NIDANAS
Rodolfo Domenico
Pizzinga
Não
posso fazer nada por vocês, se não conseguem colocar
a si mesmos na atmosfera da Teosofia e dos Mestres; ou melhor, se
continuam a ser incapazes de sentir ao seu redor a presença
Deles – como tem acontecido até agora.
Como vocês dizem, a
carne é sempre fraca, na natureza humana, e o espírito
só de vez em quando tem uma vontade forte. Ainda assim, quem
de vocês é capaz de dizer que esta súbita revolução
em suas mentes – isto é, nas mentes dos poucos teosofistas
escolhidos e fora do comum – e o despertar que ocorreu depois
de um ano de apatia e inatividade, não ocorreram graças
a uma orientação maior? Este é apenas um indício
e o efeito de uma causa que não pode ser atribuída
ao acaso!!
Meus caros colegas, há
uma concatenação ininterrupta de causas e efeitos,
um Nidana1
na vida de cada teosofista, se não na vida de cada membro
da nossa Sociedade [e,
de fato, na vida de cada ser-humano-aí-no-mundo].
E é isso principalmente que a distingue de outras
Sociedades cujas metas são a Ciência, no plano físico,
ou a Fé, no plano do entusiasmo emocional, como no caso do
Exército de Salvação, por exemplo. Ninguém
parece ter qualquer idéia sobre a real natureza da Sociedade
Teosófica –
que não pode morrer, ainda que Oxford, Cambridge e as políticas
secretas da Áustria, da Alemanha e da Rússia tentem
destruí-la. Lojas individuais podem entrar em colapso. A
Matriz, esteja ela localizada em Adyar ou no Pólo Norte,
não pode ser aniquilada, porque é o berçário
e o viveiro das sociedades do século vinte. Mas, é
trabalhar ao longo das linhas traçadas pelos Mestres que
evita o colapso das lojas e das associações. E se
eu puder escorar o trabalho de vocês, então, devo ser
usada como um pequeno pilar, ou como argamassa para as suas colheres
de pedreiro, de modo que vocês cimentem e consertem as paredes
rachadas da infeliz Loja de Londres. Mas, se os pedreiros não
colocarem primeiro o seu próprio material em ordem, e não
prepararem os tijolos, o que é que o cimento pode fazer?
Como poderei criar Teosofia nos corações em que a
Teosofia não está mais presente, talvez de modo definitivo,
e nos quais ela talvez nunca tenha estado?
Quero explicar o ponto claramente,
de modo que todos saibam o que penso. Não falo dos teosofistas
da loja de Londres em geral. Refiro-me apenas ao seu pequeno grupo,
deixando que vocês tirem, a partir disso, as suas conclusões
e façam seus paralelos. Acabo de mencionar o Nidana (a Lei
de Causa e Efeito) na vida de cada Teosofista que é totalmente
dedicado. Devo acrescentar algumas palavras sobre isso.
Para começar, nenhum
de vocês, frutos da sua geração e do seu ambiente,
parece haver dado a mínima atenção a este misterioso
Nidana. Nenhum, nem mesmo entre os mais dedicados, jamais pensou
em observar, estudar e tirar proveito das lições contidas
na teia da vida, que está sendo sempre tecida ao redor de
cada um de vocês. No entanto, é desta teia intangível
embora plenamente visível (para aqueles que quiserem ver
como ela funciona), é deste livro, sempre aberto, registrado
na luz mística ao redor de vocês, que vocês poderão
aprender. Sim, e mesmo aqueles que não têm poderes
clarividentes. O que vocês diriam se eu perguntasse: “por
que razão vocês, ajudados apenas pela luz dos seus
poderes de raciocínio e pelo seu intelecto no plano físico,
para não falar do plano espiritual, por que motivo vocês
nunca seguiram os registros diários na vida de cada um de
vocês, aqueles pequenos acontecimentos de que a vida é
composta, já que eles são a maior prova que existe
da Presença invisível entre vocês?” Provavelmente,
sua resposta seria: “E como poderíamos saber disso?”
Mas, seguramente Mohini2
deve ter dito a vocês! E ainda que
ele não tenha dito, este é o fato. Vocês falam
de contato com o Mestre ou com os Mestres, dizem que têm feito
um esforço para obtê-lo, e admitem que podem ter até
mesmo compartilhado deste contato, “de modo inconsciente e
em alguma medida”. Eu afirmo que isso é verdade, e
acrescento que antes que vocês possam obter mais progresso
nessa questão, vocês devem compreender aquilo que já
obtiveram.
Devo
confessar, e é melhor
que isso fique claro, que vocês não têm recebido
ajuda ativa direta dos Mestres (exceto Mabel Collins no plano psíquico),
desde a última crise e a grande provação da
Loja de Londres. Porque aquela provação afastou para
sempre aqueles que Eles enviaram para ajudar e trabalhar, mas, que
foram os primeiros a abandonar o seu dever, e até se tornaram
traidores, em seus Corações, da causa pela qual eles
haviam assumido o compromisso de lutar. Todavia, o teste foi válido
para toda a Loja de Londres, e não apenas para aqueles que
haviam chamado o Carma para si. Apesar disso, embora os Mestres
tenham tido que se afastar da Loja de Londres, em geral, eles nunca
deixaram de observar indivíduos isolados da Loja; aqueles
que permaneceram sinceros consigo mesmos e com suas aspirações
pessoais, se não em relação à causa
e ao bem geral, como deveriam ter feito, se fossem tanto teosofistas
quanto místicos. E eu sei que os Mestres, sem interferir
com o carma –
algo que nem mesmo Eles têm o direito de fazer –
aceleraram e em outros casos retardaram acontecimentos e circunstâncias
nas vidas de todos e de cada um de vocês que são dedicados
e sinceros.
Se vocês tivessem pelo
menos prestado atenção àquelas casualidades
e àqueles pequenos acontecimentos, a sua seqüência
teria sido suficiente para mostrar a vocês uma orientação
superior. Contudo, mesmo vocês parecem ter esquecido de uma
grande verdade dita por um de vocês, isto é, de que
“o mundo da rotina diária em que as pessoas vivem e
se movimentam e têm o seu ser como se não houvesse
outro é apenas uma aparência”, e “atrás
destas aparências há, oculta, uma realidade muito mais
elevada e mais nobre”. Vocês não viram, em alguns
acontecimentos, nada a que estas palavras poderiam ser aplicadas,
e, assim, não puderam aplicá-las a vocês mesmos,
nem àqueles com quem estão trabalhando em seu grupo.
No entanto, esta é a primeira regra na vida diária
de um estudante de ocultismo; isto é, nunca deixar de prestar
atenção às menores circunstâncias do
que ocorre, seja em suas vidas ou nas vidas dos seus colegas de
trabalho; registrar e colocar os fatos em ordem, nos registros,
mesmo que não estejam relacionados com a sua busca espiritual,
e, então, ligar (religare) todos os fatos, comparando notas
com os registros dos outros estudantes, e alcançando, assim,
o seu significado interior. Isso vocês devem fazer pelo menos
uma vez por semana. É a partir destas totalizações
que vocês podem descobrir a direção
e o caminho a seguir.3
É o fenômeno de “transferência de
pensamento” e de “adivinhação” de
pensamentos, de Bispo e Companhia, aplicado aos acontecimentos da
vida diária. Porque, uma vez comparados e resumidos, estes
acontecimentos (os mais corriqueiros são às vezes
os mais significativos) a sua associação e o rumo
deles revelariam a vocês –
assim como um movimento quase imperceptível de um músculo
na mão (com a qual ele está em contato) revela ao
Bispo a direção que ele tem que seguir –
o caminho que vocês devem seguir para chegar à
Verdadeira LLuz. Trabalhando sozinho ninguém pode conseguir
isso, mas, quando há vários, é comparativamente
fácil. Este é o método usado para os chelas
mais jovens, e ele permite alcançar vários objetivos.
A atenção dos aprendizes se concentra sobre os númenos4
dos mais simples fenômenos ou acontecimentos
da vida (eventos guiados e preparados pelo Guru invisível).
A atenção deles abandona as coisas que iriam interferir
com o seu treinamento mental. A prática aguça e desenvolve
a intuição deles, e ao mesmo tempo faz com que se
tornem gradualmente sensíveis às menores mudanças
na influência espiritual do seu Guru.
Mas se, agindo de acordo
com o costume social, os membros do seu grupo preferirem ver em
cada acontecimento ou casualidade da sua vida o efeito de uma causa
provocada por seu próprio livre-arbítrio ou por mero
acaso, então, vocês nunca estabelecerão em seu
grupo a primeira condição necessária: uma perfeita
unidade de pensamento e de harmonia entre os seus seres espirituais.
Vocês não podem avançar diretamente a partir
dos Princípios Universais, mas, devem começar pelos
aspectos específicos. A aritmética e a soma vêm
antes da matemática e da metamatemática. Uma vez que
um místico dedicado ingressa na Sociedade Teosófica,
ele passa a ser, de modo inconsciente e invisível para ele,
colocado em um plano muito diferente daqueles que o rodeiam. Não
há mais circunstâncias banais ou sem significado em
sua vida, porque cada uma delas é um elo colocado de propósito
na corrente de acontecimentos que deve levá-lo para frente,
até o “Portão Dourado” ou “Portal
de Ouro”. Cada passo dado, cada pessoa que ele encontra e
cada palavra dita podem constituir uma palavra colocada de propósito
na frase daquele dia, com a intenção de dar alguma
importância ao capítulo a que ela pertence, e este
ou aquele significado (cármico) ao livro da sua vida.
In:
Aprendendo com Cada Detalhe da Vida, Helena
Petrovna Blavatsky.
Fonte:
http://www.filosofiaesoterica.com/aprendendo-detalhe-da-vida/
______
Notas:
1. Os nidanas
são as causas e os efeitos interligados. São os fios
do carma tecendo o destino de cada um conforme o fluir dos desejos,
dos pensamentos e das ações individuais. O carma se
relaciona com os hábitos e consiste de causas e efeitos interdependentes
ou nidanas.
No Budismo, são mencionados Doze Nidanas.
A auto-observação cura e regenera. Um calmo exame
da vida Illumina
a consciência e transmite lições a partir das
quais são colocados em movimento os nidanas
da libertação interior.
2. O Sr. Mohini
M. Chatterjee foi Discípulo de um dos Mestres de Sabedoria.
3. Palavras
de um Mestre da Sabedoria: Em
períodos favoráveis, liberamos influências elevadoras,
que impressionam várias pessoas de diferentes maneiras. É
o aspecto coletivo de muitos destes pensamentos que pode dar o rumo
correto à ação.
4. Númeno
(do grego: )
é o aspecto oculto, interno e essencial de algum fenômeno.
No kantismo, o númeno
é o real tal como existe em si mesmo, de forma independente
da perspectiva necessariamente subjetiva em que se dá todo
o conhecimento humano; é a
coisa-em-si.
|
Como poderemos efetivamente transmutar
todos os nossos multisseculares
nidanas?
Como poderemos efetivamente transmutar
nossas tolices, que acabam
virando inanas?
Como poderemos efetivamente transmutar
os nossos desejos, cobiças
e paixões?
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa falta de controle
das emoções?
Como poderemos efetivamente transmutar
o nosso sentimento de
separatividade?
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa disposição
para a ofensividade?
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa má vontade
em solidariedade?
Como poderemos efetivamente transmutar
a usurpadora mais-valia
em fraternidade?
Como poderemos efetivamente transmutar
a confusão de aparência
com realidade?
Como poderemos efetivamente transmutar
a permanente e arraigada
abstrusidade?
Como poderemos efetivamente transmutar
o nosso incessante delirar
e nada realizar?
Como poderemos efetivamente transmutar
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa mania incontrolada
de fazer muro?
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa obstinada preferência
pelo escuro?
Como poderemos efetivamente transmutar
os caprichos sexuais contrários
à Natureza?
Como poderemos efetivamente transmutar
o fato de não darmos
importância à Beleza?
Como poderemos efetivamente transmutar
a ação de
malbaratar para poder enricar?
Como poderemos efetivamente transmutar
a fixação
em guerrear para poder reinar?
Como poderemos efetivamente transmutar
o imperturbável
e infindável crudelizar?
Como poderemos efetivamente transmutar
o ininterrupto e interminável
vantajar?
Como poderemos efetivamente transmutar
o nosso agrilhoamento
ao religiosismo?
Como poderemos efetivamente transmutar
o nosso aprisionamento
ao coisismo?
Como poderemos efetivamente transmutar
os nossos desassossego
e inquietação?
Como poderemos efetivamente transmutar
o incompreensível
medo da desencarnação?
Como poderemos efetivamente transmutar
todas as mentiras que
mentimos para nós?
Como poderemos efetivamente transmutar
as fantasias que acabam
nos deixando sós?
Como
poderemos efetivamente transmutar
o cacoete de ficarmos
fabricando deuses?
Como poderemos efetivamente
transmutar
o habículo1
de ficarmos pedindo aos deuses?
Como
poderemos efetivamente transmutar
a nossa per-ver-si-da-de
com o 3º Reino?
Como poderemos efetivamente
transmutar
a nossa im-pi-e-da-de
com o 4º Reino?
Bicho-folha2
Como poderemos efetivamente transmutar
e parar decisivamente
de xenofobiar?
Como poderemos efetivamente transmutar
e parar decisivamente
de homofobiar?
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa vontade de trair...
E trair mesmo?
Como poderemos efetivamente transmutar
a nossa imprecisão
e o existir a esmo?
Como poderemos efetivamente transmutar,
o fato de não termos
ânimo para mudar?
Como poderemos efetivamente transmutar
enfim, a nossa subjugação
ao Plexo Solar?
Não
existe privilégio, graça, jeitinho,
milagrinho, genuflexão,
antecipação...
Desde sempre, só
existe um Caminho:
a sagrada Voz do Silêncio
– no Coração.
Não
há inimigo pior e mais indigno
do que o nosso festejado
diabo interior.
Não há Amigo
Melhor e mais fidedigno
do que o nosso olvidado
Deus Interior.
______
Notas:
1. Habículo
= Hábito Ridículo.
2. O termo bicho-folha
é a designação comum aos insetos fasmatódeos
e aos ortópteros da família dos tetigonídeos, especialmente
dos gêneros Tanusia,
Pterochroza, Mimetica e Typophyllum,
que reúnem espécies que imitam folhas. A camuflagem atinge
o máximo em espécies que simulam, com riqueza de detalhes,
folhas que parecem ter sido parcialmente roídas por insetos ou manchadas
por fungos. Também são conhecidos pelo nome de esperança-folha.
Apreciar estes insetos em seu habitat representa todo um show:
quando andam, os insetos balançam o corpo para trás e para
frente, da direita para a esquerda, para imitar uma folha real que está
sendo soprada pelo vento. Esta singular criatura foi documentada pela primeira
vez pelo pesquisador Antonio Pigafetta, que navegou com o explorador Português
Fernão de Magalhães e sua tripulação em sua
viagem para às Índias, no século XV. Ele estudou e
narrou a fauna da ilha de Cimbonbon, quando o navio foi rebocado para terra
para reparos. Durante esse tempo, documentou as espécies Phyllium
com a seguinte passagem: Nesta
ilha, também são encontradas certas árvores, que têm
umas folhas estranhas: quando caem no chão, ganham vida e andam.
São como as folhas da amoreira, mas, não tão longas,
pois, têm o pecíolo [segmento
da folha que a prende ao ramo ou tronco, diretamente ou através de
uma bainha] curto e pontudo, e perto do pecíolo têm
em cada lado dois pés. Se forem tocadas, eles escapam, mas, se esmagadas,
não soltam sangue. Eu mantive uma folha por nove dias em uma caixa.
Quando eu abri, nem tive tempo de olhar direito enquanto fugia. Eu acredito
que elas vivam de ar. Para saber mais sobre o interessante
bicho-folha, consulte a Página:
https://www.mdig.com.br/index.php?itemid=28432
Observação:
Quanto ao conteúdo
deste rascunho, é claro, um pouco mais ou um pouco menos, ele válido
para todos nós. Até os Mahatmas
(ou principalmente os Mahatmas)
lutaram, lutam e lutarão contra os seus coisismos. Quanto a mim e
aos meus equívocos, desvios e retrocessos (que um religioso chamaria
de pecados), resumirei a coisa em uma quadrinha:
Dos
erros cometidos,
sinto-me envergonhado.
Dos defeitos vencidos,
sinto-me revigorentado.
Todavia,
não devemos perder tanto tempo nos envergonhando dos nossos equívocos,
desvios e retrocessos. Em um certo sentido, é perda de tempo e de
energia, que devem ser utilizados e aplicados nas mudanças necessárias
e insubstituíveis para a nossa libertação. Releia este
parágrafo e pense muito no seu conteúdo, pois, o tempo perdido
com lamentações e ajoelhações não será
recuperado.
Música
de fundo:
Mantra Budista
Fonte:
http://www.gbm-online.com/online/audios.asp.html
Páginas
da Internet consultadas:
https://gifer.com/en/TS33
https://br.pinterest.com/pin/482940760021810322/
http://www.filosofiaesoterica.com/o-misterio-dos-nidanas/
https://gfycat.com/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bicho-folha
https://www.pinterest.com.au/pin/255438610095454773/
https://gifer.com/en/3ofQ
http://photobucket.com/gifs/fat%20man%20dancing
https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%BAmeno
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as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright
são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a
quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las,
se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar
que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei
do ar imediatamente.