INTRODUÇÃO
Este trabalho, produzido
sob a forma de fragmentos, está baseado nas obras The Technique
of the Disciple - A Técnica do Discípulo (Copyright
© Ancient Mystical Order Rosæ Crucis - AMORC, San Jose, California,
1935, 1ª edição) e The Technique of the Master
- A Técnica do Mestre (Copyright © 1932 Ancient
Mystical Order Rosæ Crucis - AMORC, San Jose, California, 1ª
edição) de Raymund Andrea, FRC (1882/1975), ambas dedicadas
a Harvey Spencer Lewis, na ocasião 1º Imperator da Ordem
Rosacruz AMORC
(internacionalmente conhecida como Ancient Mystical Order Rosæ
Crucis) para este segundo Ciclo Iniciático das Américas
do Norte e do Sul. A Técnica do Discípulo é
uma continuação da obra A Técnica do Mestre;
em outras palavras: Andrea primeiro apresentou ao público A
Técnica do Mestre para depois fazer divulgar A Técnica
do Discípulo.
Raymund Andrea foi Grande
Mestre da AMORC
da Jurisdição Britânica de 1921 até 1946.
Teve uma missão muito difícil, pois sua atuação
na AMORC de deu exatamente durante os anos da Grande Depressão
(crise econômica caracterizada pela queda no consumo, na produção
e no emprego) que marcou o fim dos anos 1920 e início dos anos
1930 da primeira metade do século XX, bem como aqueles que delimitaram
a Segunda Grande Guerra nos quais a Humanidade estava convulsionada
pela maior dor de sua história. Seu trabalho foi reconhecidamente
gigantesco.
Em A Técnica
do Mestre, Andrea esboça certos princípios
de pensamento e ação místicos, bem como alguns
métodos de disciplina esotérica que normalmente caracterizam
o trabalho do Mestre durante o treinamento de um discípulo. Já,
em seqüência, em A Técnica do Discípulo,
o Autor Rosacruz analisa ao longo de onze capítulos os
diversos aspectos da alquimia espiritual e as exigências místicas
para que o discípulo possa progredir na Senda, como também
examina a importância do Serviço, o papel da Vontade e
a iniciativa do neófito ao longo do discipulado, agora sob o
ponto de vista do neófito. Na verdade, Andrea dá uma superlativa
importância à questão da Vontade Espiritual do neófito
naquilo que se poderia denominar de Peregrinação Iniciática.
Chega mesmo a afirmar que: Dar a um homem de vontade fraca o nome
de discípulo é uma impropriedade.
Realmente, sabem todos
os místicos, o discipulado é muito difícil e, em
determinados aspectos, desencorajador. Conta-se que, em certa ocasião,
um sofista aproximou-se de Tales de Mileto, um dos Sete Sábios
da Grécia Antiga, e tentou confundi-lo com uma sucessão
de perguntas difíceis e capciosas. Porém, o Sábio
respondeu a todas elas com maestria; mas, quando o sofista lhe apresentou
a nona e última pergunta, Tales demorou um pouco para dar a resposta.
Questionado sobre qual seria a mais difícil de todas as coisas,
depois de refletir alguns instantes, respondeu Tales: — Conhecer-se
a si mesmo. Portanto, na Peregrinação Iniciática
nada será alcançado de maneira efetiva e concertada se
o estudante não se empenhar em se conhecer a si próprio,
isto é, em identificar suas sombras e seu potencial virtuoso.
Para tal, os dois primeiros exercícios aos quais deverá
se dedicar são o da humildade e o da honestidade. Pela honestidade,
não tentará se enganar com subterfúgios e se colocará
em sintonia com o Cósmico, para ir paulatinamente depurando as
sombras e as penumbras da alma que impedem a Santa Illuminação.
Pela humildade, se habilitará a conquistar o conhecimento que
a honestidade facultou que acessasse pelo seu esforço pessoal.
O acesso ao conhecimento – que diligentemente deverá se
transmutar em Sabedoria (ShOPhIa) –
poderá vir por diversas vias, mas a mais importante e definitiva
é a Via Interior — a Via Cardíaca.
Mas, como adverte Andrea, se o trabalho na Senda opera, em princípio,
em torno do próprio estudante, nada será obtido se esse
mesmo estudante também não pensar e trabalhar desinteressadamente
em termos do(s) outro(s). Então, se a vaidade é o fator
impeditivo número 1 de progresso, o egoísmo é o
fator número 1'. Não há vaidade sem egoísmo
e egoísmo sem vaidade. Ambos são irmãos univitelinos.
Uma palavra: cuidado!
Como este texto foi
elaborado sob a forma de excertos garimpados nos pensamentos contidos
nas obras aludidas, tive que, em alguns casos, proceder a pequenas edições.
Contudo, informo, como de hábito, que não alterei em absolutamente
nada o pensamento do autor. Os primeiros fragmentos foram extraídos
de A Técnica do Discípulo; em seqüência
virão os da A Técnica do Mestre, pois
achei conveniente fazer esta inversão. Para concluir esta pequena
introdução, vou acrescentar um terceiro exercício
aos dois anteriormente citados: a obediência. E alertar: há
certos fragmentos retirados do pensamento de Andrea que são totalmente
contundentes e aparentemente contraditórios. Portanto, não
podem ser apenas lidos: é necessário que se faça
uma reflexão profunda sobre seus conteúdos, sobre o que
há por trás das simples palavras. Uma última advertência:
aquele que transige consigo próprio patinará na Senda
e não chegará a lugar algum. Mas, se não condescender,
ou se aprender a não condescender, um dia gritará: VIVO
NOVAMENTE.
A Técnica
do Discípulo
Um Mestre disse ao seu discípulo:
— Você tem de se lembrar de que está agora em
uma Escola rigorosa e lidando com um mundo inteiramente diferente do
seu.
Quanto mais firmemente ajustado,
quanto mais confirmado em sua fidelidade ao padrão mundano de
conhecimento e de realizações, maior será a dificuldade
inicial experimentada pelo neófito em seu primeiro encontro com
a nova escala de valores que os estudos místicos lhe revelarão.
A ascensão consciente
do Plano Objetivo para o do Eu Divino é a Senda da Disciplina
que o voluntário decide percorrer para se qualificar para o Serviço,
que é o primeiro passo na evolução do super-homem.
O homem certo sabe que não
pode passar para os níveis mais altos de consciência sem
enfrentar as exigências da ascensão.
A disciplina ensina a verdadeira
autoconsciência que conduz à sintonia com forças
superiores; e, desse momento em diante, a vida pessoal tem de se ajustar,
da melhor maneira possível, às potências que gradualmente
desenrolam, na consciência, a biografia do homem espiritual.
Um espírito fraco e tímido,
nutrido no colo macio das boas coisas da vida, sem se ter exercitado
nas virtudes cardeais da paciência e da compaixão, e nada
sabendo do antagonismo saudável que se mede contra forças
contrárias, muito terá a superar e muito a construir naquela
personalidade que agora tem de se esforçar.
O medo do futuro asfixia a própria
vida de todo o progresso e da Grande Obra, e torna o homem um escravo
até o fim dos seus dias.
O neófito tem de pensar
em termos de outros bem como de si mesmo.
O desenvolvimento psíquico
é bastante compatível com a atitude egoísta para
com a vida, e em alguns casos tem sido levado ao ponto de penetrar profundamente
nos confins da magia negra.
O neófito pode até dominar
os outros à vontade nos Planos Físico e Mental se tiver
cultivado forças para este fim; mas não
no Plano Espiritual. Neste ele requer uma força maior e mais
purificada; e esta força ele só conseguirá quando
a voz censurável da superioridade pessoal tiver sido calada pelo
noviciado.
Serviço na Senda significa
Serviço porque se quer
e se tem de Servir.
A Senda do oculto é individual,
e cada degrau tem que ser aberto pelas próprias mãos do
discípulo e pisado pelos seus próprios pés.
É uma condição
inalterável na esfera dos Mestres — a de que, para receber,
é necessário dar.
Sugestão para um neófito
na Senda: Independentemente de qual seja seu poder de apreciação
imediata da Obra e do Serviço... o neófito deve se aplicar
com humildade e com profunda sinceridade aos rudimentos da Ciência.
Nada se perde por se dobrar à
vontade de aceitar os estágios preliminares da disciplina com
atenção crítica.
Só se pode ensinar e ajudar
outros conhecendo teórica e praticamente cada passo do Caminho
na sua própria experiência viva.
Talvez a mais importante qualificação
para um neófito seja o aprender a confiar em si mesmo.
A Senda é uma só; os espíritos
superiores que a tomaram são muitos.
No Cósmico, os Mestres
são Um em percepção e iluminação,
mas cada um com uma técnica aperfeiçoada e peculiarmente
adaptada... [Isto equivale
a entender que Todos são Um, mas cada Um é cada Um.].
O
fator responsável pelo progresso é a vontade que desperta.
A vontade é a chave de todo progresso futuro... A vida de um
Mestre pode ser considerada como vontade organizada.
O gênio tem por missão
conduzir o Mundo e liderar a Humanidade tirando-a do sórdido
e do comum para o belo e para o nobre, em a Natureza e no homem.
'Aquele que consegue conhecimento
por certa intuição deita mãos sobre suas várias
formas com suprema rapidez e por ardente esforço de vontade.'
Dar a um homem de vontade fraca
o nome de discípulo é uma impropriedade.
A obediência às regras prescritas
da disciplina dará ao neófito um senso de percepção
de uma tendência zelosa durante toda a economia pessoal.
As regras do ocultismo só
têm significado... utilidade e interesse para os que são
discípulos.
A tranqüilidade imperturbada
não é para o discípulo. Se o discípulo quer
isto, acima de todas as coisas, é melhor que permaneça
onde está até cansar-se dela.
É infinitamente preferível
ser um homem natural – influenciado por grande ambição
e reagindo à sensação de toda a criação
viva – do que um ocultista insignificante e falso, com a alma
em servidão a credos e dogmas ocultos, carecendo de virilidade
e inspiração, e de menos valor para seus semelhantes do
que um ser humano mediano.
Você pode passar sem simpatia
humana, sem o calor da compreensão humana? Não é
literalmente necessário que se tenha de passar sem simpatia humana
na Senda do Discipulado; mas é verdade que muitas simpatias às
quais o discípulo dá valor, e que sigificavam muito para
ele, serão eliminadas quando entrar no CÍRCULO
INTERNO. (Maiúsculas
e grifo meus.).
Um
discípulo não pode ocultar sua Luz por mais que se esforce...
É esta vibração silente e penetrante que estimula,
por bem ou por mal, aqueles por entre os quais ele se move.
O discípulo sentirá
o abismo da separação ampliar-se infalivelmente à
medida que continua vivendo, até que sua voz não é
mais ouvida pelos que ficaram do outro lado.
Não existe a condição
de discipulado exercido para autoglorificação ou por motivos
de ambição pessoal, nos quais tal ambição
tem por objetivo prestígio e vantagem no sentido mundano... O
discípulo não busca nome nem prestígio.
Ser capaz de resistir é
ter confiança. Nesta confiança baseia-se a técnica
Rosacruz.
Não podemos transmitir
confiança oculta a menos que tenhamos caráter. A diferença
entre o ocultismo propriamente dito e o pseudo-ocultismo é fundamentalmente
apenas a diferença entre o caráter a sua ausência.
Os Divinos dão; Eles exigem
que você também dê antes de ser um Deles.
ORGANISMO
QUÁDRUPLO DA TÉCNICA DO DISCÍPULO: 1º)
Sabedoria para resistir confiante; 2º) Reverência
pela verdade da ciência; 3º) Cautela
na sua exposição; 4º) Integridade
no que é proferido. Em resumo: capacidade de resistir, de ouvir,
de ver e de falar. A sabedoria dá a capacidade de resistir, a
reverência nasce da audição, a cautela resulta da
visão interior e a integridade é necessária à
fala.
O
noviciado aperfeiçoa a natureza humana; o discipulado
desenvolve a supernatureza humana.
O
discípulo deve sempre declarar a verdade indiferente às
opiniões dos outros.
Um
discípulo que tenha desenvolvido e esteja usando a técnica
compreensivamente não está sujeito a limites mais ou menos
arbitrários no seu exercício, como no caso das faculdades
puramente mentais dentro das esferas da ciência, da arte ou da
erudição.
O
discípulo tem de ser capaz de ouvir todos, compreender todos
e falar a todos.
O
discípulo não fingirá saber o que não sabe
para manter uma reputação de conhecimento além
de seu alcance.
DISCÍPULO:
Somente Deus será tua inspiração. Os filósofos
serão teus pares. A mais alta inteligência estará
ávida para obedecer teus desejos. Os demônios não
se atreverão a aproximar-se do lugar onde estás; tua voz
fá-los-á tremer nas profundezas do abismo.
Quando
o discípulo está pronto para aprender, então é
aceito, admitido e reconhecido. Assim tem de ser, pois ele acendeu sua
Lâmpada, e esta não pode ser escondida. Sua missão
é acender a Luz em outras almas.
Um
dos muitos paradoxos na vida do discípulo é que, embora
seu desenvolvimento tenha forçosamente de familiarizá-lo,
no sentido mais profundo, com a questão da solidão, ele
não pode, entretanto, trabalhar em isolamento.
As
Leis e Princípios da técnica que o discípulo está
aprendendo a aquiescer e a usar emanam de especialistas perfeitos que
atuam no âmbito superconsciente, e estes especialistas compõem
várias seções ou grupos da Grande loja Branca.
Bem-aventurado,
em verdade, é o discípulo para quem a inquirição
vem com toda a sua intensidade e desafios sutis em resposta aos seus
pedidos coerentes e ininterruptos. É a solene oferta da aceitação
do Mestre... 'Os demônios não se atreverão a se
aproximar do local onde estás; tua voz fá-los-á
tremer nas profundezas do abismo'.
A Técnica
do Mestre
Quanto
mais avançamos em nosso trabalho oculto, mais desenvolvemos uma
escala inteiramente nova de valores, e abandonamos o julgamento da mente
objetiva pelo Monitor Divino, cuja Voz se torna mais clara e insistente
à medida que A reconhecemos e Nela confiamos.
A
questão, para o aspirante, é saber o que lhe está
revelando o Ser Interior. Sua meditação deverá
ser ativa em busca dessa finalidade. 'Procurai o guerreiro e
deixai que ele lute dentro de vós'.
Aprendei
a servir. O adepto é um servo.
Um
Mestre não se distingue do comum dos homens, senão através
de uma sutil radiação magnética originária
da intensidade de sua aura. É precisamente esta radiação
(porém em um grau menor) que caracteriza o homem que está
magneticamente ligado ao Mestre no Mundo Oculto da Força.
Um
discípulo (consciente ou inconsciente de sua relação
com o Mestre) apresenta uma grande versatilidade no seu caráter,
uma compreensão amadurecida das complexidades da natureza humana,
um conhecimento intuitivo, senão experimental, das mais cruciantes
dores humanas, tudo isso aliado a uma adaptação precisa
às diversidades de temperamentos e a um poder de apelo à
alma dos homens. [Reescrevendo
o que foi ensinado em A Técnica do Discípulo:
O discípulo tem de ser capaz de ouvir todos, compreender
todos e falar a todos.].
O
Mundo da Força é o Mundo do Ocultismo, e é o único
em que o mais alto Iniciado deve ir para provar os segredos do Ser.
'Aprenda
primeiro as nossas Leis e eduque as suas percepções.'
'Um
aspirante deve aprender a ver inteligentemente o interior dos corações
dos homens e de um ponto de vista absolutamente impessoal; de outro
modo sua visão será colorida.'
De
compaixão se faz a técnica do Mestre... A compaixão
e a afeição expressiva são o único e efetivo
remédio que acalma as aflições da alma.
As
enfermidades de um aspirante (vaidade, desejo de poder etc.) jamais
serão causa de condenação; porém, enquanto
nele existirem, não lhe serão atribuídas as responsabilidades
de uma evolução superior, visto como iriam acentuar ainda
mais aquelas enfermidades.
O
técnico não é um teórico; é, antes
do mais, um íntimo, um profundo conhecedor das dores e do prazer.
A
técnica desenvolver-se-á somente naquele que se entregou
sem reservas e com constância à elevação
da vida humana, que estudou e lutou com toda a força da alma
para ser digno da atenção do Mestre, a fim de se tornar
um seu Representante eficiente e eficaz.
Se
a manifestação da vontade no discípulo é
suficientemente poderosa para forçá-lo a maiores descobertas
acerca do Ser Interior, o desequilíbrio na sua personalidade,
que ele de início poderá vir a sentir, se extinguirá.
É
preciso que o aspirante dedicado observe que o esforço que dedicou
à ciência da evolução, em vez de anular a
personalidade, só a exaltará... Se ele não permitir
essa extensão e se dedicar à prática comum de negar
realidade à sua personalidade, poderá vir a renascer em
um Plano mais elevedo, porém sem poder ou iniciativa, e sem o
que quer que seja de prático para oferecer aos demais... A personalidade
deve ser conhecida e utilizada como uma alavanca poderosa.
Só
podemos construir sobre o que temos; só podemos comunicar aquilo
que somos. A sombra de nosso dia é a falta de sinceridade. O
atalho é uma forma de insinceridade; falta-lhe a força
de um verdadeiro desenvolvimento; contenta-se com uma realização
superficial. Mas, insinceridade no aspirante de ocultismo é um
pecado; e o pecado o levará a falhar.
A
obtenção
de autoconhecimento é, principalmente, a demonstração
de uma ampliação da medida da impersonalidade... A impersonalidade
tem muitos graus. Eles se dispõem desde as pequenas libertações
praticadas pelo aspirante, até aquela extrema indiferença
espiritual tão distinta no adepto. [Contudo,
muita atenção:] Dedicar-se à impersonalidade
apenas contemplativamente é anular a força e a beleza
da verdadeira cultura espiritual. (Grifo
meu).
Permaneceremos
no pátio exterior até que a impersonalidade se evidencie
na vida prática.
O
soar cristalino da primeira nota do Ser Interior... desenvolve em nós
a responsabilidade de realizar o trabalho de autoconquista, e coloca
o poder do Ser Interior como elemento dominante de nossas vidas, no
interesse da evolução geral.
A
impersonalidade... da vida interior... se desenvolve naturalmente nos
veículos do aspirante que insiste no progresso constante e bem
ordenado, e que se dispõe com boa-vontade a suportar sem
revolta tudo quanto é necessário ao progresso.
(Grifo meu).
'Aquele que desejar saber
como beneficiar a Humanidade — diz o Mestre — e se crer
apto a conhecer os caracteres de outras pessoas, deve começar
por aprender a se conhecer a si mesmo e por examinar o próprio
caráter, sopesando o seu verdadeiro valor'.
O
avanço na Senda equivalerá ao esforço pessoal;
nunca será mais do que isso.
Disse
um Mestre: 'Leia e estude, pois aí está um objetivo. Estude
e prepare-se'.
A
experiência de vida deve ser procurada de todos os modos pelo
aspirante, mas deve ser destinada ao Ser Interior e por Ele interpretada.
'Procure
o Caminho — diz o Mestre — testando todas as experiências'.
O
aspirante à técnica jamais se conhecerá —
ou aos outros — enquanto simplesmente absorver conhecimento e
permanecer mudo; entretanto, no momento em que ele procurar ensinar
e auxiliar os outros, será levado a se apoiar sobre seus próprios
recursos de maneira surpreendente.
A
impersonalidade e a experiência
estão intimamente relacionadas. A impersonalidade só poderá
provir de uma experiência completa, e a experiência, no
sentido oculto, baseia toda a sua verdadeira força (e valor)
em uma atitude puramente impessoal.
É
a experiência da vida o fator principal que efetua a transmutação
da alma, ainda que isso seja uma das últimas coisas que o aspirante
se mostre propenso a admitir.
A
clarificação da mente e a intensificação
da emoção, que resultam dos esforços iniciais,
devem determinar a necessidade de uma revalorização da
experiência.
Elimina
toda a ambição. Põe a serviço de teu semelhante
tudo o que tu tens, tudo o que tu sejas. Remedia todos os casos que
venham à tua esfera legítima de desenvolvimento.
A
mágica da alma é a vida expressando-se em ritmos mais
fortes e mais poderosos de resposta vibratória. Não é
uma contemplação repousante calculada para adormecer um
homem; é um despertar que aumenta a sua intensidade áurica
a um grau incalculável.
Cuidado
com as fantasias da imaginação! As fantasias da imaginação
podem conduzir a um fracasso relativo.
O
silêncio austero dos Poderes Superiores não
significa indiferença para com um esforço persistente
e bem orientado.
'Não
é suficiente — diz o Mestre —
conhecer de modo completo o que o discípulo é
capaz de fazer ou de não fazer por ocasião (e nas circunstâncias)
da época do teste. Devemos saber do que ele é capaz nos
mais diferentes tipos de oportunidades'.
Novas
faculdades não emergem na natureza não exercitada daquele
que teme as conseqüências da autodescoberta. Não existe
um caminho fácil para a ascensão.
A
falsa paz da estagnação e da conformidade não existem
para o pioneiro.
Disse
o Mestre: 'O conteúdo do pecado e da fragilidade humana distribui-se
por toda a vida do homem que se contenta em ser um mortal comum. Porém,
é reunido e concentrado, por assim dizer, em um único
período da vida de um discípulo — o período
da provação'.
'A
regra de ferro —
diz o Mestre —
é que os poderes que alguém anseia obter sejam adquiridos
por ele mesmo... Mas ele não deve alimentar esse desejo de forma
passional, porque isso só serviria para impedir a sua realização'.
Não
existe tempo no ocultismo. A eliminação do carma é
fruto do acordo com uma Lei interior que não está em nosso
poder apressar ou retardar.
Um
caráter passivo jamais poderá esperar desenvolver o trabalho
do Mestre.
Disse
o Mestre: 'Não é suficiente que nos imponhamos uma vida
pura e virtuosa e um espírito tolerante, pois isso é apenas
bondade negativa — insuficiente para o discípulo. Devemos
conscientizar-nos de que podemos adquirir conhecimento espiritual e,
por conseqüência, força, que permitam aos fracos apoiar-se
em nós e esclarecer as lastimosas vítimas da ignorância
sobre a causa de suas penas e ensinar-lhes como remediá-las'.
Um
discípulo deverá ser capaz de suportar as derrotas na
arena da vida e prosseguir de modo que as qualificações
para um Serviço mais elevado possam nele nascer e se desenvolver.
Atenção:
'As negras hostes dos Irmãos das Trevas
estão sempre prontas para perturbar e ofuscar o cérebro
do neófito'.
O
Mestre adverte: 'Para descerrar os portões do mistério
deveis não só viver uma vida fundada na mais estrita probidade,
mas aprender a discriminar a verdade da mentira'.
O
Mestre adverte; 'Meus chelas
(discípulos) jamais devem duvidar, suspeitar ou injuriar
nossos agentes com pensamentos prejudiciais. Nossos métodos são
estranhos e pouco usuais, propensos, por isso, a facilmente levantar
suspeitas. Estas últimas são, ao mesmo tempo, uma armadilha
e uma tentação. Feliz é aquele em que as percepções
espirituais murmuram a verdade! Julgai aqueles que vos cercam por essa
percepção, e não de conformidade com vossas noções
mundanas das coisas'.
O
egoísmo e a falta de auto-sacrifício são os maiores
obstáculos no caminho do Adepto.
A
palavra do Mestre é: 'Aquele que se condena em sua própria
opinião – conformando-se com o reconhecido e corrente código
de honra em benefício de uma causa digna – poderá
verificar algum dia que, por esse meio, atingiu suas aspirações
mais elevadas'.
Temos
que fazer o ajuste... com tristeza ou com alegria... e emergir mais
purificados do fogo. 'Somente estando na disposição de
vitoriar ou de perecer é que o místico pode aspirar à
conquista do seu objetivo'.
O Mestre Serapis, da Irmandade
Egípcia, diz: Aquele que espera solucionar os grandes problemas
do Mundo Macroscópico e se situar face a face com seu Habitante,
ocupando, por conseguinte, pela violência, o umbral onde se acham
enterrados os mais misteriosos tesouros da Natureza, deve experimentar,
primeiramente, sua força de vontade e a resolução
de obter sucesso, para depois, trazendo à luz todas as faculdades
ocultas do seu Athma
e de sua inteligência, penetrar os problemas da natureza
do homem e solver os mistérios do seu coração'.
Quando
a força de vontade é firmemente concentada no ser psíquico,
todos os sentimentos e tendências encerrados no Coração
do aspirante são despertados.. e se tornam ativos.
A
maior parte dos que estamos na Senda somos hereges, e maiores hereges
nos precederam... Que o aspirante seja um herege, e que assim permaneça...
O objetivo da técnica é tornar o aspirante um artista
espiritual possuído por uma consciência intuitiva do processo
interior. Dia virá em que a voz da crítica terá
perdido o poder de o ferir, porque o pensamento do aspirante uniu-se
silenciosamente à finalidade Cósmica, na qual não
há variação nem sombra de desvios... 'Ele aceitou
uma tarefa a que os demais não estão obrigados'.
Um
discípulo dos Mestres não consegue ocultar a Luz que traz
consigo; por isso, o mundo, embora não identifique nele a condição
de discípulo, percebe [de
alguma forma] que ele é diferente do comum das pessoas...
Ele se pauta por um código de ética e é dirigido
por leis estranhas e não reconhecidas pelos demais.
Enfim,
somente através do serviço incessante e da aspiração
sempre presente; através do amor, da compaixão e do sacrifício;
através do sucesso e das derrotas; através da vigília
solitária e da advertência apaixonada; através de
todas as alturas e profundezas do pensamento e da emoção
que o coração ávido e a mente despertam, é
que seremos capazes de atingir a verdadeira perspectiva da ação
pura e perfeita de nos tornarmos os dignos expoentes da Técnica
do Mestre.
OBSERVAÇÃO
FINAL
Disse Raymond Bernard:
Na Via Iniciática prestigiosa que seguimos, as tentações
são numerosas, as quedas ocasionais e a dúvida periódica.
Eu volto a acrescentar o que afirmei na Introdução:
Se a vaidade é o fator impeditivo número 1 de progresso,
o egoísmo é o fator número 1'. Tenho certeza absoluta
de que, nesta vida, jamais tive um pensamento ou um gesto egoísta.
Se tive, não os identifico. Por outro lado, ainda que rebelde
por natureza, jamais fui misticamente desobediente ou insubordinado.
Não posso dizer o mesmo da acachapante vaidade. Tive que aprender
da maneira mais dolorosa a extirpá-la. Isso
aconteceu da forma traumática e com desdobramentos há
mais ou menos dez anos (1995) entre 2:05 e 2:30 horas
de uma determinada madrugada em um quarto solitário de um apart-hotel
no Rio de Janeiro. Um dia relatarei essa experiência inesquecível
que não desejo a ninguém que não esteja preparado
para passar por ela. Isto, se houver necessidade. A sensação
é de que a morte chegou da forma mais violenta e aterradora.
Portanto, a melhor maneira é ir dominando conscientemente as
próprias misérias e não se esconder das sombras
da alma para não ter que aprender tudo de uma vez, de supetão,
como ocorreu dolorosamente comigo. Não que eu
me escondesse de mim mesmo. Não. Nunca fiz isso. Apenas ignorava
o quão ignorante eu era a respeito de minha própria ignorância
e da minha vaidade inconsciente. Isso é mais
freqüente do que se possa imaginar. E, para concluir, estou absolutamente
convencido de que a pior forma de vaidade é a vaidade mística
ou espiritual, porta de entrada para a ação das trevas
e dos seus quadrilheiros insones. Uma palavra: cuidado! Mas,
se como afirmei na Introdução, não há vaidade
sem egoísmo e egoísmo sem vaidade, e se ambos são
irmãos univitelinos, certamente, além de vaidoso, devo
ter sido também egoísta. Hoje, com segurança, posso
afirmar que esses desvios estão sob controle.
Acho que devo incluir
nestas observações finais um pequeno comentário
sobre o karma. Muitas pessoas continuam a acreditar que o karma
é irrevogável. Não é. Simplesmente porque
o karma não é uma punição, um decreto
imutável. Se o karma é criado por cada um de
nós, ele pode ser alterado e cumprido das mais variadas formas.
E, conforme já analisei essa questão anteriormente, três
são as formas básicas pelas quais as experiências
humanas se fazem: pela dor, pelo amor e pela compreensão. Entretanto,
a desejada Illuminação só
poderá advir efetivamente pela via da compreensão, na
qual a experiência pessoal não pode ser substituída,
subestimada ou ab-rogada. O único problema com a compreensão
é que, muitas vezes, recusamos o que compreendemos, porque ou
não temos a força interior suficiente para viver e operar
neste Plano de acordo com a compreensão compreendida, ou porque
duvidamos do concertamento dessa mesma compreensão e daquilo
que compreendemos. Uma terceira hipótese é não
compreendermos mesmo porque ainda não possuímos os instrumentos
para compreender. Nossa vaidade e nosso egoísmo são mais
poderosos do que nosso desejo de viver em harmonia com a Eterna Luz.
E chegamos mesmo a duvidar de que possa haver a própria Luz Eterna
e de que com Ela possamos nos harmonizar. Meu sincero e fraterno desejo:
que a paz possa ser conquistada por todos os corações.
Contendas só acarretam dores, doenças e sofrimentos.
Acreditar, por outro lado, que as presumidas e sucessivas encarnações
acabarão por resolver as coisas é, no mínimo, uma
preguiça mística irrefletida e inconseqüente.
Finalmente, eu gostaria
de resumir meu entendimento do que seria a ascensão noviciado
—› discipulado —›
mestrado – com o qual abri este ensaio. A animação
pictórica abaixo dispensa palavras ou comentários.
Sursum Corda!
O noviço busca...
Sursum Corda!
O discípulo encontra
a Senda...
Sursum Corda!
O Adepto realiza a Senda do
Coração.
Sursum
Corda!
Obras de Referência
ANDREA, Raymund. A
técnica do mestre. Traduzido da 9ª edição
norte-americana de 1976. Coordenação de Maria A. Moura.
Rio de Janeiro: Renes, s. d.
ANDREA, Raymund. A
técnica do discípulo. Traduzido da 9ª edição
norte-americana de 1976. Coordenação de Maria A. Moura.
Rio de Janeiro: Renes, s. d.
Websites Consultados
http://web.prover.com.br/nominato/888.htm
http://www.amorc.org.au/
http://aeterna.no.sapo.pt/lusophia/manuelpina/MP_Cavaleiro_Rosacruz.htm
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