MIGUEL SERVET

Miguel Servet

Miguel Servet

Rodolfo Domenico Pizzinga

Introdução e Objetivo do Estudo

Como afirma Angel Martín Velayos (Sâr Anael), fundador e Imperator da Orden Rosacruz, jurisdição da Espanha (Gran Canarias), Miguel Servet (conhecido e festejado como defensor da liberdade de consciência) – ao lado de Raimundo Lulio, Newton, Leibniz, Leonardo da Vinci, Descartes, Paracelso, Beethoven e de muitos outros personagens que se destacaram em todas os ramos do saber – se orgulhou de ser Rosacruz e de sua afiliação ao Movimento Rosacruz de sua respectiva época. Outros Rosacruzes famosos foram: D. Dinis de Portugal (o Rei-Poeta), Rainha Santa Isabel (alquimia das Rosas), Luís Vaz de Camões, John Dee, Giordano Bruno, Heinrich Khunrath, Lutero, Caspar Schwenckfeld, Sebastian Franck, Valentin Weigel, Johann Arndt, Francis Bacon, William Shakespeare, Michael Maier, Robert Fludd, Comênio (Jan Amos Komenský), Elias Ashmole, Isaac Newton, Alessandro Cagliostro, Johann Wolfgang von Goethe, Conde de St. Germain, Johann Sebastian Bach, Vitor Hugo, Paschal Beverly Randolph, Edward Bulwer-Lytton, Franz Hartmann, William Wynn Westcott, Samuel Liddell MacGregor Mathers, Richard Wagner, Rudolf Steiner, Max Heindel, Arnold Krumm-Heller, Reuben Swinburne Clymer, Harvey Spencer Lewis, Ralph Maxwell Lewis, George Alexander Sullivan, Hermann Hesse, J. van Rijckenborgh, Corinne Heline, Manly Palmer Hall e Elsa M. Glover.

Neste sentido, este é mais um estudo que estou divulgando sobre alguns pensamentos de Miguel Servet – um ilustre Rosacruz medieval, que não pôde declarar abertamente sua vinculação com os Rosacruzes de seu tempo, pois, se declarasse, seria execrado e assado na fogueira da Inquisição católica. Mas, mesmo silenciando sobre sua afiliação Rosacruz, acabou amaldiçoado, julgado e torrado vivo na fogueira calvinista por maquinação intrigalhenta de João Calvino (1509 – 1564), um teólogo cristão francês que começou sua vida como um humanista de pensamento refinado e geométrico e terminou como um intolerante inquisidor protestante – não menos intolerante do que os inquisidores católicos – influindo decisivamente na morte de Miguel Servet, basicamente porque este defendia que o dogma da Trindade não fazia qualquer sentido, sendo apenas um sofisma inventado no Primeiro Concílio de Nicéia, que ocorreu durante o reinado do imperador romano Constantino, entre 20 de maio e 19 de junho de 325, ainda que os defensores da doutrina trinitária afirmem que a Igreja primitiva já acatava plenamente esta idéia, com base nos escritos de Inácio de Antioquia (67 – 110 d.C.) .

Seja lá como for, o fato histórico é que a intolerância de Calvino era de tal monta que, durante o julgamento de Servet, ele escreveu: Eu espero que o veredicto seja pena de morte. E foi. Depois da calcinação de Miguel Servet, oito anos mais tarde, em uma carta de 1561, Calvino escreveu para o marquês de Poet, camareiro superior para o Rei de Navarre, dizendo intolerantemente e se gabando: Honra, glória e riqueza serão as recompensas de suas dores; mas, acima de tudo, não deixe de livrar o país daqueles zelosos patifes que incitam o povo para se revoltar contra nós. Tais monstros devem ser exterminados, como exterminei Michael Servetus, o espanhol. Fica a pergunta formulada por Laurence M. Vance: que diferença há, então, entre Calvino e Torquemada (1420-1498) ou entre os reformadores e a Inquisição? Para mim, matar um ou matar 1.000 é a mesma coisa. Não é a quantidade de cadáveres que conta, mas a intencionalidade.

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Médico, teólogo, filósofo, geógrafo, astrônomo e astrólogo espanhol Miguel Servet (29 de setembro de 1511 – 27 de outubro de 1553) nasceu em Vilanova de Sigena-Huesca, no norte da Espanha, cujas idéias teológicas contrariavam tanto as doutrinas católicas quanto as calvinistas, e, por isto, foi queimado vivo em Genebra, vítima da intolerância e do fanatismo de Calvino. O filósofo, historiador e escritor Will Durant (1885 – 1981) comentou: A ditadura de Calvino não foi uma ditadura isenta ou de força, mas de vontade e de caráter. Como qualquer papa, Calvino foi tão severo em rechaçar o individualismo nas questões teológicas.

De origem nobre, Miguel Servet era filho de Antón Serveto Meler e de Catalina Conesa. Educado em Sijena, posteriormente se formaria no Castillo de Montearagón de Huesca, onde ampliaria seus conhecimentos em línguas clássicas (como latim, grego e hebreu), história, geografia, matemática e religião. Toulouse, Paris e Lyon foram outros pontos de referência para seus estudos ao longo de sua curta vida. Estudou leis na França e na Suíça e, depois medicina em Paris. Com seu mestre, o frade e sábio espanhol Juan de Quintana, assistiu à coroação do imperador Carlos V, quando se revoltou com a ostentação da corte papal (1.530). A partir de então, sustentou diversas polêmicas sobre teologia com os dirigentes da Reforma em Lyon, em Genebra, em Basiléia e em Estrasburgo.

Nas obras De Trinitatis Erroribus (1531) e Dialogorum de Trinitate Libri Duo (de Justitia Regni Christi et de Charitate, Capitula Quatuor (1532), conseguiu desagradar tanto católicos como protestantes, o que lhe valeu a fama de herético. Com a morte de Quintana, seu protetor na corte do imperador, e sob ameaça de prisão, refugiou-se em Lyon com o pseudônimo Michel de Villeneuve. Trabalhando inicialmente como revisor e organizador de textos de uma editora local, preparou duas edições da Geografia, de Ptolomeu, e três da Bíblia. Este trabalho lhe valeu a indicação por Elisée Reclus como o fundador da etnografia e da geografia comparada.

Após se tornar amigo do médico Sinforiano Champer, fundador do Colégio de Medicina de Lyon, interessando-se por textos de medicina, foi para Paris a fim de estudar este assunto, onde conseguiu fama como médico e acabou por se tornar médico do arcebispo de Viena. Descobriu a circulação pulmonar do sangue, tornando-se pioneiro no ocidente na descoberta e descrição da circulação no coração e nas artérias (1.535), cujo texto descritivo só foi encontrado muito tempo depois (1.694). Tornou-se, então, conhecida a sua descoberta sobre a circulação pulmonar do sangue e do papel que exerce a respiração na transformação do sangue venoso em arterial. O cientista também revelou a ação das válvulas do coração nos movimentos de diástole e de sístole. Com a publicação da obra Syruporum Universa Ratio ad Galeni Censuram Diligenter Exposita (1537), na qual atacou a medicina oficial da época, gerou uma querela com os médicos parisienses que exigiu a intervenção das autoridades, tendo sido obrigado a se retirar para Charlieu, onde passou a clinicar.

Depois, publicou um tratado de astrologia em que defendeu a influência dos astros sobre a saúde (1.538). Com Biblia Sacra Ex Santis Pagnini Translatione (1.542) e Christianismi Restitutio (1.546), que pregava contra as idéias de Calvino, foi acusado de heresia no tribunal inquisitorial de Lyon. Seus livros foram queimados e ele foi condenado pela Igreja Católica Romana e pelos teólogos da Reforma por seus ensinamentos contra a Trindade. Escapando da prisão, resolveu fugir para a Itália, mas foi reconhecido em Genebra e novamente preso. Foi denunciado ao conselho da cidade por Calvino, de quem recebeu a condenação. Por influência direta de Calvino foi queimado vivo em Champel, Genebra, na Suíça, em 27 de outubro de 1.553.

Servet influenciou vários de seus contemporâneos. O estudioso lituano Piotr de Goniadz admitiu a validade de seus argumentos e convenceu uma parte da nascente Igreja Calvinista da Polônia, que formou a chamada Igreja Reformada Menor, mais conhecida como Irmãos Poloneses, sobre os postulados antitrinitários. De outra parte, o reformado liberal Sebastião Castellio reprovou duramente Calvino, sua intolerância e seus fanatismo, e proclamou a liberdade de consciência em assuntos de fé, um princípio que logo foi postulado pela tradição Unitária. Alguns anos depois, o reformador humanista italiano Fausto Sozzini (1.539 – 1.604) desenvolveu sua própria obra teológica, marcada pelo antitrinitarianismo e pelo uso da racionalidade. Para Sozzini, a religião evocava questões que estavam além da razão (contra rationem), pelo que os credos deviam concordar com a razão humana. Sozzini encontrou refúgio na Polônia, onde foi recebido pelos Irmãos Poloneses, mas nunca chegou a ser membro oficial do grupo, por se negar a ser batizado de novo. Na cidade de Rakow, próximo à Cracóvia, os Irmãos Poloneses desenvolveram um grande centro de estudos que atraiu numerosos eruditos e intelectuais de diferentes países. Em 1.605, um ano depois da morte de Sozzini, os sozzinianos da Igreja Menor publicaram o Catecismo Racoviano, resumo das doutrinas de seu mestre e que teve uma grande influência nos anos posteriores, particularmente na Alemanha, nos Países Baixos e na Inglaterra. A Igreja Reformada Menor desapareceu em 1.640 pela crescente intolerância na Polônia, em decorrência do início da Contra-Reforma. Entretanto, o reformado húngaro Ferenc Dávid havia abandonado o Calvinismo para pregar o Cristianismo Unitário na Transilvânia (região em que atualmente se encontra na Romênia), influenciado pelo médico italiano Giorgio Blandrata, seguidor das idéias de Servet. O rei João Sigmundo, da Transilvânia, aceitou o Unitarismo e ditou o primeiro Édito de Tolerância religiosa da história moderna da Europa, em 1.568, para permitir a livre prática religiosa em seu país, incluindo o Catolicismo. Este status especial perdurou com dificuldades por conta da invasão da Transilvânia pela Áustria, no século XVIII, e pelo domínio mais ou menos efetivo do Império Austro-Húngaro e, posteriormente, da Itália fascista, após a Primeira Guerra Mundial. Já os cristãos unitários dos países anglo-saxões, que eram de orientação principalmente ariana, acabaram negando não só o dogma da Trindade, como afirmando que Jesus Cristo não era nada mais nada menos do que um homem, ainda que vendo nele um profeta que havia sido eleito por Deus para transmitir sua revelação aos homens, como provavam seus numerosos milagres. Os milagres de Jesus eram, pois, para eles, a demonstração empírica de Sua eleição divina como Salvador. Os unitários rejeitavam as manifestações espiritualistas ou emocionais de fervor religioso do Grande Avivamento que estava se produzindo nas igrejas ortodoxas do Puritanismo anglo-saxão. Muitos deístas, como Thomas Jefferson, se manifestaram favoráveis à doutrina.

Sobre Miguel Servet,
seu Martírio e sua Execução

Servet era sábio e certamente achava que estava ensinando a verdade, mas caiu nas mãos do Diabo. Cuidado para que o mesmo não aconteça com vocês! (Guillaume Farel, representante de João Calvino e seu executor).

O nome de Miguel Servet – ou Michael Servetus em latim – acha-se definitivamente incorporado à História da Medicina. Servet foi um precursor de Harvey na descoberta da circulação sangüínea. Foi quem primeiro descreveu a circulação pulmonar com exatidão... Espírito irrequieto, combativo, devotado a questões transcendentais de natureza religiosa e filosófica, viveu de 1511 a 1553, em meio às disputas religiosas resultantes da Reforma liderada por Lutero e Calvino... Um dos dogmas da Igreja por ele contestado, e que o fez cair em desgraça, foi o da Santíssima Trindade. As suas idéias e os seus escritos desagradaram tanto aos católicos como aos protestantes. (Joffre M. de Rezende, Membro da Sociedade Brasileira e da Sociedade Internacional de História da Medicina).

Eu ativamente desaprovo toda tentativa de aliviar a barbaridade da conduta de Calvino. (William Jones, historiador batista).

Miguel Servet foi o único dissidente religioso que foi queimado vivo pelos protestantes e cujo boneco foi queimado pelos católicos. (Autor desconhecido).

Nem Deus nem seu espírito orientaram essa decisão. Cristo não tratou desse modo os que o negaram. (Camillo Renato, poeta italiano sobre a condenação de Servet).

Servet era um radical religioso em uma época em que era perigoso ser dissidente. (Allen G. Debus).

Servetus merecia ser desentranhado e rasgado em pedaços. (Martin Bucer).

Era costume daquela época queimar heréticos, e Calvino, na medida em que aprovava o que era feito, estava agindo de acordo com esse costume, e Servetus, de qualquer forma, teria sido executado ainda que Calvino não tivesse vivido em Genebra. (Philip Hughes justificando Calvino).

A punição foi mais merecidamente infligida sobre Servetus em Genebra, não porque ele era um sectário, mas porque era uma combinação monstruosa de mera impiedade e de repugnante blasfêmia, com a qual ele tinha, por todo o período de trinta anos, pela fala e pela escrita, poluído tanto o céu quanto a Terra. (Teodoro de Beza).

Matar um homem não significa proteger uma doutrina, significa matar um homem. (Sébastien Chateillon).

Uma das conclusões de Servet é que o Cristianismo primitivo havia se corrompido durante os três primeiros séculos depois de Cristo, e ensinamentos falsos foram introduzidos nas congregações cristãs, sendo o mais grave deles a Doutrina da Trindade. (Enã Rezende).

Não podemos esquecer, tampouco, que em Genebra – a Meca do Protestantismo – João Calvino não duvidou em mandar para a fogueira o ilustre descobridor da circulação sangüínea – o espanhol Miguel Servet. E o cientista aragonês foi apenas um entre as 500 vítimas [mortas], em 10 anos de intolerância calvinista, em uma cidade com somente 10.000 habitantes. Observando esta proporção brutal de condenações, a Inquisição Espanhola deveria ter queimado 1.000.000 de pessoas por cada século de operação; porém, na realidade, condenou 3.000 em 300 anos! Não obstante, Torquemada passou a ser, no ideário popular, sinônimo de intolerância, e Calvino foi aclamado por muitos como um dos 'pais' das democracias liberais do norte da Europa. (Alejandro Rodríguez de la Peña).

Recentemente, Servetus me escreveu e anexou em sua carta um longo volume dos seus delírios, cheio de ostentação, para que eu devesse ver algo espantoso e desconhecido. Ele faz isto para se aproximar, caso seja de meu acordo. Mas eu não estou disposto a dar minha palavra em favor de sua segurança, pois, se ele vier, eu nunca o deixarei escapar vivo, se a minha autoridade tiver peso. (Calvino em carta a seu amigo Farel, em 13 de fevereiro de 1546).

Durante o julgamento de Servet, Calvino escreveu: Eu espero que o veredicto seja pena de morte.

Contra Miguel Servet, no Reino de Aragão, na Espanha: porque seu livro chama a Trindade de demônio e de monstro de três cabeças; porque contraria as Escrituras ao dizer que Jesus Cristo é filho de Davi; por dizer que o Batismo de crianças pequenas é uma obra de bruxaria; e por muitos outros pontos, artigos e execráveis blasfêmias com os quais o livro está assim dirigido contra Deus e contra a sagrada doutrina evangélica para seduzir e defraudar aos pobres e os ignorantes. Por estas e outras razões, te condenamos, Miguel Servet, a que te atem e levem ao lugar de Champel, que ali te sujeitem a uma estaca e te queimem vivo, junto a teu livro manuscrito e impresso, até que teu corpo fique reduzido a cinzas, e, assim, termines teus dias para que fique como exemplo para outros que queiram cometer o mesmo. (Sentença de morte de Servet. Calvino justificou seu assassinato com a desculpa de que se a Igreja Católica queimava pessoas inocentes que negavam suas falsas doutrinas, por que não haveria de se queimar a quem negava uma doutrina verdadeira?).

Bastante irônico é que a execução de Servet não tenha realmente ajudado a fortalecer a Reforma de Genebra. Pelo contrário, isto comprometeu gravemente o Calvinismo e colocou nas mãos dos católicos – a quem Calvino queria demonstrar sua ortodoxia cristã – a melhor arma para a perseguição dos Huguenotes, que não passavam de heréticos a seus olhos. (Fritz Barth).

Pensamentos Servetianos

Três passagens bíblicas inspiraram Servet a estudar a circulação pulmonar. Está escrito na Bíblia que a alma da carne é o sangue (Lev. XVII, 11); o sangue é a vida (Deut. XII, 23); e se lhes tira a respiração, morrem, e voltam para o seu pó (Livro dos Salmos CIV, 29). Disto, concluiu o teólogo: A força vital provém da mistura, nos pulmões, do ar aspirado e do sangue que flui do ventrículo direito ao esquerdo. Todavia, o fluxo do sangue não se dá, como geralmente se crê, através do septo interventricular. O sangue flui por um longo conduto através dos pulmões, onde a sua cor se torna mais clara, passando da veia que se parece a uma artéria a uma artéria parecida com uma veia.

Considero um assunto sério matar pessoas por crermos que estão erradas em alguma questão de interpretação bíblica quando sabemos que até mesmo os escolhidos podem se equivocar.

Ao investigar os sagrados mistérios da Divina Trindade, acreditei que deveria começar pelo homem, pois observo que a maioria das pessoas apresenta suas especulações a respeito da Palavra sem ter uma compreensão básica de Cristo, e atribuem pouca ou nenhuma importância ao homem, com o que remetem o Cristo totalmente ao esquecimento.

Na Bíblia, não há qualquer menção à Trindade.

Há o brilho do Sol e o brilho da Lua; há o brilho do fogo e o brilho da água. Todos foram dotados de Luz por Cristo – o arquiteto do mundo.

O amor é superior a tudo... A fé acende a lâmpada que só o azeite do amor faz arder.

A fé é a porta; a caridade é a perfeição. Não há fé sem caridade, nem caridade sem fé.

O Divino descendeu ao humano para que o humano pudesse ascender ao Divino.

Não se deve impor como verdade um conceito sobre o qual exista dúvida.

Os filósofos inventaram uma Terceira Entidade diferenciada, verdadeira e realmente distinta das outras duas – a qual denominam de Terceira Pessoa ou Espírito Santo – e, assim, conceberam uma Trindade imaginária, isto é, três seres em uma única natureza.

A confusão das Três Entidades nos faz enlouquecer sempre que pensamos em Deus.

Cada qual é como Deus o fez; mas torna-se-á como ele mesmo se fizer.

Deus estava em Cristo de um modo singular.

Deus pode elevar um homem acima de toda sublimidade e colocá-lo à sua direita.

Deus pode comunicar a um homem a plenitude de Sua Divindade.

Cristo caminha nas ondas do vento e habita no ápice da Terra; mede os céus com seu palmo e em suas mãos cabem as águas do mar.

Deus nos deu a inteligência para que O reconheçamos.

Em uma referência ao papa: A mais desprezível de todas as bestas, a mais descaracada das prostitutas!

Deus não é um criador longínquo, mas uma presença essencial contínua que faz com que todo ente seja um partícipe da Natureza Divina.¹

A justiça natural consiste em dar a cada um o que lhe corresponde, ou seja, ajudar o necessitado e não causar dano a ninguém. Devemos fazer o que a consciência e a razão natural nos ditam, de tal forma que façamos aos outros o que queremos que os outros nos façam. Sob esta justiça, as nações estarão justificadas e salvas.

Em nossa alma, há uma energia potente e oculta, um sentimento celestial, algo que é divino e que está oculto em nosso interior.²

Servet negava veementemente que o Filho é eterno e que é uma Pessoa da Trindade. Definiu a Trindade como sendo: Três fantasmas – o Cão Cérbero³ de três cabeças.

Cérbero
(ilustração de Gustave Doré para a Divina Comédia)

Calvino perguntou se o diabo era parte de Deus. Servet riu e respondeu: Você pode duvidar? Este é o meu princípio fundamental de que todas as coisas são uma parte e uma porção de Deus e a natureza das coisas é o espírito substancial de Deus.

Não apóio nem os católicos nem os protestantes, porém, não discordo de tudo o que ensinam.

O homem é livre. Recebe dos astros tão-só inclinações e tendências. A preordenação e a predestinação são invencionices de Simão, o Mago.⁴

Relativamente à rejeição do Batismo de infantes, Servet disse: Ele é uma invenção diabólica, uma falsidade infernal que levará à destruição total do Cristianismo... O próprio Jesus Cristo foi, Ele mesmo, batizado aos trinta anos.

O Corpo de Cristo concilia, concorre, sintetiza e resolve tudo: Deus e o homem, o céu e a Terra, a circuncisão e o prepúcio.

Neste mundo, não há verdade alguma, mas simulacros vãos e sombras que passam. A verdade é o Deus eterno.

Sobre as religiões que afirmavam ser cristãs em sua época: Não discordo de tudo que ensinam. Todos têm um pouco de verdade e um pouco de erro, mas todos vêem os erros dos outros e ninguém vê os seus próprios erros.

Quando o processo de execução começou, Servet disse em voz tremulante, quase um sussurro: Oh!, Deus! Oh!, Deus! Que outra coisa eu fiz senão falar de Deus!

Cristo está em todas as coisas. O mundo está pleno Dele.

A última carta de Servet, ainda na prisão, termina assim: Miguel Servet, sozinho, mas confiante na certíssima proteção de Cristo.

Quem pode chamar de ortodoxo um ministro da Igreja que é um acusador, que é um criminal e que é um homicida?

Eu não separo o Cristo de Deus, como não faço a disjunção da voz do falante ou de um raio do Sol.

Ao ser queimado vivo, gritou: Ó Jesus, Filho do Eterno Deus, tenha piedade de mim!

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Notas:

1. Fómulas latinas que sintetizam a caracterização servetiana de Deus: Subatantiæ Pelagus Infinitus. Mens Omniformis. Forma Formarum. Omnia in Omnibus.

2. Como Rosacruz, Servet, já em sua época, não disse nada mais nada menos do que parafrasear e preconizar o entendimento místico-iniciático moderno, contemporâneo e, particularmente, ocidental – e por que não também gnóstico? – a respeito da existência de um Deus em potência a ser construído em cada Coração humano.

3. Na mitologia grega, Cérbero ou Cerberus era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço que guardava a entrada do Hades – o reino subterrâneo dos mortos – deixando as almas entrarem, mas, jamais saírem, e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem.

4. Simão foi um mago da Samaria cuja personalidade foi objeto de muita controvérsia. Simão, que é considerado o primeiro profeta gnóstico, acreditava na reencarnação e que o elemento Fogo é a raiz de todas as coisas e este é a origem da Alma. Em suas viagens pela Judéia, o Simão explicava que o conhecimento é a única chave para a ascensão aos Céus. O sistema filosófico de Simão está baseado em uma cosmogonia sírio-fenícia, e compreendia uma elaborada angelologia e astrologia. São Justino menciona ainda a existência de um altar consagrado a Simão, na Ilha do Tibre, que de fato foi reencontrado em 1574.

Páginas da Internet consultadas:

http://nardiereraquel.blogspot.com/2009/03/
laurence-m-vance-o-outro-lado-do_2203.html

http://commons.wikimedia.org/
wiki/Category:Miguel_Servet

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%
A3o_Calvino#O_caso_Miguel_Servet

http://serbal.pntic.mec.es/~cmunoz11/bermudo63.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Unitarismo#Miguel_
Servet_e_as_primeiras_igrejas_unit.C3.A1rias

http://www.geocities.com/fdocc/servety.html

http://es.wikiquote.org/wiki/Miguel_Servet

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%A3o_Mago

http://www.scribd.com/doc/6828943/CITAS-DEL-
UNITARIO-MIGUEL-SERVET-SOBRE-LA-TRINIDAD

http://www.evangelicaloutreach.org/calvino.htm

http://www.dec.ufcg.edu.br/
biografias/MiguelSe.html