Três
elementos ou três princípios fundamentais constituem, na história,
as condições essenciais de todo desenvolvimento humano, coletivo
ou individual: 1º) a animalidade humana; 2º) o pensamento; 3º)
a revolta. À primeira corresponde propriamente a Economia social
e privada; à segunda, a ciência; à terceira, a liberdade.
Sou
um amante fanático da liberdade, considerando-a
como o único espaço onde podem crescer e se desenvolver a
inteligência, a dignidade e a felicidade dos homens; não esta
liberdade formal, outorgada e regulamentada pelo Estado, mentira eterna
que, em realidade, representa apenas o privilégio de alguns, apoiada
na escravidão de todos. Só aceito uma única liberdade
que possa ser realmente digna deste nome – a liberdade que consiste
no pleno desenvolvimento de todas as potencialidades materiais, intelectuais
e morais que se encontrem em estado latente em cada um.
Religião
é demência coletiva.
Todos
os ramos da ciência moderna – da verdadeira e desinteressada
ciência –
concorrem para proclamar esta grande verdade, fundamental
e decisiva: o mundo social, o mundo propriamente humano, a Humanidade, numa
palavra, outra coisa não é senão o desenvolvimento
supremo, a manifestação mais elevada da animalidade, pelo
menos para nós e em relação ao nosso Planeta. Mas,
como todo desenvolvimento implica necessariamente uma negação,
a da base ou do ponto de partida, a Humanidade é, ao mesmo tempo
e essencialmente, a negação refletida e progressiva da animalidade
nos homens; e é precisamente esta negação, racional
por ser natural, simultaneamente histórica e lógica, fatal
como o são os desenvolvimentos e as realizações de
todas as leis naturais no mundo, é ela que constitui e que cria o
ideal –
o mundo das convicções intelectuais
e morais, ou seja, as idéias.
Toda autoridade temporal provém
diretamente da autoridade divina ou espiritual. Mas a autoridade é
a negação da liberdade. Deus, ou melhor, a ficção
de Deus, é a consagração de todas as autoridades que
existem sobre a Terra, e estas não serão eliminadas até
que se tenha extinguido a crença em um amo celeste.
Se
Deus existe, o homem é escravo; mas, o homem pode e deve ser livre,
pois Deus não existe.
Jeová, de todos os bons deuses
adorados pelos homens, foi, certamente, o mais ciumento, o mais vaidoso,
o mais feroz, o mais injusto, o mais sanguinário, o mais despótico
e o maior inimigo da dignidade e da liberdade humanas.
No
paraíso prometido, como se sabe, visto que é formalmente anunciado,
haverá poucos eleitos. O resto – a imensa maioria das gerações
presentes e futuras –
arderá eternamente no inferno. Enquanto isso,
para nos consolar, Deus, sempre justo, sempre bom, entrega a Terra ao governo
dos Napoleão III, Guilherme I, Ferdinando da Áustria e Alexandre
de todas as Rússias.
É
melhor a ausência de luz do que uma luz trêmula e incerta, servindo
apenas para extraviar aqueles que a seguem.
Eu
reverto a frase de Voltaire, e digo isto: se Deus realmente existisse, seria
necessário aboli-Lo.1
Basta
um amo no céu para que haja mil na Terra.
Assim,
sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão,
chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria
das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria,
porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários.
Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo
se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser
operários e passarão a observar o mundo proletário
de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si
mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disto
não conhece a natureza humana.
Se
Deus existisse, só haveria para Ele um único meio de servir
à liberdade humana: seria o de cessar de existir.
A liberdade alheia é a minha,
mas sem limites.
É
próprio do privilégio e de toda posição privilegiada
matar o espírito e o coração dos homens. O homem privilegiado,
seja política, seja economicamente, é um homem depravado de
espírito e de coração.
Se
você pegar o mais ardente dos revolucionários e dar poder absoluto
a ele, em um ano ele será pior do que o próprio czar.
Não
creio nas constituições nem nas leis. A mais perfeita constituição
não conseguiria me satisfazer. Necessitamos de algo diferente: inspiração,
vida, um mundo sem leis, portanto, livre.
A Liberdade do outro estende a minha
ao infinito.
É preciso que se compreenda
que não existe liberdade sem igualdade e que a realização
da maior liberdade na mais perfeita igualdade de direito e de fato –
política, econômica e social ao mesmo tempo –
é a justiça.
As
pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão à
taverna: para se entorpecerem, para se esquecerem de sua miséria,
para se imaginarem, de algum modo, livres e felizes.
Não
há nada tão estúpido como a inteligência orgulhosa
de si mesma.
Estamos
convencidos de que o pior mal –
tanto para a Humanidade quanto para a verdade e o
progresso –
é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois
não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações
mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através
de seus dogmas, de suas mentiras, de sua estupidez e da sua ignomínia
tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não
é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas idéias
sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela
que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega
a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e
dos exploradores? Não é esta mesma Igreja implacável
que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza
e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século,
um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.
A paixão pela destruição
é uma paixão criativa.2
Os teólogos dizem: essas coisas
são mistérios insondáveis. Ao que respondemos: são
absurdos imaginados por vós próprios. Começais por
inventar o absurdo; depois, nos fazei dele a imposição como
mistério divino, insondável e tanto mais profundo quando mais
absurdo. É sempre o mesmo procedimento: creio porque é absurdo.
Quem
quer, não a liberdade, mas o Estado, não deve brincar de revolução.
A
emancipação econômica deve ser a mãe de todas
as outras emancipações.
A
existência de Deus implica a abdicação da razão
e da justiça humanas. Ela é a negação da liberdade
humana e resulta, necessariamente, em uma escravidão não somente
teórica, mas prática.
A
liberdade não será restituída à Humanidade e
os verdadeiros interesses da sociedade – quaisquer que sejam os grupos,
organizações sociais ou indivíduos que a compõem
– só serão satisfeitos quando os Estados não
mais existirem.
O Estado é um enorme matadouro,
um vasto cemitério no qual, sob a sombra e o pretexto de abstração,
todas as reais aspirações e forças ativas de um país
se deixaram enterrar generosa e pacificamente.
A
abolição da Igreja e do Estado deve ser a primeira e indispensável
condição para a verdadeira libertação da sociedade;
só depois que isto acontecer é que a sociedade poderá
ser organizada de uma maneira diferente. Não de cima para baixo e
segundo algum plano ideal sonhado por alguns sábios e eruditos, e
menos ainda por decretos emanados de algum poder ditatorial ou ainda por
uma assembléia nacional eleita por sufrágio universal. Como
já demonstrei, um tal sistema levaria inevitavelmente à criação
de um novo Estado e, conseqüentemente, à formação
de uma aristocracia oficial, isto é, de uma classe de indivíduos
que não teriam nada em comum com o povo e que começariam imediatamente
a explorar e subjugar esse povo em nome do bem-estar geral ou para salvar
o Estado.
A
futura organização da sociedade deveria ser realizada de baixo
para cima, pela livre associação e união dos operários;
primeiro em associações, depois em comunas, em regiões,
em países e, finalmente, em uma grande federação internacional
e universal.3
Só assim poderá ser estabelecida a liberdade e a facilidade
geral da nova ordem – uma ordem que, longe de querer negar, garante
e tenta harmonizar os interesses dos indivíduos e da sociedade.
Enchendo seus bolsos e satisfazendo
sua luxúria imunda, os defensores dos sistemas metafísicos
teológicos se consolam com a idéia de que estão trabalhando
para a glória de Deus, pela vitória da civilização
e pela causa do proletariado.
A
liberdade deve ser entendida no seu senso mais amplo e profundo como o destino
do progresso histórico do homem.
Toda
riqueza do progresso intelectual humano, moral e material, assim como a
aparente independência do homem, é produto da vida em sociedade.
Fora da sociedade, o homem não seria livre, e nem mesmo se tornaria
um homem verdadeiro, isto é, um ser autoconsciente que sente, pensa
e fala. Apenas a combinação da inteligência com o trabalho
coletivo pode tirar o homem do estágio selvagem e animalesco que
constitui sua primeira natureza, ou melhor, seu primeiro passo em direção
ao progresso. Estamos seriamente convencidos de que a verdade de toda a
vida humana, isto é, interesses, tendências, necessidades,
ilusões e mesmo estupidez, assim como os atos de violência
e de injustiça, toda ação que parece ser voluntária
é apenas uma conseqüência das forças fatais na
vida em sociedade. Não se pode admitir a idéia da independência
mútua sem negar a influência recíproca da correlação
de manifestações de natureza externa.
A
superstição sempre deu lugar a assustadores azares que sempre
terminaram em torrentes de sangue e lágrimas.
A
grande maioria das pessoas vive em contradição
consigo mesma e sob contínuas desinteligências. Geralmente,
as
pessoas não
se dão conta disto, até que algum fato extraordinário
as tire do seu sonambulismo habitual e as force a olhar para si e ao redor.4
Se a ordem é natural e possível
no Universo, é porque o Universo não é governado por
nenhum sistema criado anteriormente e imposto por um poder supremo. A hipótese
teológica de uma legislação suprema leva a um absurdo
evidente e à negação da ordem e da própria Natureza.
As leis naturais são reais apenas enquanto forem inerentes à
Natureza, isto é, enquanto não são fixadas por uma
autoridade. Estas leis são somente simples manifestações
ou modalidades descontínuas do desenvolvimento das coisas e a combinação
de fatos variados, transitórios, porém reais. Juntos constituem
o que denominamos Natureza. A inteligência humana e a ciência
observaram estes fatos e os controlaram experimentalmente. Estão,
reuniram estes
fatos em um sistema
e os denominaram leis. Mas a própria Natureza não tem leis.5
Ela age inconscientemente, representando em si própria a infinita
variedade dos fenômenos, que surgem e se repetem de acordo com a necessidade.
Graças a esta inevitabilidade de ação que a ordem universal
pode existir. E, de fato, existe.
Tanto
em política como na religião, os homens são apenas
máquinas nas mãos dos exploradores. Mas, assaltantes e assaltados,
opressores e oprimidos vivem lado a lado, governados por um punhado de indivíduos
que devem ser considerados como os verdadeiros exploradores. É sempre
o mesmo tipo de gente... que maltrata e oprime... Nos séculos XVII
e XVIII até a Grande Revolução, assim como hoje, esta
gente comandou a Europa e tudo funcionou como eles queriam. Cremos que sua
dominação não pode mais continuar.
Se a Igreja é necessária
para a salvação da alma, como afirmam os padres... o Estado
é, por sua vez, necessário para a conservação
da paz, da ordem e da justiça. Proclamam os dogmáticos de
todas as classes: 'Sem a Igreja e o Estado não haveria civilização
nem progresso'.
O
povo, infelizmente, é ainda muito ignorante e mantido na ignorância
pelos esforços sistemáticos de todos os Governos, que consideram
isso, com muita razão, como uma das condições essenciais
de seu próprio poder. Esmagado por seu trabalho quotidiano, privado
de lazer, de intercâmbio intelectual, de leitura, enfim, de quase
todos os meios e de uma boa parte dos estímulos que desenvolvem a
reflexão nos homens, o povo aceita, na maioria das vezes, sem crítica
e em bloco, as tradições religiosas. Elas o envolvem desde
a primeira idade, em todas as circunstâncias de sua vida, artificialmente
mantidas em seu seio por uma multidão de corruptores oficiais de
todos os tipos, padres e leigos, elas se transformam entre eles em um tipo
de hábito mental, freqüentemente mais poderoso do que seu bom
senso natural.
Há uma categoria de pessoas
que, se não crêem, devem, pelo menos, fazer de conta que sim.
São todos os atormentadores, todos
os opressores e todos
os exploradores da Humanidade: padres, monarcas,
homens de Estado, homens de guerra, financistas públicos e privados,
funcionários de todos os tipos, soldados, policiais, carcereiros
e carrascos, capitalistas, aproveitadores, empresários e proprietários,
advogados, economistas, políticos de todas as cores, até o
último vendedor de especiarias, todos repetirão em uníssono
estas palavras de Voltaire: Se Deus não existisse, seria preciso
inventá-Lo. É preciso uma religião para o povo. É
a válvula de escape.
A
antigüidade de uma crença, de uma idéia, longe de provar
alguma coisa em seu favor, deve, ao contrário, torná-la suspeita.
Está
constatado que todos os povos, em todas as épocas de sua vida, acreditaram
e acreditam ainda em Deus. Disto, devemos concluir, simplesmente, que a
idéia divina, emanada de nós mesmos, é um erro historicamente
necessário no desenvolvimento da Humanidade.
O céu religioso nada mais
é do que uma miragem onde o homem, exaltado pela ignorância
e pela fé, encontra sua própria imagem, mas ampliada e invertida,
isto é, divinizada.
A
essência de todos os sistemas religiosos – que é empobrecimento
–
é a escravização e o aniquilamento
da Humanidade em proveito de uma divindade.
Incapaz de encontrar por si próprio
a justiça, a verdade e a vida eterna, o homem só pode alcançar
isto por meio de uma revelação divina. Mas quem diz revelação
diz reveladores e legisladores inspirados pelo próprio Deus. E estes,
uma vez reconhecidos como os representantes da divindade sobre a Terra,
como os santos instituidores da Humanidade, eleitos pelo próprio
Deus para dirigi-la em direção à via da salvação,
exercem necessariamente um poder absoluto. Todos os homens lhes devem uma
obediência passiva e ilimitada, pois contra a razão divina
não há razão humana, e contra a justiça de Deus
não há justiça terrestre que se mantenha. Escravos
de Deus, os homens devem sê-lo também da Igreja e do Estado,
enquanto este último for consagrado pela Igreja. Eis o que de todas
as religiões que existem ou que existiram, o Catolicismo compreendeu
melhor do que as outras, sem excetuar a maioria das antigas religiões
orientais, as quais só abarcaram povos distintos e privilegiados,
enquanto que o Catolicismo
tem a pretensão de abarcar a Humanidade inteira.
A
despeito dos metafísicos e dos idealistas religiosos,
dos filósofos, dos políticos ou dos poetas, a idéia
de Deus implica a abdicação da razão e da justiça
humanas; ela é a negação mais decisiva da liberdade
humana, e resulta necessariamente na escravidão dos homens, tanto
na teoria quanto na prática.
Se Deus é, o homem é
escravo. Ora, o homem pode e deve ser livre; portanto, Deus não existe.
Entendo
por ciência absoluta a ciência realmente universal, que reproduziria
idealmente, em toda a sua extensão e em todos os seus detalhes infinitos,
o Universo, o sistema ou a coordenação de todas as leis naturais,
manifestas pelo desenvolvimento incessante dos mundos. É evidente
que esta ciência, objeto sublime de todos os esforços do espírito
humano, jamais se realizará em sua plenitude absoluta.
Todas
as religiões são cruéis, todas são fundadas
sobre o sangue, visto que todas repousam principalmente sobre a idéia
do sacrifício, isto é, sobre a imolação perpétua
da Humanidade à insaciável vingança da divindade. Neste
sangrento mistério, o homem é sempre a vítima, e o
padre, homem também, mas homem privilegiado pela graça, é
o divino carrasco. Isto nos explica porque os padres de todas as religiões,
os melhores, os mais humanos, os mais doces, têm quase sempre no fundo
de seu coração – senão no coração,
pelo menos em sua imaginação, em seu espírito –
alguma coisa de cruel e de sanguinário.
Rejeito
toda legislação, toda autoridade e toda influência privilegiada,
titulada, oficial e legal, mesmo emanada do sufrágio universal, convencido
de que ela só poderia existir em proveito de uma minoria dominante
e exploradora, contra os interesses da imensa maioria subjugada.
Na posição do padre
católico, há
uma dupla contradição. Inicialmente,
a da doutrina de abstinência e de renúncia às tendências
e às necessidades positivas da natureza humana, tendências
e necessidades que, em alguns casos individuais, sempre muito raros, podem
ser continuamente afastadas, reprimidas e mesmo completamente eliminadas
pela influência constante de alguma poderosa paixão intelectual
e moral, que, em certos momentos de exaltação coletiva, podem
ser esquecidas e negligenciadas, por algum tempo, por uma grande quantidade
de homens ao mesmo tempo, mas que são tão profundamente inerentes
à nossa natureza que acabam sempre por retomar seus direitos, de
forma que, quando não são satisfeitas de maneira regular e
normal, são finalmente substituídas por satisfações
daninhas e monstruosas. É uma lei natural, e, por conseqüência,
fatal, irresistível, sob a ação funesta da qual caem
inevitavelmente todos os padres católicos e especialmente os da Igreja
Católica Romana.6
Somente
a ação espontânea do povo pode criar a liberdade.
Há
somente dois meios de convencer as massas da bondade de uma instituição
social qualquer. O primeiro, o único real, mas também o mais
difícil de empregar – porque implica a abolição
do Estado, isto é, a abolição da exploração
politicamente organizada da maioria por uma minoria qualquer – seria
a satisfação direta e completa das necessidades e das aspirações
do povo, o que equivaleria à liquidação da existência
da classe burguesa e, mais uma vez, à abolição do Estado.
E, pois, inútil falar disso. O outro meio, ao contrário, funesto
somente ao povo, precioso ao bem-estar dos privilegiados burgueses, não
é outro senão a religião. É a eterna miragem
que leva as massas à procura dos tesouros divinos, enquanto que,
muito mais astuta, a classe governante se contenta em dividir entre seus
membros – muito desigualmente, por sinal, e dando cada vez mais àquele
que mais possui – os miseráveis bens da terra e os despojos
do povo, inclusive, naturalmente, a liberdade política e social deste.
Não
é nada difícil provar, com a história na mão,
que a Igreja, que todas as Igrejas, católicas e não católicas,
ao lado de sua propaganda espiritualista, provavelmente para acelerar e
consolidar seu sucesso, jamais negligenciaram de organizar grandes companhias
para a exploração econômica das massas, sob a proteção
e a bênção direta e especial de uma divindade qualquer;
que todos os Estados que, em sua origem, como se sabe, nada mais foram,
com todas as suas instituições políticas e jurídicas
e suas classes dominantes e privilegiadas, senão sucursais temporais
destas diversas Igrejas, só tiveram igualmente por objeto principal
esta mesma exploração em proveito das minorias laicas, indiretamente
legitimadas pela Igreja; enfim, que, em geral, a ação do bom
Deus e de todas as fantasias divinas sobre a Terra finalmente resultaram,
sempre e em todos os lugares, na fundação do materialismo
próspero do pequeno número sobre o idealismo fanático
e constantemente faminto das massas.
A
imensa vantagem da ciência positiva sobre a teologia, a metafísica,
a política e o direito jurídico consiste no seguinte: no lugar
das abstrações enganosas e funestas, pregadas por estas doutrinas,
ela apresenta abstrações verdadeiras, que exprimem a natureza
geral e a lógica das coisas – as relações e as
leis gerais de seu desenvolvimento.
A
única missão da ciência é iluminar o caminho.
Somente a vida, liberta de todos os seus entraves governamentais e doutrinários,
e devolvida à plenitude de sua ação, pode criar.
Se
Deus, por inteiro, pudesse se alojar em cada homem, então, cada homem
seria Deus. Teríamos uma grande quantidade de Deuses, cada um se
achando limitado pelos outros, mas nem por isso menos infinito, contradição
que implicaria necessariamente a destruição mútua dos
homens, a impossibilidade de que existisse mais do que um.7
Não
olhemos jamais para trás; olhemos sempre para a frente.
À frente está nosso Sol, nossa salvação.
Se nos é permitido, se é mesmo útil e necessário
nos virarmos para o estudo de nosso passado, é apenas para
constatar o que fomos e o que não devemos mais ser, o que
acreditamos e pensamos e o que não devemos mais acreditar
nem pensar, o que fizemos e o que nunca mais deveremos fazer.
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