitido escolher um exemplo fora da esfera da produção material, então um mestre-escola é um trabalhador produtivo se ele não apenas trabalha as cabeças das crianças, mas extenua a si mesmo para enriquecer o empresário. O fato de que este último tenha investido seu Capital em uma fábrica de ensinar, em vez de aplicá-lo em uma fábrica de salsichas, não altera nada na relação. O conceito de trabalho produtivo, portanto, não encerra de modo algum apenas uma relação entre a atividade e o efeito útil, entre trabalhador e produto do trabalho, mas, também, uma relação de produção especificamente social, formada historicamente, a qual marca o trabalhador como meio direto de valorização do Capital. Ser trabalhador produtivo não é, portanto, sorte, mas azar.

 

Comparando o processo de produzir valor com o de produzir mais-valia, veremos que o segundo só difere do primeiro por se prolongar além de certo ponto. O processo de produzir valor simplesmente dura até o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo Capital é substituído por um equivalente. Ultrapassando este ponto, o processo de produzir valor torna-se processo de produzir mais-valia (valor excedente).

 

Qualquer que seja a diferença fundamental entre o trabalho do fiandeiro e o do ourives, à parte do trabalho deste artífice com a qual apenas cobre o valor da própria força de trabalho, não se distingue qualitativamente da parte adicional com que produz mais-valia. A mais-valia se origina de um excedente quantitativo de trabalho, da duração prolongada do mesmo processo de trabalho, tanto no processo de produção de fios, quanto no processo de produção de artigos de ourivesaria.

 

Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima. O objeto de trabalho só é matéria-prima depois de ter experimentado modificação efetuada pelo trabalho.

 

O processo de trabalho, quando ocorre como processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista, apresenta dois fenômenos característicos. O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho. Por outro lado, o capitalista cuida para que o trabalho se realize de maneira apropriada, de tal sorte que se apliquem adequadamente os meios de produção, não se desperdiçando matéria-prima e poupando-se o instrumental de trabalho, de modo que deles só se gaste o que for imprescindível à execução do trabalho. Além disto, o produto é propriedade do capitalista, não do produtor imediato – o trabalhador. O capitalista paga, por exemplo, o valor diário da força de trabalho. Sua utilização, como a de qualquer outra mercadoria, por exemplo, a de um cavalo que alugou por um dia, pertence-lhe durante o dia. Ao comprador pertence o uso da mercadoria, e o possuidor da força de trabalho apenas cede realmente o valor-de-uso que vendeu, ao ceder seu trabalho. Ao penetrar o trabalhador na oficina do capitalista, pertence a este o valor-de-uso de sua força de trabalho, sua utilização, o trabalho. O capitalista compra a força de trabalho e incorpora o trabalho – fermento vivo – aos elementos mortos constitutivos do produto, os quais também lhe pertencem. Do seu ponto de vista, o processo de trabalho é apenas o consumo da mercadoria que comprou – a força de trabalho – que só pode consumir adicionando-lhe meios de produção. O processo de trabalho é um processo que ocorre entre coisas que o capitalista comprou, isto é, entre coisas que lhe pertencem. O produto deste processo lhe pertence do mesmo modo que o produto do processo de fermentação em sua adega.

 

A acumulação do Capital não faz mais do que reproduzir as relações do Capital em uma escala mais alargada, com mais capitalistas ou um número maior de capitalistas, por um lado, mais assalariados, por outro… A acumulação do Capital é, então, ao mesmo tempo, aumento do proletariado.

 

Quanto mais a riqueza social crescer, mais numerosa é a sobrepopulação comparativamente ao exército de reserva industrial. Quanto mais este exército de reserva aumenta, comparativamente ao exército ativo do trabalho e mais massiva é a sobrepopulação permanente, mais estas camadas compartem a sorte de Lázaro, e quanto o exército de reserva é mais crescente, maior é a pauperização oficial. Esta é a lei geral absoluta da acumulação capitalista.

 

Taxa de mais-valia = grau de exploração da força de trabalho.

 

Taxa de lucro = grau de valorização do Capital.

 

Gastos correntes de Capital constante e variável em um tempo de rotação delimitado = preço de custo.

 

Porção de Capital cuja aplicação não traz nenhum acréscimo à massa de lucro produzida permanecendo ocioso ou sendo exportado = Capital excedente.

 

Capitais individuais que se incrementam mais depressa pelo ganho de superlucros e pela reprodução ampliada em condições mais favoráveis = Concentração dos Capitais.

 

Nas fases de crise e de depressão do ciclo econômico, quando empresas mais bem sucedidas na competição absorvem suas concorrentes = Centralização dos Capitais.

 

Riqueza da sociedade capitalista = imensa coleção de mercadorias.

 

Valor-de-uso = conteúdo material da riqueza.

 

Valores-de-uso de uma espécie se trocam contra valores-de-uso de outra espécie, em uma relação que muda constantemente no tempo e no espaço.

 

A grandeza do valor contido nas mercadorias é medida pelo 'quantum' de trabalho, que é a substância constituidora de valor.

 

O animal identifica-se com sua atividade vital. Não se distingue dela. Ela é sua atividade. O homem faz da sua atividade vital o próprio objeto da sua vontade e consciência... A atividade vital consciente do homem o distingue imediatamente do animal, da sua atividade vital. Justamente por isto, ele (o homem) é um ser pertencente a uma espécie, ou melhor, ele é um ser consciente... Somente por isto a sua atividade é uma atividade livre... Certamente também os animais produzem. Fabricam ninhos, habitações, como fazem as abelhas, os castores, as formigas etc. Só que o animal produz unicamente o indispensável para si e para suas crias, produz de modo unilateral, ao passo que o homem produz de modo universal; o animal reproduz apenas a si mesmo, enquanto o homem reproduz toda a Natureza.

 

O operário torna-se uma mercadoria tanto mais barata quanto maior é a quantidade de mercadoria que produz. A desvalorização do mundo humano aumenta em relação direta com a valorização do mundo das coisas.

 

No sistema capitalista, todos os meios para desenvolver a produção se convertem em meios para dominar e explorar o produtor, mutilam o operário reduzindo-o a um homem parcial, degradam-no a uma insignificante peça de máquina. Aniquilam, com o tormento do seu trabalho, o conteúdo do próprio trabalho; deformam as condições nas quais ele trabalha, transformam o período de sua vida em tempo de trabalho sob o rolo compressor do Capital.

 

A força produtiva de trabalho é determinada por meio de circunstâncias diversas, entre outras, pelo grau médio de habilidade dos trabalhadores, o nível de desenvolvimento da ciência e sua aplicabilidade tecnológica, a combinação social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais.

 

Quanto maior a força produtiva do trabalho, tanto menor o tempo de trabalho exigido para a produção de um artigo, tanto menor a massa de trabalho nele cristalizado, tanto menor o seu valor.

 

A Forma Relativa de Valor e a Forma Equivalente pertencem uma à outra, se determinam reciprocamente, são momentos inseparáveis; porém, ao mesmo tempo são extremos que se excluem mutuamente ou se opõem, ou seja, são pólos da mesma expressão de valor.

 

A Forma Equivalente tem três características fundamentais. A primeira refere-se ao fato de que quando se observa a forma equivalente percebe-se que o valor de uso torna-se forma de manifestação de seu contrário, ou seja, do valor. A segunda está no fato de que o trabalho concreto (qualitativamente distinto, útil) se converte na forma de manifestação de seu contrário, trabalho humano abstrato, trabalho em geral, dispêndio de força de trabalho do homem. A terceira deve-se ao fato de o trabalho privado converter-se na forma de seu contrário – trabalho em forma diretamente social.

 

O produto do trabalho é em todas as situações sociais (ou seja, em todos os modos de produção) objeto de uso; porém, em época historicamente determinada (a época da sociedade burguesa moderna) de desenvolvimento – a qual apresenta o trabalho despendido na produção de um objeto de uso como sua propriedade ‘objetiva’, isto é, como seu valor – transforma o produto de trabalho em mercadoria.

 

A partir de um dado momento, os trabalhos privados dos produtores adquirem realmente duplo caráter social. Por um lado, têm de satisfazer determinada necessidade social, como trabalhos determinados úteis, e, assim, provar serem participantes do trabalho total. Por outro lado, só satisfazem às múltiplas necessidades de seus próprios produtores, na medida em que cada trabalho privado útil particular é permutável por outra espécie de trabalho privado equivalente.

 

A figura do processo social da vida, isto é, do processo da produção material, apenas se desprenderá do seu véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ficar sob seu controle consciente e planejado.

 

 

 

O desenvolvimento da formação econômica da sociedade – assimilável à marcha da Natureza e à sua história – pode menos do que qualquer outro tornar o indivíduo responsável por relações de que socialmente ele é afinal a criatura, por mais que ele queira se libertar delas.

 

Comparado à crítica da velha propriedade, o próprio ateísmo é hoje uma 'culpa levis'.

 

Objetos de uso se tornam mercadorias apenas por serem produtos de trabalhos privados, exercidos independentemente uns dos outros. O complexo destes trabalhos privados forma o trabalho social total. Como os produtores somente entram em contato social mediante a troca de seus produtos de trabalho, as características especificamente sociais de seus trabalhos privados só aparecem dentro desta troca. Em outras palavras, os trabalhos privados só atuam, de fato, como membros do trabalho social total, por meio das relações que a troca estabeleceu entre os produtos do trabalho e, por meio dos mesmos, entre produtores.

 

O preço é a denominação monetária do trabalho objetivado na mercadoria. A grandeza de valor da mercadoria expressa uma relação necessária imanente a seu processo de formação com o tempo de trabalho social. Com a transformação da grandeza de valor em preço, esta relação necessária aparece como relação de troca de uma mercadoria com a mercadoria monetária, que existe fora dela.

 

No Capital portador de juros, a relação Capital atinge sua forma mais alienada e mais fetichista. Temos aí D-D – dinheiro que gera mais dinheiro – valor que valoriza a si mesmo, sem o processo que medeia os dois extremos. O Capital aparece como fonte misteriosa, autocriadora do juro, de seu próprio incremento. A coisa (dinheiro, mercadoria, valor) já é Capital como mera coisa, e o Capital aparece como simples coisa; o resultado do processo global de reprodução aparece, então, como propriedade que cabe por si a uma coisa.

 

 




 

 

 

 

 

É assim ou não é?

 

 

 

aumenta a sobrevalia,

equivalentemente mais

a irmandade acrimonia.

 

é intensado o egoísmo,

superlativamente mais

é dilatado o escravismo6.

 

avulta a inclemência,

simultaneamente mais

é perdida a inocência.

 

é perdida a inocência,

inevitavelmente mais

é potenciada a dolência.

 

é potenciada a dolência,

manifestamente mais

exabunda a algência.

 

E assim, ignobilmente,

vai o homem coxeando

– infactível e abscedente –

na esp'rança de quando...

 

Todavia, não há quando,

pois, o quando é agora.

Atormentado, deplorando,

só faz noite à toda hora.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (27 de agosto de 1770 – 14 de novembro de 1831) foi um filósofo alemão.

2. François Pierre Guillaume Guizot (4 de outubro de 1787 – 12 de setembro de 1874) foi um político francês. Ocupou o cargo de Primeiro-ministro da França, entre 19 de setembro de 1847 a 23 de fevereiro de 1848.

3. Só recordando: a Crise Econômica de 2008 – 2011, também chamada de Grande Recessão, é um desdobramento da crise financeira internacional, precipitada pela falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850. Em efeito dominó, outras grandes instituições financeiras quebraram, no processo também conhecido como 'crise dos subprimes' – empréstimos hipotecários de alto risco (em inglês: subprime loan ou subprime mortgage). Alguns economistas, no entanto, consideram que a crise dos subprimes, tem sua causa primeira no estouro da 'bolha da Internet' (em inglês, dot-com bubble), em 2001, quando o Índice Nasdaq (que mede a variação de preço das ações de empresas de informática e telecomunicações), despencou. De todo modo, a quebra do Lehman Brothers foi seguida, no espaço de poucos dias, pela falência técnica da maior empresa seguradora dos Estados Unidos da América, a American International Group (AIG). O Governo Norte-americano, que se recusara a oferecer garantias para que o banco inglês Barclays adquirisse o controle do cambaleante Lehman Brothers, alarmado com o efeito sistêmico que a falência desta tradicional e poderosa instituição financeira – abandonada às 'soluções de mercado' – provocou nos mercados financeiros mundiais, resolveu, em vinte e quatro horas, injetar oitenta e cinco bilhões de dólares de dinheiro público na AIG, para salvar suas operações. Mas, em poucas semanas, a crise norte-americana já atravessava o Atlântico: a Islândia estatizou o segundo maior banco do País, que passava por sérias dificuldades. As mais importantes instituições financeiras do mundo, Citigroup e Merrill Lynch, nos Estados Unidos; Northern Rock, no Reino Unido; Swiss Re e UBS AG, na Suíça; Société Générale, na França declararam ter tido perdas colossais em seus balanços, o que agravou ainda mais o clima de desconfiança, que se generalizou. No Brasil, as empresas Sadia, Aracruz Celulose e Votorantim anunciaram perdas bilionárias. Para evitar um colapso, o Governo Norte-americano reestatizou as agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, privatizadas em 1968, que agora ficarão sob o controle do Governo por tempo indeterminado. Em outubro de 2008, a Alemanha, a França, a Áustria, os Países Baixos e a Itália anunciaram pacotes que somaram 1,17 trilhão de euros em ajuda aos seus sistemas financeiros. O PIB da Zona do Euro teve uma queda de 1,5% no quarto trimestre de 2008, em relação ao trimestre anterior, a maior contração da história da Economia da Zona. Ora, isto é ou não é um senhor fudelhufas de cagahouse?

4. A coisa é mais ou menos assim: os poderosos mandam e os inocentes úteis (pessoas que, por ingenuidade e ignorância, são usadas no serviço de uma causa ou de uma idéia política) obedecem. E, na maioria das vezes, nem sequer sabem o porquê de estarem obededecendo. Na verdade, simplesmente obedecem e dizem sim, como vaquinhas de presépio, porque se acostumaram a viver em uma espécie de curral invisível e a obedecer. E adoram quando aparece uma oportunidade para dar uma de papagaio de pirata!

5. Mais-valia é o termo famosamente empregado por Karl Marx à diferença entre o valor da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista. Karl Marx chama a atenção para o fato de que os capitalistas, uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de trabalho, podem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro: estender a duração da jornada de trabalho mantendo o salário constante – o que ele chamou de mais-valia absoluta; ou ampliar a produtividade física do trabalho pela via da mecanização – o que ele denominou de mais-valia relativa. Ao fazer esta distinção, Marx rompe com a idéia ricardiana do lucro como 'resíduo', tendo percebido a possibilidade de os capitalistas ampliarem autonomamente suas taxas de lucro sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra. Produção de mais-valia absoluta é um modo de incrementar a produção do excedente a ser apropriado pelo capitalista. Consiste na intensificação do ritmo de trabalho, através de uma série de controles impostos aos operários, que incluem da mais severa vigilância a todos os seus atos na unidade produtiva até a cronometragem e determinação dos movimentos necessários à realização das suas tarefas. O capitalista obriga os trabalhadores a trabalhar a um ritmo tal que, sem alterar a duração da jornada, produzem mais mercadorias e mais valor do que sem estes controles.

6. A escravidão moderna (escravismo ou escravagismo) é uma expressão genérica ou coletiva para aquelas relações de trabalho, particularmente na história moderna ou contemporânea, na qual pessoas são forçadas a exercer uma atividade contra sua vontade, sob a ameaça de indigência, detenção, violência (inclusive morte) ou outras formas de provação para si mesmas ou para membros de suas famílias. Muitas dessas formas de trabalho podem ser acobertadas pela expressão trabalhos forçados, embora quase sempre impliquem o uso de violência. A escravidão moderna inclui todas as formas de escravidão (embora a servidão seja tecnicamente uma forma de escravidão moderna, o termo 'servo' é usado geralmente apenas em relação a sociedades pré-modernas, sob sistemas políticos feudais). Embora, no Brasil, a escravidão tenha sido oficialmente extinta em 13 de maio de 1888, em 1995 o Governo Brasileiro reconheceu a existência de condições de trabalho análogas à escravidão no território nacional. Entre 1995 e 2005, 18 mil trabalhadores foram libertados por ações conjuntas do Ministério do Trabalho e Emprego e das polícias estaduais e federal. Uma forma mais comum na sociedade moderna é a da escravidão contratual ou por empreitada, na qual os trabalhadores assinam contratos para trabalhar por um período específico de tempo, no qual são pagos apenas com acomodações e alimento, ou isto mais o acréscimo de benefícios limitados, tais como a quitação de um débito ou dos custos de transporte para uma determinada região ou país (a escravidão por dívida, conhecida no Brasil também como sistema de barracão ou de cantina, é uma forma bem conhecida de escravidão contratual). Em alguns casos, os trabalhadores contratados recebem pequenos pagamentos em dinheiro ou outros benefícios insignificativos. O trabalho por empreitada ainda é comum em países emergentes, e foi, talvez, a forma de trabalho predominante formal e oficial nas antigas sociedades coloniais, durante os séculos XVII e XVIII. Todavia, deve ser ressaltado que a contratação por empreitada é freqüentemente apenas uma categoria legal formal, e, na prática, os empreiteiros descobrem que é difícil ou impossível coagir trabalhadores contratados, a menos que a letra da lei seja reforçada pelos sistemas de imposição da lei, ameaças feitas por organizações criminosas que abastecem o mercado de trabalhadores clandestinos (geralmente, estrangeiros ilegais), e/ou pela plena aceitação por parte dos trabalhadores, como prática tradicional. Existem ainda outras formas de trabalho contratual tradicional, tais como o sistema chukri (sistema de servidão por dívida ou de trabalho forçado no qual uma mulher é coagida a se prostituir para pagar dívidas) na Índia e em Bangladesh, que são ilegais, ainda que, não obstante, estejam amplamente em uso.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://en.wikipedia.org/
wiki/Chukri_System

http://www.worldlingo.com/ma/
enwiki/es/Chukri_System

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Escravid%C3%A3o

http://pt.wikipedia.org/wiki
/Escravid%C3%A3o_moderna

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%
A3o_moderna#Escravid.C3.A3o_contratual

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%
A3o_moderna#Tr.C3.A1fico_de_pessoas

http://www.scielo.br/pdf/
es/v26n90/a11v2690.pdf

http://gifcopy.blogspot.com/

http://www.unimep.br/phpg/editora/
revistaspdf/imp22_23art09.pdf

http://www.rascunhodigital.
faced.ufba.br/ver.php?idtexto=719

http://www.unicamp.br/cemarx/fatima.htm

http://www.histedbr.fae.unicamp.br/
acer_fontes/acer_marx/ocapital-1.pdf

http://www.marxists.org/portugues/
marx/1868/03/28-ga.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mais-valia

http://www.flickr.com/photos/teoimagem/page4/

http://blogdepercia.blogspot.com/
2011/09/karl-marx.html

http://www.bigoo.ws/

http://compraestranha.com/wp2/2011/05/
tempo-e-dinheiro-com-esse-despertador/

http://www.folkarchive.de/breadrose.html

http://diegocanhada.blog.br/?p=269

http://pensador.uol.com.br/
teorias_livro_o_capital_karl_marx/2/

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http://pt.wikiquote.org/wiki/Karl_Marx

http://citacoes.portugal.net.dm/
2009/02/karl-marx.html

http://www.scientific-socialism.de/
PECAP9.htm#_ftnref9

http://www.scientific-socialism.de/
PECAP10.htm

http://www.areaseg.com/bib/14%20-
%20Livros/O_Capital-Karl_Marx.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital

 

Música de fundo:

Bread and Roses
Poema de James Oppenheim
Interpretação musical de Judith Marjorie "Judy" Collins

Fonte:

http://beemp3.com/