Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Eles não sabem o que fazem?

Como não? Sabem, sim, e muitÍSSIMO bem.

Eles não sabem quando desfazem?

Como não? Sabem, sim, e muitÍSSIMO bem.

 

Eles não sabem o que mancham?

Como não? Sabem, sim, e muitÍSSIMO bem.

Eles não sabem quando desmancham?

Como não? Sabem, sim, e muitÍSSIMO bem.

 

Desconhecer a extensão das conseqüências

dos atos que são diariamente praticados

não impede que tenham que ser compensados.

 

Por maiores que sejam as inconsciências,

o livre-arbítrio permite que sejam escolhidos

falsificações tenebrosas ou caminhos floridos.

 

 

Conhecimento*

 

 

 

 

* Observação:

A animação do Conhecimento foi criada por mim a partir da reflexão de João Vasco – reproduzida e editada a seguir – e do desenho digital disponibilizados na Página da Internet Diário Ateísta:

http://www.ateismo.net/diario/arquivo/2005_01_01_index.php

Existem dois tipos de crentes: a) os que acreditam no livre-arbítrio; e b) aqueles que não acreditam.

Os segundos são uma minoria que se depara com um problema teológico básico. Se tudo acontece "porque Deus assim quis", então as pessoas pecam "porque Deus assim quis". Isso é uma evidente contradição com a idéia de que um Deus "infinitamente justo" as condenará ao Inferno, se pecarem.

Mas, praticamente, todos os crentes que conheço acreditam no livre-arbítrio. No entanto, esta crença está em profunda contradição com a de um Deus criador, omnipotente e omnisciente. Uma vez que a maioria dos crentes acredita nestas quatro coisas (livre-arbítrio, omnipotência divina, omnisciência divina e criação divina) interessa mostrar onde está a contradição entre elas.

Para o fazer, vou dar um exemplo através de uma interpretação literal do episódio da criação relatado no Gênesis. Depois vou fazer a analogia entre este raciocínio e a forma de como os crentes acreditam que Deus criou o Universo.

Deus criou o Paraíso e criou Adão com livre-arbítrio. Perante a tentação da serpente, Adão é posto à prova para que tome uma de duas decisões: a de comer ou de não comer a maçã. A questão que aqui se coloca é que a decisão de Adão depende de quem ele é, e Deus já a pode ter previsto. Se Adão é como é, ele vai optar por comer a maçã, e Deus já o sabia. Se Adão fosse diferente, ele poderia optar por não comer. Mas foi Deus que criou Adão. Foi Deus que, ao decidir com que personalidade queria criar Adão, decidiu qual das opções Adão tomaria. No momento em que Deus criou Adão, Ele poderia escolher diferentes personalidades para Adão, mas a cada uma delas saberia (devido à sua omnisciência) que decisão perante a maçã, Adão tomaria.

No momento em que Deus decidiu a personalidade que daria a Adão, Deus fez a escolha que Adão faria. Desta forma, Adão apenas fez aquilo que Deus quis. E tendo em conta que tudo aquilo que se passou foi conseqüência da criação, foi Deus que decidiu tudo. Ele sabia que criar o Universo de uma determinada forma implicaria em tudo aquilo que se passou, e, assim sendo, foi tudo decisão Dele.

Se esquecermos o episódio do Gênesis, que é tomado por muitos crentes como uma mera metáfora (e porque aquilo que estou a dizer se aplica a qualquer religião que acredite nos quatro pontos referidos, e não apenas ao Cristianismo), o raciocínio exposto pode se manter.

Deus criou o Universo, e ao fazê-lo estabeleceu condições iniciais que depois evoluíram. A evolução conseqüente pode ter sido determinista ou indeterminista. Se foi determinista, Deus, ao criar o Universo que criou, foi o único responsável e culpado por tudo o que se passou. Se foi indeterminista, temos um espaço para o acaso; mas se admitirmos a omnipotência de Deus, o acaso também será da sua responsabilidade, mesmo que por inação. Assim sendo, não faz sentido acreditar no livre-arbítrio, e em um Deus criador omnisciente e omnipotente.

Por fim, devo dizer que eu ACREDITO no livre-arbítrio. Isto porque não tenho nenhum Deus criador omnipotente para culpar pelos meus atos: apenas a pessoa que sou (que ninguém escolheu), o acaso (em relação ao qual não posso responsabilizar ninguém, sequer por omissão) e as leis físicas (novamente, ninguém as escolheu).

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É evidente que o mito de Adão e Eva simboliza Leis Universais irredutíveis. Entretanto, imaginar que tudo tenha se passado ipsis litteris como está no Gênesis, é a mesma coisa que acreditar em saci-pererê, em mula-sem-cabeça e na sinceridade dos Senhores da Guerra.

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Música de fundo

Nem Às Paredes Confesso (A. Ribeiro, F. Trindade & M. de Souza)

Fonte:

http://www.reginaceliaseusite.hpg.ig.com.br/midis.htm