— É pouco, pouco, pouco.

Quero mais, mais, mais.

Queixumes? Estou mouco

pra rolas e bocas verticais.

— Quero tudo, tudo, tudo:

de outro jeito ou de um.

E, por isto, atravesso tudo,

inclusive cheirinho de pum!

— E assim, vou montoando:

dia e noite, noite e dia.

Você acha que to ligando

se o zé tá de barriga vazia?

— O 'poblema' não é meu;

o meu é ficar endinheirado.

Cada um que cuide do seu;

eu é que não durmo acordado.

— Quem nasceu pra ser escravo

tem mesmo é que ser explorado.

Aquinhoar-se não é agravo;

só se locupleta quem é taimado.

— E inventei a regra do sucesso:

nunca repartir, sempre subtrair.

Miséria me deixa depresso;

se me der na telha, inté dou de trair.

— Assim os trafulhas ficaram ricos;

não foi a troco de caridades.

Inté de ouro são os seus penicos

nas mansões de suas herdades.

— Quero é cair na gandaia

e fazer da vida uma festa

– aqui ou em Saramandaia.

Eu to canso de ser aresta!

— Quero soltar minhas feras!

Quero abrir minhas asas!

Abichornei de anos de esperas;

enfastiei dessa merda de grasas.

— Mas, acima de tudo, é o respeito

que o zé-povo tem pelos poderosos.

E, ainda que haja despeito,

são tidos como ma(ra)vi(lh)osos.

— Bolas! Eu vou morrer mesmo;

eu só não sei é quando.

Torrei de só comer torresmo

misturado com armando.

— Agora só vou de caviar

com champanhe Dom Pérignon.

Comprarei uns bens ao luar

e um iate para bordejar.

Este é o raio do legado das novelas

que (re)passam aí na televisão.

Não abrem, só fecham as janelas,

e opializam o Coração.

Muitos querem porque querem

ser iguais aos personagens,

e aí, fingem, urdem, ferem

e fazem mil e uma sacanagens.

Pobre do zé-quitolas imitador,

que arremeda sem saber

que a cada engendrada dor

vai estorvando o vir-a-ser!

Nada passará em branco;

a coisa toda será compensada

– meio que promissória de banco,

que tem que ser resgatada.

Exagerei nesta análise?

Eu sei lá. Quem sabe; pode ser.

Mas, lá um dia, só hemodiálise

para, da cuca, extirpar o não-ser!

Isto, se ele puder ser extirpado,

porque poderá não querer sair.

Hemodiálise Cerebral

Música de fundo:

Dancin' Days
Composição: Nelson Motta & Ruban Barra
Interpretação: As Frenéticas

Fonte:

http://mp3monkey.net/mp3/_Freneticas_-_Dancin_Days_.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://zinasaunders.blogspot.com.br/2011/10/animation-mirror-
mirror-on-wall.html#!/2011/10/animation-mirror-mirror-on-wall.html

https://tvcinemaemusica.wordpress.com/2010/09/28/mias-
um-candidato-a-direcao-do-novo-filme-do-superman/

http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/imitacao

http://www.theiemommy.com/2013/06/03/
pregnancy-brain-year-baby-born/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hemodi%C3%A1lise

http://libertesedosistema.blogspot.com.br/2011/
05/como-midia-manipula-sociedade.html

 

Direitos autorais:

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