Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Aristóteles

Aristóteles

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Tenha-se presente que quem se dispõe a ler a Metafísica de Aristóteles [Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C.] sem possuir conhecimentos sobre Platão e sobre o platonismo corre o risco de compreender Aristóteles pela metade. Por outro lado, no que se refere ao pensamento de um filósofo grego, particularmente o pensamento metafísico, só o método analítico não poderá levar a conclusões definitivas. Este método procede unicamente, para dizer como Platão, pela vertente de caráter diairético (justamente a divisão analítica), enquanto na protologia se revela determinante justamente o outro momento do método dialético, ou seja, o sinagógico, que é o único a conduzir da multiplicidade à unidade, e, portanto, à visão sintética do conjunto. Por isto, Platão afirmou na República que só quem sabe olhar para o todo, ou seja, para o conjunto, com um olhar sinótico, é dialético, ou seja, filósofo (no sentido de metafísico) enquanto que quem não sabe fazer isto não o é. Estas advertências preliminares não são de minha lavra. Eu as garimpei no Prefácio Geral da Metafísica de Aristóteles, de autoria de Giovanni Reale, mas, concordo plenamente com elas. Por isto, você encontrará no Website Pax Profundis diversos trabalhos que venho publicando sobre o pensamento platônico – uma leitura necessária para tentar compreender Aristóteles.

 

Bem, este estudo fragmentário que ora estou divulgando é basicamente sobre a Metafísica de Aristóteles, mas há também extratos de outras obras. Todavia, os fragmentos não serão incompreendidos por quem não tiver conhecimentos mais estudados sobre Platão e sobre o platonismo, pois os poucos excertos aristotélicos escolhidos são razoavelmente fáceis de ser entendidos. O estudo, na verdade, para quem não é versado no pensamento aristotélico, é, digamos assim, uma espécie de namorico. Se o namorico virar namoro e der certo, quem sabe você se interesse em ler outras obras de Aristóteles, inclusive o texto completo da própria Metafísica. Contudo, não posso deixar de confessar: acho Aristóteles meio pesado e um pouco desrespeitoso. Entretanto, apesar de eu preferir Platão, que era mais suave e mais simpático, reconheço que Aristóteles tem muito a ensinar a todos nós. Então, vamos aristotelizar um pouquinho. E prometo: este é último estudo que publico sobre o pensamento do Estagirita.

 

Informo, finalmente, que algumas notas explicativas dos excertos foram editadas das notas da principal obra consultada, o crédito, por elas, pertencendo, portanto, a Joaquim de Carvalho, o comentador da Metafísica.

 

 

 

Fragmentos Metafísicos

 

 

 

A Metafísica é a ciência do Ser enquanto Ser.

 

A Metafísica é a ciência da investigação dos princípios ou das causas supremas.

 

A Metafísica é a ciência que indaga acerca da 'substância'.

 

A Metafísica é uma ciência divina, ou seja, uma expressão racional do 'Theion', uma Teologia.

 

Assim, se os homens filosofaram para se libertar da ignorância, é evidente que buscaram o conhecimento só com a finalidade de saber, e não para alcançar alguma utilidade prática. É evidente, portanto, que nós não buscamos a Metafísica por nenhuma vantagem que lhe seja estranha; e, antes, é evidente que, como chamamos livre o homem que é fim para si mesmo e não serve a outros, assim só a Metafísica, entre todas as outras ciências, chamamos livre. Só ela, de fato, é fim para si mesma.

 

A Metafísica, de fato, entre todas as ciências, é a mais divina e a mais digna de honra. Mas, uma ciência pode ser divina só nesses dois sentidos: ou porque ela é a ciência que Deus possui em grau supremo ou, também, porque ela tem como objeto as coisas divinas. Ora, só a Metafísica possui ambas as características: com efeito, é convicção comum a todos que Deus é uma causa e um princípio, e, também, que Deus, ou exclusivamente ou em grau supremo, tem este tipo de ciência.

 

É, pois, manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa). Na Metafísica, Aristóteles definiu as Quatro Causas: 1ª) Causa Formal ('ousia, tó ti esti einai') – é a forma ou essência das coisas (um objeto se define pela sua forma); 2ª) Causa Material ('yle, ypokeimenon') – é a matéria de que é feita uma coisa (a matéria na qual consiste o objeto); 3ª) Causa Eficiente ('arche tes kineseos') – é a origem das coisas (aquilo ou aquele que tornou possível o objeto); e 4ª) Causa Final ('to uo eneka') – é a razão de algo existir (a finalidade do objeto).

 

O belo é o esplendor da ordem.

 

 

 

 

Deve haver uma Natureza qualquer ou mais do que uma de onde as outras naturezas derivem, mas Ela se conservando inalterada.

 

É da memória que deriva aos homens a experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa produzem o efeito de uma única experiência, e a experiência quase se parece com a ciência e a arte. Na realidade, porém, a ciência e a arte vêm aos homens por intermédio da experiência, porque a experiência, como afirma Polos,1 e bem, criou a arte, e a inexperiência, o acaso.

 

A arte aparece quando, de um complexo de noções experimentadas, se exprime um único juízo universal dos [casos] semelhantes.

 

A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não copiar sua aparência.

 

Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um efeito, mas um hábito.

 

O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição.

 

A Natureza tem horror ao vácuo.

 

A experiência é conhecimento dos singulares; a arte, dos universais.2

 

Quem possuir a noção sem a experiência e conhecer o universal ignorando o particular nele contido enganar-se-á muitas vezes no tratamento, porque o objeto da cura é, de preferência, o singular.

 

A razão é o que melhor nos faz conhecer.

 

Uns conhecem a causa; outros não. Com efeito, os empíricos sabem o 'quê', mas não o 'porquê', ao passo que os outros sabem o 'porquê' e a causa.3 E assim, por exemplo, de maneira geral, sabe-se que o fogo é quente, mas só que é quente.

 

Quem conhece as causas com mais exatidão é mais capaz de as ensinar.4

 

 

 

 

O conhecimento de todas as coisas encontra-se necessariamente naquele que, em maior grau, possui a Ciência Universal. No entanto, é sobremaneira difícil ao homem chegar a este Conhecimento Universal porque está para muito além das sensações.

 

Homem livre a quem existe por si e não por outros.

 

Conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa.

 

Não afirmamos que Sócrates é gerado, em sentido absoluto, quando ele se torna belo ou músico, nem que ele morre quando perde estas qualidades, porque o sujeito – o próprio Sócrates permanece. E assim, quanto às outras coisas, porque deve haver uma natureza qualquer ou mais do que uma de onde as outras derivem, mas se conservando ela inalterada.

 

'Antes de todos os deuses, criou o amor.' (Parmênides, apud Aristóteles).

 

'Antes de tudo, foi o Caos. Depois a terra dos grandes seios e o amor que a todos os imortais supera'. (Hesíodo, apud Aristóteles).

 

Para Parmênides, só existe uma única coisa: o Ser. Nada mais.

 

O Ser se diz em múltiplos sentidos, mas sempre em referência a uma unidade e a uma realidade determinada. Assim, pois, o Ser se diz em muitos sentidos, mas todos em referência a um único princípio.

 

É, na verdade, absurdo sustentar que, na origem, tudo estaria misturado, quer porque tudo deveria ter preexistido distinto, quer porque nem tudo é feito para se misturar com outra coisa qualquer, e, enfim, porque a modificação e os acidentes existiriam separados das substâncias (com efeito, mistura e separação dizem respeito às mesmas coisas).

 

Platão diz que as coisas e suas causas são números, sendo, porém, as causas números inteligíveis e as coisas números sensíveis.5

 

Cada coisa tem a sua equívoca, tão fora das substâncias como das outras entidades, cuja unidade é contida na multiplicidade, sejam elas sensíveis ou eternas.

 

Pelos argumentos tirados das ciências, deverá haver idéias de todas as coisas de que há ciência, e, pelo [argumento] da unidade na multiplicidade também [haverá idéias] das negações. Enfim, pelo argumento de que pensamos qualquer coisa, mesmo depois de corrupta, [haverá] igualmente [idéias] dos corruptíveis. Também destes, com efeito, temos representação.

 

O relativo precede o absoluto.

 

 

Relatividade da Simultaneidade

 

 

Se um ser participa do duplo em si, ele participa também do eterno, mas por acidente, por ter [simplesmente] acontecido ao duplo ser eterno.

 

É impossível que existam separadamente a substância e aquilo de que ela é substância. Neste caso, as idéias, que são as substâncias das coisas, como existiram separadas delas?

 

A causa é o princípio da mutação.

 

 

 

Como poderíamos conhecer os sensíveis sem termos deles a sensação?6

 

A qüididade7 é a substância da coisa.

 

A  especulação acerca da verdade é, num sentido, difícil, noutro, fácil. A prova é que ninguém a pode atingir completamente, nem totalmente se afastar dela. Cada [filósofo] tem algo que dizer sobre a Natureza, nada ou pouco acrescentando cada um à verdade, embora se faça do conjunto de todos uma boa colheita. Todavia, a origem das dificuldades, talvez, não esteja nas coisas, mas em nós próprios. Da mesma maneira, com efeito, que os olhos dos morcegos se comportam para a luz do dia, igualmente o lume da nossa alma [se comporta] para as coisas por natureza mais claras.

 

 

 

 

Nós não conhecemos o verdadeiro sem [conhecer] a causa.8

 

O homem livre é senhor de sua vontade e somente escravo de sua consciência.

 

A dúvida é o principio da sabedoria.

 

A perfeição é o meio-termo entre dois vícios: um por excesso, o outro por falta.

 

Quanto cada coisa tem de ser, tanto [tem] de verdade.9

 

Todas as vezes estaremos errados acerca daquilo que não conhecemos.

 

É impossível que qualquer pessoa conceba que o mesmo é e não é.

 

Não se pode exigir a definição de tudo. Ademais, definições devem ser conseguidas mediante analogias. O ato é, para a potência, aquilo que o edifício é para o saber edificar, o estar desperto para o dormir, o ver para o não-ver, o objeto feito de matéria e bem trabalhado para a matéria bruta. Ao primeiro destes binômios aplica-se o conceito de ato; ao segundo, o de potência. Logo, o ato é a presença de alguma coisa não em potência, como quando dizemos que a estátua de Mercúrio está presente na madeira ou que em uma coisa inteira está a metade que se pode separar dela...

 

O homem magnânimo deseja ocupar-se de poucas coisas, e estas têm de ser verdadeiramente grandes aos seus próprios olhos, e não porque outros assim pensem. Para o homem dotado de uma alma grande, a opinião solitária de um único homem bom conta mais do que a opinião de uma multidão. Foi o que disse Antífon, após a sua condenação, quando Agatão o cumprimentou pelo brilho de sua autodefesa.

 

O Ser se diz em múltiplos significados.

 

O Ser e o Um são a mesma coisa e uma realidade única.

 

Sem amigos ninguém escolheria viver, mesmo que possuísse todos os demais bens. Considera-se que até os homens ricos e aqueles que ocupam altos cargos e posições de autoridade precisam de amigos, ainda mais que todos, pois qual é a utilidade de tal prosperidade sem a oportunidade da beneficência, exercida principalmente, e do modo mais louvável, em relação aos amigos? Todavia, a amizade não é apenas útil, ela também é nobre, pois elogiamos aqueles que amam os seus amigos, e ter muitos amigos é considerado algo valioso.

 

Visto que esta ciência (a Filosofia) é o objeto das nossas indagações, examinemos de que causas e de que princípios se ocupa a Filosofia como ciência; questão que se tornará muito mais clara se examinarmos as diversas idéias que formamos do filósofo. Em primeiro lugar, concebemos o filósofo principalmente como conhecedor do conjunto das coisas, enquanto é possível, sem, contudo, possuir a ciência de cada uma delas em particular. Em seguida, àquele que pode alcançar o conhecimento de coisas difíceis, aquelas a que só se chega vencendo graves dificuldades, não lhe chamaremos filósofo? De fato, conhecer pelos sentidos é uma faculdade comum a todos, e um conhecimento que se adquire sem esforço em nada tem de filosófico. Finalmente, o que tem as mais rigorosas noções das causas, e que melhor ensina estas noções, é mais filósofo do que todos os outros em todas as ciências. E, entre as ciências, aquela que se procura por si mesma, só pelo anseio do saber, é mais filosófica do que a que se estuda pelos seus resultados; assim como a que domina as mais é mais filosófica do que a que se encontra subordinada a qualquer outra. Não, o filósofo não deve receber leis, mas, sim, dá-las; nem é necessário que obedeça a outrem, mas deve obedecer-lhe o que seja menos filósofo. Pois bem: o filósofo que possuir perfeitamente a ciência do geral tem necessariamente a ciência de todas as coisas, porque um homem em tais circunstâncias sabe, de certo modo, tudo quanto está compreendido sob o geral. Todavia, pode dizer-se também que se toma muito difícil ao homem alçar-se aos conhecimentos mais gerais; as coisas que são seus objetos como que estão mais distantes do alcance dos sentidos. De tudo quanto dissemos sobre a própria ciência, resulta a definição da Filosofia que procuramos. É imprescindível que seja a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas, porque uma das causas é o bem, a razão final. E que não é uma ciência prática, prova-o o exemplo dos que primeiramente filosofaram. O que, a princípio, levou os homens a fazer as primeiras indagações filosóficas foi, como é hoje, a admiração. Entre os objetos que admiravam e que não podiam explicar, aplicaram-se primeiro aos que se encontravam ao seu alcance; depois, passo a passo, quiseram explicar os fenômenos mais importantes; por exemplo, as diversas fases da Lua, o trajeto do Sol e dos astros e, finalmente, a formação do Universo. Ir à procura de uma explicação e admirar-se é reconhecer que se ignora. Portanto, se os primeiros filósofos filosofaram para se libertar da ignorância, é evidente que se consagraram à ciência para saber, e não com vista à utilidade.

 

Parece que a poesia tem inteiramente a sua origem em duas causas, ambas naturais. Porque a imitação é natural ao homem desde a infância, e nisto difere dos outros animais, pois que ele é o mais imitador de todos, aprende as primeiras coisas por meio da imitação e todos se deleitam com as imitações. É prova disto o que acontece a respeito dos artífices, porque nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas daqueles mesmos objetos para que olhamos com repugnância – por exemplo, a representação de animais ferocíssimos e de cadáveres. E a razão disto é porque o aprender é coisa que muito apraz não só aos filósofos, mas, também, igualmente, aos demais homens, posto que estes sejam menos instruídos. Por isto, se alegram de ver as imagens, pois que, olhando para elas, podem aprender e discorrer o que uma delas é, e dizer, por exemplo: 'isto é tal'. Porque, se suceder que alguém não tenha visto o original, não recebe, então, prazer da imitação, mas ou da beleza da obra, ou das cores, ou de outro algum motivo semelhante. Sendo, pois, própria da nossa natureza a imitação, também o é a harmonia e o ritmo (porque é claro que os metros são parte do ritmo). Os que, a princípio, se sentiram com maior inclinação natural para estas coisas, adiantando-se pouco a pouco, deram origem à poesia, com obras feitas de improviso. Ora, a poesia tomou diversas formas, segundo o diferente natural de cada um, porque os homens que tinham mais gravidade e elevação imitavam as ações boas e a fortuna dos bons, e os que eram de gênio humilde imitavam as ações dos maus, escrevendo, ao principio, vitupérios, assim como os outros compunham hinos e louvores. Falemos agora da tragédia, deduzindo a sua verdadeira definição do que temos dito. É, pois, a tragédia a imitação de uma ação grave e inteira de justa grandeza em estilo suave, mas de várias espécies, de que se serve separadamente nos seus lugares, a qual, não por meio da narração, mas, sim, pela compaixão e pelo terror, consegue expurgar-nos de semelhantes paixões. Chamo estilo suave ao que tem ritmo, harmonia e melodia. Chamo servir-se separadamente de cada uma das espécies ao executar algumas coisas somente pelo metro e outras pela melodia. O belo (seja animal, seja outra qualquer coisa), sendo composto de algumas partes, não só deve ter estas por boa ordem, mas também deve ter uma certa grandeza não arbitrária, porquanto o belo consiste na grandeza e na ordem, e, por isto, nem seria belo um animal muito pequeno, porque a vista, quando se olha para alguma coisa por tempo imperceptível, quase se confunde, nem também muito grande, porque então não se vê ao mesmo tempo aquele todo, e a unidade do ponto de vista escapa aos espectadores, como se houvesse um animal do comprimento de dez mil estádios. Pelo que, assim como tanto nos corpos como nos animais deve haver grandeza, e esta deve ser capaz de se compreender bem com a vista, assim também as fábulas devem ter extensão, e esta há-de ser fácil de compreender com a memória.

 

Como, ao que parece, há muitos fins, e podemos buscar alguns em vista de outros. Por exemplo: a riqueza, a música, a arte da flauta e, em geral, todos aqueles fins que podem ser denominados de instrumentos, é evidente que nenhum destes fins é perfeito e definitivo por si mesmo. Mas, o sumo bem deve ser coisa perfeita e definitiva. Por conseguinte, se existe uma só e única coisa que seja definitiva e perfeita, ela é precisamente o bem que procuramos; e se há muitas coisas deste gênero, a mais definitiva entre elas será o bem. Mas, em nosso entender, o bem que apenas deve se buscar por si mesmo é mais definitivo que aquele que se procura em vista de outro bem, e o bem que não se deve buscar nunca com vista em outro bem é mais definitivo que os bens que se buscam ao mesmo tempo por si mesmos e por causa deste bem superior. Em uma palavra, o perfeito, o definitivo e o completo é o que é eternamente apetecível em si, e que nunca o é em vista de um objeto distinto dele. Eis aí precisamente o caráter que parece ter a felicidade. Nós a buscamos por ela e só por ela, e nunca com mira em outra coisa. Pelo contrário, quando buscamos as honras, o prazer, a ciência, a virtude, sob qualquer forma que seja, desejamos, indubitavelmente, todas estas vantagens por si mesmas, pois que, independentemente de toda outra conseqüência, desejaríamos cada uma delas. Todavia, as desejamos também com mira na felicidade porque cremos que todas estas diversas vantagens elas podem nos assegurar, enquanto ninguém pode desejar a felicidade, nem com mira nestas vantagens, nem, de maneira geral, com vista em algo, seja o que for, distinto da felicidade mesma. Todavia, ainda convindo conosco em que a felicidade é, sem contradita, o maior dos bens – o bem supremo – talvez haja quem deseje conhecer melhor a sua natureza. O meio mais seguro de alcançar esta completa noção é saber qual é a obra própria do homem. Viver é uma função comum ao homem e às plantas, e aqui apenas se busca o que é exclusivamente especial ao homem. É, por isto, necessário pôr de lado a vida de nutrição e de desenvolvimento. Em seguida, vem a vida da sensibilidade, mas esta, por sua vez, mostra-se igualmente comum a todos os seres – o cavalo, o boi e, em geral, a todos os animais, tal como ao homem. Resta, portanto, a vida ativa do ser dotado de razão. Mas, neste ser, deve se distinguir a parte que não possui diretamente a razão e se serve dela para pensar. Além disto, como esta mesma faculdade da razão se pode compreender em um duplo sentido, devemos não esquecer que se trata, aqui, sobretudo, da faculdade em ação, a qual merece mais particularmente o nome que a ambas convém. E assim, o próprio do homem será o ato da alma em conformidade com a razão, ou, pelo menos, o ato da alma que não pode se realizar sem a razão. Mas o bem, a perfeição para cada coisa, varia segundo a virtude especial desta coisa. Por conseguinte, o bem próprio do homem é a atividade da alma dirigida pela virtude. E, como há muitas virtudes, será a atividade dirigida pela mais alta e mais perfeita de todas. Acrescente-se também que estas condições devem ser realizadas durante uma vida inteira e completa, porque uma só andorinha não faz a primavera, nem um só dia formoso; e não pode tampouco se dizer que um só dia de felicidade, nem mesmo uma temporada, bastam para fazer um homem ditoso e afortunado.

 

A primeira união necessária é a de dois seres que são incapazes de existir um sem o outro. É o caso do macho e da fêmea tendo em vista a procriação (e esta união nada tem de arbitrária, mas, como nas outras espécies animais e nas plantas, trata-se de uma tendência natural a deixar atrás de si um outro ser semelhante). É, ainda, a união daquele cuja natureza é comandar com aquele cuja natureza é ser comandado, tendo em vista a sua conservação comum.

 

Não se deve escutar as pessoas que nos aconselham, sob o pretexto de que somos homens, de só pensar nas coisas humanas e, sob a alegação de que somos mortais, de renunciar às coisas imortais. Mas, na medida do possível, devemos nos tornar imortais e tudo fazer para viver conforme a parte mais excelente de nós mesmos, pois o princípio divino, por mais fraco que seja pelas suas dimensões, prevalece, e muito, sobre qualquer outra coisa, pelo seu poder e pelo seu valor.

 

Quanto mais se desenvolve a nossa faculdade de contemplar, mais se desenvolvem as nossas possibilidades de felicidade, e não por acidente, mas justamente em virtude da natureza da contemplação. Esta é preciosa por ela mesma, de modo que a felicidade, poderíamos dizer, é uma espécie de contemplação.

 

Os homens não se associam tendo em vista apenas a existência material, mas, antes, a vida feliz, pois, se fosse de outra forma, uma coletividade de escravos ou de animais seria um Estado, quando, na realidade, isto é uma coisa impossível, porque estes seres não têm qualquer participação na felicidade nem na vida fundamentada em uma vontade livre.10

 

Foi para o ser capaz de adquirir o maior número de artes que a Natureza deu a ferramenta que é, de longe, a mais útil: a mão. E os que pretendem que o homem, longe de ser bem constituído, é o mais mal munido dos animais – dizem, na verdade, que ele nada tem nos pés, que é nu e não possui armas para a luta – estão errados. Ou outros, de fato, dispõem de um único recurso que não podem trocar por um outro, e precisam, por assim dizer, de permanecer calçados para dormir ou para fazer tudo, jamais podem tirar a armadura que têm ao redor do corpo, e jamais conseguem trocar a arma de que foram dotados pelo destino. O homem, pelo contrário, dispõe de múltiplos meios de defesa e tem sempre a possibilidade de trocá-los, assim como pode possuir a arma que deseja e no momento que deseja. A mão, de fato, torna-se garras, presas ou chifres, e também pega na lança, na espada ou em qualquer outra arma ou ferramenta, e ela é tudo isto porque pode pegar e segurar tudo.

 

Que vantagem tem o mentiroso? A de não ser acreditado quando diz a verdade.

 

Na realidade, viver como um homem significa escolher um objetivo e se dirigir para ele com pertinácia, pois, não ordenar a vida a um fim é sinal de grande estupidez.

 

A função de um citarista é tocar cítara, e a de um bom citarista é tocá-la bem.

 

O rei que possuir a justiça não precisa de coragem.

 

A característica de uma alma educada é saber acolher um pensamento sem aceitá-lo.

 

O melhor é sair da vida como de uma festa: nem sedento nem bêbado.

 

Nenhum obstáculo é grande demais quando confiamos em Deus.

 

A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.

 

Todos os homens aspiram à vida feliz e à felicidade, esta é uma coisa manifesta. Mas, se muitos têm a possibilidade de alcançá-la, outros não a têm em virtude de algum azar ou vício de natureza (pois a vida feliz requer um certo acompanhamento de bens externos, em quantidade menor para os indivíduos dotados de melhores disposições e em quantidade maior para aqueles cujas disposições são piores), e outros, finalmente, tendo a possibilidade de ser felizes, imprimem desde o início uma direção errada na sua busca da felicidade.

 

O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.

 

Haverá flagelo mais terrível do que a injustiça de armas na mão?

 

O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.

 

A inteligência é a insolência educada.

 

Sócrates é meu amigo, mas sou mais amigo da verdade.

 

O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.

 

A amizade perfeita apenas pode existir entre os bons.

 

Há cinco espécies de coragem, assim denominadas segundo a semelhança: suportam as mesmas coisas, mas não pelos mesmos motivos. Uma é a coragem política: provém da vergonha. A segunda é a coragem dos soldados: nasce da experiência e do fato de conhecer, não – como dizia Sócrates – os perigos, mas os recursos contra eles; a terceira é coragem da falta de experiência e da ignorância, e por ela são induzidas as crianças e os loucos, estes quando enfrentam a fúria dos elementos, aquelas quando pegam em serpentes. Outra espécie é a coragem da esperança: graças a ela, arrostam os perigos aqueles que, muitas vezes, tiveram sorte... e os ébrios; o vinho, de fato, excita a confiança. Outra, ainda, é a coragem que dimana da paixão irracional, por exemplo, do amor e da ira. Se alguém está enamorado, é mais temerário que covarde e enfrenta muitos perigos, como aquele que no Metaponto matou o tirano ou o cretense de que fala a lenda. O mesmo se passa com a cólera e com a ira, pois a ira é capaz de nos pôr fora de nós. Por isto, se afiguram também corajosos os javalis, embora não sejam; quando fora de si, têm uma qualidade semelhante, de outro modo, são inconstantes como os temerários. Todavia, a coragem que nasce da ira é a mais natural: a ira é, efetivamente, algo de invencível, e é por isto que os jovens lutam melhor. A coragem cívica, pelo contrário, brota da lei. Nenhuma destas espécies é, na realidade, coragem, mas todas são úteis para encorajar nas situações de perigo.

 

A Beleza é um dom de Deus.

 

O impossível verossímil é preferível ao possível não acreditável.

 

Nada do que está em potência passa ao ato senão por outra coisa que está já em ato.

 

Tendo em conta as condições de que dispõe e na medida do possível, é a Natureza que faz sempre as coisas mais belas e melhores.

 

O homem é Deus ou fera.

 

A felicidade consiste em ações perfeitamente conformes à virtude; e entendemos por virtude não a virtude relativa, mas a virtude absoluta. Entendemos por virtude relativa a que diz respeito às coisas necessárias, e por virtude absoluta a que tem por finalidade a beleza e a honestidade.

 

Deus é demasiado perfeito para poder pensar noutra coisa senão em si próprio.

 

É possível que os maus sejam entre si prazenteiros, não enquanto maus ou nem bons nem maus, mas enquanto, por exemplo, ambos são músicos, ou um é musicomaníaco e o outro cantor; e enquanto todos têm algo de bom, e nisto se harmonizam entre si, poderão, ademais, ser reciprocamente úteis e prestáveis, não em sentido absoluto, mas em vista da sua escolha ou enquanto não são nem bons nem maus. É igualmente possível a um homem de bem ter um amigo medíocre; cada qual pode, de fato, ser útil ao outro em vista da escolha – o medíocre pode apoiar utilmente o projeto do bom, e este último pode secundar com utilidade o projeto do incontinente e do mau em conformidade com a sua natureza. E, desta forma, desejará para o outro coisas boas: em sentido absoluto, as coisas absolutamente boas e, de modo condicional, os bens que são tais para aquele, enquanto o ajudam na pobreza ou nas enfermidades, e estes em vista dos bens absolutos, como, por exemplo, tomar um remédio; não o quer, de fato, por si mesmo, mas em vista deste fim determinado. Além disto, [o bom pode ser amigo do medíocre] naqueles modos em que também os não-bons seriam entre si amigos. Pode um, de fato, ser aprazível, não enquanto mau, mas, enquanto partilha uma das propriedades comuns, por exemplo, se é músico. Em todos há algo de bom, por isto, alguns se associam, inclusive, ao homem bom ou enquanto se acomodam a cada qual. Todos têm, de fato, algo de bom.

 

No fundo de um buraco ou de um poço acontece descobrir-se as estrelas.

 

A Democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si.

 

A lei é ordem; e uma boa lei é uma boa ordem.

 

Realizando coisas justas, tornamo-nos justos; realizando coisas moderadas, tornamo-nos moderados; fazendo coisas corajosas, tornamo-nos corajosos.

 

Quando foi interrogado sobre a diferença existente entre os homens cultos e os homens incultos, Aristóteles disse: A mesma diferença que existe entre os vivos e os mortos.

 

O ato de entender é vida.

 

A amizade é menos freqüente entre pessoas azedas e entre os mais velhos, porque quanto pior for o feitio das pessoas, menor é o prazer que têm no convívio. Ora, o bom feitio e o convívio social são marcas de amizade e motivos criadores de amizade. Por este motivo, os jovens depressa se tornam amigos; os velhos, não. É que não podem se tornar amigos daqueles na presença dos quais não sentem prazer; de modo semelhante se passa com os que estão sempre mal dispostos. Estes também podem ser benevolentes entre si porque desejam o bem ao outro e vão ao encontro das necessidades do outro. Contudo, não são completamente amigos, uma vez que não passam juntos o dia nem sentem prazer na companhia um do outro, coisas que parecem ser marcas distintivas de amizade. Agora, parece que não é possível se ser amigo de muitas pessoas, pelo menos no sentido pleno da amizade, do mesmo modo que não é possível amar ao mesmo tempo muitas pessoas (tal parece que, na realidade, seria excessivo; e o amor costuma nascer naturalmente em relação a uma única pessoa), porque não é fácil de agradar de modo totalmente satisfatório a muitos ao mesmo tempo.

 

A felicidade e a saúde são incompatíveis com a ociosidade.

 

Quanto à virtude, não basta conhecê-la. Devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática.

 

A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente.

 

O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança.

 

Os inferiores rebelam-se para serem iguais, e os iguais rebelam-se para serem superiores. Este é o estado de espírito que gera as revoluções... Sendo assim, as revoluções não concernem a pequenas questões, mas, nascem de pequenas questões e põem em jogo grandes questões.

 

A felicidade não se encontra nos bens exteriores.

 

Uma vez que alguns prazeres são necessários e outros não são, e são necessários apenas até certo ponto, sem admitir excesso nem defeito, e uma vez que o mesmo se passa com os desejos e os sofrimentos necessários – devasso é quem persegue o excesso no prazer ou prazeres excessivos, e, na verdade, quando os persegue por decisão própria em vista do excesso e não de qualquer outra conseqüência daí resultante. É forçoso que alguém deste gênero não tenha nenhuma disposição natural para se arrepender do que faz, de tal sorte que é incurável. Pois, na verdade, quem for capaz de se arrepender pode ser curado. Quem não sente falta nenhuma [destes prazeres] é o oposto do devasso. Mas quem se encontrava na disposição intermédia é temperado. De modo semelhante [devasso] é também quem foge aos sofrimentos do corpo [causados pela insatisfação do desejo], não por lhes sucumbir, mas por uma decisão tomada pelo próprio. Há também os que não chegam a tomar nenhuma decisão. Estes são obrigados a perseguir o prazer e a procurar escapar ao sofrimento causado pelo desejo insatisfeito. Há, assim, diferenças entre estes dois modos de ceder ao prazer, ora por uma decisão tomada ou sem decisão prévia. Parece, assim, a toda a gente ser pior alguém que pratica uma certa ação vergonhosa, não sentindo desejo ou sentindo-o levemente, do que alguém que pratica uma ação vergonhosa tomado por um desejo violento. Assim também parece pior que alguém bata em outrem sem estar irado, do que alguém que o faz em um acesso de ira. Pois, o que não seria capaz de fazer quando estivesse sob o domínio do acesso de ira? Por este motivo, ser devasso é pior do que não ter domínio de si.

 

A primeira qualidade do estilo é a clareza.

 

Se está a nosso alcance fazer, também está não fazer.

 

A pior forma de desigualdade é tentar fazer duas coisas diferentes iguais.

 

Um Estado só poderá ser feliz se for edificado sobre a honestidade.

 

Quem age em vista do prazer e o persegue, por convicção e decisão, parece ser melhor do que quem não age por cálculo, mas por falta de domínio. Ou seja, o primeiro parece poder ser mais facilmente corrigido, porque pode ser convencido a alterar as suas convicções. Na verdade, o provérbio «se a água é capaz de sufocar, porque a bebemos?» parece poder se aplicar a quem não se domina. Se alguém age por ter sido convencido a fazer o que faz, deixará de o fazer se for convencido de outro modo. Contudo, estando ele agora convencido de que deve fazer uma coisa, ainda assim fará uma coisa diferente. Ainda, se perda de domínio e o autodomínio podem ser ditos a respeito de tudo na existência, quem é que existe com uma absoluta falta de domínio? Porque ninguém perde o domínio a respeito de tudo. Contudo, dizemos de alguns que têm uma falta de domínio absoluta.

 

 

 

 

O que se irrita justificadamente nas situações em que deve se irritar ou com as pessoas com as quais se deve irritar, e ainda da maneira como deve ser, quando deve ser e durante o tempo em que deve ser é geralmente louvado. Quem assim for é gentil, se é que a gentileza é uma disposição louvada. Porque o gentil quer permanecer imperturbável e não quer ser levado pela emoção, e apenas o sentido orientador lhe poderá prescrever as situações em que deverá se irritar e durante quanto tempo. Ou seja, o gentil parece pecar mais por defeito porque não é do tipo vingativo, mas mais do gênero que perdoa. O defeito, seja uma certa fleuma seja o que for, é repreendido. Os que não se irritam quando têm motivo parecem parvos, o mesmo quando não se irritam de modo correto, nem quando devem, nem com aqueles que devem. Parece até que não sentem a injúria ou não sofrem com ela. Mas se não se irritarem não conseguem se defender, e agüentar um insulto ou tolerar os insultos feitos a terceiros é uma característica de subserviência. Há excessos a respeito de todos os elementos circunstanciais envolvidos em um acesso de ira (seja por se dirigir contra as pessoas indevidas, seja por motivos falsos, seja por ser demais, ou por surgir rapidamente ou por durar tempo de mais), mas, certamente, que nem todos os elementos circunstanciais estão feridos de um caráter indevido ao mesmo tempo e na mesma pessoa. Não parece que tal possa acontecer. Na verdade, o mal se destrói a si próprio, e se for integral, torna-se insuportável. Os irascíveis depressa se irritam com aqueles que não devem e pelos motivos indevidos, ou então mais do que devem, mas, por outro lado, também, depressa deixam de se comportar assim. E é o melhor que têm na sua disposição de caráter. Quer dizer, ficam neste estado porque não conseguem conter a fúria e por precipitação dão logo, às claras, uma resposta de retaliação. Mas depois sossegam. Os que são extremamente suscetíveis depressa afinam. Irritam-se por tudo e por nada. E daí também que vem o seu nome. Os que são amargos por natureza dificilmente chegam a reconciliações; ficam zangados durante muito tempo e guardam ressentimento. Só ficam descansados quando tiverem retaliado. A vingança faz cessar a ira, pois faz nascer dentro deles um doce prazer, ao expulsar a amargura do sofrimento. Pois, se não conseguirem se vingar, vivem como que a carregar um fardo pesado. Na verdade, é porque esta maneira de ser não se manifesta facilmente, que ninguém os consegue demover dos seus intentos vingativos, e é preciso muito tempo para se conseguir digerir a ira dentro de si. É assim, pois, que pessoas deste gênero são as mais inoportunas que há, tanto para os seus melhores amigos quanto para os próprios. Dizemos, então, que têm um feitio difícil aqueles que se zangam com as coisas que não devem, ou mais do que devem, ou ainda durante mais tempo do que devem; estes não chegam a nenhuma reconciliação, sem terem tido, primeiro, uma oportunidade de se vingar ou de terem aplicado um castigo.

 

Os avarentos amealham como se fossem viver para sempre; os pródigos dissipam como se fossem morrer.

 

Deus é o pensamento do pensamento.

 

O pensamento, tal como o descrevemos, é aquilo que é em virtude de poder se tornar todas as coisas, ao passo que existe algo que é o que é em virtude de poder fazer todas as coisas: trata-se de uma espécie de estado positivo como a luz; pois, em um certo sentido, a luz transforma as cores em potência em cores em ato. Neste sentido, o pensamento é separável, não-passivo e puro, sendo essencialmente ato. E quando separado é exatamente aquilo que é, e só ele é imortal e eterno.

 

Um homem que se curva não endireita os outros.

 

As palavras sem combinação umas com as outras significam por si mesmas uma das seguintes coisas: o quê (substância), o quanto (quantidade), o como (qualidade), com o que se relaciona (relação), onde está (lugar), quando (tempo), como está (estado), em que circunstância (hábito), atividade (ação) e passividade (paixão). Dizendo de modo elementar, são exemplos de substância, homem, cavalo; de quantidade, de dois côvados de largura ou de três côvados de largura; de qualidade, branco, gramatical; de relação, dobro, metade, maior; de lugar, no Liceu, no Mercado; de tempo, ontem, o ano passado; de estado, deitado, sentado; de hábito, calçado, armado; de ação, corta, queima; de paixão, é cortado, é queimado.11

 

A decisão é, na verdade, o que de mais próprio concerne à excelência, e é melhor do que as próprias ações no que respeita à avaliação dos caráteres humanos. A decisão parece, pois, ser voluntária. Decidir e agir voluntariamente não são, contudo, a mesma coisa, pois, a ação voluntária é um fenômeno mais abrangente. É por esta razão que ainda que tanto as crianças como os outros seres vivos possam participar na ação voluntária, não podem, contudo, participar na decisão. Também dizemos que as ações voluntárias se dão subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão. Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção, ou anseio, ou uma certa opinião, não parecem estar realmente corretos, porque os animais irracionais não tomam parte nela. Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e, deste modo, não age de acordo com uma decisão. Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão, mas não age, ao sentir um desejo. Um desejo se pode opor a uma decisão, mas já não poderá se opor a um outro desejo. O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável. A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável.

 

 

 


 

 

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Notas:

1. Polos foi um aluno do sofista Górgias.

2. Isto permite a seguinte ilação: as necessárias experiências objetivas conduzem a um possível domínio da vida, mas só a Iniciação abre a Janela para a Santa Vida.

3. O pior é quando se toma a causa por efeito e o efeito por causa.

4. E mais: a compreensão relativa das primeiras causas levará à compreensão relativa das segundas causas, a compreensão relativa das segundas causas levará à compreensão relativa das terceiras causas, e assim sucessivamente.

 

 

 

 

5. Os filósofos anteriores a Platão não esclareciam se o número que é causa das coisas é o mesmo de que as coisas são feitas. Por isto, Platão, para evitar esta dificuldade, distinguiu o número sensível, que é o das coisas concretas, do número inteligível, que é causa delas.

6. As coisas sensíveis não podem ser conhecidas somente pela inteligência. Se assim fosse, a percepção sensível seria inútil.

7. Qüididade = essência ou natureza real de algo.

8. Logo, o próprio argumento de autoridade, cujo fundamento se encontra na opinião ou teoria dos mestres antigos, é inútil, se, como diz Aristóteles, não conhecermos a causa. Ou, como tenho dito e insistido: fora, nada; dentro, tudo.

9. Ser e verdade são convertíveis, porque o que é causa do ser de uma coisa é causa da verdade desta mesma coisa.

10. No segundo parágrafo da Introdução e Objetivo do Estudo, eu disse: apesar de eu preferir Platão, que era mais suave e mais simpático, reconheço que Aristóteles tem muito a ensinar a todos nós. Sim, Aristóteles tem muito a ensinar a todos nós, desde que não nos deixemos influenciar por alguns preconceitos próprios da cultura grega da época, que, em alguns casos, era simplesmente medonha. Por exemplo, disse Aristóteles: A perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas só aquele que é isento das tarefas necessárias das quais se incumbem servos, artesãos e operários não-especializados. Estes últimos não serão cidadãos... pois não se pode praticar a virtude levando-se uma vida de operário ou de trabalhador braçal. Aristóteles via a pobreza como um defeito, uma espécie de vício. E, quanto às mulheres, desconchavando, disse: A Natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior. Ora, no mínimo, Aristóteles se contradisse, pois, em outra passagem, afirmou: A Natureza não faz nada em vão. É; Platão, era mesmo mais suave e mais simpático.

11. O conhecimento das categorias deve resultar em uma maior capacidade de análise e interpretação de elementos e argumentos do discurso. No entanto, trata-se de um texto de difícil interpretação, já que boa parte de seu conteúdo se relaciona (ou pode se relacionar) muito mais com a Metafísica do que com a Lógica. Prova desta ambigüidade é a Isagoge, de Porfírio (Tiro, c.232 – Roma, c.304). Nesta obra, Porfírio questiona se os gêneros e as espécies (substâncias segundas) são realidades subsistentes ou apenas conceitos mentais. Foi justamente a Isagoge e este questionamento originado pelas Categorias que veio a desencadear a Querela dos Universais na Filosofia Medieval.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Relativity_of_Simultaneity_Animation.gif

http://jauntilysourporn.tumblr.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Categorias_(Arist%C3%B3teles)

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/aristocriencia.htm

http://pensador.uol.com.br/autor/aristoteles/

http://rivalcir.com.br/frases/aristoteles.html

http://blog.educacional.com.br/profdnferraz/2011/
05/01/texto-atividade-sociologia-2%C2%B0-ema/

http://elegantphotos.xanga.com/699557017/item/

http://ryngargulinski.com/2010/12/26/
skull-and-skeleton-illustrations/

http://www.citador.pt/textos/a/aristoteles

http://www.filosofante.org/filosofante/
not_arquivos/pdf/metafisica_arist.pdf

http://www.principios.cchla.ufrn.br/
23P-05-63.pdf

http://projetophronesis.wordpress.com/2009/08
/25/resumo-aristoteles-metafisica-livro-i-cap-i/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Metaf%C3%ADsica_(Arist%C3%B3teles)

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Arist%C3%B3teles

http://federacaodeneijia.com.br/
about.html

http://www.4shared.com/get/TFIzsNrT/
ARISTTELES_-_Metafsica_tica_a_.html

http://www.4shared.com/get/hQbFP9ty/
Metafsica_-_Aristteles__Giovan.html

 

Fundo musical:

Garifallo Sta Afti

Fonte:

http://www.navis.gr/midi/midi.htm#Greek