Como qualquer outro componente do capital constante, a maquinaria não cria valor, mas transfere seu próprio valor ao produto, para cuja feitura ela serve. À medida que tem valor, e, por isso, transfere valor ao produto, ela se constitui num componente de valor do mesmo. Ao invés de barateá-lo, encarece-o proporcionalmente a seu próprio valor. E é evidente que máquina e maquinaria desenvolvidas sistematicamente – o meio característico de trabalho da grande indústria – contêm desproporcionalmente mais valor, em comparação com os meios de trabalho do artesanato e da manufatura. [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de autoria de Karl Marx.]
À medida que a maquinaria tornou a força muscular dispensável, ela se tornou o meio de utilizar trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento corporal imaturo, mas, com membros de maior flexibilidade. Por isso, o trabalho de mulheres e de crianças foi a primeira palavra de ordem da aplicação capitalista da maquinaria! Com isso, esse poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores se transformou rapidamente num meio de aumentar o número de assalariados, colocando todos os membros da família dos trabalhadores, sem distinção de sexo nem de idade, sob o comando imediato do capital. O trabalho forçado para o capitalista usurpou não apenas o lugar do folguedo infantil, mas, também, o trabalho livre no círculo doméstico, dentro de limites decentes, para a própria família. [Ibidem.]
A maquinaria, ao lançar todos os membros da família do trabalhador no mercado de trabalho, reparte o valor da força de trabalho do homem por toda sua família. Ela desvaloriza, portanto, sua força de trabalho. A compra de uma família parcelada, por exemplo, em 4 forças de trabalho, custa, talvez, mais do que anteriormente a compra da força de trabalho do cabeça da família, mas, em compensação, surgem 4 jornadas de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai proporcionalmente ao excedente de mais-trabalho dos quatro em relação ao mais-trabalho de um. Agora, quatro precisam fornecer não só trabalho, mas, mais-trabalho para o capital, para que uma família possa viver. Assim, a maquinaria, desde o início, ampliou o material humano de exploração, o campo propriamente de exploração do capital, assim como, ao mesmo tempo, o grau de exploração. O capital, assim, passou a comprar menores ou semidependentes. Anteriormente, o trabalhador vendia sua própria força de trabalho, da qual dispunha como pessoa formalmente livre. Agora vende mulher e filhos. Torna-se mercador de escravos. A procura por trabalho infantil se assemelha, freqüentemente também na forma, à procura de escravos negros, como se costumava ler em anúncios de jornais americanos. [Ibidem.]
Brasil: Família de Escravos
(Escravos nas Ruas do Rio de Janeiro,
de Joaquim Cândido Guillobel/Coleção Brasiliana Itaú)
— Para você, trabalhador,
para sua mulher
e para os seus filhos,
com prazer, eu ofereço
escravidão, faina e mais-trabalho.
— Para mim,
para minha família
e para os meus filhos,
com mais prazer ainda, eu dou
conforto, luxo e bem viver.
— Isto é simples
de ser compreendido:
mais-trabalho = mais-valia; e
mais-valia = conquista + acréscimo
de tudo o que a vida tem de melhor.
— Ora, que culpa tenho eu
de você e sua família
terem nascido para ser escravos?
Culpa eu teria, sim, e muita,
se não soubesse aproveitar essa chance.
— Se
não houvesse escravidão,
como eu teria um apartamento triplex?
Como
eu teria um Pagani Zonda HP Barchetta?
Como eu teria um Gulfstream G700?
Como eu comeria caviar e beberia champanhota?
— Reconheço
que vida de escravo
é muito, muito difícil.
É mesmo difícil como quê.
Mas, isso eu não posso nem quero mudar,
pois, se mudar, eu empobreço.
— Portanto,
conseqüentemente,
escravidão pra sempre e mais 6 meses,
mais-trabalho pra sempre e mais 6 meses,
mais-valia pra sempre e mais 6 meses.
Vocês, escravos, pra lá; eu, senhor, pra cá.
Música de fundo:
Retirantes (Vida de Negro)
Composição e interpretação: Dorival CaymmiFonte:
https://www.youtube.com/watch?v=3BDt7h_Myds
Páginas da Internet consultadas:
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