Heidegger
(Fragmentos)
Entre
o pensamento e a poesia há um parentesco porque ambos usam
o serviço da linguagem e progridem com ela. Contudo, entre
os dois persiste, ao mesmo tempo, um abismo profundo, pois moram em
cumes separados.
A
poesia é a fundação do ser pela palavra.
A angústia é
a disposição fundamental que nos coloca perante o nada...
O desvio da decadência se funda na angústia que, por
sua vez, torna possível o temor... A única ameaça
que pode se tornar ‘temível’ – e que se descobre
no temor – provém sempre de algo intramundano.
A
decisão não implica absolutamente um
afastar-se do mundo; mas, sim, em um libertar-se-para-o-mundo a partir
daquilo em função de que o poder-ser se escolhe a si-mesmo.
Por que há simplesmente
o ente e não antes o nada.
Precisamos
pensar no fato de que ainda não começamos a pensar...
Mesmo quando estamos vazios de pensamento, não desistimos de
nossa capacidade de pensar.
Ser-no-mundo1
[Dasein]
é morar no mundo.... O ser do Dasein significa já ser
adiante-de-si-em (no mundo) como estar-junto-a (entes que vêm
ao encontro dentro do mundo)... A ‘essência’ do
Dasein é justamente o seu poder-ser... As possibilidades do
Dasein não são tendências ou capacidades em um
sujeito. Elas sempre resultam primeiro, a bem dizer, a partir de ‘fora’,
de cada situação histórica do poder se relacionar
e escolher, da relação com o que vem ao encontro...
O impessoal prelineia a primeira interpretação do mundo
e do Ser-no-mundo... Compreendido mundanamente, o Ser-no-mundo é
ultrapassado naquilo do que ele é para si e para os outros.
Se
o fisiológico fosse o fundamento do humano, deveria haver,
por exemplo, 'moléculas de despedida'.
O
corporal do homem nunca pode, fundamentalmente nunca, ser considerado
como algo apenas simplesmente presente, se quisermos observá-lo
adequadamente. Se eu colocar o corporal do homem como algo simplesmente
presente, já o destruí 'a priori' como corpo.
É
fundamentalmente discutível se um método tão
determinado por uma objetividade não-humana pode mesmo ser
apropriado para afirmar o que quer que seja sobre o homem 'qua' homem.
As perturbações
sociológicas e de saúde do indivíduo são
perturbações da adaptação e da liberdade.
A
essência do existir consiste na existência.
E
se o ser, no seu estar-a-ser, faz uso do estar a ser do homem? E se
o estar-a-ser do homem assenta no pensar da verdade do ser? Então,
o pensar tem de poetar no enigma do ser. Traz a madrugada do pensado
à proximidade do que há que pensar.
Viemos
demasiado tarde para os Deuses e demasiado cedo para o Ser. O homem
é um poema que o Ser começou.
Todo
homem nasce como muitos homens e morre de forma única.
O
homem é existência lançada ao
mundo, obrigada a construir sua própria essência;, o
homem é o único ser que existe em sua totalidade, já
que só ele possui a consciência de que se constitui em
um 'ser-para-a-morte'. [Na
realidade, para Heidegger, o homem é a porta de acesso ao Ser;
é um conjunto de existenciais: o Ser-no-mundo, o Ser-com-os-outros
e o Ser-para-a-morte.]
A ‘substância’
do homem é a existencia e não o espírito enquanto
síntese de corpo e alma.
A
Filosofia implica em uma mobilidade livre no pensamento;é um
ato criador que dissolve as ideologias.
Quem
pensa em grande estilo tem que se equivocar em grande estilo.
Nenhuma
época soube tantas e tão diversas coisas do homem como
a nossa. Mas, em verdade, nunca se soube menos sobre o que é
o homem.
Narra-se
de Heráclito uma palavra que teria dito a alguns forasteiros
que queriam chegar até ele. Aproximando-se, viram-no como se
aquecia junto ao fogo. Detiveram-se surpresos; isto, sobretudo, porque
Heráclito ainda os encorajou – a eles que hesitavam –
convidando-os a entrar, com as palavras: — Pois também
aqui estão presentes os deuses…
O
que se dá a compreender é a consciência.
As
relações de mundo circundante de um objeto não
precisam de explicação, elas só precisam ser
vistas.
A
pre-sença é um ente que, na compreensão
de seu ser, com ele se relaciona e se comporta. Com isto, indica-se
o conceito formal de existência. A pre-sença
existe. Ademais, a pre-sença é o ente
que sempre eu mesmo sou. Ser sempre minha pertence à existência
da pre-sença como condição que
possibilita propriedade e impropriedade. A pre-sença
existe sempre em um destes modos, mesmo em uma indiferença
para com eles... A pre-sença não é
sinônimo nem de homem, nem de ser humano, nem de Humanidade,
embora conserve uma relação estrutural. Evoca o processo
de constituição ontológica de homem, de ser humano
e de Humanidade... Em sua constituição ontológica,
a pre-sença é e está na ‘não-verdade’
porque é, em sua essência, decadente.
A
consciência possui, essencialmente, uma função
crítica; a consciência fala sempre com relação
a um determinado ato realizado ou desejado; do ponto de vista da experiência,
a ‘voz’ nunca está tão enraizada no ser
do Dasein; a interpretação não leva em conta
as formas fundamentais do fenômeno, quais sejam, a ‘má’
e a 'boa' consciência, a que ‘censura’ e a que ‘adverte’.
Enquanto
totalidade originária de sua estrutura, a cura se acha, do
ponto de vista existencial, 'a priori', 'antes' de toda 'atitude'
e 'situação' da pre-sença, o
que significa dizer que ela se acha em toda atitude e situação
de fato. Em conseqüência, este fenômeno não
exprime, de modo algum, um primado da atitude 'prática' frente
à teórica. A determinação meramente contemplativa
de algo simplesmente dado não tem menos o caráter da
cura do que uma 'ação política' ou a satisfação
do entretenimento. 'Teoria' e 'prática' são possibilidades
ontológicas de um ente cujo ser deve se determinar como cura.
Manifestação
– enquanto manifestação de alguma coisa –
não diz mostrar-se-a-si-mesmo, mas um anunciar de algo que
não se mostra. Manifestar é um não-se-mostrar.
Os
fenômenos nunca são manifestações. Toda
manifestação é que depende de um fenômeno.
O
fenômeno, o mostrar-se-a-si-mesmo significa um modo privilegiado
de encontro. Manifestação, ao contrário, indica,
no próprio ente, uma remissão referencial... Esta multiplicidade
confusa de 'fenômenos'... só pode deixar de nos confundir
quando se tiver compreendido, desde o princípio, o conceito
de fenômeno: o-que-se-mostra-a-si-mesmo.
Perceber
o sentido do conceito formal de fenômeno e de seu uso devido
na acepção vulgar é uma pressuposição
indispensável para se compreender o conceito fenomenológico
de fenômeno, prescindindo de como se deva determinar mais precisamente
o que se mostra.
Aristóteles
explicitou a função do discurso. O logos deixa e faz
ver aquilo que se discorre, e o faz para quem o discorre (médium)
e para todos os que discursam uns para os outros.
Tudo
depende de nos libertarmos de um conceito construído de verdade,
no sentido de 'concordância'.
O
Ser pode encobrir-se tão profundamente que chega a ser esquecido,
e a questão do Ser e do seu sentido se ausentam.
No
sentido fenomenológico, fenômeno é somente o que
constitui o Ser, e o Ser é sempre o Ser de um ente.
Da
própria investigação resulta que o sentido metódico
da descrição fenomenológica é a interpretação.
O
pensamento do eterno retorno é agora pensado desde a vontade
de poder. Portanto, o pensamento do eterno retorno se torna reduzido
à vontade de poder.
Somente
o homem existe. O rochedo é, mas não existe. A árvore
é, mas não existe. O anjo é, mas não existe.
Deus é, mas não existe. A frase "o homem existe"
de nenhum modo significa apenas que o homem é um ente real,
e que todos os entes restantes são irreais e apenas uma aparência
ou a representação do homem. A frase o "homem existe"
significa: o homem é aquele ente cujo ser é assinalado
pela in-sistência ex-sistente no desvelamento do ser a partir
do Ser e no Ser.
O
ser-livre-para-algo é, por si só, uma afinação
solta e prazerosa.