A
suspensão,
remoção ou cessão de um grave mal são reputados
pelo paciente como um grande bem: deixar de sofrer é também
gozar.
Os
abusos, como os dentes, nunca são arrancados sem dores.
A
virtude é comunicável, mas o vício, contagioso.
Em
vão procuraremos a verdadeira felicidade fora de nós, se não
possuirmos a sua fonte dentro de nós.
Força
sem inteligência é como movimento sem direção.
Adular
os tolos é um meio ordinário de os desfrutar; os velhacos
empregam-no eficazmente.
Não
há escravidão pior do que a dos vícios e das paixões.
Os anarquistas são como os
jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas ou
mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.
Muito
pouco se padece na vida, em comparação com o que se goza;
aliás, não sendo assim, como se viveria?
Querendo
prevenir males de ordinário contingente, o homem prudente vive sempre
em tortura, gozando menos do presente do que sofre no futuro.
Sem
os males que contrastam os bens, não nos creríamos jamais
felizes, por maior que fosse a nossa felicidade.
Ninguém nos aconselha tão
mal como o nosso amor-próprio nem tão bem como a nossa consciência.
Viver
é gozar e sofrer, resistir e batalhar com os homens, as coisas, os
eventos e os elementos.
O avarento é o mais leal e
fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.
O
avarento, por um mau cálculo, sofre no presente os males que receia
no futuro.
Não
se pode formar um bom conceito de quem não tem
boa opinião de pessoa alguma.
A
beleza é uma letra que se vence à vista. Já a sabedoria
tem o seu vencimento a prazo.
Os
aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco
e os ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir.
Nenhum
tempo e nenhum lugar nos agradam tanto como o tempo que não existe
e o lugar em que não estamos.
O
Paradoxo da Sabedoria
São
muito raros, no gênero humano, os homens verdadeiramente
sábios; o concurso de condições e circunstâncias
especiais necessário para que os haja ocorre com tanta
dificuldade, que não deve admirar a sua raridade: demais,
a sua aparição pouco ou nada aproveita aos outros
homens que os desprezam, perseguem ou motejam, incapazes de compreendê-los,
e os obrigam, finalmente, ao silêncio, ao retiro e à
reclusão. (...) Não esperem os homens por, maior
que seja o progresso da sua inteligência, chegar a conhecer
as verdades capitais e primitivas sobre a essência e natureza
das coisas: mudarão de erros, de fábulas, de hipóteses
e de teorias, mas, nunca poderão alcançar conhecimentos
que hajam de mudar a natureza humana, e fazer os homens diversos
do que farão e do que são. O mundo varia aos olhos
e nas opiniões dos homens, conforme as idades e condições
da vida.
In:
Máximas,
Pensamentos e Reflexões
|
As
nossas necessidades nos unem, mas, as nossas opiniões nos separam.
Custa
menos ao nosso amor-próprio caluniar a sorte, do que acusar a nossa
má conduta.
Inveja-se
a riqueza, mas, não o trabalho com que ela se granjeia.
Não
provoques o Poder, que ele se tornará cruel e despótico no
seu desagravo.
O
temor da morte é a sentinela da vida.
Aquele
que se envergonha não é incorrigível.
O
amor-próprio do tolo, quando se exalta, é sempre o mais escandaloso.
A
sinceridade é, muitas vezes louvada; mas, nunca invejada.
Os
vícios, como os cancros, têm a qualidade de ser corrosivos.
Há
opiniões que nascem e morrem como as folhas das árvores; outras,
porém, têm a duração dos mármores e do
mundo.
O
nosso bom ou mau procedimento é o nosso melhor amigo ou o pior inimigo.
Os
sábios duvidam mais do que os ignorantes; daqui provém a filáucia1
destes e a modéstia daqueles.
Aproveita
muito subir aos maiores empregos do Estado, para nos desenganarmos da sua
vanglória e inanidade.
Se
as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam
os mais instruídos.
Os
empregos que por intrigas e facções se alcançam por
facções e intrigas se perdem.
Sem
a memória, a razão
não teria materiais com que exercer a sua atividade.
A
opinião pública é sempre respeitável, não
pelo seu racionalismo, mas, pela sua onipotência muscular.
Nos
nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes
ou inábeis.
A
razão, como
as paixões, também tiraniza algumas vezes.
Os
moços de juízo se honram em parecer velhos; mas, os velhos
sem juízo procuram figurar como moços.
A
sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna
indecentes e desprezíveis.
Achar
em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem
e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.
Evolução
temporal de um sóliton
(onda solitária de terceira ordem)
Muitas
pessoas que se prezam de firmes e constantes não são mais
do que teimosas e impertinentes.
Quando
os tiranos caem, os povos se levantam.
Desperdiçamos
tempo nos queixando sempre de que a vida é breve.
O
louvor não merecido embriaga como o vinho.
É
mais
fácil perdoar os danos ao nosso interesse do que os agravos ao nosso
amor-próprio.
Mudai
os tempos, os lugares, as opiniões e as circunstâncias, e os
grandes heróis se tornarão pequenos e insignificantes homens.
A
autoridade de poucos é e será sempre a razão e o argumento
de muitos.
Os
velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão
uma idéia favorável da maturidade e do progresso da sua inteligência.
O
ódio e a guerra que declaramos aos outros nos gasta e nos consome
a nós mesmos.
A
familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.
A
preguiça dificulta; a atividade tudo facilita.
Há
muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso
do que o sofrimento dos males presentes.
Há
mentiras que são enobrecidas e autorizadas pela civilidade.
É
mais útil, algumas vezes, a extirpação de um erro,
do que a descoberta de muitas verdades.
Os
conselhos dos moços derivam das suas ilusões, os dos velhos,
dos seus desenganos.
Quando
defendemos os nossos amigos, justificamos a nossa amizade.
Os
nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento
moral. Eles são os historiadores dos nossos erros, vícios
e imperfeições.
Podemos
reunir todas as virtudes, mas, não acumular todos os vícios.
A
vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.
As
grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem
poucos seriam os livros, se contivessem somente verdades. Os erros dos homens
abastecem as estantes.
O
louvor que mais prezamos é justamente aquele que menos merecemos.
Os
homens são poucas vezes o que parecem; eles trabalham incessantemente
por parecer o que não são.
Sabei
escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.2
É
tão fácil o prometer e tão difícil o cumprir,
que há bem poucas pessoas que cumpram as suas promessas.
É
falta de habilidade governar com tirania.3
A
razão prevalece na velhice porque as paixões também
envelhecem.4
Mudamos
de paixões, mas, não vivemos sem elas.
Os
bons conselhos desagradam aos apaixonados como os remédios aos que
estão doentes.
A
verdade é tão simples que não deleita. São os
erros e as ficções que, pela sua variedade, nos encantam.
Os
elogios de maior crédito são os que os nossos próprios
inimigos nos tributam.
Os
bens que a virtude não dá ou não preserva são
de pouca duração.
Dói
mais ao nosso amor-próprio sermos desprezados do que aborrecidos.
O
luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.
Saber
viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade, que muita gente
morre sem a ter compreendido.
O
erro máximo dos filósofos foi pretender sempre que os povos
filosofassem.
Dói
tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.5
A
má educação consiste especialmente nos maus exemplos.
O
velho
se crê feliz em não sofrer; o moço, infeliz em não
gozar.
O
trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal
concebido e pior executado.
Se
fôssemos sinceros em dizer o que sentimos e pensamos uns dos outros,
em declarar os motivos e os fins das nossas ações, seríamos
reciprocamente odiosos e não poderíamos viver em sociedade.
Há
enganos que nos deleitam, como desenganos que nos afligem.
Não
somos sempre o que queremos, mas, o que as circunstâncias nos permitem
ser.
Como
a luz em uma masmorra faz visível todo o seu horror, assim a Sabedoria
manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua
natureza.
Ninguém
quer passar por tolo; antes, prefere parecer velhaco.
O
espírito de intriga inculca demérito nos intrigantes.
Somos
muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto
que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.
A
paixão pela leitura é a mais inocente, aprazível e
a menos dispendiosa.
Os
velhos dão bons conselhos para se redimirem de ter dado maus exemplos.
A
morte anula sempre mais planos e projetos do que a vida executa.
E
um
povo ignorante, a opinião pública representa a sua própria
ignorância.
Os
bens de que gozamos exercem sempre menos a nossa razão do que os
males que sofremos.
Quem
muito nos festeja alguma coisa de nós deseja.
Os
maus não são exaltados para serem felizes, mas, para que caiam
de mais alto e sejam esmagados.
Os
homens, em geral, ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.
Quando
a consciência nos acusa, o interesse ordinariamente nos defende.
Geralmente,
os homens são tão avaros do seu dinheiro, como pródigos
dos seus conselhos.
Somos
bons consoladores, mas, muito maus sofredores.
É
tal a falibilidade dos juízos humanos, que, muitas vezes, os caminhos
por onde esperamos chegar à felicidade nos conduzem à miséria
e à desgraça.
Um
povo corrompido não pode tolerar um Governo que não seja corrupto.
Afetamos
desprezar os bens que não podemos conseguir.
Ordinariamente,
nos fingimos distraídos quando não nos convém parecer
atentos.
Ninguém
duvida tanto como aquele que mais sabe.
O
que ganhamos em autoridade perdemos em liberdade.
Nos
altos empregos, os grandes homens parecem ainda maiores; mas, os pequenos
figuram de mais diminutos.
Os
homens de bem perdem e empobrecem nos mesmos empregos em que os velhacos
ganham e enriquecem.
Os
erros de uns são lições para outros; estes acertam
porque aqueles erraram.6
É
mais fácil refutar erros do que descobrir verdades.
Instruir
e divertir os povos deve ser o empenho dos escritores; os mais hábeis
são os que instruem divertindo.
A
beneficência é sempre feliz e oportuna quando a prudência
a dirige e recomenda.
O
interesse explica os fenômenos mais difíceis e complicados
da vida social.
Enganamo-nos
ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a
violência dos males que tememos.
A
pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.7
Há
muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem
benfeitores infelizes ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos.8
O
insignificante presume se dar importância maldizendo de tudo e de
todos.
A
atividade sem juízo é mais ruinosa do que a preguiça.
Muita
luz deslumbra a vista; muita ciência confunde o entendimento.
A
religião supre o juízo e a razão que faltam em muita
gente.
A
religião amansa os bravos e alenta os fracos.
É
judiciosa a economia de palavras, de tempo e de dinheiro.
Os
homens se enganam miseravelmente quando esperam encontrar a sua felicidade
mais na forma dos seus Governos do que na reforma dos seus costumes.
Há
homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo.
A
dialética do interesse é quase sempre mais poderosa do que
a da razão e a da consciência.
Os
maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecer crédito,
ainda que digam verdades.
Os
soberbos são ordinariamente ingratos: consideram os benefícios
como tributos que se lhes devem.
Não
é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às
mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é
uma garantia e penhor de segurança e tranqüilidade.
A
intemperança da língua não é menos funesta para
os homens do que a da gula.
Nobre
e ilustrada é a ambição que tem por objeto a sabedoria
e a virtude.
A
maledicência é uma ocupação e lenitivo para os
descontentes.
A
velhice
reflexiva é um grande armazém de desenganos.
O
remorso
é na moral o que a dor é no físico da nossa individualidade:
advertência de desordens que se devem reparar.
É
nas grandes assembléias deliberantes que melhor se conhece a disparidade
das opiniões dos homens e o jogo das paixões e dos interesses
individuais.
Há
duas coisas que não se perdoam entre os partidos políticos:
a neutralidade e a apostasia.
Como
o espaço compreende todos os corpos, a ambição abrange
todas as paixões.
A
mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice.
A
vitória de uma facção política é ordinariamente
o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.
Os
sábios que são respeitados pelos seus escritos são
algumas vezes desprezíveis pelas suas ações.9
A
razão dos filósofos é muitas vezes tão extravagante
como a imaginação dos poetas.
Os
nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são
os nossos erros, vícios e paixões.
Todos
reclamam reformas, mas, ninguém se quer reformar.
Não
é dado ao saber humano conhecer toda a extensão da sua ignorância.
Quando
a cólera ou o amor nos visitam, a razão se despede.
Deve-se
julgar a opinião e o caráter dos povos pelo dos seus eleitos
e prediletos.
O
mal ou bem que fazemos aos outros reverte sobre nós acrescentado.10
Em
certas circunstâncias, o silêncio de poucos é a culpa
ou o delito de muitos.
Desesperar
na desgraça é desconhecer que os males confinam com os bens,
e que se alternam ou se transformam.
A
falsa ciência não aumenta o nosso saber; agrava a nossa ignorância.
O
futuro é como o papel em branco em que poderemos escrever e desenhar
o que quisermos.
Os
erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como
os dobrões de ouro.
Os
males da vida são os nossos melhores preceptores; os bens, os nossos
maiores aduladores.
A
paciência dispensa a resistência e a reação.11
O
prazer do crime passa, o arrependimento sobrevém e o remorso se perpetua.
A
imaginação exagera, a razão desconta, o juízo
regula.
Ordinariamente,
fazemos mais festa às pessoas que tememos do que àquelas a
quem amamos.
Pela
dieta e pela abstinência, a avareza
contribui muito para a longevidade.
Os
velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é
infinito.
A
memória dos velhos é menos pronta porque o seu arquivo é
muito extenso.
A
Democracia
é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade
é o seu elemento.
Os
homens de pouca inteligência não sabem encarecer a própria
capacidade sem rebaixar a dos outros.
O
invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque
os outros gozam.
As
paixões são como os vidros de grau, que alteram para mais
ou para menos a grandeza e o volume dos objetos.
A
ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome
e a pobreza.
Mais
por inveja do que por virtude, há
certos passatempos e prazeres ilícitos que censuramos nos outros.
Há
povos que são felizes em não ter mais do que um só
tirano.
As
virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.
Todos
se queixam. Uns dos males que padecem; outros da insuficiência, da
incerteza ou da limitação dos bens de que gozam.
A
vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca
e simultaneamente intrigados e intrigantes.
O
arrependimento é ineficaz quando as reincidências são
consecutivas.
Para
bem conhecer os homens, é necessário, primeiramente, vê-los
e praticá-los de perto, e, depois, estudá-los e meditá-los
de longe.
Não
se apaga o fogo com resinas nem a cólera com más palavras.
Os
pobres se divertem com pouco dinheiro; os ricos se enojam com muita despesa.
O
mundo floresce pela vida e se renova pela morte.
Os
povos, como as pessoas, variam de opiniões e de gostos, e, na sua
inconstância, passam freqüentes vezes de um a outro extremo.
O
sábio que não fala nem escreve é pior do que o avarento
que não despende.12
O
silêncio, ainda que mudo, é freqüentes vezes tão
venal como a palavra.
Um
grande crime glorificado ocasiona e justifica todos os outros crimes e atentados
subseqüentes.
As
crenças religiosas fixam as opiniões dos homens; as teorias
filosóficas perturbam-nas e confundem-nas.
Muito
juízo é um grande tirano pessoal.
A
prudência é uma arma defensiva que supre ou desarma todas as
outras.
Os
arrufos entre amantes podem ser renovações de amor, mas, entre
os amigos são deteriorações da amizade.
Como
os sábios não adulam os povos, estes também não
os promovem.
Quando a cumplicidade é geral,
a
impunidade é segura.
A
vida humana parece de algum modo tríplice, quando refletimos que
vivemos e sentimos em três tempos: no pretérito, no presente
e no futuro.
Querendo
parecer originais, tornamo-nos ridículos ou extravagantes.
Alguns
Princípios Básicos
Universo
= Sistema + Ordem.
Moca
= Dessistema + Desordem.
Harmonia
= Paz + Beleza + Bem.
O Iniciado
Morre e Nasce também.
Ignorância
= Divisão + Desamor.
Samsara
= Teimosia + Desprimor.
Alforria
= Labuta + Compreensão.
Tudo
repousa em nosso Coração.