Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Sirlei Dias de Carvalho Pinto
Empregada doméstica espancada e roubada
porque foi confundida com uma prostituta!

 

 

 

Eu não percebo qualquer consistência e também não vejo a menor vantagem em se deixar passar séculos para transformar uma suposta prostituta stricto sensu em Santa, como foi o que fizeram, por exemplo, com Santa Maria Madalena (ou Santa Maria de Magdala), ou o que aprontaram para a pequena pastora analfabeta de Domrémy, heroína da Guerra dos Cem Anos (que, na realidade, durou 116 anos) e, hoje, padroeira da França, Santa Joana d'Arc, que, neste caso, não conseguiram acusar de rameira (porque não puderam), mas de ímpia, assassina e maluca, e, por isso, com apenas dezenove anos, a Pucelle foi torrada viva em 30 de maio de 1431, para, em 9 de maio de 1920, cerca de 500 anos depois de seu assassinato, ser promovida de herética-homicida destrambelhada a Santa pelo Papa Bento XV. Até pedra chora com essas coisas! A Libertadora Santa Joana d'Arc nunca foi maluca ou herética; e Santa Maria Madalena nunca foi prostituta, mas, sim, a Santa Gnóstico-iniciada Mediadora-portadora da Boa Nova, que alguns machistas bestalhões, covardes e perversos, por medo, ignorância, conveniência, preconceito e canalhice, quiseram porque quiseram que não fosse uma Illuminada, mas uma pobre prostituta arrependida que teve seus hipotéticos pecados vaginais perdoados por Jesus. Quem assim pensou e quem assim ainda pensa que a coisa se passou ou possa ter se passado dessa forma está mais por fora do que umbigo de vedete ou dedão de franciscano. O pior, o muito pior, o pioríssimo, é que inconsistências como essas – e são incontáveis – produzem nos desavisados preconceitos de toda ordem, menos por serem desavisados, mais por serem, infelizmente, mas explicavelmente, ultramedíocres de nascença. Já disse e vou repetir: não viemos do mesmo Plano ou Dimensão Cósmica, e não iremos para o mesmo Plano ou Dimensão Cósmica. Daí, a maior ou menor mediocridade que cada um de nós carrega em seu balaio de ilusões.

 

 

 

Mas, fico remastigando: terá sido esse o medieval exemplo atávico–'brutalizador' para que, na madrugada do sábado passado, 23 de junho de 2007, (um grupelho de) cinco jovens bem postos na vida animalescamente espancassem e covardemente roubassem a empregada doméstica Sirlei Dias de Carvalho Pinto, por terem esquizofrenicamente conjecturado que ela seria uma puta? Esses rapazes precisam urgentemente fazer terapia para compreenderem o exato porquê de terem cometido essa barbaridade-bumerangue. Fica a pergunta: individualmente e sozinhos, teriam tido coragem? Duvido muito, porque covardia, geralmente, só é praticada em grupo. Terapia neles!

 

 

 

Mas, voltando a Santa Maria Madalena, se ela tivesse sido mesmo uma prostituta ou, muito mais do que isso, uma Sagrada Prostituta, quem, hoje, com conhecimento distorcido ou desconhecimento total dos fatos históricos e místicos, poderia julgá-La e condená-La? Quem, afinal, poderia ou pode julgá-La e condená-La pelo motivo que for? Quem pode julgar e condenar alguém pelo que quer que seja? Quem pode? Eu, realmente, estou saturado até a raiz dos pentelhos de todas essas pequeninezas. Que não se esqueça: muito do que antes era considerado sagrado e iniciático, hoje, se tornou razão e motivo de degradação e de preconceito. Em parte, o monoteísmo exotérico – autoritário e masculinizante – é responsável por absurdezas como essas. Quem nunca examinou ou pesquisou esse tema encontrará farto material para reflexão. E que não se invoque Akhnaton para exemplo para contraditar o que acabei de dizer, porque o seu Monoteísmo em nada se assemelhava ao que hoje, em termos religiosos, se admite como culto ou adoração de um único deus.

Entretanto, se fosse comigo, eu preferiria mil vezesmil vezes mais ter continuado a ser tida, havida e considerada como prostituta, do que ser santificada para mero aplacamento de algumas consciências (se efetivamente houve aplacamento, o que, no fundo, não creio). Isso é fajutice da pior qualidade e não vale absolutamente nada. Em um certo sentido, é hipócrita e revoltante. E mais: os verdadeiros santos, católicos ou não, como é o caso de Santa Maria Madalena, que é, e de Krishna Dvaipayana Vyasadeva, que não é, não precisam de reconhecimento santificante de ninguém. Quem é santo é santo porque se fez santo e sabe que é santo; não depende de aprovação suma cum laudæ em processo burocracial xexelento de santificação.

Ora, quem é quem para santificar quem? Eu gostaria muito de ler a ata do conciliabùlum no qual esse diploma (supostamente espiritual) foi inventado, para entender seu amocambado porquê e saber quem delegou essa autoridade santificadora a quem não é santo, para, burocrática e absurdamente, decidir sobre a santidade de alguém (que não pediu para ser nomeado santo por ninguém). No âmbito da academia, pelo menos, as coisas funcionam mais concertadamente. Por exemplo, em uma defesa de tese de doutorado, o doutorando é argüído e examinado por uma banca composta exclusivamente de doutores e/ou de livres-docentes. Um outro exemplo é o que normalmente ocorre nas fraternidades místicas: o iniciando só pode ser iniciado no grau pretendido por uma equipe iniciática na qual todos os seus integrantes já tenham sido iniciados naquele grau. Logo, mutatis mutandis e sem galhofa, só uma comissão de santos teria a autoridade santificável legal para santificar alguém. E isso, se o candidato a santo estivesse de acordo em ser santificado. O contrário de tudo isso, qualquer que seja a circunstância alegada, é mijar para cima e fora do penico, o que não tem qualquer valor nem aqui, nem ali, nem lá, nem acolá, nem na China, nem no céu, seja em latitude, seja em longitude, seja horizontalmente, seja verticalmente. Ou não? Para concluir esta axiomática argumentação, s.m.j., imagine, só por um instantinho, aqueles safadões-comilões da Idade Média, com almas comprometidas e mãos besuntadas de sangue, santificando pessoas. Isso pode ter cabimento onde? Plausibilidade zero.

Enfim, essas coisas interesseiras e abomináveis me deixam meio que abichornado e me causam uma meio que gosmenta e nojosa mistureba de irritação com 'repugnência' (repugnância + repelência).

 

 

 

 

 

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Um Soneto Lamentoso

 

 

 

O ciclo está mesmo se cumprindo.

A violência está mesmo acelerando.

As pessoas estão mesmo permitindo.

Os pérfidos estão mesmo festejando.

 

É empregada, é mendigo, é aposentado...

E já usam até preconceito como arrazoado!

 

E assim, meus poemas vou parindo,

todas essas baixezas vou abominando

e torpes justificativas vou lamentando.

 

E assim, meus alertas vou espargindo,

minhas dores-tristezas vou pranteando

e LLuz para os algemados vou rogando.

 

 

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Joana_d'Arc

http://www.rosanevolpatto.trd.br/mariamadalena.htm

http://tabacco.blog-city.com/

http://paginas.terra.com.br/arte/dubitoergosum/ar5.htm

http://www.cobra.pages.nom.br/ftm-fenomeno.html

 

Marchinha de carnaval:

Coitado do Abdala
Autores: Haroldo Lobo & Milton de Oliveira
Intérprete: César de Alencar

Fonte:

http://www.melsonho.com/carnaval/003carnaval.htm