Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Heidegger
(Fragmentos)

 

 

Entre o pensamento e a poesia há um parentesco porque ambos usam o serviço da linguagem e progridem com ela. Contudo, entre os dois persiste, ao mesmo tempo, um abismo profundo, pois moram em cumes separados.

 

A poesia é a fundação do ser pela palavra.

 

A angústia é a disposição fundamental que nos coloca perante o nada... O desvio da decadência se funda na angústia que, por sua vez, torna possível o temor... A única ameaça que pode se tornar ‘temível’ – e que se descobre no temor – provém sempre de algo intramundano.

 

A decisão não implica absolutamente um afastar-se do mundo; mas, sim, em um libertar-se-para-o-mundo a partir daquilo em função de que o poder-ser se escolhe a si-mesmo.

 

Por que há simplesmente o ente e não antes o nada.

 

Precisamos pensar no fato de que ainda não começamos a pensar... Mesmo quando estamos vazios de pensamento, não desistimos de nossa capacidade de pensar.

 

Ser-no-mundo1 [Dasein] é morar no mundo.... O ser do Dasein significa já ser adiante-de-si-em (no mundo) como estar-junto-a (entes que vêm ao encontro dentro do mundo)... A ‘essência’ do Dasein é justamente o seu poder-ser... As possibilidades do Dasein não são tendências ou capacidades em um sujeito. Elas sempre resultam primeiro, a bem dizer, a partir de ‘fora’, de cada situação histórica do poder se relacionar e escolher, da relação com o que vem ao encontro... O impessoal prelineia a primeira interpretação do mundo e do Ser-no-mundo... Compreendido mundanamente, o Ser-no-mundo é ultrapassado naquilo do que ele é para si e para os outros.

 

Se o fisiológico fosse o fundamento do humano, deveria haver, por exemplo, 'moléculas de despedida'.

 

O corporal do homem nunca pode, fundamentalmente nunca, ser considerado como algo apenas simplesmente presente, se quisermos observá-lo adequadamente. Se eu colocar o corporal do homem como algo simplesmente presente, já o destruí 'a priori' como corpo.

 

É fundamentalmente discutível se um método tão determinado por uma objetividade não-humana pode mesmo ser apropriado para afirmar o que quer que seja sobre o homem 'qua' homem.

 

As perturbações sociológicas e de saúde do indivíduo são perturbações da adaptação e da liberdade.

 

A essência do existir consiste na existência.

 

E se o ser, no seu estar-a-ser, faz uso do estar a ser do homem? E se o estar-a-ser do homem assenta no pensar da verdade do ser? Então, o pensar tem de poetar no enigma do ser. Traz a madrugada do pensado à proximidade do que há que pensar.

 

Viemos demasiado tarde para os Deuses e demasiado cedo para o Ser. O homem é um poema que o Ser começou.

 

Todo homem nasce como muitos homens e morre de forma única.

 

O homem é existência lançada ao mundo, obrigada a construir sua própria essência;, o homem é o único ser que existe em sua totalidade, já que só ele possui a consciência de que se constitui em um 'ser-para-a-morte'. [Na realidade, para Heidegger, o homem é a porta de acesso ao Ser; é um conjunto de existenciais: o Ser-no-mundo, o Ser-com-os-outros e o Ser-para-a-morte.]

 

A ‘substância’ do homem é a existencia e não o espírito enquanto síntese de corpo e alma.

 

A Filosofia implica em uma mobilidade livre no pensamento;é um ato criador que dissolve as ideologias.

 

Quem pensa em grande estilo tem que se equivocar em grande estilo.

 

Nenhuma época soube tantas e tão diversas coisas do homem como a nossa. Mas, em verdade, nunca se soube menos sobre o que é o homem.

 

Narra-se de Heráclito uma palavra que teria dito a alguns forasteiros que queriam chegar até ele. Aproximando-se, viram-no como se aquecia junto ao fogo. Detiveram-se surpresos; isto, sobretudo, porque Heráclito ainda os encorajou – a eles que hesitavam – convidando-os a entrar, com as palavras: — Pois também aqui estão presentes os deuses…

 

O que se dá a compreender é a consciência.

 

As relações de mundo circundante de um objeto não precisam de explicação, elas só precisam ser vistas.

 

A pre-sença é um ente que, na compreensão de seu ser, com ele se relaciona e se comporta. Com isto, indica-se o conceito formal de existência. A pre-sença existe. Ademais, a pre-sença é o ente que sempre eu mesmo sou. Ser sempre minha pertence à existência da pre-sença como condição que possibilita propriedade e impropriedade. A pre-sença existe sempre em um destes modos, mesmo em uma indiferença para com eles... A pre-sença não é sinônimo nem de homem, nem de ser humano, nem de Humanidade, embora conserve uma relação estrutural. Evoca o processo de constituição ontológica de homem, de ser humano e de Humanidade... Em sua constituição ontológica, a pre-sença é e está na ‘não-verdade’ porque é, em sua essência, decadente.

 

A consciência possui, essencialmente, uma função crítica; a consciência fala sempre com relação a um determinado ato realizado ou desejado; do ponto de vista da experiência, a ‘voz’ nunca está tão enraizada no ser do Dasein; a interpretação não leva em conta as formas fundamentais do fenômeno, quais sejam, a ‘má’ e a 'boa' consciência, a que ‘censura’ e a que ‘adverte’.

 

Enquanto totalidade originária de sua estrutura, a cura se acha, do ponto de vista existencial, 'a priori', 'antes' de toda 'atitude' e 'situação' da pre-sença, o que significa dizer que ela se acha em toda atitude e situação de fato. Em conseqüência, este fenômeno não exprime, de modo algum, um primado da atitude 'prática' frente à teórica. A determinação meramente contemplativa de algo simplesmente dado não tem menos o caráter da cura do que uma 'ação política' ou a satisfação do entretenimento. 'Teoria' e 'prática' são possibilidades ontológicas de um ente cujo ser deve se determinar como cura.

 

Manifestação – enquanto manifestação de alguma coisa – não diz mostrar-se-a-si-mesmo, mas um anunciar de algo que não se mostra. Manifestar é um não-se-mostrar.

 

Os fenômenos nunca são manifestações. Toda manifestação é que depende de um fenômeno.

 

O fenômeno, o mostrar-se-a-si-mesmo significa um modo privilegiado de encontro. Manifestação, ao contrário, indica, no próprio ente, uma remissão referencial... Esta multiplicidade confusa de 'fenômenos'... só pode deixar de nos confundir quando se tiver compreendido, desde o princípio, o conceito de fenômeno: o-que-se-mostra-a-si-mesmo.

 

Perceber o sentido do conceito formal de fenômeno e de seu uso devido na acepção vulgar é uma pressuposição indispensável para se compreender o conceito fenomenológico de fenômeno, prescindindo de como se deva determinar mais precisamente o que se mostra.

 

Aristóteles explicitou a função do discurso. O logos deixa e faz ver aquilo que se discorre, e o faz para quem o discorre (médium) e para todos os que discursam uns para os outros.

 

Tudo depende de nos libertarmos de um conceito construído de verdade, no sentido de 'concordância'.

 

O Ser pode encobrir-se tão profundamente que chega a ser esquecido, e a questão do Ser e do seu sentido se ausentam.

 

No sentido fenomenológico, fenômeno é somente o que constitui o Ser, e o Ser é sempre o Ser de um ente.

 

Da própria investigação resulta que o sentido metódico da descrição fenomenológica é a interpretação.

 

O pensamento do eterno retorno é agora pensado desde a vontade de poder. Portanto, o pensamento do eterno retorno se torna reduzido à vontade de poder.

 

Somente o homem existe. O rochedo é, mas não existe. A árvore é, mas não existe. O anjo é, mas não existe. Deus é, mas não existe. A frase "o homem existe" de nenhum modo significa apenas que o homem é um ente real, e que todos os entes restantes são irreais e apenas uma aparência ou a representação do homem. A frase o "homem existe" significa: o homem é aquele ente cujo ser é assinalado pela in-sistência ex-sistente no desvelamento do ser a partir do Ser e no Ser.

 

O ser-livre-para-algo é, por si só, uma afinação solta e prazerosa.


 

Martin Heidegger (1889 – 1976)

 

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Nota:

1. No heideggerianismo, o ser-no-mundo é uma constituição necessária e apriorística do ser-aí (o ente humano), que deve ser compreendido em sua inserção na realidade cotidiana, na historicidade e na relação que estabelece com os outros entes.

 

 

 

 

 

 

Inside

 

 

 

As reais possibilidades do Dasein

não resultam do devaneio exterior.

Todas as factibilidades do Dasein

derivam, sim, sempre, do interior.

 

 

O Dasein deve, enfim, estar-junto-a;

junto-a-si-mesmo e junto-aos-outros.

Assim sendo, efetivamente, não há

 

 

Individualidade e multiplicidade

são ilusões que só geram dores.

É tão-só na realização da Unidade

 

 

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://claudioalex.multiply.com/journal/item/867

http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/10051_4.PDF?NrOco
Sis=32103&CdLinPrg=pt

http://filosofia.catolico.org.br/Heidegger
%20e%20a%20Metaf%C3%ADsica.htm

http://www.propesq.ufpe.br/hp/filosofia/arquivos/
Heidegger%20e%20a%20psicanalise%20-%20uma%20conversa%20em%20Sicilia%20
(versao%20definitiva).pdf

http://www.hottopos.com/harvard4/jmshdg.htm

http://pt.wikiquote.org/wiki/Martin_Heidegger

 

Fundo musical:

Time After Time (Sammy Cahn & Jule Styne)

Fonte:

http://www.geocities.com/Heartland/Plains/6986/easy1.html

 

Observação:

A animação em flash que produzi e que denominei Inside foi editada a partir de um GIF animado sensacional da Klein's Quartic Curve disponibilizado no Website da University of California, Riverside, Department of Mathematics, elaborado por Greg Egan. Claro, como não poderia deixar de ser, o meu colega Greg Egan mantém os direitos autorais da animação em flash que eu bolei a partir da sua criação. O endereço do Website citado é:

http://mathdept.ucr.edu/

 

 

 

 

 

É tão-só na realização da Unidade
que serão sentidas todas as cores
e também todas as não-cores.