A NOITE OBSCURA DA PERSONALIDADE-ALMA

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo Deste Estudo

 

 

 

Celestina Sagazio

 

 

Inspirei-me para garimpar estes fragmentos (alguns ligeiramente editados), que estou disponibilizando para reflexão de todos, no artigo A Noite Obscura da Alma, de autoria de Celestina Sagazio, PhD, SRC, publicado no nº 316 da Revista O Rosacruz, de 2021 e no nº 317 da Revista O Rosacruz, de 2021. Por que estou divulgando este texto? Porque, mais dia, menos dia, mais vida, menos vida, neste mânvântâra ou sei lá quando, todos nós teremos que enfrentar a nossa Noite Obscura (Noite Negra) pessoal, e sabendo que Ela existe e do que se trata, pelo menos, não seremos pegados de surpresa, como quem é pego comendo meleca escondido. Agora, vai doer? Sim, vai. E muito! Mas, não morreremos; sairemos da nossa Noite mais fortes, mais dignos, mais Cordiais e mais amorosos. E, talvez, não comamos mais meleca.

 

 

 

 

 

Fragmentos

 

 

 

A vida é uma combinação de luz e escuridão, passivo e ativo, elementos masculino e feminino. O símbolo universalmente conhecido do Yin-Yang1 resume esses opostos.

 

 

Diagrama do Tei-gi (Yin-Yang)

 

 

A Noite Obscura é um estágio místico que pessoas espiritualmente desenvolvidas, em um dado momento de suas vidas, passam em suas peregrinações espirituais.

 

Seja como for o propósito da Noite Obscura é a nossa transformação em um ser humano mais evoluído, em um ser humano divino, um ser humano Illuminado.

 

A Noite Obscura é uma Experiência Iniciática que, para todos nós, poderá ocorrer nesta encarnação, em um futuro distante e até em vidas muito distantes. Mas, acontecerá!

 

É costume se admitir que o termo Noite Obscura2 veio do grande místico, sacerdote e frade carmelita espanhol do século XVI (1542 1591), São João da Cruz [em castelhano: Juan de la Cruz, um dos mais importantes expoentes da Contra-reforma uma resposta à Reforma Protestante (de 1517) iniciada por Martinho Lutero (1483 1546)].

 

 

São João da Cruz
(Por Francisco de Zurbarán)

 

 

Alguns místicos que vivenciaram a experiência da Noite Obscura são: o Mestre Jesus, Santo António de Lisboa, São João da Cruz, Jeanne-Marie Bouvier da Motte-Guyon, conhecida por Madame Guyon, o místico e teólogo germânico Heinrich Seuse ou Henrique (de) Suso, também chamado Amandus, o poeta Rumi, Santa Teresa de Ávila, conhecida como Santa Teresa de Jesus, Thérèse de Lisieux, conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face e, contemporaneamente, Eckhart Tolle, pseudônimo de Ulrich Leonard Tolle.

 

A escritora inglesa Evelyn Underhill (6 de dezembro de 1875 15 de junho de 1941) apresentou o seguinte modelo para o desenvolvimento místico: Despertar —› Provação —› Illuminação —› Noite Obscura da [personalidade-]alma —› União.

 

Segundo Evelyn Underhill, a Noite Obscura, no campo da Psicologia, pode ser vista como uma forma de depressão mental, mas, na esfera mística significa muito mais do que isto, pois, a noção contribui para a recriação profunda do nosso caráter e a nossa purificação/transmutação em Deus, [uma espécie de fusão com o nosso Deus Interior].

 

Evelyn Underhill descreve a Noite Obscura como sendo o vazio e a estagnação absolutos. Tristeza, impotência e solidão. É um período de sofrimento permanente. É um estágio marcado pelo Fogo Negro da Purificação.

 

 

Fogo da Purificação
(Simbolicamente)

 

 

Tipos de Noite Obscura, segundo Evelyn Underhill:

Ausência de Deus os místicos se sentem abandonados;

Sentido de Pecado sentimento de desesperança, de desamparo e de imperfeição;

Fadiga Emocional Completa desaparecimento das paixões e surgimento de uma sensação de tédio que não é superada;

Estagnação da Vontade e da Inteligência despertamento de vícios antigos, sem controle das inclinações e dos pensamentos; e

Desejo insuportável de 'ver' Deus desolação e solidão extremas.

 

O propósito básico da Noite Obscura é curar a [personalidade-]alma da tendência inata de buscar e repousar em alegrias espirituais objetivas, confundindo a realidade com a Alegria dada pela contemplação da Atualidade. Neste processo, as miragens e as ilusões são destruídas, e a individualidade é aniquilada. [A aniquilação da individualidade, basicamente, reduz a nada e destrói completamente desejos, cobiças, paixões, preconceitos, egoísmos e separatividades.]

 

Durante a tortura e a angústia da Noite Negra, o buscador aceita a falta de amor pelo Bem do Amor e o nada pelo Bem de Tudo. Ele aprende a interromper todo pensamento referente a si mesmo e se rende ao Todo. É, de fato, um processo de desindividualização.

 

A Noite Obscura é uma transição da multiplicidade [miragens + ilusões] à Unidade, dos muitos ao Único. [Mas, esta transição Místico-Iniciática não significa fugir do mundo e se meter em uma caverna sem lanterna ou no alto de uma montanha sem casaco; é estar no mundo sem ser mais do mundo, nos sentidos miraginal e ilusório.]

 

 

(Simbolicamente)

 

 

Precisamos compreender que não há Transmutação sem Fogo como não há Noite Obscura sem dor.

 

A Noite Obscura é considerada o ato místico essencial da completa auto-rendição. [Devemos compreender completa auto-rendição como completa humildade.] Ela marca a morte da individualidade [do ego] pelo interesse em uma vida nova e mais profunda, através de um processo gradual de divinização do ser humano, [na realidade, do Eu Interior]. Este processo foi chamado de Transfiguração ou União Mística (Theosis) . [Este processo está diretamente vinculado à Terceira Iniciação, ao Plano Mental e ao Centro Ajna. Lembro que, para a Grande Loja Branca, a 3ª Iniciação é a 1ª.] {Grifo e sublinhado meus.}

 

 

 

 

As uvas do meu corpo
só podem se tornar Vinho,
depois que o enólogo me pisoteia.
E eu entrego meu corpo,
como uvas, ao seu pisoteio.
Então, meu Coração
pode arder e dançar de alegria.
Embora as uvas continuem
chorando sangue e gritando:
'Não agüento mais
[tanta] angústia,
não agüento mais
[tanta] crueldade.'
O Pisoteador
enfia algodão nas orelhas, e diz:
'Sou Eu quem comanda este Trabalho,
e Eu não estou trabalhando por ignorância.
E você, se quiser, poderá Me negar;
você tem todas as desculpas.
Mas, quando,
através da Minha Paixão,
você alcançar a Perfeição,
você nunca irá parar
de louvar o Meu Nome.'
[Autor: Jalal ad-Din Mohammad Rumi]

 

 

Jalal ad-Din Mohammad Rumi

 

 

 

 

Na Noite Obscura, sofremos uma angústia [quase] insuportável, mas, não morremos. Nós Renascemos! Através da Transfiguração Espiritual, nós nos tornamos Vinho!

 

Há uma Grande Noite Obscura, que é precedida por Noite Obscuras menores.

 

A dor e o sofrimento da Noite Obscura nos tornam mais compassivos. A angústia nos torna mais vulneráveis, e ficamos abertos ao Amor mais profundo.

 

A escuridão é uma forma de transformação espiritual, pois, o bem e o mal fazem parte da Unidade.

 

 

 

 

Aquele que passa pela Noite Obscura, na verdade, é inundado por Amor.

 

Pela Noite Obscura, fundamentalmente, devemos ter e sentir gratidão, e nos comprometer com a propagação global da LLuz.

 

O aumento no desenvolvimento espiritual da Humanidade nunca aconteceu com tamanha intensidade como agora, neste século XXI. [Eu estou convencido de que esta PanCOVIDmia – que está atenazando as entranhas da Humanidade é, por um lado, o cumprimento educativo de uma parcela do nosso karma coletivo, sim, claro, mas, também é um poderoso catalisador de mudança (para melhor). Não tenho qualquer dúvida de que a Humanidade sairá desta coronatortura mais solidária, mais fraterna e mais misericordiosa. O gráfico abaixo mostra, mais ou menos, esta minha convicção. Agora, por que estou convicto disto? Simplesmente, porque não há acaso no Unimultiverso, e esta PanCOVIDmia apareceu como um poderoso instrumento educativo e necessário para todos nós. Enfim, para os ranhetas que não aprenderem esta lição...]

 

 

 

 

Desejamos, mais do que nunca, que a Humanidade adote uma orientação espiritualista, humanista e ecologista, a fim de que renasça para si mesma e dê lugar a uma Nova Humanidade regenerada em todos os planos. [Appellatio Fraternitatis Rosæ Crucis.]

 

E lá vou eu repetir de novo:
tudo depende de nós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que desatar os nós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que limpar os pós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que deixar de ser fobós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que deixar de ser molongós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que deixar de ser javevós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que largar mão dos rococós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que parar com os trololós.
E lá vou eu repetir de novo:
temos que virar de ló.

 

 

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Yin e Yang são conceitos do Taoísmo que expõem a dualidade de tudo o que existe no Unimultiverso. Descrevem as duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas. Segundo esta idéia, cada ser, objeto ou pensamento possui um complemento do qual depende para a sua existência. Este complemento existe dentro de si. Assim, se deduz que nada existe no estado puro: nem na atividade absoluta, nem na passividade absoluta, mas, sim, em transformação (mudança) contínua. Além disto, qualquer idéia pode ser vista como seu oposto, quando visualizada a partir de outro ponto de vista. Neste sentido, a categorização seria apenas por conveniência. Estas duas forças, Yin e Yang, seriam a fase seguinte do Tao, princípio gerador de todas as coisas, do qual surgem e para onde se destinam. Neste sentido: Caminho da Mão Direita (Magia Branca, positiva) = Yang; Caminho da Mão Esquerda (Magia Negra, negativa) = Yin. O Caminho do Meio pode ser interpretado como sendo Magia Cinza. Esta analogia é como a carga elétrica atribuída a prótons e elétrons: os opostos se complementam, e assim, positivo não é bom nem mau, é apenas o oposto complementar do negativo. Tudo o que existe contém tanto os princípios Yin e Yang. O símbolo Tei-gi expressa esse conceito: o Yang origina o Yin, e o Yin destina o Yang. No Unimultiverso há um contínuo movimento cíclico-transformador: toda vez que cada uma das forças atinge seu ponto extremo, manifesta, dentro de si, a semente de seu oposto. Em outras palavras:

 

 

2. Santo António, uma das mais importantes figuras das culturas lusófonas, nasceu em Lisboa no final do século XII. Em seus sermões verberava contra toda a classe de injustiças, contra toda sorte de vícios, contra o amor à riqueza, ao luxo e aos prazeres desenfreados, e, principalmente, contra a usura, que minava os princípios espirituais do Catolicismo. Em diversas predicações, Santo António se referiu à Noite Mística como processo necessário à purificação e preparação da personalidade-alma para atuar em um plano mais elevado de consciência. Neste sentido, o Santo se referiu à Noite como a obscuridade dos místicos — mysticorum obscuritas. A Noite não tem, ordinariamente, a duração da noite física. A Noite tem começo (Conticinium, Conticínio), meio (Media Nox, Meia-Noite) e fim (Aurora, Aurora), e o tempo de duração é individual. Durante sua manifestação, a Noite tem e traz conseqüências terríveis, dentre as quais o Santo aponta: privação da luz da razão; o ser se torna frágil e o conhecimento adequado de nada adianta; o Eu Interior fica em trevas e o homem é tentado a tudo abandonar (trevas da consciência); a claridade tentadora da prosperidade mundana entenebrece a personalidade-alma e se transmuda em caligem da morte; a noite é um amplo campo de adversidades, em que a personalidade-alma anda às apalpadelas, sem consciência de si mesma. A Noite é, pois, uma etapa da reintegração (regeneração) do homem à sua imaculada, cósmica e divina origem. E, neste aprendizado, terá que eliminar, minimamente, a soberba do coração, a lascívia da carne, a avareza do mundo, a ira, a vanglória, a inveja e a gula, que compõem as sete violações capitais enunciadas na Teologia Católica. O Conticínio é a primeira fase da Noite em que tudo está silente. É o tempo em que são satisfeitas as seduções blandiciosas da carne — carnis suavia blandimenta. O Santo ensinou que, para vencer as tentações próprias do Conticínio, é preciso meditar sobre as iniqüidades praticadas, considerar o exílio (e desejar ardentemente a reintegração) e contemplar o Criador. Auxiliado pela razão e pela discrição, o principiante vai subindo, degrau por degrau, a escada da crucifixão: a razão dominando os sentidos e esclarecendo sobre o bom caminho. Assim, derramando lágrimas, envergonhado, vexado e cabisbaixo, vai o postulante trilhando a Senda que levará à Illuminação. Lentamente, os sentidos físicos e os apetites do corpo vão sendo dominados, e os incipientes passam para o estádio de aproveitantes (fase da Meia-Noite). Todavia, no que concerne ao sofrimento moral, este se vai intensificando. É o reconhecimento tácito da queda, do afastamento da LLuz, do exílio de Deus, da consciência plena da ainda permanência nas trevas. Segundo o Santo, é a angústia por desejar alcançar a LLuz Maior, por desejar ardentemente realizar o Cristo Interno e, em graça total, contemplar o Criador. É o desespero por ter, tenuemente, vislumbrado a possibilidade de se tornar uno com o Pai — o Deus de seu Coração — e de não ter podido ainda realizar o sonho dos sonhos. É uma dor lancinante. Um desespero sufocante. Um horror atemorizante. É a Noite Negra. É a crucificação individual. É o inferno interior. É a compreensão do exílio da Vida. A Noite Negra traz à lembrança a fase negra da Crisopéia. A segunda fase da Noite Obscura (Meia-noite), para Santo António, equivale ao período de luta espiritual em que a personalidade-alma, se vendo no exílio deste mundo, dele procura se libertar-se... para, depois... poder chegar à contemplação de Deus e se unir com Ele por amor. O aproveitante (aproveitado) já convencido do erro da vaidade, suplica cheio de fé, de amor e de esperança, força para suportar o exílio. À medida que acorda, se recorda da vida antiga e, envergonhado, humilhado, se sentindo desprezível, chora amargamente. É o pleno reconhecimento do erro. Nu, perante si mesmo e perante o Criador, se confessa ao Deus de seu Coração e clama por perdão (ainda que, propriamente, o perdão não exista). E perdoa os que o perseguem e caluniam, os que o aviltam e ofendem, os que escarnecem, pois, sabe que esses não o compreendem, mas, que, inexoravelmente, um dia, subirão também o primeiro degrau da Noite Negra. E se compromete a, nessa hora, estar presente para ajudar no que for possível e permitido, para amparar em cada queda, para consolar quando a dor e a vergonha forem mais intensas. Este é o verdadeiro sentido do perdão, da humildade, da fraternidade e do amor universal em um sentido Iniciático. É a tomada de consciência pelo aproveitante de que todos, em última instância são unos entre si e com o Pai, ainda que exilados. A Meia-Noite faz recordar o branco da Grande Obra. É também uma possibilidade para explicar o Mito da Caverna, de Platão. Voltar para ajudar e servir é um supremo ato de sacrifício e de amor. Aqueles que voltaram sabem. Entretanto, não há esta referência consignada na obra antoniana. A Aurora – Bendita Aurora – é o último estágio da Noite Obscura, e se assemelha ao vermelho da Alquimia Operativa. Santo António assim a delineia: é a infusão da Graça Divina... A [personalidade-]alma pôde se justificar e se tornar justa... A [personalidade-]alma se torna reta e ereta... A Aurora é o fim da Noite e o princípio do Dia... Ela é o fim da miséria e a entrada na beatitude... É o último estádio da ascensão espiritual o estado [relativamente] perfeito... A [personalidade-]alma se sente, agora, invadida por indizível alegria... É a contemplação do Criador.

 

Música de fundo:

Legend of Zelda (Main Theme)
Designers: Shigeru Miyamoto & Takashi Tezuka

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=-po0iKYRwbQ&t=20s

 

Páginas da Internet consultadas:

https://dribbble.com/shots/10849952-Snot-Boy

https://tenor.com

https://www.spiritfanfiction.com

https://medium.com/publishous/the-wisdom
-of-the-sages-rumi-c7b7f74cb503

https://giphy.com/explore/grape

https://www.amazon.com.br

https://giphy.com

https://pt.wikipedia.org/wiki/Yin-yang

https://www.deviantart.com

https://2018.mpavilion.org/collaborator/dr-celestina-sagazio/

 

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