NECAS DE PITIBIRIBAS

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

A divisão entre a vida religiosa e o mundo é a essência mesma da mundanidade. A mente de todas essas pessoas religiosos, ultramontanos, monges, santos, gurus, reformadores etc. não difere muito da mente de aqueles que só se interessam pelas coisas que dão deleite e prazer. Importa, por conseguinte, não dividir a vida em mundanidade e não-mundanidade. Importa não fazer distinção entre o ser-aí-no-mundo mundano e o chamado ser-aí-no-mundo religioso. Se não fosse a matéria, o mundo material, não estaríamos aqui. Sem a beleza do céu e da árvore solitária no alto do monte, sem a mulher e o cavaleiro que passa por nós, na estrada, não seria possível a vida. O que deve nos interessar é a totalidade da vida, e não uma determinada parte dela, considerada religiosa e oposta ao resto. É preciso que se entenda que a vida religiosa está em relação com o todo e não com a parte. [In: A Luz que Não se Apaga (em inglês: The Urgency of Change), de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

 

Não-mundanidade
Mundanidade

Esta dicotomia – metade cinzenta, metade clara – é uma ilusão!

 

 

Eu não conseguia vencer as tentações,

então, por sete anos, jejuei.

Eu não conseguia vencer o antagonismo,

então, por mais sete anos, me calei.

Eu não conseguia vencer o conticínio,

então, de tudo abdiquei e me privei.

Eu não conseguia vencer o preconceito,

então, para um bairro de lata me mudei.

Eu não conseguia vencer os desejos,

então, diariamente, me ciliciei.

Eu não conseguia vencer a mundanidade,

então, um dia, me crucifiquei.

Eu não conseguia vencer a farinha,

então, as minhas narinas costurei.

Eu não conseguia vencer a corrupção,

então, as minhas mãos amputei.

Eu não conseguia vencer a preguiça,

então, nunca mais me deitei.

Eu não conseguia vencer a inveja,

então, os meus olhos arranquei.

Eu não conseguia vencer a avareza,

então, todos os meus bens doei.

Eu não conseguia vencer a vanglória,

então, todos os meus diplomas rasguei.

Eu não conseguia vencer a glutonia,

então, o meu estômago encurtei.

Eu não conseguia vencer as cobiças,

então, ajoelhei e rezei o Agnus Dei.

Eu não conseguia vencer as paixões,

então, desesperado, celibatarizei.

Eu não conseguia vencer a lascívia,

então, enlouquecido, me castrei.

Todas estas extravagâncias deram em nada.

Um ser-aí-no-mundo frágil eu continuei.

O tempo passou, e acabei pifando;

mas, em necas de pitibiribas mudei:

sempre tentado, sempre escravizado.

Hoje, já mumificado, aprendi e sei:

só a Compreensão nos libertará.

 

 

 

 

Canto gregoriano de fundo:

Agnus Dei
Interpretação: Schola Cantorum do Pontifício Col. Inter. dos Beneditinos de S. Anselmo em Roma

 

Páginas da Internet consultadas:

https://dribbble.com/shots/3226003-Zero

https://pt.m.wikipedia.org/

https://tenor.com/

http://conselhosdeluzes.blogspot.com/

https://giphy.com/

 

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