Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

Não existe o fazer por merecer.1

As pessoas fazem sabendo fazer:

em geral, é um fazer inconsciente;

mas, certas vezes, é consciente.

 

 

As leis são iguais para todos,

tenham elas nomes ou apodos.

Não há eventualidade incomum;

tudo é natural, conforme, comum.

 

 

Também não há destino ou sorte;

tudo depende da Vida e da Morte.

Ora, ou aprendemos a fazer sabendo

ou bailaremos ao sabor do merecendo.2

 

 

 

 

 

Fonte do GIF animado
(editado e transformado em flash):
http://www.aegean.gr/aegeanet/default_en.htm

 

 

 

 

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Nota:

1. O fazer por merecer embute, normalmente, um Imperativo Hipotético; os que aprenderam a saber fazer ou a fazer sabendo se esforçam (ainda que nem sempre consigam) para agir tão-somente por Imperativos Categóricos. Fazer por merecer implica em fazer para ou fazer porque; fazer sabendo o que está sendo feito, em princípio, determina que só seja feito o que deve ser feito. Aqui cabe, mais uma vez, uma breve consideração sobre os ditos milagres. Presumidos milagres acontecem, sim, porque o ente faz (sabendo o que está fazendo ou não sabendo o que está fazendo, mas, assim mesmo, fazendo em conformidade com alguma Lei Cósmica que ele desconhece) e a coisa acontece. Para que fique bem claro: quem sabe o que faz, ipso facto sabe que o possível resultado do seu saber fazer não é um milagre, pois a fé, simplesmente, não moverá nem uma montanha nem um grão de areia, tanto quanto o Bahr el-Ahmar (em árabe) ou Yam Suf (em hebraico) não se abriu por milagre ou por intervenção divina para que os israelitas o atravessassem a pé enxuto e, segundo uma idéia fabricada, os soldados do Faraó Ramsés II lá morressem afogados. Nem por delírio poético ou por desorientação espaciotemporal isto pode ter acontecido como está relatado na Bíblia. Por ali aconteceu um fenômeno natural, mas não é possível indicar o ponto exato em que se deu a travessia. Como disse Baruch de Spinoza (1632 – 1677), se admitíssemos que Deus faz alguma coisa contrária às Leis da Natureza, seríamos também obrigados a admitir que Deus age em contradição com a Sua própria Natureza, o que é um absurdo.

Ora bem. Se uma pessoa, ao esquentar água em uma panela, tampa a panela, a água entrará em ebulição mais rapidamente do que se a panela estiver destampada. O que estou querendo exemplificar com isto? Simplesmente que tanto faz se a pessoa sabe ou se não sabe a Lei Termodinâmica que regula a fervura da água em uma panela com ou sem a tampa. A Lei Termodinâmica irá funcionar do mesmo jeito: sem tampa a água demorará mais a ferver; com tampa a água demorará menos a ferver. É por isto que a panela de pressão – derivada da célebre Marmita de Papin (máquina a vapor destinada a aquecer água à temperaturas acima do seu ponto de ebulição) inventada pelo físico francês Denis Papin (1647 - 1712) – cozinha mais rapidamente os alimentos, porque a temperatura da água no seu interior ultrapassa os 100°C, atingindo temperaturas próximas de 120°C. A pressão atmosférica no nível do mar é de 1 atm, e, submetida à esta pressão, a água ferve a 100°C.

Por outro lado, é por isto também que tudo haverá de ser retribuído ou compensado, pois não importa se há ou se não há consciência da coisa praticada. A Inteligência Universal, mais do que não estar preocupada se há ou se não há consciência dos atos que realizamos, não considera este fato, até porque não tem consciência da nossa própria consciência ou inconsciência. Este pormenor, que para a maioria das pessoas representa tudo, não está em causa, porque, se estivesse, a Inteligência Universal faria escolhas – o que é um absurdo – e o Universo já teria sido destruído por causa destas mesmas escolhas. O que pode ser concluído disto? Que temos que aprender a agir tão-só por Imperativos Hipotéticos. À luz destes esclarecimentos, dê uma espiada novamente na animação que abre este trabalho.

Mudando de conversa, há alguns anos, escrevi um texto e contei a história pitoresca que reproduzirei a seguir. Um professor de Termodinâmica, no curso de Engenharia Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na prova final, fez a seguinte pergunta: O inferno é exotérmico ou endotérmico? Justifique sua resposta. Vários alunos justificaram suas opiniões baseadas na Lei de Boyle-Mariotte* ou em alguma variante da mesma. Um aluno, entretanto, escreveu o seguinte: Primeiramente, postulemos que o inferno exista e que esse é o lugar para onde vão algumas almas. Agora, postulamos que as almas existem; assim, elas devem ter alguma massa e ocupam algum volume. Então, um conjunto de almas também tem massa e também ocupa um certo volume. Então, a que taxa as almas estão se movendo para fora e a que taxa elas estão se movendo para dentro do inferno? Podemos assumir seguramente que, uma vez que uma alma entra no inferno, ela nunca mais sai de lá. Por isto, não há almas saindo; só entrando. Vamos dar uma rápida olhada nas diferentes religiões que existem no mundo e no que pregam algumas delas hoje em dia. Algumas dessas religiões pregam que se você não pertencer a ela, você vai para o inferno… Se você descumprir algum dos Dez Mandamentos ou se desagradar a Deus você vai para o inferno. Como há mais de uma religião deste tipo e as pessoas não possuem duas religiões, podemos projetar que todas as almas vão para o inferno. A experiência mostra que pouca gente respeita os Dez Mandamentos. Com as taxas de natalidade e mortalidade do jeito que estão, podemos esperar um crescimento exponencial das almas no inferno. Agora, vamos olhar a taxa de mudança de volume no inferno. A Lei de Boyle diz que para a temperatura e a pressão no inferno serem as mesmas, a relação entre a massa das almas e o volume do inferno deve ser constante. Existem, então, duas opções: 1ª) Se o inferno se expandir a taxa menor do que a taxa com que as almas entram, a temperatura e a pressão no inferno vão aumentar até ele explodir; portanto, neste caso, o inferno deve ser considerado EXOTÉRMICO.** 2º) Se o inferno estiver se expandindo a taxa maior do que a entrada de almas, então a temperatura e a pressão irão baixar até que o inferno se congele; portanto, neste caso, o inferno deve ser considerado ENDOTÉRMICO.*** Ora, se nós aceitarmos o que a menina mais gostosa da UFBA me disse, no primeiro ano – Só irei para a cama com você no dia que o inferno congelar! – e levando-se em conta que ainda não obtive sucesso na tentativa de ter relações amorosas com ela, então a segunda opção não é verdadeira. Por isto, só posso concluir que o inferno seja EXOTÉRMICO. O aluno tirou 10 na prova.

 

* Lei de Boyle-Mariotte (enunciada por Robert Boyle e Edme Mariotte): Sob temperatura constante (condições isotermas), o produto da pressão e do volume de uma massa gasosa é constante, sendo, portanto, inversamente proporcionais. Qualquer aumento de pressão produz uma diminuição de volume e qualquer aumento de volume produz uma diminuição de pressão.

** EXOTÉRMICO: relativo a processo físico ou químico acompanhado de emissão de calor.

*** ENDOTÉRMICO: relativo a processo físico ou químico acompanhado de absorção de calor.

 

Um experimento fácil que pode ser feito em casa:

Encha um balão (de festa) até a metade de sua capacidade. Depois, prepare duas bacias (ou panelas): uma com água gelada (água + gelo) e outra com água bem quente. Em seguida, mergulhe o balão na água gelada e observe seu volume. Repentinamente, transfira o balão para o recipiente com água quente. O volume do balão aumentará.

 

Este simples experimento demonstra a Lei de Charles, que é uma lei dos gases perfeitos: À pressão constante, o volume de uma quantidade constante de gás aumenta proporcionalmente com a temperatura (V = kT; T é a temperatura absoluta e k é uma constante). Outra versão da Lei de Charles estabelece que a pressão de uma quantidade fixa de gás, a volume constante, é proporcional à temperatura absoluta. Por vezes, a Lei de Charles é chamada de Lei de Gay-Lussac e vice-versa.

 

 

 

Fonte do GIF animado
(editado e transformado em flash):
http://www.nasa.gov/

 

 

2. Não confundir aqui merecer por mérito (que pode parecer pleonasmo, mas não é) e merecer por fazer por merecer. Parecem ser coisas iguais, mas, filosófica e misticamente, são inteiramente diferentes. Mérito, inclusive, não está dissociado de saber fazer. Mas, o pior e mais dramático é quando pensamos que merecemos sem merecer, e as coisas não acontecem! Aí, sempre aparece alguém para futicar e justificar o insucesso dizendo: — Você não teve fé suficiente; precisa se esforçar mais. Enfim, ou aprendemos a dignamente fazer ou continuaremos a tolamente crer em acontecimentos fora do comum, formidáveis, estupendos e inexplicáveis pelas leis naturais, bailando a Tarantella quando a música é a Mouraria.

 

 

Fundo musical:

Tarantella

Fonte:

http://www.eadcentral.com/
go/1/1/0/http://www.irevan.com/nap/nap.html