Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

Pode Um Treco Desses!

 

 

 

Budistas vindos do Vietnã trocaram empurrões e cotoveladas (e, quem sabe, até algumas palavrinhas de baixo calão) com seus irmãos budistas do Camboja. A manifestação foi por uma maior liberdade religiosa. O que de fato aconteceu é que alguns monges budistas vindos do Sul do Vietnã deixaram a calma de lado e protestaram em frente à embaixada do País, em Phnom Penh, capital do Camboja. Os monges andarilhos exigiam uma maior liberdade religiosa e encontraram pela proa a resistência dos policiais, que tentaram conter a manifestação. Protesto budista no Camboja não pode! Na Coréia do Norte, nem pensar! O pior é que também houve confronto e safanões entre os monges dos dois países. Os austeros budistas do Camboja saíram meio que no cacete, na base do empurra-empurra-repelão, com os monges que vieram do Vietnã, depois que os policiais se recusaram a amordaçar os estrangeiros-protestativos e abafar as reclamações.

Como eu não me conformo com essas baixarias, fiz um soneto para deixar lavrado o meu protesto. Mas antes do soneto-protesto, no qual, inclusivamente e respeitosamente, apelo ao Doutor Porras Y Porras, vou recordar e transcrever alguns excertos do Credo da Paz de Ralph Maxwell Lewis (Sar Validivar), FRC e 2º Imperator deste 2º Ciclo Iniciático da AMORC:

Sou responsável pela guerra quando menosprezo as opiniões alheias que diferem das minhas.

Sou responsável pela guerra quando desrespeito os direitos alheios.

Sou responsável pela guerra se acredito que outras pessoas devem pensar e viver da mesma maneira que eu.

Sou responsável pela guerra quando penso que a mente das pessoas deve ser dominada pela força e não educada pela razão.

Sou responsável pela guerra quando penso que o país em que nasce o indivíduo deve ser necessariamente o lugar onde ele tem de viver.

 

Sar Validivar não escreveu, mas muito bem poderia ter escrito: Sou responsável por um cisma quando sou intolerante, preconceituoso, impertinente, vaidoso e venenífero.

 

 

 

 

Ora bolas! Maior liberdade religiosa

não será conquistada com empurrões.

Nada melhor do que dois dedos de prosa

para se resolverem essas solidões.1

 

Dr. Y Porras2: esses austeros cambojanos

– ao 'chilicarem' contra seus irmãos do Vietnã –

mostraram que ainda carecerão de muitos anos

para não serem mais jantados pelo Leviathan.2a

 

Boris Casoy diria: — Isso é uma vergonha!

Eu recomendo uma excelente contrapeçonha:

Maracugina de manhã, de tarde e de noite.

 

Com empurra-empurra e insapiência,

com cotovelões e falta de paciência,

não será possível vencer a foice da Noite.

 

 

 

 

 


 

 

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Notas:

1. Sim. Solidão. Quem sai no pau por causa de religião vive internamente na mais profunda solidão. Pior é quando a porrada come entre irmãos de mesma fé. O maior exemplo disso são os desentendimentos entre católicos e protestantes.

2 e 2a. No Antigo Testamento, a imagem do Leviathan é retratada pela primeira vez no Livro de Jó, capítulo III, versículos 7 e 8, da seguinte forma: Seja solitária aquela noite, nem seja digna de louvor; amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, e os que estão prontos para suscitar o Leviathan. Já nos capítulos 40 e 41, o Leviathan é descrito como o maior dos monstros aquáticos. Criancinha que 'pesadela' com esse monstro mija na cama. Adulto que 'pesadela' com esse monstro deveria saber o motivo; se não sabe, é bom que procure saber.

Por outro lado, Leviathan é o livro mais famoso do filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), publicado em 1651. Inspirado no monstro bíblico citado, o título do livro por extenso é Leviathan ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, e trata da estrutura da sociedade organizada. Como ponderou Hobbes, a belígera natureza humana geralmente leva à discórdia – derivada da competição, da desconfiança e do desejo de glória – que produz, em tudo e por tudo, um permanente estado conflituoso de uns contra os outros e de todos querendo levar vantagem sobre todos. Aqueles austeríssimos monges cambojanos – além da Maracugina* prescrita por mim de manhã, de tarde e de noite – deveriam ler o Leviathan, de Hobbes, pois teriam muito o que aprender.

Por um terceiro lado, tenho certeza de que o Dr. Manolo Porras Y Porras não discordará da minha paregórica prescrição; mas tenho dúvidas se o advogado Narciso José Arellano Zapata Porras y Porras (que não sei se é parente do Porras Y Porras que é médico) aceitaria defender uma das partes, caso o confronto entre os monges chegasse às barras de um tribunal cambojano. Isso tudo é mesmo uma tremenda e equivocada baixaria! Que exemplo de merda esses monges budistas de merda deram ao mundo?

* Medicamento de ação sedativa, para uso oral, composto de princípios ativos vegetais (Passiflora alata + Cratægus oxyacantha + Erythrina mulungu), reconhecidamente neurossedativos.

 

 

Leviathan
A Destruição de Leviathan
Gustave Doré (1865)

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://g1.globo.com/Noticias/
Mundo/0,,MUL24516-5602,00.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Leviat%C3%A3_(livro)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Leviat%C3%A3_(monstro)

http://www.projectpluto.com/update8b.htm

 

Música de fundo:

Ave Maria (Franz Shubert)
Intérprete: Nana Mouskouri

Ave Maria,
Gratia plena,
Dominus Tecum,
Benedicta Tu in mulieribus
Et Benedictus Fructus Ventris Tui Jesus.

Sancta Maria,
Sancta Maria,
Maria,
Ora pro nobis,
Nobis peccatoribus,
Nunc et in hora,
In hora mortis nostræ.
Ave! Ave!