AS MERCADORIAS XL

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Como qualquer outro componente do capital constante, a maquinaria não cria valor, mas transfere seu próprio valor ao produto, para cuja feitura ela serve. À medida que tem valor, e, por isso, transfere valor ao produto, ela se constitui num componente de valor do mesmo. Ao invés de barateá-lo, encarece-o proporcionalmente a seu próprio valor. E é evidente que máquina e maquinaria desenvolvidas sistematicamente o meio característico de trabalho da grande indústria contêm desproporcionalmente mais valor, em comparação com os meios de trabalho do artesanato e da manufatura. [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de autoria de Karl Marx.]

 

 


 

 

À medida que a maquinaria tornou a força muscular dispensável, ela se tornou o meio de utilizar trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento corporal imaturo, mas, com membros de maior flexibilidade. Por isso, o trabalho de mulheres e de crianças foi a primeira palavra de ordem da aplicação capitalista da maquinaria! Com isso, esse poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores se transformou rapidamente num meio de aumentar o número de assalariados, colocando todos os membros da família dos trabalhadores, sem distinção de sexo nem de idade, sob o comando imediato do capital. O trabalho forçado para o capitalista usurpou não apenas o lugar do folguedo infantil, mas, também, o trabalho livre no círculo doméstico, dentro de limites decentes, para a própria família. [Ibidem.]

 

A maquinaria, ao lançar todos os membros da família do trabalhador no mercado de trabalho, reparte o valor da força de trabalho do homem por toda sua família. Ela desvaloriza, portanto, sua força de trabalho. A compra de uma família parcelada, por exemplo, em 4 forças de trabalho, custa, talvez, mais do que anteriormente a compra da força de trabalho do cabeça da família, mas, em compensação, surgem 4 jornadas de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai proporcionalmente ao excedente de mais-trabalho dos quatro em relação ao mais-trabalho de um. Agora, quatro precisam fornecer não só trabalho, mas, mais-trabalho para o capital, para que uma família possa viver. Assim, a maquinaria, desde o início, ampliou o material humano de exploração, o campo propriamente de exploração do capital, assim como, ao mesmo tempo, o grau de exploração. O capital, assim, passou a comprar menores ou semidependentes. Anteriormente, o trabalhador vendia sua própria força de trabalho, da qual dispunha como pessoa formalmente livre. Agora vende mulher e filhos. Torna-se mercador de escravos. A procura por trabalho infantil se assemelha, freqüentemente também na forma, à procura de escravos negros, como se costumava ler em anúncios de jornais americanos. [Ibidem.]

 

 

 

Brasil: Família de Escravos
(Escravos nas Ruas do Rio de Janeiro,
de Joaquim Cândido Guillobel/Coleção Brasiliana Itaú)

 

 

Para você, trabalhador,
para sua mulher
e para os seus filhos,
com prazer, eu ofereço
escravidão, faina e mais-trabalho.

 

Para mim,
para minha família
e para os meus filhos,
com mais prazer ainda, eu dou
conforto, luxo e bem viver.

 

Isto é simples
de ser compreendido:
mais-trabalho
= mais-valia; e
mais-valia
= conquista + acréscimo
de tudo o que a vida tem de melhor.

 

Ora, que culpa tenho eu
de você e sua família
terem nascido para ser escravos?
Culpa eu teria, sim, e muita,
se não soubesse aproveitar essa chance.

 

Se não houvesse escravidão,
como eu teria um apartamento triplex?
Como eu teria um Pagani Zonda HP Barchetta?
Como eu teria um Gulfstream G700?
Como eu comeria caviar e beberia champanhota?

 

Reconheço que vida de escravo
é muito, muito difícil.
É mesmo difícil como quê.
Mas, isso eu não posso nem quero mudar,
pois, se mudar, eu empobreço.

 

Portanto, conseqüentemente,
escravidão pra sempre e mais 6 meses,
mais-trabalho pra sempre e mais 6 meses,
mais-valia pra sempre e mais 6 meses.
Vocês, escravos, pra lá; eu, senhor, pra cá.

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Retirantes (Vida de Negro)
Composição e interpretação: Dorival Caymmi

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=3BDt7h_Myds

 

Páginas da Internet consultadas:

https://gifer.com/en/7yAl

https://www.em.com.br/

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